CAPÍTULO 4: O ESCONDERIJO DOS CINCO.
- Sou Bloondie, prazer.- Disse ela estendendo a mão direita para um aperto.
- Hizel...- Apertei sua mão sorrindo.
- Olha!- Ela se aproximou da janela e apontou para fora com um sorriso de criança no rosto.
Quando olhei, haviam várias criaturas que eu nunca tinha visto antes. Eram grandes, fortes e pesadas... Bem pesadas. Elas corriam na mesma direção em uma manada, fazendo o chão extremecer.
- O que são essas coisas?- Perguntou Erin com cara de nojo.
- São Hãn'thofos. Eles vivem em grandes grupos e por isso, quando se assustam e correm desse jeito a terra treme.- Disse Bloondie apoiando-se nos joelhos.- No meu esconderijo haviam muitos deles. Eles são conhecidos por serem muito gentis, apesar do tamanho, eles são super docéis e adoram conviver com outros seres, principalmente os humanos.
- Éca! Com essa pança gigantesca, eu jamais ficaria perto disso. O cocô dele deve ser maior que eu!- Alguns de nós riram, menos Enzo, que continuava me secando. E agora mais de perto, já que estávamos todos espremidos na janela.
O tempo foi passando e muitos de nós já havíamos dormido. O balançar constante da carruagem estava me dando enjoo, e sem falar que o silêncio era tedioso.
- Chegamos!- Gritou um dos guardas batendo em nossa porta. Eu nem tinha percebido que a carruagem havia parado. Só pensava em sair dali o mais rápido possível, me enfiar em uma moita e vomitar até as tripas. E foi o que fiz.
Abri a porta e saltei para fora correndo até o mato. Me abaixei atrás de uma árvore e lá se foi todo o meu almoço.
- Você está bem?- Aquela voz já me era familiar.
- Você só sabe dizer isso?- Perguntei em tom de brincadeira.
- Ah, me desculpe. É que sempre que nos falamos você está no chão ou passando mal...- Levantei a cabeça e olhei para Ian, que coçava a nuca sorrindo.
- É, eu sou bem estúpido!- Disse retribuindo o sorriso.
- Não, só é um pouco desajeitado...
- Nossa, obrigado.
- Oh, não disse por mal!
- Tudo bem, eu não levei à sério...- Ele se aproximou e enfiou a mão em seu bolso, retirando de lá um lenço.
- Tome.- Disse estendendo-o para mim.
- Não precisa, obrigado...
- Eu insisto.- Falou sorrindo o mais fofo que se era possível alguém ser.
- Obrigado...- Senti meu rosto esquentar quando segurei o lenço, de certo eu estava mais vermelho que um tomate.
Quando voltei à carruagem, todos já estavam do lado de fora e ao me aproximar, Enzo me lançou um olhar de dar arrepios. Ele parecia estar com raiva de algo e eu deveria ser o motivo.
"Más eu não fiz nada para ele!"- Pensei passando à frente de todos.
- Vamos, não podemos ficar muito tempo aqui fora, desprotegidos. Temos que entrar logo.- Disse Ian.
Quando olhei um pouco à frente, vi um castelo imenso cercado por um muro tão grande quanto, que o rodeava por completo. Seria ali nossa área de treinamento onde passariamos três meses olhando uns para a cara dos outros; ao menos teria outras pessoas da minha idade, e duas, bem interessantes...
[...]
- Bom, seus quartos ficarão no andar superior, podem escolher qualquer um que logo suas bagagens irão até vocês. Os sacerdotes ficarão nas torres. Tenham um bom dia.- Disse uma mulher baixa com vestes escuras enquanto adentravamos o local.- Capitão Ian, o senhor pode ficar no mesmo andar que os guardiões, à não ser que prefira...
- Não, eu fico no andar deles.- Disse ele a interrompendo com um sorriso.- Obrigado.
- Sim senhor. Eu preciso voltar aos meus afazeres, se precisarem de algo, estou na cozinha.- Ela se curvou e se afastou nos deixando em uma enorme varanda, que contornava todo o lado esquerdo do prédio.
O castelo era como uma lua minguante, e ao centro, uma enorme área cheia de equipamentos, armas, alvos, e obstáculos que nos serviriam no treinamento.
Era um campo verde e nas laterais do muro haviam bastante árvores e flores.
Subimos todos juntos e cada um escolheu um quarto. A ordem era a seguinte: Bloondie, Enzo e Erin à esquerda. Ian, Christopher e eu à direita. Eu quis o quarto no final do corredor porque era o mais afastado e me daria um pouco mais de privacidade e silêncio.
- Atenção, guardiões. Vistam-se e se direcionem até a área de treinamento, neste exato momento, por favor.- Disse Ian através de um alto falante no corredor.
- Não faz nem meia hora que chegamos e já vamos começar? Pelo jeito as coisas vão ser bem corridas por aqui...- Disse a mim mesmo resmungando. Fui até um baú aos pés da cama e retirei de lá meu traje, a lá guerreiro indomável, e após calçar as botas, sai pela porta ao encontro dos outros. Minha roupa era simples. Eu usava uma calça de linho preta justa e uma camisa branca de mangas, acompanhados pela bota de couro que ia até o meio da canela.
Os outros também já estavam no corredor e seguimos descendo as escadas em silêncio. Silêncio. Era sempre o maldito SILÊNCIO. Nenhum de nós falavamos uma única palavra desde a última conversa sobre os Hãn'thofos. Eles tinham um semblante de tédio e os passos lentos não ajudavam muito.
Logo senti os raios do sol das 14:00hrs pairar sobre minha pele pálida. Era bom sentir o ar livre bagunçando meus cabelos, eu me sentia leve e até batia uma sensação de felicidade. Más eu já estava morrendo de saudades do meu velho resmungão do Halon. Ele sempre conseguia me fazer rir não importa qual fosse a situação. Nada perto dele era parado, ele gostava de tudo em movimento, em agitação. E eu adorava isso nele... Nós nem nos despedimos, ao menos após três meses eu iria poder vê-lo de novo...
No meio do campo, Ian estava com roupas parecidas com as nossas. Essas não escondiam tanto seu físico e eu podia ver seus músculos desenhados pela camisa. Ele usava braceletes de couro nos pulsos e a espada na bainha à sua cintura.
Más o que me chamou mesmo a atenção foram os seres ao lado dele.
Os sacerdotes, que vestiam camadas e camadas de pano, agora usavam roupas como as nossas, pareciam até pessoas normais. A deusa Arya estava com os belos cabelos claros amarrados em um rabo de cavalo, que pendia no ombro esquerdo até a altura da cintura. Aquela mulher era realmente uma deusa... De qualquer forma, sua beleza era invejável.
- Vamos começar com o básico.- Disse Ian me olhando e logo sorrindo com aqueles dentes brancos como a neve.- Os sacerdotes vão ensiná-los a dominar seus elementos e lhes explicarão outras habilidades que vocês ainda não sabem que possuem.- Ele foi para o lado e o deus, Denon, veio à frente.
- A terra é firme e resistente.- Disse ele fazendo sinal com as mãos para que Erin se aproximasse, e assim ela fez entortando os lábios e bufando.- Uma das principais mudanças será a sua personalidade, ela irá aumentar gradativamente...
- Mais?!- Perguntou Christopher fazendo todos rirem.
- Idiota!- Disse ela lançando um olhar mortal para o garoto.
- Além dos poderes do elemento, você assim como todos os outros ganhará outras habilidades ao decorrer do tempo, como: maior força física, os animais desenvolverão uma simpatia incomum por você, e a mira será um dos seus maiores pontos fortes...
- Animais? Fala sério! Eu ódeio todos os bichos, tenho nojo de tudo que não é humano, até de humanos eu tenho repulsa as vezes!- Ela olhou diretamente para mim e sorriu irônica.
- Também te amo, querida.- Arqueei uma sobrancelha e sorri. Bloondie e Christopher gargalharam alto, Enzo não riu, más ele serrou os lábios para não o fazer.
- Vamos lá.- Ian empurrou um tonél com algumas pedras e o deixou entre os dois.- Sinta a densidade da pedra. Faça ela se...- Antes dele terminar de falar, duas pedras já levitavam abaixo das mãos de Erin paradas no ar.
- Ai, eu consegui!!!- Gritou dando pulos de felicidade.- Faz melhor!- Ela passou ao meu lado sorrindo.
"Nojenta!!!"- Gritei em meu próprio interior, me segurando para não dar um soco nela ali mesmo.
Todos os outros fizeram o mesmo, e como de se esperar, eu fui o último.
Arya se pôs à minha frente sorrindo e sem enrolação, pediu que Ian pusesse um balde com água entre nós.
- A água é a mais difícil de se controlar. Por ser um elemento fluente, para ser dominada, é necessário que o usuário tenha a alma agressiva, más doce ao mesmo tempo. Você deve aprender a controlar suas emoções, pois a água segue muito as emoções e caso isso esteja em desordem, seus poderes podem não só serem perigosos para quem está perto de você, como para você mesmo.- Ela me olhou compreensíva e fez sinal para que eu pusesse as mãos sobre o balde.- Está pronto?
- Sim...- Disse esfregando as mãos nervoso.
- Sinta a água como se fosse parte de você. Você deve se unir à ela, senti-la em cada parte de você, como se fossem apenas um. Relaxe e deixe a calma da água lhe conduzir, então, imagine como se você estivesse a pegando com as mãos...- Assim fiz.- Ótimo... Continue assim...- Ela falava baixo, quase sussurrando.- Conseguiu.
Quando abri os olhos, um pilar de água serpentiava à minha frente. O topo balançava de um lado para o outro jorrando água para os lados.
Por alguns segundos me senti realmente parte dela, era como uma extensão de mim, parte do que me tornei... Fechei os olhos novamente e foi então que a imagem daquele dia veio à minha mente. Vi tudo ficar escuro e meus pulmões já não se moviam, eu estava afundando cada vez mais. Eu queria pedir ajuda, más não havia ninguém por perto, ninguém poderia me ouvir...
Abri os olhos e todos estavam parados. Ian estava próximo de mim com uma das mãos levantadas perto do meu ombro. Seus olhos arregalados e a boca aberta, ele parecia assustado... Todos pareciam assustados.
Então olhei para a direção em que Ian apontava e quase tive uma parada-cardíaca com o que vi. O pilar de água havia congelado e se tornado uma lança cheia de espinhos em sua extensão, e a ponta, estava pressionada contra o pescoço de Enzo, quase no limite para causar um ferimento.
Continua....