- Porque você falou da gente pros meninos?
Eu perguntei na hora do café no dia seguinte. Bernardo estava do meu lado.
- Mas não era pra contar? – passava margarina na torrada.
- Não do jeito que você fez.
- Eles apareceram de repente aqui e berrando feito uns doidos aí na porta. Eu fui dizer que você estava dormindo e aproveitei e dei a notícia. Sem enrolação.
- Eu ia conversar com eles...
- Tanto faz. Agora eles já sabem que você tem namorado... – se debruçou pro meu lado e me deu um selinho. – Que é meu... Só meu. – mordeu a torrada.
- Eles querem sair. Todo mundo junto qualquer dia.
- Claro... se você quer... Leva pra pia pra mim? – ele me deu a xícara com o prato e eu fui em direção à pia.
- Porque você não me acordou? Eles queriam almoçar. Poderíamos ter ido todos juntos.
- Nem pensar. Era nosso primeiro dia juntos e você queria almoçar fora com um monte de gente? Eu pulei da cama rápido e corri pra ver se eles paravam de gritar antes de você acordar e querer topar.
Eu ri sozinho. Bernardo se desarmava por completo quando estava comigo. Abaixava a guarda total. As vezes eu sentia medo. Mesmo quando ainda amigos, eu sentia. Ele se doava demais. Demonstrava demais que gostava de mim. De fora pode parecer lindo, mas eu sentia que aquilo não era bom. Eu era humano, eu ia decepcioná-lo em algum momento e se quando eu não vejo um gol dele num jogo de futebol ele já reage daquela forma, imagina coisa pior! Esse pensamento fez meu sorriso desaparecer.
- Ei... que carinha é essa, hum? – ele falou me abraçando. Eu não percebi.
- Nada. Pensando besteira... – fui interrompido por um beijo.
- Então para de pensar besteira. Eu tenho que ir agora ao consultório da psiquiatra. Volto mais tarde.
- Tá ok.
Ele sorriu e se despediu com um beijo. Eu passei a manhã em casa pensando na semana seguinte. Como seria o estágio? Nossa rotina ia mudar? Pra pior? A empresa nunca mais falou mais nada, que estranho... Estava usando o notebook na sala e resolvi checar meu email que eu não via desde sábado. Pra minha surpresa havia sim um email da empresa.
Informava que deveríamos estar na empresa na próxima segunda às 8:00 para que fossemos introduzidos a todos os setores da empresa, cuidássemos no cadastramento, crachás enfim... toda a aparelhagem pra identificação. Deveria haver esse mesmo email na caixa de entrada do Bernardo.
A manhã foi passando e enquanto eu arrumava umas coisas com o Brutus brincando com uma bola de borracha no sofá alguém chamou na calçada. Eu não conhecia. Mal abri a porta e a garota começou a falar impaciente.
- O Bernardo tá em casa?
- Bom dia. – eu fiz questão de frisar – Não. Ele precisou sair. Deve voltar mais tarde.
- Hum... Tá bom então.
Era uma mulher morena muito bem arrumada. Muito mesmo. Uns óculos de sol enorme e tanto as roupas quanto a bolsa eram de marcas caras. Ela sacou o celular e voltou para o carro digitando algo. No meio do caminho ela parou e virou me olhando. Depois retornou pro carro. Saiu.
Mas gente, quem era essa mulher doida? E perguntando pelo Bernardo? Por volta das 11h ele chegou. Veio logo me beijando.
- Passou uma mulher aqui te procurando. – eu disse assim que ele desgrudou os lábios de mim.
- É? Quem?
- Alta. Morena. De salto. Com carro.
Bernardo me soltou no mesmo instante.
- Sabia que ela ia chegar aqui uma hora...
- Quem é?
- Minha ex-namorada. O nome dela é Amanda. Ela estuda comigo e já vinha há algum tempo tentando chegar em mim de novo.
- Aquela mulher de mais de 30 era sua namorada?
- Pois é... – ele disse sem graça. – Você tem problemas com pessoas mais velhas? Porque eu sou mais velho que você.
- Não é isso. O que é que ela quer agora?
- O que toda ex que vem atrás quer né? Voltar. Ela já vem me aporrinhando há um tempo. – ele disse saindo de perto. – Mas você sabe que eu agora sou seu.
- Vocês namoraram por quanto tempo?
- Não sei. Mais de ano.
- Como não sabe?
- É que no começo era só sexo. Ela gostou de mim e eu comia ela, só isso. – ele disse fazendo pouco caso. - Depois ela começou com essa coisa de me querer só pra ela e saiu dizendo pra todo mundo que a gente namorava. Eu não sentia nada a não ser tesão. Deixei correr solto... Não liguei. Daí desde então ficamos “comprometidos”.
- Ah então você só “comia ela”?
- Sexo por sexo é só sexo Lucas. Nunca senti nada. Era aonde eu desabafava. – ele veio em minha direção.
Eu não sei por quê. Talvez a revelação fosse muito forte, mas eu não estava convencido.
Tentou por as mãos na minha cintura e me dar um cheiro no pescoço. Eu o empurrei. Não gostei daquilo.
– Claro que com você é diferente, Lucas.
- Quem me garante?
- Eu garanto. Lucas eu não ia me envolver contigo do jeito que tô senão fosse sério. Você é mais que só meu namorado. Meu tudo.
Eu suspirei. Ele me surpreendeu com um beijo. Eu retribui e tentei me soltar, ele não deixou.
- Tudo bem Bernardo.
- Não... não tá tudo bem. Ei... – ele levantou meu queixo me olhando sério. – Eu te amo pow. – deu um sorriso de leve.
- É a primeira vez que você diz isso.
- Se gostou, vai ser a primeira de muitas, porque é verdade. – me puxou pra mais um beijo.
- Eu também te amo. Só não esperava saber disso.
- Deixa pra lá. Vamo comer... você tem que ir pra universidade.
Na universidade todo mundo notou que eu estava diferente.
- O que foi que rolou com vocês de ontem pra hoje? Porque pra vocês ter ficado assim de repente tem que ter a ver com aquele lá. – Natan perguntou no corredor.
- Cadê os meninos?
- Correram na lanchonete.
- A ex dele. Voltou. Foi lá em casa procurar por ele e eu achei estranho. Ele me disse que já haviam terminado, isso quando a gente se conheceu.
- Eu sei quem ela é. Mora no prédio do lado do meu. Não sei o nome, mas é mó gostosa. Natan baba por ela. Quando ela passa com roupa de academia...
Eu olhei incrédulo.
- Você sabia que ela tem quase 32 anos?
- Então graças a Deus ela está com tudo encima. Tá... Foi mal. Mas olha, ela estuda aqui a noite.
- Com ele, eu sei.
- Sério? Puxa... então ela já deve estar abordando ele há um tempo.
- Como é?
- Lucas, pensa. Eles estudam juntos e se veem todas as noites. Daí ela aprece na casa dele. Óbvio que ela já vem tentando algo há um tempo. Mulher quando quer correr atrás as vezes é pior que homem apaixonado. Não larga... Não adianta.
- Ele me falou que só transava com ela. Não era nada a mais. Daí ela gostava de exibir um garotão mais novo do lado dela e saiu dizendo que eram namorados. Daí ficaram como namorados pra todo mundo. Ele me disse que terminaram por conta do ciúme dele.
Assim que terminei de falar Natan parou no corredor. Ficou parado agarrando uma alça da mochila sobre o ombro e os olhos semiabertos como se estivesse pensando.
- O que foi criatura?
- Lucas... eu sou hétero, e sou seu amigo. Então eu vou te contar umas coisas. Homem só sente ciúme de mulher em duas situações. Ou ele gosta dela, de verdade, coisa de amor. Ou ele tem medo de ser corno. Só se tem medo de ser corno quando se gosta, porque senão gostar tanto faz se a mulher vai ficar com outro ou não. Você fica com outra mulher e pronto, o troco tá dado... Mas como ele sentia ciúme dela, tanto a ponto de terminarem, se ele não gostava dela?
Fazia sentido. Bernardo havia me dito duas coisas que se contradiziam.
Terminaram pelo ciúme exagerado dele. Depois ele diz que não sentia nada por ela, era só sexo. Ou gostava ou não gostava!
- Isso não importa. Ele tá comigo agora.
- Que assim seja mesmo...
- O que você quer dizer.
- Só o mais óbvio. Pra você ficar de olho.
- Hum... Você tá de carro hoje?
- Estamos, eu e Rony.
- É que eu não quero ir com a Júlia. Ela vai me perguntar e eu não quero conversar sobre isso agora. Não hoje. Pode me deixar em casa?
- Claro.
Fomos cainhando em silêncio e eu processando tudo o que o Natan disse.
- Ah olha só... – ele puxou a mochila e pegou um cartão. – Inauguração dessa boate daqui há duas semanas. Tá a fim? Vai cair num sábado. A gente pode brincar e ficar o domingo todo descansando. Pra não atrapalhar teu estágio na segunda.
- Ah ia ser demais... só tenho que convencer Bernardo.
- Ah... esqueci que você agora namora. Leva ele. Só não se afasta Lucas. Todo mundo ficou magoado com o sumiço da Larissa. Se for pra você namorar e deixar de andar com a gente é melhor desapegar logo. Você não pode trocar amigos por namorado não importa o quão “bonitão” ele seja. – ele falou em deboche - A Larissa talvez, mas você? Nem pensar.
- Não vou deixar de andar com vocês. Vou me programar pra gente ir pra balada.
- Tá ótimo. Vou pegar o carro... Chama o Rony pra mim.
- Beleza.
Fomos pra casa com o Rony contando palhaçada e nos fazendo rir.
Ao chegar em casa eu notei o carro da Amanda na porta. O que ela estava fazendo aqui? A moto do Bernardo estava na calçada.
Natan estacionou rápido e saltou pra fora do carro bem rápido.
- Bora acabar logo com isso. – Natan falou caminhando rápido pra porta. Eu o segui. Rony ficou no carro sem entender nada. - Pegar esse branquelo!
Assim que chegamos na calçada, quando ia pegando no trinco da porta ela se abriu.
- Lucas? – Bernardo falou segurando o braço da Amanda que estava com um casaco grande aberto indo até o joelho. Esqueci de mencionar que ela estava só de lingerie por baixo dele.
Meus olhos foram direto pra o corpo dela. Ela tinha formas de dar inveja a qualquer mulher de 20 anos, mesmo com 31. Ela era linda mesmo, havia um piercing bem pequeno no seu umbigo. Ela se apressou em fechar o casaco. Eu não sei que cara eu aparentava.
- Pode me soltar? – ela perguntou calmamente. Bernardo o fez. Ela passou por nós três de cabeça baixa. Entrou no carro e saiu.
- Lucas entra. – Bernardo fez sinal com a mão pra que eu passasse a porta. - E o que que você tá fazendo com ele? – Perguntou exaltado olhando pro Natan, que soltou um riso.
- Tem perguntas mais interessantes pra serem respondidas aqui, não acha? – Pela primeira vez Bernardo se recolheu diante do Natan. Os olhos dele, arregalados, marejaram de imediato e ele ficou vermelho espremendo os lábios. - Lucas, eu já vou. A gente conversa depois. Eu te ligo. – ele disse por fim olhando pro Bernardo que pela expressão faltava pouco pra explodir.
Eu só acenei. Assim que entrei em casa Bernardo bateu a porta na cara do Natan, logo depois encostou a testa na porta. Eu não havia percebido, mas ele estava com uma regata branca suja de batom perto do pescoço. A regata que ele mais gosta. Ele tem várias da mesma. A calça jeans preta desabotoada na cintura, com o zíper aberto. Descalço. O cabelo molhado. O rosto também, mas por suor.
Um silêncio de mais ou menos 30 segundos se passou. Eu parado no meio da sala esperando ele se virar e me olhar. Eu não queria chorar. Não queria. A gente tava namorando há dois dias. Dois dias! Só-dois-dias! Não tem cabimento já ter acontecido uma coisa dessas. Não queria acreditar. Mas eu queria a verdade. Uma hora ele teria que se virar e me encarar. Eu cruzei os braços, olhando de leve pra cima pra conter o choro.
Ele respirava ofegante, ainda com a testa colada na porta. Até que soltou todo o ar e se virou com os olhos vermelhos
- Me desculpa... Por favor, me desculpa Lucas.
Não. Não podia ser, cara... Isso não.
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Fala pessoal!
Tô sumido mas é porque tô cheio de coisa pra fazer mesmo. Além da faculdade, uns amigos meus inventaram um torneio de vôlei no clube que somos sócios e eu tô no meio e não sei quando vai acabar. Agora eu dou aula de inglês para os 4 estagiários da empresa e isso também me toma tempo. Mas estou fazendo o possível pra não atrasar muito.
Drica (Drikita): o Bernardo quase me deu uma bolada hoje. Uma super bolada! Na cara! Ele não é tão fofo, ok? Eu ainda vou descontar.
alvorada: Ah valeu! Lê esses comentários até o fim que eu vou já contar uma novidade, espera.
vitinho: Pois é. O Bernardo e mais tranquilo no ciúme. Eu já saí um dia só com o Lucas, acredita? Ele é muito tímido daí eu tento fazer ele se enturmar mais e tal... O Bernardo eu de vez em quando consigo arrancar ele de casa e fazer ele sair com a gente. Mas se o Lucas não tiver junto ele não vai. Semana passada mesmo, o Lucas viajou e me pediu pra levar o Bernardo pra comer algo porque se ele ficar muito tempo só ele começa a desandar e a casa vira uma bagunça e ele não come e blá blá blá... eu tentei. Acredita que consegui? Ele comeu um hamburger comigo. Só nós dois. MAs foi super rápido. Sem o Lucas não rola. Mas no lado do ciúme ele é bem melhor, mas ainda assim controlador.
DAVID: AAANW! Obrigado! Eu sei como é isso do primeiro conto. Foi bom demais ler o meu primeiro conto na época, 2012. Continua acompanhando!
Ghiar: O povo fala fala fala... mas são todos apaixonados pelo Bernardo. Mas eu sou suspeito pra falar porque adoro ele. É um chato as vezes mas é tão dedicado na empresa. Faz tudo direitinho. kkk
Lost boy: Graças a Deus você gosta. É uma novela de 4 a 5 horas escrever um capítulo. Porque eu escrevo e apago achando que não está legal, ou que detalhei demais, enrolei demais, acrescentei coisa demais. Daí quando vou revisar pra postar ainda tento melhorar... enfim, é uma luta que quando eu finalmente posto já estou cansado!
marcelo8486: O conto é parte real, eu falei no começo né? Pois é. Aguarda aí que eu tô dando uma pincelada de coisas fictícias porque eu não tenho como contar só a história real nua e crua dos dois porque eu não sei de tudo tudo tudo!
Dhcs: Ah então está explicado! Continua acompanhando e comentando que eu adoro.
Higor Melo e Monster : Não sei se foi no conto passado que respondi um leitor sobre isso. O Bernado e o Lucas são mais humanos que eu o Kaio. COm a gente as coisas deram certas de imediato, não é assim com todo mundo. Não é assim no dia a dia. Meu conto tem um quê de conto de fadas. Não é assim na vida do Bernardo e do Lucas. Por isso você nota os defeitos mais facilmente. Além disso, eu que sou apaixonado, arriado os quatro pneus e o estepe pelo Kaio descrevi ele em duas temporadas do mesmo conto, isso contribui pra que eu seja tendencioso e ele saia perfeito, galã, lindo e gostoso! (Ele já é, mas comigo falando fica mais ainda, entendeu? rs)
Fernando_Mocelim: Meu irmão número de celular do Bernardo é as 7 chaves dentro de cofre com combinação eletrônica com senha de 10 dígitos. Ele nao dá fácil. Mas eu tenho o whats dele sim! rs O enredo é real. Eu que dou um enfeites a mais. Metade/metade entendeu?
May Lee: Obrigado! Eu é que fico com os olhos cheios d'água ao ler isso. São pessoas assim que me fazem querer acreditar no amor. Que bom que eu não sou "o último romântico" nesse mundo. Isso me tranquiliza.
geomateus,Drica (Drikita), esperança, Junynho Play, Drica Telles(ametista), Wyllia Paes, Joshh, mille***, DavidH,Gabriel_Amarante_, Puckett150, todos vocês já sabem que tem o meu abraço. Mas não custa nada lembrar, eu adoro todos vocês.
Vamo lá... Me desculpem a quem está lendo, relendo o conto "A primeira vista". Eu vou excluí-lo. Por quê? Porque eu vou reescrever. Vou pegar os capítulos e revisar de um por um tentando melhorar pra um dia lançar de novo. Não vai demorar, prometo. Deve ser assim que eu terminar "Um estranho".
Peço desculpas principalmente a quem está lendo pela primeira vez, eu realmente vou ter que excluir. Notei até que o número de visualizações do conto "A primeira vista" subiu mas eu vou fazer isso. Foi mal. Legal que vocês recebem um conto bem mais bem escrito. Na época eu nao tinha o cuidado que estou tendo hoje com "Um estranho".
Abraço pra todos vocês. Até o próximo capítulo.
kazevedocdc@gmail.com
