Cap.1
NARRADO POR LEANDRO
1963, São Paulo
- Anda filho, me ajuda aqui com essas malas- meu pai dizia, tirando nossas malas do carro. Havíamos acabado de chegar do Rio de Janeiro. Lá era a minha casa. Mas, por causa de meu pai trabalhar em São Paulo, morávamos aqui.
- Tá pai- peguei algumas malas e trouxe pra dentro. A casa continuava do mesmo jeito que havíamos deixado, cheia de plásticos encobrindo as coisas. Ajudei a tirar tudo, e fui tomar um suco. Minha mãe se chamava Bianca. Ela tinha um corpo bem legal, era magra, mas bem encorpada, fazia caminhadas diárias. Tinha um bundão. Meu pai era todo fechadão, o típico machista. Era gordo, de tanto beber. Fumava, tinha um bigode que eu achava horrível, e era extremamente grosso. Mesmo assim, ele sempre foi um pai muito carinhoso, e eu amava aquele velho !
- Se você quiser dormir filho, pode ir- minha mãe dizia
- Tudo bem.
Subi as escadas e entrei no meu quarto. Tranquei a porta e tirei minha roupa, ficando apenas de cueca. Olhei pra mim mesmo, no espelho. Só para os curiosos, eu era branco, usava um cabelo que ia até os ombros, liso, olhos verdes, uma boca bem vermelha, era magro, nariz até bonitinho, alto, nunca reclamei do meu corpo. Meu nome... Leandro. Tinha 14 anos. Coloquei um disco dos Beatles, tinha estourado a pouco tempo, todo mundo gostava. E ouvindo eles, acabei dormindo.
TEMPO DEPOIS
- Filho, acorda. Temos que conversar- minha mãe afagava meus cabelos, tentando me acordar.
- Humm, o que houve ?- falava, olhando pra ela.
- Vem- ela me puxou. Lá fomos nós pra sala.
- Senta- meu pai falou. Sentei- filho, eu e sua mãe, decidimos que você vai pra um colégio interno- ouvir aquilo parecia ser uma facada.
- O que ?
- Já escolhemos. Você vai pra um que fica lá em Sorocaba. O ensino é ótimo, e vai ser melhor, porque não vamos ficar preocupados com você sozinho aqui- comecei a lagrimar.
- Vocês querem se livrar de mim é ?
- Não filho, só estamos pensando em você.
DIAS DEPOIS
Nem desfiz a minha mala de viagem. Ao contrário, só fiz colocar ainda mais coisas. O dia tinha chegado. Ia morrer de saudades durante esses 6 meses.
- Você não vai até lá mãe ?- ela lagrimava.
- Não filho, eu vou ficar- larguei a minha mala e dei um forte abraço nela- se cuida lá, eu vou morrer de saudades sua.
- Também vou mãe- falei soluçando
- Vamos logo, você não pode se atrasar- meu pai pegou a minha mala, dei uma última olhada na casa e fui em direção ao carro. Entrei. Dei tchau pra minha mãe de lá de dentro, e logo partimos, em direção a Sorocaba. Eu não sabia o que iria me esperar lá. Não sabia como passaria esse tempo. Era tudo muito novo pra mim. Ficar longe de meu pai, da minha família, seis meses, somente ficaria 2 meses por ano com eles, e chegar lá, não conhecer ninguém. É demais ! Logo chegamos na cidade. Chovia. Entramos num portão, e paramos em frente a um grande prédio. Meu pai pegou minha mala, colocou a mão no meu ombro e me puxou. Paramos na recepção.
- Olá moça, esse é o meu filho, Leandro Albuquerque- enquanto ele pegava o número do meu quarto. Olhei ao redor, aquele lugar era bem decorado. Garotos andavam pra todo lado, muitos funcionários. Fui tirado dos meus pensamentos pelo meu pai- filho, essa é Cátia, ela é a diretora daqui, e vai te levar até o seu dormitório, e mostrar tudo aqui pra você.
- Ok
- Eu já vou então. Se cuida filho, te amo- ele falou, me abraçando.
- Também te amo pai- logo vi ele indo embora pela porta da frente. Olhei para a tal diretora, e tive uma surpresa. Ela era bem nova, parecia ter menos de 30 anos, tinha uma aparência agradável, bem diferente daquilo que eu imaginava ser uma diretora de colégio interno. Fomos andando. Subimos dois andares, e andamos ainda mais um pouco, até chegar ao dormitório.
- É aqui que você vai ficar. Este é o seu armário- falou ela, apontando para uma parede- você divide o quarto com um garoto. Tem que manter sempre arrumado, e sem barulho. Acorda as 07h, e tudo tem que estar desligado até as 23h. Você toma banho nos banheiros coletivos, ficam no final do corredor....- ela saiu me mostrando tudo. As salas de aulas, as quadras, as piscinas, os banheiros, o bosque, o lago onde podíamos nos divertir, biblioteca, sala de TV, refeitório, e todo o resto. Ao fim daquilo tudo, voltei pro quarto. Fiquei minutos olhando para aquele lugar aonde passaria a maior parte do ano. Até aquela altura ainda estava vazio. Comecei a arrumar as minhas coisas no quarto, e logo veio um garoto falar comigo.
- E ai cara- olhei pra porta e um garoto a cara do John Lennon estava escorado- me chamo William- o cumprimentei
- Leandro
- Hoje a noite a gente vai lá pra sala de TV pra conversar, beber alguma coisa escondido. Vai pra lá, as 21h, pra galera se conhecer.
- Tá bom, eu vou- ele saiu e eu continuei arrumando. De repente, mas alguém bate na porta.
- Aqui é o 552 ?- uma voz grossa me chamou atenção.
- É, é pra falar sobre o encontro de hoje ?- na hora que olhei pra porta, senti um negocio estranho.
- Não. É que eu vou ficar aqui- um garoto entrava pela porta- me chamo Gabriel- falou, colocando a mala sobre a cama, e me cumprimentando em seguida.
- Muito prazer- falei, o olhando de cima a baixo.
Continua
Gostaram ??? Ainda esta no começo, só vai esquentar mais pra frente.