Uma ano havia passado. Uma ano inteiro longe de tudo, até da própria vida. Gabriel em nada lembrava aquele lindo e elegante modelo que ao passar chamava atenção não só pela beleza mas também pelo carisma e educação. Uma ano sem saber quem de sua família estava vivo ou morto, uma vez que o contato não mais existia. Assim era até mais suportável de aguentar os mais de onze anos que ainda faltavam para que ele cumprisse sua pena, pelo menos era assim que ele pensava para não enlouquecer de vez.
Nunca seu chor foi ouvido ou mesmo visto. Ele disse a si mesmo que o tempo da fraqueza já tinha acabado, até porque não adiantava chorar pois o leite já estava derramado.
Fez algumas amizades, nada que tivesse que levar adiante uma vez que estivesse fora dos muros da prisão. Tudo era uma grande conveniência, e por conta delas os estupros nunca mais aconteceram e até os hematomas causados pelas pancadas que as vezes recebia, cessaram de vez.
Seu corpo havia mudado do proporcional para o mais musculoso que ele pôde conseguir. Sua beleza agora poderia ser considerada selvagem, ou mesmo, assassina. Claro que o sexo ainda existia atr[ás das grades, só que dessa vez era com consentimento e por pura necessidade. O amor, se é que isso existia ainda no mundo, não mais fazia parte de seus pensamentos e principalmente da sua vida.
O presídio Federal ao qual havia sido destinado, uma vez que seu crime era considerado hediondo no novo código penal, continuava igualzinho desde o primeiro dia que ali chegara. A direção do mesmo, não. Com o advento do ano novo, um novo Delegado Federal assumiria pelos próximos dois anos, o da vez era um conhecido seu, Mário Baruk de Cerqueira Guerra, esse mesmo, o delegado que lhe interrogara no dia e que foi preso, aquele mesmo que ficara co uma pena danada daquele lindo homem com cara de menino.
Todos os 200 presos estavam no pátio interno para finalmente conhecer o novo Diretor, debaixo de uma chuva chata e fininha. Gabriel estava na terceira fileira, na quinta coluna, bem na diagonal de onde o novo diretor se posicionaria para finalmente falar aos homens que por razões óbvias estavam sob sua responsabilidade.
Gabriel o reconheceu na hora o cara não havia mudado uma vírgula. Moreno, uns 05 centimetros mais baixo que ele, rosto sério e liso. Os cabelos eram pretos e ele usava um óculos de pouco grau o que lhe dava um ar mais de professor do que de delegado federal e Diretor de presídio. O terno que usava estava praticamente moldado em seu corpo que parecia ser forte e musculoso. Sua voz era firme e de timbre forte. Em poucas palavras disse a que veio, e não apostem pois perderiam, ele não tinha vindo a passeio.
Durante os vinte primeiros dias sob o comando do novo diretor, todos os presos foram chamados ao seu gabinete que ficava no quarto andar do pavilhão de comando. Gabriel foi no décimo sexto dia. Cada um que era chamado, passava exatos dez minutos numa conversa com o poderoso chefão, era assim que os presos o chamavam, e quando seu nome foi chamado, ele calmamente bateu na porta antes de entrar e ouviu a voz do homem que disse:
_ Entre.
Gabriel entrou e se posicionou em frente a mesa do Diretor e ficou e posição de descansar, com as mãos pra trás, olhando fixamente para a frente.
_ Gabriel Guedes Viana, disse Cerqueira Guerra.
_ Sim, senhor.
_ Finalmente a gente volta a se encontrar. Você lembra de mim, rapaz?
_ Sim, o senhor foi uma das poucas pessoas que apesar de tudo tentou me abrir os olhos.
_ Isso mesmo, rapaz, e você não me deu ouvidos. Me perguntei muito o que te levou a se calar daquele jeito e o pior se ferrar como você se ferrou?!
_ Desculpe senhor, esse papo todo esta no passado. Eu já fui condenado, eu já morri e nasci novamente. Eu só quero mesmo é poder andar por aí sem ser visto, tipo assim, quanto mais anonimato, melhor. Entende?
_ Entendo sim, Garoto.
Os dois apenas se olharam durante um minuto inteiro, até que Cerqueira Guerra, quebrou o silêncio:
_ E precisava mudar tão radicalmente assim? vejo que o garoto assustado que estava na minha sala há pouco mais de um ano, parece não mais existir.
_ Aquele garoto, Diretor, morreu justamente há pouco mais de um ano. Ele era um fraco, porque era um ingênuo e pode ter certeza de que acreditava em papai noel e coelhinho da páscoa.
_ Taí uma coisa triste de se ouvir. Em todo caso, espero que nos próximos dois anos e possa fazer algo por você, rapaz.
_ Se eu puder seguir com a minha vida aqui sem que ninguém me encha o saco, isso já será uma grande ajuda.
_ Nesse caso, vou ver o que conseguirei. Você tá dispensado Gabriel Guedes Viana.
_ Obrigado Diretor. Bom dia no seu trabalho.
Cerqueira Guerra estava impressionado com o jovem Gabriel Guedes Viana, um lindo e machucado homem de quase 28 anos, que a vida marcou duramente sem ao menos se importar com os seus sentimentos.
A rotina do presídio jamais foi alterada. rebelião então, nem pensar. A vida seguiu pianinho atrás dos muros. Gabriel era constantemente monitorado por ordens expressas do Diretor Cerqueira Guerra e cada passo do jovem era minuciosamente relatado.
O primeiro ano do Diretor Mário Baruk à frente do Presídio Federal deu a Gabriel a oportunidade de trabalhar fixamente no prédio da administração. Ele chegava em seu local de trabalho pontualmente as 08:00 h, saia ao meio dia para o almoço e retornava às 13 h e saia pontualmente 17:30 h.
Aos sábados essa rotina ia até o meio dia e depois de largar o trabalho, ele tinha praticamente um dia e meio, contando com o domingo, para ler, se exercitar na academia colocada no pátio, correr numa pista decorrida feita pelos próprios presos, aos domingos quem recebia visita seguia para utra área do presídio e quando sua vontade era muito grande, ele conseguia sempre uma visita intima com algum camarada do seu pavilhão.
E nada disso escapava ao Diretor Mário Baruk de Cerqueira Guerra.
Mais um ano passou e cada vez mais Gabriel se tornou menos visto, uma verdadeira sombra. Continuava belo, musculoso, tatuado e se tornara um cínico e manipulador. Assim que retornou do almoço e começou o expediente da tarde, algumas fichas foram levadas por ele até a sala do Diretor Cerqueira Guerra e a primeira delas tinha um nome escrito: Samuel Palhares da Silva.
Ele rapidamente deu uma lida na ficha e soube que a liberdade condicional para Gigante estava sendo requerida através do seu advogado. E isso mexeu muito com o emocional do garoto.
Calmamente ele deixou todas as Fichas, algo em torno de 12, em cima da mesa, saiu da sala e quem o via no corredor que o levaria até o arquivo, local onde ele estava durante toda essa semana em questão, notou um lindo sorriso em seu rosto e se alguém pudesse ler o seu pensamento ficaria espantado coma frase repetida que ele recitava como se fosse uma oração: Não haverá condicional pra você nem hoje, nem amanhã, nem nunca, seu maldito filho da puta.
Finalmente ele chegou a sala do arquivo e após dar boa tarde ao pessoal que trabalhava junto com ele, sentou numa cadeira clocada no canto da parede próxima a janela que dava para o pátio interno e disse: tá na hora da caça ter seu dia.
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Meus queridos, eu não estou em falta com vocês, assim espero, eu estou é sem tempo mesmo. Mil perdões a cada um, é o que peço. Prometo que haveremos de trocar essa boa energia assim que for possível. E saibam que cada um continua no lado esquerdo, beleza? beijão do Nando Mota.
