Se apaixonar é tão suave quanto fugir de casa, escalar uma montanha, tomar banho com tubarões ou até mesmo tentar suicídio. Eu sabia que ela era problema e que amá-la talvez fosse o maior de meus desafios. Amar Camila era exatamente como jogar álcool em uma ferida. Queria tirar aquela corda do pescoço e seguir em frente. Mas eu tinha sérios problemas em seguir em frente.
Era sábado e antes mesmo de eu acordar meu irmão entrou no quarto abrindo a cortina.
Ana “porra Miguel! Eu tava dormindo!”
Miguel “o céu tá tão bonito pra toda essa sua amargura”
Ana “desculpa, céu. Agora sai!” falei cobrindo o rosto com o lençol. Ele tirou, devagar.
Miguel “tem calourada hoje na faculdade, te pego às 16hrs”
Ana “e o que eu ganho com isso?” eu falava de olhos fechados, se ele soubesse que eu tinha acabado de dormir...
Miguel “além de sair da bad?” ele sorriu “talvez eu possa comprar aquela bolsa amarela da VH que você queria...”
Ana “isso mesmo, me compra! Amanhã vamos na loja”
Miguel “não se atrasa!”
E saiu.
Eu não consegui mais dormir e o dia se passou lentamente. Eu mal arrumei minha cama direito. Um pouco antes do combinado Miguel me ligou avisando que iria se atrasar um pouco porque ele estava fiscalizando a arrecadação de dinheiro dos calouros. Peguei o celular e pensei durante um tempo antes de digitar o número de Amanda que eu sabia de cor, até de trás pra frente.
Chamou até cair 1, 2, 3 vezes. Não queria que ela me odiasse para sempre. E agora, “sem Camila”, talvez ela me perdoasse. Talvez.
Umas 17h40 ele resolveu aparecer. Buzinou umas mil vezes até eu aparecer.
Miguel “mesmo eu atrasando você ainda consegue não estar pronta?”
Ana “cala a boca! Você me fez esperar umas 3hrs” tive que gritar por causa do som alto no carro, um garoto que sentava na frente, levantou e foi pro banco de trás. Cavalheiro. Depois meu irmão o apresentou como Eduardo. No caminho encostamos numa conveniência. Eduardo desceu e voltou com cervejas long neck, cigarros pra ele e ruffles. Fomos conversado, eu bebendo e comendo batata, Eduardo também, só Miguel que não porque estava dirigindo.
Cheguei já meio animadinha, sempre fui fraca pra bebidas, por isso não tinha o costume de beber ou por que não tinha o costume de beber, que era fraca. Tenho dúvidas.
Era um bar que eu já tinha ido com Miguel mas que era sempre bem frequentado pelos universitários. Imagina com calourada! Tinham tantas pessoas que mal dava de dançar a música que tocava. Sertanejo universitário, claro.
Miguel foi comprar cerveja pra gente e Eduardo começou a puxar conversa, ele era muito bonito. Um corte de cabelo transado e barba por fazer, um sorriso sempre posto nos lábios. Miguel voltou com cervejas, uma garota e dois marmanjos. A garota era a ficante dele, Débora. E os meninos eram amigos dele e de Eduardo. Depois das apresentações voltamos a beber.
A maior parte da conversa eu não entendia por que era referente a faculdade mas o clima estava bom e eu sorria pelas loucuras que eles falavam. Um dos amigos, o Júlio César me chamou pra dançar. Levantei e fomos dançar, na metade da 2 música Eduardo apareceu e pediu pro amigo pra “comandar” dali. Começamos a dançar, ele tinha bem mais leveza e segurança, só me deixei levar...
Edu “teu irmão me disse que você tava na bad... terminou com o namorado?”
Quem dera, homens são menos...complicados.
Ana “não! Mas você não quer falar sobre isso”
Edu “só acho que, quem quer que seja, é um idiota completo”
Ana “acha?”
Edu “acho”
Ele me deu 2 voltas ritmadas, fazendo sumir qualquer equilíbrio meu. Ele foi rápido em me segurar e me beijar em seguida. Ele beijava bem mas meus sentidos associavam beijos à Camila e gritavam por ela. O afastei e assim que abro os olhos vejo que todo mundo que estava com a gente tinham parado a conversa pra ver. Corei, odiava plateia. Falei pra ele que precisava ir ao banheiro e como dono do próprio lugar ele me explicou onde ficava depois da “reforma” que teve. Os banheiros ficavam perto da saída de emergência. Entrei, tinham umas 2 garotas lá e assim que passei uma água no rosto e retoquei a maquiagem saí. Peguei meu celular no bolso e disquei o número de Amanda, não era tarde e ela poderia aparecer e dizer que estava tudo bem, e beberíamos até Miguel brigar e nos levar pra casa e dormiríamos juntas como fazíamos desde a 6ª série. Mas antes de eu conseguir levar o celular até a orelha fui totalmente repreendida.
Mila “se sentindo vingada?” ela encostou na cerca de arame que cobria parte daquele lado do bar.
Ela estava incrivelmente linda em shorts despojados e uma blusa muito folgada de mangas longas escrito “eu não sei lidar” em letras enormes.
Ana “se eu dissesse que era uma surpresa te ver por aqui, estaria mentindo”
Eu já até esperava que ela fosse, mas não que me olhasse. Um lugar lotado não é uma barreira pra essa garota?
Mila “então foi isso, cansou e voltou pra vida de hétero?” ela perguntava com ar casual, mas a intenção era a pior possível.
Ana “e se foi?”
Mila “não gostei nem um pouco!”
Sorri, amarga.
Ana “deixa de ser idiota! Eu não tenho nada com você”
Ela veio pra cima de mim e me fez encostar de uma vez, e ela me apertava sobre a grade mesmo sabendo que doía. Tentou me beijar mas eu virei o rosto, como ela foi com toda delicadeza possível para o beijo, não insistiu, parou com os lábios perto do meu pescoço. Eu sentia sua respiração, tão leve.
Ana “beijar e transar não resolvem tudo”
Mila “beijar você resolve tudo pra mim”
Ela falou me fazendo calar.
Mila “você foi a melhor coisa que já me aconteceu”
Ana “e ainda assim você está aqui, enchendo a cara”
Mila “você não?” virei o rosto, encarar ela não era a melhor decisão do mundo “você é meu convite pra ir embora. É só dizer, que sigo você pra qualquer lugar”
Virei. Ela era boa com as palavras, sempre sabia o que falar e eu odiava isso.
Ana “é melhor eu ir embora” ela segurou minha mão e eu parei, mas não consegui virar pra encará-la.
Mila “você não pode roubar meu coração e ir embora assim”
Puxei minha mão até que ela passasse por entre seus dedos, ela tentou segurar mas com a intenção que eu ficasse por conta própria, não por ela estar me forçando.
Eu quis morrer e ela acendeu um cigarro.
Me explica como um amor pode ser tão destrutivo?