Cap.5
O dia passou. Ainda era desesperador estar naquele lugar. Quando a noite caiu, e eu percebi que não poderia entrar no facebook, sair pra tomar um sorvete, passear no shopping, que isso duraria 5 anos, e que eu não tinha feito nada pra merecer aquilo, ficava ainda mais desesperado, por dentro, óbvio. Me ajeitei e tentei tirar um cochilo, mas não consegui. Nem sabia que horas eram, e depois de um tempinho, consegui dormir. Pouco tempo. Eram 7h30, e tinha gente batendo na grade.
- Andem, acordem todos, o café já está pronto e será trazido em 15 minutos, andem...- era o carcereiro, um homem bem porrudo, que parecia não fazer sexo a anos de tanto mal humor. Ainda fiquei alguns minutos, até que Mariano puxou meu lençol.
- Acho melhor você fazer o que ele mandou, ou então, o negócio fica pior, você não vai querer 1 dia de solitária, e logo no seu primeiro dia- na hora que ouvi a palavra solitária, me levantei e tomei logo o banho. Não demorou muito e o nosso café chegou. Pão com manteiga, melão, e um café forte, que acordou até a minha alma- cara, você está cheio de olheiras...- ele falou, me tirando de alguns pensamentos insanos
- Eu quase não dormi. Tô caindo de sono.
- Eu percebi, você se mexeu muito.
- Como você sabe ?- ele se embaraçou.
- É... hum... eu acordei na madrugada e vi
- Hum- não cai muito naquela história, sei lá. Porque que ele se embaraçou tanto. Depois de um tempinho, apareceu uma carcereira.
- Ô novato, vai começar a rotina de trabalho, e você tem que trabalhar também. Aonde você quer trabalhar ? Limpeza ou Cozinha ?- dei uma olhada pra Mariano, e como não queria me afastar dele, escolhi a Cozinha. Então saimos. Em poucos minutos chegamos lá. As pessoas todas me olharam atravessado. E começamos a cozinhar. E assim foi meus dias. Trabalhávamos das 7h30 às 15h. Banho de sol, e às 17h voltávamos pra cela. Aos poucos, os dias foram ficando bem monótonos. E a única coisa que me tirava daquela monitoria era Mariano.
- Ei, do que você gosta ?- ele perguntava, saindo do banheiro.
- Depende. Gosto de...- nessa horas, vi ele saindo pelado do banheiro, e quase tive um ataque do coração. "Nossa, como ele é gostoso !". Ele virou em seguida, e percebeu que eu estava o olhando. Fiquei roxo de vergonha. Ele sorriu, e chegou mais perto. Ficou cara a cara comigo, só faltei babar. Até que ele falou.
- E então ?
- Então o que ?
- Do que você gosta. Quero saber tudo. Comida, Música, Filmes.
- Ah... Gosto de Lasanha, macarronada, comida japonesa, churrasco.
- Posso deixar aqui ?
- Pode- ele deitou, e ficamos bem apertados naquele espaço pequeno. Ficamos conversando por um tempinho, descobrindo as qualidades e defeitos um do outro.
- Eu gosto muito de poesias também.
- Sério ?
- Sim. Tenho algumas escritas, você quer ver ???
- Quero- ele pegou um caderno, e se deitou de novo, ainda mais perto.
" EU TE AMO
Ah, se já perdemos a noção da hora
Se juntos já jogamos tudo fora
Me conta agora como hei de partir
Se, ao te conhecer, dei pra sonhar, fiz tantos desvarios
Rompi com o mundo, queimei meus navios
Me diz pra onde é que inda posso ir
Se nós, nas travessuras das noites eternas
Já confundimos tanto as nossas pernas
Diz com que pernas eu devo seguir
Se entornaste a nossa sorte pelo chão
Se na bagunça do teu coração
Meu sangue errou de veia e se perdeu
Como, se na desordem do armário embutido
Meu paletó enlaça o teu vestido
E o meu sapato inda pisa no teu
Como, se nos amamos feito dois pagãos
Teus seios inda estão nas minhas mãos
Me explica com que cara eu vou sair
Não, acho que estás só fazendo de conta
Te dei meus olhos pra tomares conta
Agora conta como hei de partir. "
Fiquei olhando e pra ele enquanto ouvia aquilo. Como era bom ouvir aquelas palavras. Perguntei.
- Ei, você tem namorada ?
- Não. Sou gay mano.
Continua.
Gostaram ???