Não sei exatamente em que momento apaguei, mas o fato é que um desmaio me impediu de saber quanto tempo minha mãe me bateu. Acordei com o corpo todo doído e duas pessoas sentadas do lado da cama: eram o Cléber e o Ahnrí.
Um pouco mais de observação e percebi que aquela cama não era minha, era mais alta e dura. Aquele quarto também definitivamente não era o meu.
- Ele acordou. - Falou o Ahnrí chamando a atenção do Cléber ao mesmo tempo em que se aproximava rapidamente de mim. - Caleb, você está bem cara?
- Calma, se afasta da cama, deixa ele respirar. - Alertou o Cléber se aproximando também.
- Gente, eu tô no hospital?! - Perguntei já sabebdo muito bem qual seria a resposta.
- Está sim. - Falou o Cléber calmamente.
- Cadê minha mãe?
- Está em casa. - Respondeu.
- Está em casa mas devia estar presa. - Falou o Ahnrí com raiva. - Aquela louca quase te mata. Se ela não tivesse deixado a porta aberta para a gente entrar.
- Calma Anhrí, deixa ele respirar, senão alta hoje nem pensar.
- Não Cléber, deixa ele contar. - Pedi. - Preciso saber o que aconteceu. Só lembro das primeiras cintadas.
- Foi asim. - Cléber começou fazendo um gesto para o Anhrí deixar ele explicar. - Fui até sua casa após o que você contou, resolvi conversar logo imediatamente com o David. Subi até seu apartamento e ouvi gritos e choro. Mal cheguei e o Ahnrí abriu a porta dele e percebemos que a porta do seu apartamento estava aberta, então entramos. Você estava desmaiado e nu, sua mãe nem percebeu seu desmaio, o Ahnrí teve que segurar ela pra ela voltar a si. Colocamos uma roupa simples em você e te trouxemos para cá. Quatro horas atrás. Estou esperando os resultados de uns exames para levar você pra casa.
- Eu não quero voltar para casa. - Falei assustado.
- Apoiado. - Falou Ahnrí.
- Caleb, precisamos conversar com sua mãe. O David foi um imbecil e contou a ela tudo, inclusive sobre mim, ela ficou com raiva de mim também, mas chorou muito quando percebeu seu desmaio. Ela queria muito vir mas eu a convenci a ficar em casa e dei um calmante forte para ela dormir. Você tem que entender que…
- Eu não tenho que entender nada Cléber. - Falei me alterando. - Ela me espancou, eu estou com medo, por favor… - Não consegui continuar porque lágrimas rolavam pelo meu rosto.
- Calma. - ele falou me abraçando. - Posso te levar para minha casa. Depois a gente conversa sobre isso. Agora dá licença, vou ver como estáo os seus exames.
Ele saiu e o Ahnrí se aproximou mais ainda de mim.
- Cara, desculpa não ter evitado isso, eu só ouvi quando já era tarde.
- Não foi tão tarde. - Falei dando um sorriso a ele. - ainda estou vivo.
- Ainda bem - ele respondeu o sorriso. - Se eu tivesse um local só meu para morar te levava para morar comigo, mas já moro de favor com minha mãe.
- Seria legal morar com você. - Sorri. - Mas eu vou dar um jeito nisso, não quero mais morar com ela não.
- Para sempre?
- Acho que sim. ela nunca me bateu, Não me sinto mais seguro estando com ela.
- Cara, você tem 16 anos, como…
- Eu me viro, com meu pai não rola também. Ele não aceita minha orientação sexual.
- Esse Cléber, é gente fina, era no carro dele que você entrou não era? Vim com ele e conheci.
- Ahnrí, não é um bom momento pra falar essas coisas.- Até que eu estava em condições de falar, mas resolvi usar meu estado para me poupar de falar o motivo da surra que levei.
- Desculpa. - Falou ele no momento que em que o Cléber voltou.
- Estamos bem, falei com o médico de plantão e estou com sua alta. - Falou ele.
- Foi alguma coisa grave?
- Uma insuficiência respiratória causada por choque emocional, aparentemente. Podemos ir.
Os dois me ajudaram a levantar e vestir minhas roupas. Saímos do hospital e fomos para o carro do Cléber, notei no trajeto que o Cléber era bastante querido, várias pessoas cumprimentavam ele de modo muito simpático.
- Posso ir para sua casa mesmo? - Falei quando entramos no carro.
- Claro, mas vamos passar no condomínio para deixar o Ahnrí. Ok, ahnri?
- Claro Cléber. - Falou o Ahnri.- Mas qualquer coisa pode me chamar, Caleb.
- Está certo. - Confirmei rindo.
Seguimos em silêncio até o meu condomínio, onde o Ahnrí agradeceu muito o Cléber e desceu. O Cléber entregou um atestado para o Ahnrí levar ao colégio que me dava licença o resto da semana.
Quando o Cléber foi saindo, avistei meu rosto no espelho pela primeira vez e foi então que vi um enorme corte que havia do canto de um dos olhos até o meio da bochecha, tinha 5 pontos. Deu um grito de susto.
- Meu Deus. Eu não tinha reparado isso na minha cara.
- Você não sentiu por causa de uma pomada analgésica que mandei colocar.
- Vai ficar uma cicatriz enorme no meu rosto. - Falei quase chorando.
- Vai ficar uma cicatriz sim, mas não vai ser tão grande, só uma pequena linha e dá para fazer tratamento e eliminar ela quase completamente.
- Cléber. - Falei chorando. - Deixa de ser tão frio cara, eu tõ com uma cicatriz na minha cara. Quem é que vai me querer assim?
- Muita gente. - ele falou calmamente.
- Muita gente quem?
- Muita gente como eu. - Falou segurando minha mão.
Aquele gesto dele me fez calar a boca, confesso que me emocionou um pouco. A frieza do Cléber era estranha, parecia que nada afetava ele. Seguimos em silêncio até seu apartamento. Ele me conduziu ao quarto de hóspedes e procurou me deixar o mais confortável possível. Meu corpo doía muito, mas pelo que sentia apenas no rosto havia sido feito um corte. Era impossível não sentir uma raiva enorme da minha mãe. Eu era um garoto muito bonito, modéstia à parte, uma cicatriz não ajudava em nada um jovem gay a arrumar parceiros. Apaguei pela segunda vez naquele dia, desta vez, pelo menos, com uma sensação de paz no peito.
Acordei com o sol bem alto, as cortinas haviam sido puxadas para deixar a luminosidade entrar. Olhei para o lado e havia uma bandeja com um copo de suco de laranja enorme, alguns biscoitos, uma porção de salada de frutas e um pires com alguns comprimidos. Achei aquilo bem romântico, embora talvez tenha sido apenas cuidado normal de um médico a um paciente.
Senti uma fome enorme e comi absolutamente tudo, do copo de suco â salada de frutas, nada escapou. Sentei então na cama sozinho, sentindo muitas dores no corpo, provavelmente os efeitos dos analgésicos haviam passado e eu precisava tomar mais, ainda bem que logo fariam efeito.
- Olha quem levantou. - Falou o Cléber rindo na porta do quarto. - Dormiu bem?
- Dormi. - Falei. - Obrigado pelo café. Muito caprichado.
- Não fui em que preparei. - Ele falou em tom brando.
- Quem foi? - Perguntei com medo da resposta.
- Sua mãe. - Ela está na sala, quer muito falar com você. - Ele falou em tom apreensivo. - Se você não quiser falar com ela, ela não vai insistir. Você aceita que ela venha te ver?
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Amanhã tenho um compromisso que provavelmente me impedirá de postar, então volto aqui quarta feira com mais um capítulo.
Até quarta pessoal.
Obrigado pela paciência.