O Casarão - Parte 1

Um conto erótico de Whirled
Categoria: Homossexual
Contém 3802 palavras
Data: 06/08/2014 14:33:40
Última revisão: 06/08/2014 15:30:45
Assuntos: Homossexual, Gay, Amor, Sexo

Olá pessoal,

É a primeira vez que estou publicando um conto aqui no site. Esse conto não foi escrito por mim, havia lido ele anteriormente e salvo no computador. Decidi postá-lo aqui, pois gosto muito dele, espero que gostem tambémIgor se levantou da cama em um movimento abrupto e ganhou impulso na voz.

- MAS EU NÃO QUERIA! Você poderia muito bem ter deixado pra lá. O fato de eu não querer beber cerveja não me deixaria longe do jogo, eu ainda estava lá do seu lado. Eu não queria beber, não queria. Não te custava nada. O seu problema é que você não se importa com a vontade de ninguém, só com a sua.

Breno começou a lacrimejar, mas na verdade de seus olhos brotavam ódio.

- Eu só queria que meu filho bebesse comigo, assim como todo pai faz com seu filho.

- Os bons pais respeitam seus filhos. É regra geral que todos devem beber? É regra geral que todos gostem de futebol? Não, não é. Mas é regra geral que todos os filhos amem seus pais, e os respeitem, e os obedeçam, e tirem boas notas na escola, e que não usem drogas, e que não engravidem as suas namoradas antes de se casar. Isso tudo eu faço, isso tudo eu sou, mas isso tudo não importa para o senhor. O senhor quer mais de mim, mas esse mais eu não posso dar. E quer saber de uma coisa? Também não vou me esforçar por te agradar. Se agrade comigo se quiser, se não quiser, problema seu. Eu sei que sou um bom filho e não é porque eu ache futebol uma merda que isso muda as coisas. EU SOU UM BOM FILHO, MAS VOCÊ NÃO É UM BOM PAI!

“Aos dezoito eu já sabia quem e o que eu era. Tinha ciência ou noção disso. Eu era aquilo que nenhum pai gostaria de ter como filho. E quando digo ‘pai’ e ‘filho’ digo no masculino mesmo. Pai, aquele que nos leva aos estádios de futebol; e filho, aquele que na adolescência pede conselhos ao pai sobre como impressionar garotas. Fora isso, acho que poucas coisas eu sabia, poucas eram as certezas.”

E enquanto o pneu da caminhonete girava, Igor se encolhia no banco do passageiro com seus pensamentos repetidos sobre sua vida jovem. Ao volante guiava seu pai, Breno, o senhor de todos os medos do garoto tímido e educado, como diziam as moças do colégio. Eles seguiam para o hotel, ou o que ainda seria um: o negócio da família.

- Eu estou fazendo isso pelo seu futuro também, então é bom você se comportar, está me ouvindo?

- Uhum.

- E você sabe o que eu quero dizer com “se comportar”, não sabe?

Ele sabia. Ele ouviu durante toda a vida eufemismos de “se comporte”, que iam desde um simples psiu até mesmo um grosseiro “aja como um homem!”. Mas Breno não queria desavenças com o filho único naquela manhã. Era um dia importante, por isso um eufemismo brando. Igor costumava não responder ao pai, o máximo que ele já fez foi olhar torto, mas nada mais rebelde que isso. Aos olhos da maioria, Igor parecia apenas tímido e inseguro, mas para Breno o problema era outro.

O dia se apresentava, de fato, muito importante. Mudaria a vida de todos, inclusive a de Igor. Seu pai e um amigo da época de faculdade, Silveira, haviam se reencontrado e, após muitas conversas informais, resolveram formalizar um negócio juntos. Silveira era dono de uma quase falida distribuidora de revestimentos cerâmicos e ainda dispunha de muitas caixas do produto, que era de grande qualidade, mas de valor oneroso. O local da empresa era muito bem situado na cidade e o prédio era um casarão estilo neoclássico, muito comum na vizinhança. Tudo indicava que esse negócio não daria certo: o bairro não era apropriado, a casa não atendia as necessidades do empreendimento, sem contar que era um desperdício destinar aquela bela arquitetura para um fim tão desgastante.

Foi ideia de Breno, que já tinha uma pequena pousada, transformar o casarão em um hotel. A proposta pareceu interessante para ambos. Breno tinha o conhecimento desse tipo de mercado e a experiência de gerações; Silveira tinha o espaço físico e capital suficiente para dar inicio ao novo negócio.

As obras de reforma começaram no casarão, mas por estar abandonado durante as noites, uma série de roubos começaram a acontecer. Materiais de construção e as ferramentas dos operários começaram a desaparecer. Silveira temia não só por esses pequenos roubos, mas pela integridade do neoclassicismo daquelas paredes e colunas e, principalmente, pelo estoque valioso de pisos cerâmicos que ainda estavam no prédio. A ideia então era vigiar a casa, torná-la movimentada e com custo quase zero, afinal muito já estava se gastando na obra e qualquer despesa fora de planejamento poderia ser arriscado. Breno tinha um filho jovem, de dezoito anos e que só tinha os estudos como ocupação. Silveira também.

- Eu vi o quarto onde vocês vão dormir. É confortável. Não é uma suíte presidencial, mas é muito boa. Aliás, tem cama e é o que importa.

- “Onde vocês vão dormir”?

- Hã?

- Eu e o Pedro vamos dormir no mesmo quarto?

- Vão, por quê?

- Há tantos quartos no casarão, não poderiam ter colocado uma cama em outro quarto?

- Até poderia ser, mas os pedreiros ainda estão encimentando todas as paredes, os pisos serão trocados. Pedimos para que eles agilizassem em pelo menos um quarto pra vocês poderem dormir.

- Não me importo com conforto, eu poderia dormir em outro quarto.

- Qual o problema de dormir com o Pedro?

- É que... sei lá...

- Vai começar com frescurinhas? Olhe, Igor, preste atenção, sua mãe e eu já estamos acostumados com esse seu jeito de ser, mas não me envergonhe na frente do Silveira e do Pedro. Porra, o que tem de mais dormir no mesmo quarto que ele?

- Privacidade...

- Você não precisa de privacidade. Você é homem! Você não tem que esconder os seios na frente dele, pois que eu saiba isso você não tem.

A caminhonete passou pelo portão do casarão e, finalmente, parou.

- É para o seu bem que eu digo isso. Se imponha, erga os ombros, imposte a voz, não fique tímido. E por favor, não me envergonhe!

Breno desceu do automóvel e foi tirar as malas da caçamba. Igor olhou para as chaves da caminhonete balançando abaixo do volante e a sua vontade era de girá-la e sumir daquele inferno, mas Breno exercia um poder inexplicável sobre o filho, que acabou descendo do carro e ajudando o pai a pegar as suas malas.

Pedro e Silveira chegaram logo em seguida e também traziam malas e alguns equipamentos eletrônicos. Silveira era um homem de mais ou menos cinquenta e cinco anos, tinha todos os cabelos embranquecidos pelo tempo, mas seu humor e simpatia haviam sido mantidos desde a época em que era um adolescente. A risada dele era facilmente identificada por todos que o conhecia e era um som que quase sempre aniquilava tensões. Silveira possuía um carinho grande por Igor e tinha a mania de chamá-lo de “Grande”. Já Pedro não se parecia em personalidade com o pai. Era fechado, parecia sempre estar desconfiado de algo e as vezes era grosseiro. Mas Igor não se importava com isso, o que incomodava era o fato de Pedro parecer não simpatizar muito com ele. Durante os primeiros encontros de Breno e Silveira, Igor tentava desarmar Pedro. Sempre sem sucesso. Igor não se importava com isso. “Mas a coisa muda de figura se eu passar a dividir um quarto com ele”.

- Oi, Grande, trouxe todas as cuecas?

- Trouxe sim, tio.

- Qualquer coisa, pede ao Pedro para te emprestar algumas. Ele é bem maior que você, mas você não se importa, não é?

Breno não achava graça nessas piadas por considerá-las bobas; Pedro não riria por nada, até porque eram de suas cuecas que eles falavam; Igor ria de nervoso; e só Silveira ria com convicção de sua própria piada.

- Eu vou levar as malas para o quarto!

Pedro foi pegando duas malas enormes e atravessou o jardim, subiu os degraus da entrada e desapareceu na penumbra do casarão. Enquanto Breno e Silveira discutiam algo sobre a obra, Igor foi pegando uma mala e entrou finalmente. Ele deu uma olhada no hall, pôs a mala no chão e seguiu para a cozinha. Tudo ainda estava em reforma, inclusive a cozinha, que agora precisava ser ampliada e modernizada. As pias estavam cobertas de poeira da obra e havia muitos materiais de construção naquele ambiente.

- Como será possível cozinhar aqui? Comer aqui? Vou ter que fazer uma faxina... Mas não hoje. Hoje o almoço será pizza e o jantar também.

Ele espiou por algum tempo a cozinha suja e voltou para pegar sua mala. Quando chegou ao hall, sua mala já não estava mais lá. Estranhou. Foi para o jardim e lá só tinha os dois carros. Então voltou, subiu a escada e foi procurar o quarto. Guiado pelas vozes de Breno e Silveira, entrou e viu as suas malas encima de uma das camas. Seu pai e seu tio de consideração conversavam com muito entrosamento, enquanto Pedro abria suas bolsas e separava as roupas. Igor e Pedro se olharam por um momento. Igor sorriu para Pedro, em um gesto de boa vizinhança. Pedro não movimentou nenhum músculo do rosto e voltou-se para as malas.

- Mas deve ser um bandidinho de quinta, afinal ele só leva coisas sem valor.

- Silveira? Como sem valor? De pouquinho em pouquinho ele já levou mais de dois mil em ferramentas.

- Sim, eu sei, mas eu digo sem valor no sentido de... Ah, não sei em que sentido.

- Eu entendo o que você quer dizer. Mas se fosse uma ou duas coisas que ele tivesse levado, mas não. Suspeito que seja alguém que entenda dos custos dessas ferramentas.

- Ah, sem dúvida!

Fazia um mês que Igor já tinha escutado aquela conversa, que pouco o interessava. Sentou-se na cama onde estavam suas malas e pensou “ao menos eu vou dormir perto da varanda!”.

- E ai, Grande, já deu uma olhada na reforma? Vá aprendendo, quando suas aulas de Arquitetura começarem, é você quem vai comandar os operários.

- Oh, tio, mas eu nem vou ter conhecimento para isso. Minhas aulas nem começaram.

- Ah, deixe de bobagem. Não te chamo de Grande a toa. Você será grande, moleque, você é muito esperto. Mas e aí, o que você achou?

- Eu só vi a cozinha e ela está inabitável. É muita poeira, não dá pra cozinhar nada ali.

- Depois você e o Pedro limpam. Aliás, vocês precisam limpar o banheiro também. Pelo menos os pedreiros varreram o quarto de vocês.

- É verdade!

- Grande, eu já estou indo. Fique bem e cuidado com os fantasmas.

- Fantasmas?

- Ué, seu pai não disse? Dizem que esse casarão é mal assombrado. Parece que uma loira morreu aqui no dia do casamento... Isso há muitos anos atrás. Agora ela assombra essa casa velha com o seu vestido branco.

- Ok, tio, pode deixar!

Igor e Silveira riram mais uma vez, enquanto Pedro e Breno continuaram sem achar graça de nada.

- Pedro, desça, eu quero falar com você lá embaixo. E, Breno, jantamos hoje, né?

- Isso.

- Certo, Paulinha e eu passamos lá às vinte horas. Tchau, Grande!

- Tchau, tio!

Pedro abandonou as mudas de roupa na cama e desceu sem emitir um som sequer. Breno seguiu os dois que desciam com os olhos e quando estes desapareceram, voltou-se para Igor.

- Cozinha, Igor? Você foi ver a cozinha?

- Sim.

- E quando chegou lá percebeu logo que ela estava suja? Não, não, não, “inabitável”?

- Ué, mas eu só comentei...

- E ainda comenta que não dá pra cozinhar? Por acaso é você quem vai cozinhar para o Pedro, como se fosse a mulher dele? Igor, não foi sobre a cozinha que o Silveira perguntou. Ele perguntou sobre a obra em geral. Você não poderia ter falado sobre a obra em geral? Por que você não é como o Pedro?

Era inútil discutir com o pai e Igor já sabia disso. Então olhá-lo e ouvi-lo era tudo o que ele fazia. Era tudo o que ele sempre fazia.

No andar de baixo, a conversa entre pai e filho tinha outro tom.

- ...e essas são as chaves lá dos fundos. Não sei se todas, mas tire algumas cópias dessas chaves e dê ao Igor.

- Eu tirar? Por que o senhor não tirou logo e deu para ele?

- Ah, não tive tempo. Olhe, cuidado com essas chaves, principalmente com as do galpão das cerâmicas. E cuidado com todas as portas e janelas. Quando os pedreiros vêm, eles têm mania de abrir todas as portas e janelas. Lembre-se que a gente está lidando com um ladrãozinho, que aparentemente não ameaça, mas nunca se sabe. E por fim, tome conta do Igor...

- O que? Tomar conta do Igor?

- É, por quê? Algum problema?

- Todos. Não vim pra ser babá de ninguém.

- Não tem nada a ver, Pedro. O Igor é mais novo e mais fraco fisicamente que você, serão só vocês dois aqui, vocês precisaram cuidar um do outro, porém mais você cuidar dele que ele de você.

- Ah, mas era só o que me faltava mesmo...

- Pedro, isso não está em discussão. Eu estou mandando você tomar conta do moleque e pronto. Trate-o como a um irmão.

- Ele deve ser mesmo meu irmão, afinal você tem mais carinho por ele que o próprio Breno.

- Psiu, fale baixo!

- Oh, pai, fala sério. Esse negócio de tomar conta do Igor vai atrasar a minha vida. Você não diz que ele é grande? Então, ele se cuida sozinho.

- Pedro, você quer levar um soco? Já estou ficando com raiva dessa conversa. Eu estou mandando e quando eu mando, você obedece.

Breno desceu e Pedro subiu. Ao chegar ao quarto, Pedro voltou-se para as roupas e Igor avistava da varanda os carros desaparecerem na rua.

- Poxa vida, agora somos só nós, né, Pedro?

Pedro olhou para Igor, levantou uma das sobrancelhas e voltou a dobrar as roupas, calado. Durante aquele dia, nenhum dos dois abriu a boca para falar e nenhum som humano se ouviu naquele imenso casarão.

Estava claro para Igor que Pedro não seria o seu mais novo melhor amigo de infância e Igor só tinha uma grande preocupação em sua vida, que era não ser ou parecer inconveniente para ninguém. Desejar estar em outro quarto, ter o mínino de contato possível com Pedro era o desafio de Igor, mas não porque ele se sentisse agredido pelo companheiro de quarto, mas por não querer incomodar a Pedro.

Já Pedro sentia na presença de Igor um estranho sentimento de repulsa. Ele não tinha nada contra Igor, ele simplesmente o odiava, ou seja, não era um sentimento qualquer. Dizem que o ódio não é o oposto do amor, mas sem dúvida odiar não é algo que dá e passa como uma dor de cabeça comum. Igor, em geral, desagradava a Pedro: sua voz, suas tentativas em estabelecer um coleguismo, sua presença e, inclusive, o carinho que seu pai nutria pelo rival, incomodavam-no. Ele sentia em seu estômago os efeitos da presença de Igor e nenhum antiácido o ajudaria a odiá-lo menos. Contudo, Pedro nunca se questionou os motivos que o levaram a odiar Igor. Era só um sentimento com fim em si mesmo.

Pedro terminou com rapidez a arrumação de suas roupas e começou a colocá-las na cômoda, sem perguntar a Igor onde ele gostaria de pôr suas. Em seguida, começou a instalar a televisão e o aparelho de DVD. Igor assistia a tudo calado, sem opinar sobre nada. Na posição em que Pedro instalou a TV, o sol que entrasse pela janela da varanda interferiria na visualização da tela; Igor percebeu isso, mas nada comentou. Pedro entrou no banheiro e lá permaneceu trancado por muito tempo. Já Igor, agora sozinho no quarto, suspirou profundamente, olhou cada cantinho daquele espaço e constatou que com tudo aquilo ele realmente não passaria de um hóspede. Eram Pedro e ele os primeiros hóspedes do hotel, pois ambos não sentiam aquilo como um lar, mesmo que estivessem cientes de que a estadia seria provisória.

Depois de perceber que não poderia evitar aquela mudança em seu mundo de lamentações repetidas, Igor terminou de tirar e separar as roupas das malas. Ao começar a preencher as gavetas da cômoda, viu que só havia lhe restado uma gaveta do móvel, pois todas as outras estavam ocupadas com as peças de Pedro. Igor até chegou a abrir uma das outras gavetas para conferir se ainda havia espaço. E havia. Mas o que ele poderia fazer se não queria ser inconveniente para o companheiro? Restou-lhe, então, deixar boa parte de suas coisas nas malas. Pronto! Não havia mais o que fazer a não ser esperar pela hora do almoço.

Pedro saiu do banheiro com a toalha amarrada na cintura e as gotas d’água estampando a sua pele. Igor nem percebeu o barulho do chuveiro e estranhou o banho; depois, começou a arrumar a roupa de cama para se deitar um pouco e esperar o tempo passar. Primeiro ele se deitou de frente, com as duas mãos sobre a sua barriga. Foi então que Pedro, sem pudor algum, puxou a toalha de sua cintura e a jogou em sua cama. Nesse instante em que ele se virou para as camas, Igor e Pedro tiveram um novo momento. Pedro olhou aquele corpo deitado e o ignorou como já o fazia, mas Igor sentiu vergonha e se virou para o lado oposto, dando as costas para Pedro.

Alguns barulhos de gavetas batendo e de repente o silêncio. Mas Igor continuou de costas, afinal, mesmo que se virasse, o que ele faria? Já estava acomodado naquela posição, então decidiu permanecer assim. Minutos depois foi a vez do portão da rua emitir som, assustando a Igor, que levantou de súbito para ver o que acontecia. Era Pedro que havia saído sem dizer nada. O garoto estranhou, mas não achou tão ruim. Os rumores sobre os roubos no casarão não o assustavam, então ele voltou para cama e começou a se encolher debaixo do lençol. Ainda era manhã e o cérebro de Igor não funcionava muito bem nesse horário. Ele voltou a visualizar todo o espaço do quarto para entender melhor como aquilo tudo funcionava.

Assim que se abre a porta, vê-se duas camas pela lateral, uma após a outra. O banheiro se encontrava a esquerda, já a cômoda e as duas prateleiras de parede acima ficavam em frente as camas. Havia espaço para um guarda-roupa ou para qualquer outra coisa, mas nada tinha no espaço ao lado da porta de entrada do quarto. As paredes eram brancas e as portas eram marrons em tom claro. Já a porta da varanda era dividida em duas e era envidraçada e havia uma poltrona de metal para uso de algum observador. Com a demora de Pedro e com a monotonia daquele inicio de dia, Igor acabou adormecendo com a brisa da manhã lhe fazendo afagos na face.

Pedro, que já conhecia a vizinhança desde pequeno, caminhou até a pizzaria mais próxima, que ficava a cinco quarteirões dali. No caminho, discou alguns números no telefone celular e ligou para o seu pai.

- Oi, Pedro, algum problema?

- Alguns.

- Cadê o Igor?

- Oi, seu filho sou eu, tá?

- Não seja bobo, Pedro. E você lá precisa de alguém te paparicando? Você já não é grandinho?

- E o “Grande” também já é grandinho!

- Ah, muito engraçado...

- Quando o senhor vem trazer a van?

- Hoje mesmo. Hoje a tarde, talvez.

- Traga logo, por favor, pois vai ser melhor para mim estar com um carro. Agora, por exemplo, estou indo a pizzaria encomendar umas pizzas para o almoço de hoje e estou a pé.

- Por que não pediu delivery?

- Porque preferi sair de casa, andar um pouco.

- E deixou o Grande sozinho?

- Pai, quer parar de se preocupar com o Igor? Caralho, eu só dei uma saidinha, ninguém vai entrar no casarão não.

- Igor é sua responsabilidade, está me ouvindo?

- Estou, pai, estou.

- Ele será seu futuro sócio, esse negócio é de vocês dois, Breno e eu estamos pensando em vocês dois.

- Já ouvi isso antes...

- E vai continuar ouvindo um monte disso se você se fizer de desentendido.

Pedro tinha estômago para sete fatias, se quisesse, mas resolveu comer apenas três e deixou as outras quatro para o companheiro indesejado de quarto. Após a última pizza, Pedro se lembrou da missão que seu pai o havia deixado: fazer cópias das chaves para Igor. De ódio por aquela lembrança, quase saiu do recinto sem pagar pela comida, mas girou seu corpo logo, em direção ao caixa, e efetuou o pagamento. Perguntou a alguém na rua se por perto havia algum lugar onde poderia copiar chaves. Ninguém soube informá-lo, então Pedro subiu em um ônibus e seguiu para uma feira livre onde ele sabia que poderia fazer as cópias. Retornou sem muita pressa para o casarão e percebeu que ele estava do mesmo jeito que ele havia deixado. Olhou para as escadas na tentativa de enxergar Igor, mas era óbvio que dali ele não conseguiria, então deu de ombros e seguiu para a cozinha, guardar as fatias de pizza na geladeira que ele acabara de ligar na tomada.

Na tarde daquele dia, como Silveira havia dito pelo telefone, a van que era usada para fazer as entregas dos pisos cerâmicos, adentrou o casarão e parou no jardim. Com o barulho do motor, Igor despertou do cochilo que já durava mais de cinco horas. Já Pedro saiu do casarão e foi cumprimentar o pai. Igor, lá em cima, ainda estava imerso no sono, embora já estivesse acordado. Sem entender nada, calçou suas sandálias e desceu as escadas. Logo viu a porta aberta e um automóvel no jardim. Ao se aproximar, viu seu tio de consideração e seu inimigo declarado em uma conversa quase íntima. Então, decidiu observar tudo de longe.

Silveira ao ver Igor no portão, todo despenteado e com os olhos entreabertos, acenou para o sobrinho e o chamou para ter com ele. Igor cruzou os braços como se estivesse com frio, mesmo com o sol anunciando o verão, e se aproximou.

- Oi, Grande, tudo certo por aqui?

- Tudo sim, tio.

- Já almoçou? Já são quatorze horas mais ou menos...

- Não, acabei de acordar.

- Pedro, você comprou pizzas, certo?

- Estão na geladeira.

- Mas nós temos microondas?

- Poxa, bem lembrado, Grande. Eu vou providenciar isso para vocês, mas como agora já é um pouco tarde para isso, que tal sairmos para almoçar aqui perto?

- Ok!

- Eu vou ficar, então, pois já comi.

- Pode vir conosco, se quiser, não é, Igor?

- Sim, venha, será legal.

- Não.

E essa foi a primeira vez que Pedro falou com Igor desde que se mudaram para o casarão.

Siga a Casa dos Contos no Instagram!

Este conto recebeu 0 estrelas.
Incentive Whirled! a escrever mais dando estrelas.
Cadastre-se gratuitamente ou faça login para prestigiar e incentivar o autor dando estrelas.

Comentários

Foto de perfil genérica

Lá vou eu ler essa história novamente depois de quase 6 anos...

0 0
Foto de perfil genérica

Continua,tó com umas dúvidas será que o Silveira não é o pai do Igor?

0 0
Foto de perfil genérica

Não, havia pego ele no orkut um tempo atrás, e decidi repassá-lo aqui.

0 0
Foto de perfil genérica

Já li esse conto no Orkut, só que tá bem diferente aqui. Tu é o autor mesmo?

0 0