PRÓLOGO...
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Bem, eu estava morrendo.
No sentido literal.
Há várias coisas que se passam pela cabeça de alguém quando se está morrendo. O tão famoso "filme de sua vida". Mas a minha morte era devagar... torturante.
Câncer era uma bosta. E, sendo absolutamente sincero? Eu teria me matado naquele mesmo instante, quando o médico diagnosticou meu câncer malígno de pâncreas. Um câncer altamente raro para a idade que eu tinha, de acordo com aquele médico super sério e com ar de pesar, então... o que eu perderia me matando? Absolutamente nada. Até pouparia muito a mim mesmo. Mas aí eu observei atentamente as feições da minha mãe e do meu irmão.
Podia ler em suas faces chorosas a frase: "devemos aproveitá-lo antes que o tumor o leve". Mesmo o médico não ter dito nada sobre quanto tempo eu tinha, eu sabia que iria morrer e eles também sabiam.
Então eu fiz a única coisa que eu consegui fazer. Saí correndo. No sentido literal.
Minha cabeça era uma enorme tela em branco.
Nada. Não conseguia assimilar nada ou talvez conseguisse assimilar tudo. Não sei exatamente. Tenho certeza que a reação que eu tive não era esperada para alguém que descobrisse um câncer maligno.
Era ótimo sentir meus pés chocarem-se contra o chão. A liberdade de ainda poder mover-me como eu bem entendia era revigorante. O vento chicoteava meus longos cabelos castanhos escuros e, por incrível que pareça, eu não estava surpreso nem com vontade de chorar.
Eu estava conformado. A morte era um destino inevitável e meu destino veio ao meu encontro mais rápido do que eu previa.
Um campo bem amplo e cheio de flores me acolheu, quando eu finalmente parei de correr. Tudo era tão verde e colorido que só havia um nome para aquilo: paraíso.
O cheiro das flores era divino e aquele lugar era um ótimo lugar para se viver pela eternidade... se bem que eu, talvez, não tivesse nem quatro meses.
Era um dia bem quente com um enorme sol brilhando em seu ápice. Não deixei me abater pelo fato de estar morrendo. Me recusava a ter pena de mim mesmo! Era a última coisa que eu tinha! Conformado... eu estava conformado, sabe?
Joguei-me de costas em um "amontuado" de flores e várias pétalas emaranharam-se em meu cabelo. Era uma verdadeira "coroa de flores". Eu só precisava de um trono, dois tigres e um playback de "Born To Die".
Ri baixinho e logo parei.
Talvez eu perdesse meu cabelo ao tentar combater a doença que infestava a minha barriga... isso me deixaria realmente triste.
Gostava tanto do meu cabelo. Bem, eu gostava de estar vivo e não queria morrer.
Oh, desculpe! Aonde estão meus modos?! Você deve estar se perguntando quem sou eu, certo? Ah, não se preocupe comigo. Eu não sou ninguém!
Essa é a história de como eu morri e de como morrer me fez viver.
É um enorme prazer conhecer-te, seja você quem for.