- Meu Deus! Quem teve a capacidade de fazer isso com você? – disse o médico a si mesmo, enquanto examinava o rosto dele.
Christian permanecia anestesiado, para que a enfermeira junto ao médico pudessem tratar seus ferimentos. Seu mundo acabara ali. Nunca sofreu tanto na vida, quanto naquela noite de terror. Ser usado da pior forma possível e contra a vontade, era de fato, o maior trauma que um ser humano podia enfrentar.
Enquanto isso, o Douglas estava acordado, deitado na cama, apenas de cueca Box. Ele refletia, com um porta- retrato, onde estampava uma linda foto dele com o Chris. Ele olhava profundamente aquela foto, ao mesmo tempo em que abraçava o travesseiro do seu amor. Ainda podia sentir o cheiro, o perfume do Chris. Não conseguia entender o porquê de o seu relacionamento ter desmoronado de forma devastadora. Claro que ele tinha uma parcela de culpa e sabia disso, mas o Christian também era culpado, por não ter sido maduro o suficiente nos momentos em que exigiram tanto dele.
- Eu te amo meu amor. Volta pra mim meu bebê. – Douglas dizia para si mesmo, abraçado ao travesseiro.
**********
O Anderson estava aflito, pois já era madrugada e nada de o Christian aparecer. Até que ele não resistiu e ligou para casa do Douglas.
- Será que é ele? – Douglas levantou as pressas da cama para atender ao telefone. – Alô! – um sorriso estampou seu rosto.
- Oi Douglas, é o Anderson. – ele broxou novamente o sorriso.
- Oi. No que posso ajudar?
- É que... Na verdade eu queria saber se o Christian está por aí. Ele saiu daqui dizendo que ia estudar na Faculdade, e já faz sete horas que ele ainda não voltou. Eu deduzi que ele pudesse está aí.
Douglas ficou preocupado. Aquela informação dada pelo Anderson o deixou inquieto. Christian nunca ficava sem dar noticias, ainda mais por tanto tempo.
- Não cara. Ele não está aqui. Mas o que ele foi fazer a Faculdade à noite?
- Ele foi estudar na biblioteca para um trabalho importante. Eu insisti para que ele fosse amanhã, mas como ele é teimoso. E o pior, é que as ruas no entorno da Faculdade, costumam ser perigosas.
- Você tem razão. Eu vou por uma roupa e vou atrás dele.
- Eu vou também.
- Hã? Eu sou o marido dele. Não precisa você ir. Depois eu te aviso.
- E eu sou o melhor amigo dele. Eu vou procurá-lo.
Eles travaram uma batalha por telefone, até que cada um por conta própria, saiu em busca do Chris.
No hospital, ele acordava aos poucos, e viu o estado em que ficou. Chorou muito, com nojo de se tocar. Era como se ele estivesse vendo os caras o usando e ejaculando em cima dele. Ficou assustado e começou a gritar.
- Calma! Calma. Você está no hospital. Fica calmo. Vamos cuidar de você. – disse o médico.
- Eles me bateram... Me usaram... – ele chorava.
- Eu sei. Mas você está seguro. Nós ligamos para o número que estava dentro da sua carteira. Não encontramos celular...
- Eles roubaram de mim. Meu Deus, o que fizeram comigo.
- Não fique assim. Tudo vai ficar bem. Seus pais já estão chegando.
Ele parecia vagar por seus pensamentos. Não conseguia pensar direito, seu corpo eram suas palavras... De repente, surge desesperada, a Fátima, sua mãe, procurando por noticias, até que foi tranquilizada por uma enfermeira, e encaminhada a sala onde o filho estava.
- Meu amor.O que fizeram com você. – ele chorou ao ver o filho.
- Oi mãe. Cuidado, que tá doendo muito. – ele não olhou para o pai, que apenas o observava.
- Conte para nós o que houve meu filho. – o Sr. Carlos cruzou os braços a espera de uma palavra.
- Eu não quero tocar no assunto. Não quero lembrar nunca mais de ontem.
- Espancaram você? Foi isso? Foi um assalto?- Ai meu Deus!
- Calma mãe. Uma pergunta de cada vez. Não foi um assalto.
- Eu posso imaginar o que deve ter acontecido... Você foi estuprado, não foi? – o pai dele foi direto ao ponto.
- Carlos! – esbravejou dona Fátima.
- Está escrito nos seus olhos. Vejamos... Eu fico tentando imaginar uma justificativa que leva alguém a fazer isso com você, e sabe aonde eu chego? – Simples! O fato de você ser gay. Os gays são abusados diariamente neste país... E foi esta a escolha que você fez.
- Quer sair daqui, por favor? Será que nem aqui, você me deixa em paz? Eu não pedi a sua presença aqui. Saia!
- Eu sou realista. Onde está seu maridinho há esta hora? Será que ele tá saindo com alguma mulher?
- Chega! Sai daqui. Eu não preciso da sua ajuda, do seu consolo.
- Quer parar Carlos? Nosso filho está sofrendo, todo machucado, e até no hospital vocês não ficam em paz?
- Fala! Onde está o Douglas, que permitiu que isso acontecesse?
- Eu estou aqui! E vim ficar ao lado do meu companheiro. – Douglas surgiu do nada. Ele havia conseguido pistas, com um amigo que trabalha no mesmo hospital onde o Chris estava internado.
Christian pensou em expulsá-lo da sala, mas por um momento, sentiu a necessidade de sua presença.
- Quem fez isso com você? Eu vou matar quem fez isso!
- Não, você não vai. Isso é só o começo para quem escolhe este caminho. – disse o Sr. Carlos.
- Acontece que ninguém escolhe ser gay. E isso pode acontecer com qualquer um. – a vontade do Douglas era a de socar a cara dele. – Me conta Chris, o que aconteceu?
O médico se antecipou, e abriu o jogo.
- O paciente sofreu abuso sexual. Ele foi gravemente estuprado e agredido. E acredito eu, que foi mais de uma pessoa. Só não entramos em detalhes, por que o assunto é incomodo para o paciente.
- Meu Deus! Eu vou matar quem fez isso. Eu juro! – ele socou as paredes da sala, completamente revoltado ao ver o seu amor naquele estado debilitado. Só em imaginar que Christian foi tocado de forma brutal por outros caras, um ódio subia nas veias do Douglas.
- Não adianta nem você e tão pouco o senhor, ficarem se lamentando e fazendo criticas. O Christian necessita de apoio, pois o que ele passou deve ter sido os piores momentos da vida dele.
- Claro doutor. Nós vamos apoiá-lo e está ao seu lado. – dona Fátima chorava, chocada com tudo aquilo.
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TRÊS DIAS DEPOIS...
- Vamos pra nossa casa meu filho. Somos os seus pais e temos o direito de cuidar de você.
- Obrigado mesmo mãe, mas eu não quero passar semanas tendo que me aborrecer. É melhor não.
- E você não virá comigo? Pra sua verdadeira casa?
- Não é porque tudo isso aconteceu, que as coisas mudaram entre a gente Douglas. Nada mudou. Eu agradeço a sua preocupação, mas eu vou para casa do Anderson.
- Do seu amiguinho? Você prefere ficar com ele, ao ter de ficar comigo? Não me ama mais? É isso?
- Sem dramas. Isso não combina com você. Eu já tomei minha decisão. Mãe, obrigado. Assim que eu puder vou visitá-la, mas quero que venha me ver também.
- Espera Chris. – ele o segurou pelo braço.
- O Anderson está me esperando no táxi. Eu preciso ir. Você teve a sua chance de me valorizar, mas não deu à mínima.
- Nós dois somos culpados por tudo que aconteceu.
- Eu não quero discutir. Até mais. – Christian foi ajudado pelo amigo, a entrar no carro. Ele ainda sentia muitas dores, mas aos poucos ia se recuperar.
CONTINUA...