Três Formas de Amar – Capítulo 16
“Puta-Que-Pariu”, era a única coisa que conseguia raciocinar naquele momento. E minha vontade era de gritar aquilo pra todo mundo. Senti meu rosto começando a queimar, e queria enfiar a cara em algum lugar. Olhei de relance para Luiza, e percebi que ela ficou tão chocada quanto eu. “Não é possível, não é possível que isso esteja acontecendo...”.
- Boa tarde a todos – Geraldo sentou-se, seguido de Rodrigo.
- Olá pessoal – sua voz me acordou do transe.
- Pessoal, o Geraldo será a nossa fonte principal para qualquer informação sobre a empresa. Rodrigo participará ativamente de reuniões de planejamento e aprovação de campanhas. Eles dois serão nosso principal canal de comunicação – Marcelo completou.
Eu não conseguia prestar atenção em mais nada. Rodrigo estava bem sem graça, mas tentava disfarçar a todo custo. A reunião prosseguiu, sem maiores sustos, até porque nada poderia superar aquilo. Geraldo apresentou a visão da empresa, Rodrigo comentou sobre algumas campanhas já realizadas, posicionamento e explicou rapidamente o que esperava de nós. Às vezes procurava o meu olhar e se mantinha sério. Olhei de relance e percebi que Luiza estava mais calma. Para finalizar, Marcelo apresentou toda a equipe, contou um pouco da agência e todos voltaram aos seus trabalhos, deixando os sócios e diretores a sós com os dois visitantes.
...
Segui apressado para a cantina, sem querer transparecer estar desesperado. Tirei o celular do bolso, pensando no que escrever pra ele, até me deparar com as suas mensagens anteriores:
- “Lu, terei duas reuniões agora pela tarde, acho que só estarei livre pela noite, beleza?”.
- “Putz, que dia... acredita que nem consegui almoçar ainda?”.
- “Saudades...”.
- “Gigante, tá aí? Rapidinho... você sabe o sobrenome de Luiza, sua amiga?”.
- “Ei, me responde!”.
- “Qual é mesmo o nome da agência que você trabalha?”.
- “Velho, preciso falar com você urgente, me liga!”.
- “Luciano, me responde, pelo amor de deus!!”.
Aquela sequência começou com um espaço de tempo maior e seguiu com uma diferença de poucos minutos, me transmitindo uma sensação de urgência assustadora. Ele tinha ligado os pontos, e estava tentando me avisar. Mas já estava feito, e nem teríamos o que fazer. Não havia preparação para aquilo.
- “Só agora consegui ver as suas mensagens, desculpe... :(“ – digitei cabisbaixo.
Guardei o celular e só pensava em ir para casa. “Mas como eu não tinha percebido isso?”. Apesar de saber que Rodrigo era gerente de marketing, nunca procurei saber qual era o nome da empresa que ele trabalhava. Estávamos mais preocupados em estabelecer um laço afetivo do que em saber o lado profissional de cada um. Me perdi em pensamentos tentando encontrar alguma pista que pudesse nos esclarecer aquilo, até que o pessoal começou a chegar para tomar um café. Saí da cantina desnorteado, ainda ouvindo buchichos e comentários das garotas sobre a beleza da “daquele ruivo altão”. “Maldita segunda-feira”, me retirei pesaroso.
Na volta para a sala de criação, ainda alcancei a despedida do “cliente” saindo da sala de reuniões. Já próximo à saída, Rodrigo percebeu a minha presença, mas procurou se manter sério. Preferi não fazer nenhum sinal. Bruno aproveitou a minha caminhada, e pegou uma carona de volta para a criação:
- A apresentação foi bem legal né? Deu tudo certo.
- Foi sim – tentava não parecer tão monossilábico.
- E olha que viagem, eu fiz Pós-Graduação com Rodrigo, o marketing deles, lá em Belo Horizonte. Coincidência né?
Gelei. Era só o que faltava. “Coincidência? Você não sabe o que é coincidência Bruno...”:
- Ah, que bacana.
- Olha só, lembre daquela nota que vamos mandar para eles enviarem para a imprensa viu? Assim que acabar me envia.
- Beleza!
“Porra, ainda tenho que escrever essa merda!”. Já saberia ao menos como começar: “Empresa anuncia nova agência e fode com a vida dos seus funcionários...”. Meu ânimo estava abaixo deAnoiteceu, e já havia enviado a nota para aprovação do Bruno. Ficava olhando para a tela do computador sem saber o que fazer dali em diante. Rodrigo não havia mandado mais nenhuma mensagem, até que senti meu celular apitar. Era Luiza, mostrando um tom também preocupado:
- “Você sabia?” – ela indagou.
- “Não, não fazia a mínima ideia”.
- “Que droga!”
- “Pois é...”.
- “Olha só, é melhor a gente ficar na nossa... ninguém precisa saber que nos conhecemos”.
- “Beleza, vamos fazer assim”.
Ela estava certa. Por enquanto aquela era a melhor solução. Mas ela não tinha mais nada com Rodrigo, ao contrário de mim. E aquela conversa da manhã parecia começar a me assombrar. “Todos sabem das regras da empresa...”, Bruno repetia no meu ouvido sem parar. Comecei a ficar com dor de cabeça, e assim que a tal carta foi aprovada, parti a mil pra casa, desejando me enterrar na cama.
Logo que abri a porta da sala, ouvi o interfone tocar. Atendi já temeroso. Era Rodrigo, que estava na guarita da entrada aguardando a minha chegada, segundo o porteiro. Pedi para ele subir e saí à procura de um comprimido para a dor de cabeça. “Já vi que teremos uma longa conversa...”Me diz... Qual a probabilidade de acontecer algo assim? – Rodrigo estava sentado, com as mãos na cabeça, pensativo.
- Acredite, procurei pensar nisso a tarde toda. O destino é mesmo muito escroto.
- Gigante, eu sei que você não podia falar nada por causa da concorrência, mas não lhe ocorreu em momento nenhum que era a empresa que eu trabalho?
- Rodrigo, a gente só teve acesso ao nome da empresa. Eu sabia que ela era de Belo Horizonte. Mas quantas empresas de grande porte existem em Belo Horizonte? Você nunca me comentou sobre o nome ou o setor da empresa... eu não fazia ideia.
Nós dois parecíamos arrasados.
- É verdade, eu nunca comentei – ele prosseguiu – Puta que pariu, mas é muita coincidência! Que droga!
Permaneci em silêncio.
- Eu estava atolado de trabalho resolvendo o que fazer com as campanhas que a outra agência deixou pendentes. Depois de decidir o que fazer com o diretor que ia ser demitido, meu chefe me chamou dizendo que a nova agência seria apresentada hoje de tarde. Fui pego de surpresa. Perguntei qual era e ele disse que avisava no caminho.
Continuava atento ao que ele dizia.
- Aí, já dentro do carro, ele me disse o nome da menina que seria o novo atendimento da conta, e aquilo me pareceu estranhamente familiar. Mas tudo bem, existem diversas Luizas no mundo. Depois ele me disse o nome da agência, e tive a impressão de que já havia escutado aquele nome. Não sei em que ocasião, mas acho que você já tinha comentado alguma vez...
-Já sim... – confirmei.
- Aí pensei na possibilidade daquilo acontecer mesmo, e comecei a mandar as mensagens pra você para comprovar. Quando vi que já estávamos no elevador e você não respondia, joguei pra cima, esperando o melhor acontecer...
- E aconteceu o pior... – sorri sem graça – Quando vocês receberam a campanha, você não se ligou no nome da agência?
- Não, depois da confusão lá, eles contrataram uma auditoria, e eles ocultaram os nomes das agências participantes. Não era carta marcada.
A gente ia juntando as nossas informações e realmente parecia impossível descobrir a tempo do ocorrido.
- O problema é que depois do rolo que teve com o diretor demitido e a menina que ele comia, eles vão fazer vista grossa com a equipe atual, leia-se o Geraldo, eu e a sua agência – ele disse desanimado.
- Eu soube o que aconteceu, sobre a denúncia de favores sexuais. Me contaram em segredo hoje pela manhã. A agência também é bastante rigorosa sobre relacionamentos desse tipo...
Aquela conversa começava a ir pelo pior caminho possível, e isso me entristecia:
- Rodrigo, eu acho que...
- Não! Espera... não fala nada – ele levantou vindo em minha direção.
Ele me puxou pela mão, me fazendo levantar para um abraço. Ficamos um tempo assim, em silêncio, até sentir sua mão levantando meu queixo, me convidando para um beijo. Se eu pudesse desejar algo, seria congelar o tempo. Se o meu dia se resumisse àquele momento, estaria tudo ótimo. Ficaria preso naquele beijo demorado e intenso para sempre. Mas não dava para esquecer todos os problemas que culminaram naquele instante.
- Não podemos fazer isso com a gente – ele fez uma voz de súplica – A gente está só começando...
- Eu sei, eu sei... Mas se descobrirem será muito pior Rodrigo. Não será justo. Você está ralando pra caramba, se mudou tem pouco tempo. Eu suei muito para conquistar esse cargo... é foda.
- Mas ninguém precisa saber Lu... A gente pode fazer dar certo, confie em mim.
- Do jeito que algumas coisas têm acontecido, acredito em tudo agora... não se trata de confiança Murilão. Tenho até medo de contar que jogamos vôlei juntos.
- Ei, calma! Não é pra tanto... vem cá.
Ele me abraçou pela cintura e continuou:
- Já fui colega de Bruno, seu chefe, e nem por isso ele ficou assim.
- Ele me contou.
- Então... Sem pânico. Entendo a sua preocupação. Eu também temo pelo meu cargo. Mas também tenho medo de te perder poxa...
Aquela possibilidade me deixava aflito também. Aquele lance inicial que logo virou um sentimento forte estava tão bom, que a ideia de interromper tudo aquilo bruscamente me deixava muito mal:
- Eu também tenho... – admiti.
Rodrigo me olhava sério, me puxando ainda mais para ele, colando os nossos rostos:
- Vamos fazer assim: vamos procurar ficar atentos com o que acontece à nossa volta. E vamos ser cuidadosos ao extremo. Ninguém precisa saber de nada e seguiremos dessa forma até encontrarmos uma solução, certo?
Eu não deveria concordar. Sabia que ao menos uma pessoa poderia descobrir e não confiava totalmente nela. Por outro lado, eu queria ir adiante. Aquela atração estava falando mais alto. Apenas consenti com a cabeça, na esperança de encontrar um modo de resolver aquele impasse o mais rápido possível.
Rodrigo sorriu e se aproximou para mais um beijo. Não demorou muito para o meu pau começar a dar sinais de vida:
- Soube que meu namorado teve um dia estressante. Vamos dar uma relaxada? – ele disse apertando minha pica.
Sorri de volta e comecei a tirar a camisa dele, arrastando-o para o quarto. A gente precisava mesmo abstrair. Tinha pressa em tirar sua roupa e sua excitação também era evidente sob a cueca. Empurrei Rodrigo na cama e fiquei admirando aquele homem grande de pau duro na minha cama. “Não, eu não posso abrir mão disso...”, pensei. Perigo por perigo, resolvi aproveitar. Afinal, a partir daquele dia, todas as nossas noites poderiam ser a última.
(continua)
...
Oi pessoal! Percebi que o último capítulo mexeu com muita gente. Não posso falar muito para não estragar, mas saibam que muita coisa está por vir. Drica Telles, eu jamais poderia imaginar que algo assim pudesse acontecer. Smashing Girl, só faltou a musiquinha dramática no final né (rs)? KaduNascimento, ri muito com as suas teorias. Nem eu sei se percebi a situação (hehe). Me divirto com seus comentários tentando adivinhar o rumo da história. Irish, pois é, essa situação com certeza é uma prova do que o nosso sentimento é capaz de atravessar. Guigo1, Stylo e Geomateus, o bicho pegou mesmo! Talys, o que valeria mais, largar um emprego promissor ou abrir mão de um sentimento que fica cada vez mais forte? Pessoal, mais uma vez, obrigado pelo carinho com o conto, comentários e votos. Me sinto conversando com amigos. Amanhã tem mais. Abração!