O Casarão - Parte 6

Um conto erótico de Whirled
Categoria: Homossexual
Contém 4122 palavras
Data: 08/08/2014 13:26:36
Assuntos: Amor, Gay, Homossexual, Sexo

- É um material novo. – continuou Igor.

- É, estamos pensando em trocar por ele.

- Quem indicou? O seu arquiteto?

- Não, não, ainda não chamamos um profissional para ver isso.

- É, tem que buscar um, sabe? E tem que ver uns pedreiros bons, pois não é qualquer um que põe porcelanato.

- Como não?

- Porcelanato é outro material, de boa resistência sim, mas a aplicação é cheia de fricote e o rejunte também é diferente. Eu tive que chamar um arquiteto para poder comandar a aplicação e ainda tive que chamar um pedreiro gabaritado pra isso.

- Não é você que está colocando fricote não?

- Não. Pergunte a qualquer arquiteto. O porcelanato precisa ser bem aplicado, senão é o mesmo que nada. A resistência dele fica abalada. A prova disso é o próprio rejunte, que não é o mesmo da cerâmica comum.

- E é mais caro esse rejunte?

- É um pouco. Mas caro mesmo é o pedreiro. Encontrar um pedreiro que saiba aplicar porcelanato é mesmo que encontrar um PhD em construção, porque se ele sabe aplicar, significa que ele se especializou nisso, então ele cobra mais caro. Ele sabe o valor dele no mercado. Agora, se você aplica cerâmica, que é tão comum e a nossa, em especial, tem um ótimo acabamento, veio de uma boa linha de produção, você não precisa se preocupar em comprar um rejunte especial e talvez nem precise de arquiteto pra coordenar a aplicação. E arquiteto hoje em dia... Ixi, está caro!

- Arquiteto e engenheiro.

- Engenheiro mais ainda, não é Pedro?

Pedro olhou para Cícero espantado e depois voltou-se para Igor.

- Você é engenheiro, rapaz?

- Sou. Quer dizer, eu estou no último ano de faculdade.

- Ah, certo. É, Igor, disso eu não sabia...

Igor foi tão generoso com Pedro que até lhe deu espaço aberto para que ele falasse e ainda pudesse impressionar a Cícero sobre sua hipotética profissão. Mas ele preferiu se camuflar naquela sala. Igor ficou um pouco decepcionado, pois por mais que ele tivesse tudo sobre controle, seu repertório de malícias estava se esgotando e não sabia se estava preparado para qualquer outro ataque de Cícero. Preferiu prevenir, mas Pedro não ajudou. Teve medo.

- É. Nem vou falar muito disso. Pesquise com um arquiteto, ou nem isso, pesquise na internet ou em lojas de materiais de construção. Pesquise o preço e aproveite e veja se eles já não têm contato com pedreiros que apliquem porcelanato.

- Vou pesquisar.

- E então?

- Calma, menino, já disse que não posso fechar o negócio agora... – disse Cícero rindo.

- Nós trouxemos algumas caixas para você conferir a qualidade e, o mais importante, a cor. A cor é a mesma!

- A questão também, Igor, é que mudando o piso por outro, a gente dá uma cara nova ao restaurante.

Igor poderia retrucar e tinha ainda um pouco de prosa para isso, mas percebeu que a resposta não poderia ser dada agora, então mudou a estratégia.

- Bom, nós ficamos na cidade até o fim de semana. Não viemos para cá só para trabalhar, seria um desperdício vir e não aproveitar as praias, por exemplo.

- É verdade. Mas Maceió também tem praias ótimas.

- Ah não, modesta a parte, Maceió tem as melhores praias do nordeste!

- Ok, não vou discutir isso. Vamos fazer o seguinte: eu vou chamar o meu irmão para cá e vamos conversar nós dois. Enquanto isso... vocês querem almoçar aqui? São meus convidados.

- Ah, sendo assim, ninguém discute. As praias de João Pessoa são as melhores do universo inteiro!

Pedro se sentia péssimo, pois além de ser um peso morto naquela sala, ainda comeria na presença de Igor. Nada mais desagradável e, por mais que a conversa tivesse sido boa, não havia nada garantido. Para completar, com tanto tempo em um lugar desconhecido, na presença de uma pessoa estranha, Pedro estava com uma incrível dor de cabeça.

Eles então se levantaram das poltronas e se cumprimentaram; estavam prontos para descer as escadas e ir almoçar, mas uma moça apareceu naquela sala. Era mais um estranho para atormentar a cabeça de Pedro.

Pedro estava pronto para se ver livre daquela sala e de pessoas estranhas. Ele realmente precisava de um tempo para respirar. Somente na escola ele foi obrigado a passar tanto tempo em uma sala cheia de estranhos, mas nunca se sentiu tão agredido como nesta vez. A moça que acabara de entrar era jovem e bonita. Parecia ter intimidade com o lugar. Estranhou a presença dos rapazes e continuou entrando.

- Oi, tio!

- Sim, Nina, esse é o Igor...

- Oi, prazer. – dando-lhe um beijo no rosto.

- E esse é o... é...

- Pedro!

- Oi, prazer, Pedro.

- Eles vieram por causa do piso.

- Ah sim, é, vamos trocar!

- Vão trocar pelo nosso piso! – se adiantou Igor.

- Não, ainda não decidimos. – disse Cícero rindo.

- Ah, mas é quase certeza, Nina. Quer apostar?

- Ah, isso não sou eu quem resolvo não.

- Nina é filha do meu irmão. Ah, por falar nisso, seu pai vem que horas?

- Deve chegar já!

- Você já almoçou ou vai almoçar aqui?

- Aqui, tio.

- Então por que você não faz companhia para aos rapazes?

- Ah, pode deixar.

Pedro odiou a ideia. Começaram a sair da sala, Igor na frente, seguido por Nina e Pedro. Quando puderam se ver melhor, Nina, ficou ao lado de Pedro e começou a desenvolver uma conversa com ele.

- Então, Pedro, vocês são de onde?

Pedro olhou para Nina, olhou para Igor e não sabia o que fazer. A garota ficou sem entender e Igor teve que salvá-lo.

- Viemos de Maceió, não é, Pedro?

- Isso.

- E vocês ficam até quando?

- Não sei, o Pedro é quem manda nessa viagem!

- Bem, nós partimos hoje.

- Hoje? Mas você não me disse agora a pouco que queria ir só no fim de semana?

- Ah, então vai dar tempo de curtirem João Pessoa.

- Ah, mais ou menos, Nina. Eu nem posso sair muito da linha, tenho namorada. Mas o Pedro não.

Desciam as escadas enquanto conversavam. Enquanto homem, Igor sabia o melhor e o pior de Pedro, mas Nina não precisaria conhecer o lado ruim. O lado bom, sabia o garoto, era sedutor ao extremo. Mas teria Pedro percebido o plano? Pois se não, de nada adiantaria o esforço de Igor.

- O que vocês servem mais aqui?

- Ah, massa!

- É a especialidade?

- É, é sim.

- Olha aí, Pedro, você adora macarrão e derivados.

- Se quiser, eu te indico uma coisa pra comer...

- Ah, faz isso sim, Nina. Pedro é o homem mais indeciso que eu conheço. Enquanto isso eu vou ver as carnes.

Igor se afastou dos dois e fingiu indecisão no que comer. Pedro e Nina ficaram sozinhos, escolhendo o que pôr no prato.

- Você gosta de molho de tomate, Pedro?

- Gosto.

- Tem com orégano e sem.

- Melhor com orégano.

- Eu gosto também.

Pedro ainda estava irritado com todo aquele ambiente, mas bastou Nina se calar para que ele pudesse perceber que ela era bonita. Pode respirar um pouco e entender o que Igor queria com aquilo. Não gostou no inicio, resistiu apenas por se tratar de um plano de Igor, mas pensou em Nina, pensou que poderia se redimir consigo mesmo ficando com uma garota, para se desinfetar do garoto. Realmente não ficariam até o fim de semana, mas poderia haver tempo de pelo menos um beijo. Quando o casal escolheu as refeições, Igor também se decidiu pela sua. Demorou de propósito para que pudesse se sentar em outra mesa.

- Será que Igor não nos viu aqui?

- Ele gosta de comer só.

- Ah ta...

- Estávamos conversando sobre o piso lá em cima. Acho que só seu pai pode dizer a palavra final.

- Mas Igor pareceu tão confiante.

- É, mas mesmo assim ainda temos que esperar seu pai decidir. Se ele optar pelo nosso material, então voltaremos para João Pessoa.

- Hum, entendo.

- Não sei se o Igor vem, mas como é o meu pai o dono da fornecedora, então eu virei de certeza.

- Vem para entregar, não é?

- Isso, para entregar o piso. Mas sabe, nunca estive em João Pessoa. Se eu vir só, acho que fico mais que dois dias, só para curtir a cidade.

- Ah, seria ótimo.

- Mas vou precisar de um guia. Ou uma guia pra me mostrar as coisas aqui.

- Ah, estamos ai, não é?

Mas quem realmente precisava descansar era Igor, que não teve tempo para pensar em tudo o que lhe aconteceu nas últimas horas. Deixou, por um minuto, de pensar na venda dos pisos, em Cícero, em Nina, em João Pessoa e pensou no que havia acontecido em seu corpo. Igor ainda podia senti-lo se acostumando com as novas sensações. Era horrível pensar nisso, mas era necessário. Ele nunca teve esperanças de que sua primeira vez fosse perfeita, mas uma primeira vez vergonhosa é comum. Ser ameaçado de morte e enforcado logo em seguida são algo muito diferente.

Minutos depois o pai de Nina chegou e a garota não perdeu tempo e subiu para o escritório junto com ele. Pedro olhou para Igor, que comia de cabeça baixa e não acreditava que tudo aquilo havia sido um plano daquela mente. Por alguns minutos, Pedro se arrependeu do que faz, mas não se dava por vencido, pois ainda não haviam chegado a Maceió. Era onde os medos dele se concentravam. Em sua cidade natal tudo seria diferente. Se soubessem lá o que aconteceu em João Pessoa, seria o fim de Pedro.

Mas ele não conseguia pensar nisso. Pensava em Igor e em como ele estava se comportando: estranho em um momento, animado em outro. Claro que eram momentos bem distintos, pois ele se calava quando estava só com Pedro e se modificava quando estava na presença dos estranhos. Mas por fim estava aliviado por Igor não ter estragado a venda. Aliás, se não fosse por ele, tudo estaria perdido. Tudo! E Pedro sabia disso, reconhecia sua ação. Pela primeira vez desde que se viram.

Igor terminou seu almoço, pediu para o garçom uma taça de sorvete e esperou pelos próximos eventos. Pedro se levantou e sentou com Igor.

- Você não viu que o pai da menina chegou?

Igor o olhou, ignorou e continuou dando atenção ao sorvete.

- Acho que eles descem daqui a pouco e nos dão uma resposta.

E não demorou muito. Desceram Nina, Cícero e o seu irmão.

- São eles, Igor.

- Ótimo, por que você não os cumprimenta? Vou estar com a boca ocupada!

Pedro voltou ao seu desespero habitual e se levantou.

- Pedro, é seu nome, não é?

- É sim, tio. – respondeu Nina.

- Esse é meu irmão, Ronald. Somos todos Albuquerque.

- Tudo bem, Pedro?

- Tudo.

- E esse é o Igor.

- É, esse sou eu com a boca suja de sorvete!

Igor se levantou e cumprimentou Ronald.

- Esse é rapaz que quer porque quer nos empurrar os pisos.

- E vou conseguir, aguarde!

- Não seja assim tão confiante. Eu estava lá em cima ligando para o meu arquiteto, o mesmo que fez a reforma da minha casa. A ideia de pôr o porcelanato foi dele.

- Ah, então ele deve ter os pedreiros certos para aplicar.

- Deve ter... Como assim?

- É, Ronald, o Igor estava me explicando que aplicar porcelanato não é como cerâmica. A mão de obra é mais complicada.

- Mas porcelanato quase não se difere de cerâmica.

- Tem uma diferença grande. O material não é o mesmo e o cuidado com a face que leva o cimento é pior ainda. Pergunte ao seu arquiteto.

Ronald era muito mais sisudo que seu irmão e Igor não conseguia ser bem humorado com ele.

- Eu vou ligar para ele agora e perguntar.

Se afastou um pouco e sacou o telefone do bolso. Todos ficaram ansiosos pela resposta; parecia que os quatro queriam, por um motivo ou por outro, que a cerâmica vencesse. Igor não perdeu tempo.

- Nossa, que tenso. Parece até último capítulo de novela.

- É! – respondeu Nina rindo.

- Será que a gente volta para João Pessoa curtir as praias, Pedro?

Pedro mais uma vez não respondeu nada e mais uma vez estragou o pequeno plano de Igor.

- Bom, espero que venham pelo menos para conhecer as praias! - disse Nina.

Ronald voltou ainda falando ao telefone e parecia irritado com a resposta.

- Bom, é verdade, o cuidado na aplicação é maior. Mas é sem dúvida um material muito superior a cerâmica.

- É, pode até ser... Bom, então ele tem pessoal certo já para aplicar não é?

- Não perguntei isso...

Tirou o telefone do bolso mais uma vez, mas não saiu dali.

- Sim, sou eu de novo. E os pedreiros, você tem os caras certos pra aplicar? ... Mas eles cobram mais caro? ... Mas por que se é só para aplicar? Não é como uma cerâmica? Esse negócio de diferença é pura enrolação, não é não? ... Sei, então ta certo, tchau.

- E ai, pai?

- Ele disse que conhece apenas um que aplica, mas que é fácil para chamar outros.

- Bom, então como faremos?

- A gente tem o contato de vocês. Se a gente mudar de ideia, ligamos.

- Então está certo. De qualquer forma estaremos ainda na cidade, não é Pedro?

- Certo.

- Então até logo... Nina, Cícero, Ronald. Até mais.

Estavam saindo e se afastaram o bastante para poderem conversar, mas ainda não tinham saído do restaurante.

- Pedro, você se lembra dos argumentos que eu usei pra convencer o Cícero?

- Lembro...

- Convença a Nina com eles.

- A Nina?

- Sim, leve-a para algum lugar!

- Como assim?

Sem responder, Igor voltou rapidamente e mudou a conversa.

- Desculpem incomodar mais uma vez, mas eu nunca vim nessa cidade. Preciso ir ao shopping comprar umas coisas para minha mãe. Vocês poderiam em dizer onde fica?

- É complicado explicar...

- Poxa, Nina, ensina pra gente?

Poderia Igor estar enganado, mas em sua mente se dava por concluído o fato de ter convencido a Cícero e a Nina de que eles deveriam adquirir os pisos cerâmicos. Bastava convencer a Ronald, mas o tempo pouco não permitiria e Igor não conseguia não ser simpático e bem humorado para conquistá-lo. Restava uma única chance e ele com certeza não era capaz de agir nessa empreitada. A ideia estava clara para Pedro; restava-lhe agir depressa!

- Bom, eu teria que mostrar com um mapa ou algo parecido.

- Você não poderia me deixar lá?

- Bem...

- É que, na verdade, quem vai para o shopping sou só eu. Iríamos eu, você e Pedro e, quando chegássemos, Pedro traria você para cá. E depois voltaria só para me buscar.

Igor sabia como conquistar alguém, pois passou toda a sua vida sendo conquistado, mas sem poder aproveitar. Já Pedro sabia que era conquistador, mas não tinha ideia de como controlar suas qualidades e nem tampouco usá-las em seu favor. Nina ficou mais que tentada com a proposta de Igor e concordou.

Ao chegarem a van, Igor fez com que a garota se sentasse ao lado de Pedro, com a desculpa de que desceria no shopping e, portanto, precisaria estar próximo da porta do carro.

- Então, Nina, o que você faz?

- Faço Administração. Sabe como é, negócio de família... A gente se prepara para suceder os pais.

- Ah, quem tem experiência nisso é o Pedro.

- Ah é?

Mas uma vez Pedro continuou calado e, pela primeira vez, de forma sutil, Igor mostrou sua irritação.

- Pedro, não seja mal educado. Não está vendo que temos companhia?

- É, eu sei bem, porque sou o único filho homem do meu pai.

- Você tem irmãs?

- Uma irmã. Ela é um ano mais nova que eu.

- Nina, desculpa perguntar, mas quantos anos você tem?

- Vinte!

- Essa fase é boa não é? A gente está sempre fazendo alguma coisa. Namorando, saindo, se divertindo... Seu namorado também faz Administração?

- Não tenho namorado... Vire a esquerda e logo vamos ver o shopping.

- Não precisa entrar no estacionamento, eu desço aqui mesmo.

Pedro estacionou rápido, pois não poderia parar por tanto tempo.

- Quando estiver voltando, me ligue, Pedro. Nina, prazer em conhecer você!

- Prazer é meu, Igor. Volte mais vezes.

- Ah, quem sabe? Tchau!

Igor desceu da van e atravessou a rua correndo. Desapareceu diante dos olhos do casal. Nina se afastou um pouco de Pedro para lhe dar conforto e seguiram de volta para o restaurante. Ele sabia que deveria puxar assunto e que deveria demorar para voltar ao Família Albuquerque, mas não fazia ideia de como proceder, até que se lembrou da viagem de volta.

- Bom, o shopping nós já achamos. E um supermercado?

- Dependendo do que seja, podemos comprar no shopping também.

- Eu prefiro um supermercado. A menos que você esteja com pressa de voltar...

- Não, não, imagine!

- É que Igor e eu voltaremos hoje para Maceió. Precisamos nos abastecer de comida.

- Não passarão o fim de semana aqui?

- Igor quer muito, mas é melhor voltarmos hoje.

- Por que?

- Porque ainda precisamos ver outros possíveis compradores para o piso. Se começarmos a vender, ai sim podemos nos dar ao luxo de demorar um pouco entre uma venda e outra. Por isso que, se seu pai comprar, eu vou poder passar mais tempo aqui quando vier.

- É, meu pai é muito meticuloso com gastos.

- É por isso que não entendo o motivo de ele não comprar nosso piso...

Pedro então deu inicio ao plano de Igor: Nina precisaria conhecer as vantagens em se comprar o revestimento cerâmico para convencer o seu pai. O motorista não tinha muito tato para usar os argumentos de Igor, mas tinha algo que não conseguia controlar: era sedutor mesmo sem querer. Pararam em um supermercado, estacionaram e seguiram na conversa. Enquanto caminhavam entre prateleiras de biscoitos, Pedro mais uma vez conseguiu cativar uma garota sem que percebesse. Confessou que era tímido.

Na verdade o que o acometia era muito mais grave que uma simples timidez, mas era algo que ele não saberia denominar, ficou então na timidez. Nina achava tudo aquilo muito engraçado, ao mesmo tempo que se contaminava com aquelas palavras. “Como pode ele ser tímido? É tão homem!”.

- É até difícil acreditar nessa timidez. Mas te vendo como vi hoje, não há como negar.

- Não gosto de pessoas estranhas, eu admito. Não me sinto bem.

- Não se sente bem ao meu lado?

- Você não é mais estranha. Se fosse, não teria dito que era tímido.

- Deve ser por isso que você ainda está solteiro.

Pedro parou e sorriu.

- Me senti um inútil agora.

- Ué, por que?

- É difícil pra nós homens. Exigem da gente a iniciativa sempre. Imagina pra eu ter que começar uma paquera!

- Mas você assusta um pouco. Acho que as meninas teriam medo de se aproximar.

- Por que eu assusto?

- Ah, porque você é grandão, tem porte. Das duas, uma: ou elas se assustam, ou se atiram. Mas as que se atiram não são lá muito confiáveis.

- Não, não são.

Pedro segurava uma cesta onde depositava os produtos que iriam comprar. Nina pegou um dos biscoitos da prateleira e decidiu comprá-lo.

- Posso pôr na cesta? Vou comprar pra mim.

Quando ela se inclinou para pôr o biscoito, Pedro segurou de leve seu pulso, fazendo-a levantar o rosto. Beijaram-se. Foi um beijo sutil, mas demorado. Ao fim, Nina finalmente pôs o biscoito na cesta e continuaram comprando.

- Eu acho que essa foi uma das raras vezes em que tomei a iniciativa.

- Ah é?

- É. Eu acho que eu realmente quis esse beijo.

Tudo foi um jogo. Mas o jogador era Igor. Pedro era o seu joystick. Em perceber nem mesmo o efeito daquelas palavras, Nina se sentiu lisonjeada por ter conseguido que aquele rapaz estranho se arriscasse por ela. Era pelo bem do seu ego que ela precisava fazer com que seu pai a permitisse ver Pedro outra vez.

- Chegamos!

- Sim, chegamos.

- Nos veremos outra vez? Será?

- Espero que sim. Se houver outra venda de pisos pelo nordeste, Recife, por exemplo, pode ser que eu passe aqui. Mas ficarei pouco tempo.

- Ficaria mais se vendesse aqui mesmo em João Pessoa?

- Sim, com certeza, mas creio que só o restaurante da sua família tenha dos nossos pisos, então o único comprador possível é o seu pai. Mas pela conversa dele...

- Meu pai é meio grosso mesmo.

- Mas eu não julgo seu pai, porém as vantagens em comprar os nossos pisos são mesmo bem maiores.

- Papai há muito tempo fala em fazer delivery, em ampliar...

- É, ele poderia usar o dinheiro para isso. Nossos pisos são baratos!

- Sim e tem também tudo aquilo que você já me disse.

- Sim... Bem, mas está ficando tarde. Por mim eu dormiria numa pousada por aqui mesmo, afinal, chegamos hoje e eu vim dirigindo.

- E volta dirigindo?

- Sim. Igor não dirige.

- Não é perigoso?

- Não muito se formos agora durante o dia e eu conheço bem Recife. Quando chegarmos lá eu saberei me virar.

- Bom, então...

- Então...

- Tchau!

- Até mais, quem sabe?

Nina desceu da van e entrou no restaurante. Pedro ficou um tempo ali parado, precisava de um minuto sozinho. Não passava muito tempo sem pensar em Igor e percebeu que todas as palavras que saíram de sua boca eram planejadas. Mas não por ele. Sabia que tinha que conquistar a filha de Ronald, mas não sabia como. Pedro nunca precisou de tanta prosa para ficar com uma garota. E se precisasse, logo desistia dela. Pedro não era de perder muito tempo com qualquer estranho. Se ele não se sentisse íntimo com rapidez, se afastava. E mesmo depois de Nina tê-lo beijado, Pedro não se sentiu íntimo dela, ou menos tímido. Só se sentia mais corajoso em fazer isso. Ele não queria desapontar. Mas a quem? Será que Pedro não queria decepcionar o pai ou Igor?

Voltou ao shopping e ligou para Igor. Em mais ou menos cinco minutos, o menino apareceu com algumas sacolas, entrou, bateu a porta e se encostou na janela. Com os próprios pés tirou os sapatos e começou a desabotoar a calça. Pedro começou a dirigir, mas não conseguia não prestar atenção em seu companheiro de viagem. Igor não tinha mais aquele pudor que sentiu quando Pedro o viu nu pela primeira vez enquanto tomava banho. Foi tirando com dificuldade a calça até que a jogou dentro de uma das sacolas, de onde tirou um short parecido com o que ele usou na noite anterior. Ele havia comprado outro e nunca mais usaria o antigo. Estava Igor pronto para enfrentar a viagem de volta.

Em Pedro nascia uma angustia. Questionava-se sobre o fato de Igor ainda não ter perguntado como ele tinha se saído com Nina. Afinal, tudo aquilo era seu plano, algo arquiteto em pouco tempo, mas com muito cuidado e inteligência. Como Igor poderia não se importar? Mas Pedro também não falaria. Agora não por ódio, mas por vergonha. Não era desejo dele iniciar conversas e não faria isso com Igor.

A viagem se seguiu até que chegaram ao posto de gasolina onde tomaram banho. Pararam. Pedro buscou sua mala e de lá retirou roupas e toalha. Já era fim de tarde.

- Vou tomar banho.

Igor nem sequer o olhou. Soltou-se do cinto de segurança e começou a cochilar. Pedro tomou um banho rápido. O banheiro parecia mais sujo que horas antes e estava pouco iluminado. Saiu sem camisa e com a toalha pendurada no ombro. Estava pronto e desperto para continuar na estrada. Ao chegar na van, Igor já dormia e não acordaria por nada. Partiram em direção ao Recife.

Lá, Pedro abasteceu o carro e seguiu na noite com os faróis acesos. A cada metro ultrapassado, seu medo aumentava. O que Igor teria a perder se contasse a alguém o que aconteceu? Tinha tudo nas mãos, dominou toda a venda e tinha mais talento para convencer qualquer um de que sua verdade era irrefutável. Não só o medo aumentava, mas o ódio retornava. Era um tipo de ódio menor, mas era consciente. Estava claro que Igor era um inimigo e eles competiriam em tudo. Igor era inteligente, simpático, criativo, uma pessoa fácil de conviver. Competiriam pelo sucesso da venda dos pisos, pela administração do futuro hotel, por espaço no quarto que dividiam, pela atenção de Silveira e tantas outras coisas que Igor aparentava ser mais apto. A vantagem de Pedro é que, embora não tivesse habilidade para tudo isso, ele sabia ser competitivo (a seu modo) e aparentava ser capaz. Já Igor, pela pouca idade, não conseguia que as pessoas não o vissem como um menino. Então, o que ele tinha a perder se contasse que Pedro era bissexual? A vida?

Quando a van adentrou o casarão, Igor acordou. Pedro deu a volta no jardim e estacionou. Teriam seus minutos de descanso, pois pareciam estar fora a mais de uma semana. Ao parar o carro, Silveira acendeu a luz da sala, assustando os viajantes.

- Chegaram, finalmente!

- Oi tio.

- Devo lhe dar os parabéns agora? O pessoal de João Pessoa ligou. Eles vão ficar com os pisos!

- Vão? Bom, então parabenize ao Pedro. Se vendemos os pisos, foi graças a ele!

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Comentários

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Muito bom, estou ancioso pelo desenrolar dessa história

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Esse Pedro tem que sofre e Igor é inteligente para isso. heheheheh muito bom.

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Continuaaa,faça o Pedro se arrastar nos pés do Igor kkkkkk,

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