Antes das seis XVI

Um conto erótico de Carpenter
Categoria: Homossexual
Contém 908 palavras
Data: 17/09/2014 18:05:17

Impossivel esquecer o olhar atonito e indignado de Fernando sobre mim. Chegou a perder o ar antes de falar num tom rouco pela exasperaçao :

- Voce deve ter ficado louco! Eu? Apaixonado por ele?

- Sera possivel que negue ate para si mesmo? - encarei -o com firmeza.

- Que ridiculo -esboçou ele um riso ironico, dando uma volta pela sala, sacudindo a cabeça, inconformado - Nao me faltava mais nada!

Parou na minha frente, medindo -me com o olhar severo.

- Voce me humilha dizendo isso, sabia? -disse numa voz forte - Eu te amo, seu idiota! Como pode duvidar disso?

No momento sua indignaçao me pareceu tao sincera, tao profunda e verdadeira que me calei, procurando crer no que ele me dizia. Tentei abraça -lo mas ele se desviou de mim, irritado, apenas voltando às boas comigo na tarde do dia seguinte. Amava -me decerto como antes, mas muitas vezes aquela semana eu o flagrei desanimado, insone altas horas da noite, o olhar tao triste que me calava fundo. Nao perguntei nada, mas soube dele por alto que Carlos nao aparecera aqueles dias pela olaria.

Sem que esperassemos, entretanto, o sujeito nos apareceu em casa no domingo, tranquilamente, como se nada tivesse se passado. Trouxe revistas, jornais e discos novos, tagarela como sempre, altivo e todo montado na pose do rebelde sem causa. Fernando nao coube em si de contente ao recebe -lo.

O "assunto " nao veio à tona ali, e eu secretamente desejava que por causa daquilo Carlos nos evitasse para sempre. Com extrema irritaçao eu percebia que ele as vezes nos olhava com um ar de chacota, sorrindo consigo ou sacudindo a cabeça, como quem reprime a risada ante algo comico e bizarro. Embora nada dissesse diretamente, observava nos dois com um olhar de superioridade, feito fosse melhor, mais homem ou mais "puro " do que nos. Era na verdade um grande promiscuo, mais intimo das prostitutas do que a Agua de Colonia Regina.

Uma vez folheavamos na sala uma revista que ele trouxera, com fotografias de estatuas gregas e romanas em museus pelo mundo. Carlos dessa vez nao deixou escapar, num tom zombeteiro, como se fossemos a piada pronta em forma de gente :

- Vou arranjar uma gravura do Antinoo para voces. Era veado tambem, e amante do imperador Adriano.

Fez -se um silencio constrangido na sala e eu vi Fernando corar de vergonha, mordendo os labios e desviando o olhar. Por minha vez nada respondi a Carlos, apesar de profundamente ofendido. Nao queria mais atritos ali, seria tao inutil quanto desgastante. Foi com raiva que engoli aquele insulto, como quem toma um remedio amargo de colher.

Vez ou outra vinha uma piadinha sem graça, uma indireta carregada de sarcasmo, um certo tom de voz de repugnancia, de extremo nojo quando ele comentava por alto que nosso disfarce "de irmaos " era ate convincente.

Certa vez, apos Carlos ter saido, nao suportei. Explodi com Fernando enquanto o som da lambreta sumia pela rua.

- Chega a ser patetico termos de passar por isso. Esse sujeito nos despreza!

- Esta ainda se acostumando com nossa relaçao - respondeu Fernando parecendo resignado, mas eu via o quanto ele ficava magoado com o asco de Carlos por nos.

- Nao acho que precisamos da compreensao dele...- falei.

Fernando respirou fundo, cutucando as unhas sempre encardidas pela argila.

- Entretanto, nao gostaria de me ver privado da amizade dele - disse isso sem me olhar na cara.

Aquela confissao, apesar de obvia, era nova. O meu rapaz, a pessoa que eu mais amava no mundo, quem me suportava feito um alicerce inquebrantavel e por quem eu vivia e prosseguia me dizia com todas as letras que nao gostaria de estar distante de um estupidozinho que claramente zombava dele e de mim. Fiquei perplexo e incredulo olhando para o meu loiro estendido sossegadamente no sofa.

- Acho que voce tem sangue de barata - falei, sem me conter - Pelo menos com ele voce consegue ser mais compreensivo do que um padre...Alias, nao sabe mais esconder que esta arrastando um bonde...

- Cala a boca! -exclamou ele repentinamente enfurecido - Voce nao sabe o que esta dizendo!

- Nao sei? Entao estou apenas imaginando, fantasiando que tenho a varios meses um homem pela metade do meu lado, que me beija e se deita comigo pensando em outro...Um homem que eu julgo o amor da minha infancia, da minha vida, e que agora esta jogando toda a nossa historia pela janela como papel velho e porque? Por causa de uma paixonite de moleque por um almofadinha de merda!

Nunca poderia imaginar tal raiva nele. Apos a minha explosao de magoa ele se levantou do sofa, furioso e vermelho de raiva, investindo contra mim num soco que me pos de joelhos no chao, com a cara latejando. Me subiu uma furia fervente como lava de vulcao e quando me dei conta empurrava Fernando contra o sofa, estapeando -lhe o rosto e tentando esmurra -lo na barriga. Ele se defendia me segurando, grunhindo, empurrando e, em certo momento, exaustos, paramos tudo e arrependido e perplexo eu o abracei, chorando num soluço profundo, uma pena dolorosa de nos dois, de um desesperador final que se insinuava para tudo.

- Voce sabe que eu te amo, Rei - sussurrou ele ofegante, com a voz embargada.

Abracei -o mais forte, numa agonia. Me perguntava a que ponto tinhamos chegado.

*

*

*

Seus lindos, muito obrigada pela atençao, votos e comentarios. Faço isso para voces mesmo.

Um beijo especial em cada um!

e -mail : aline.lopez844@gmail.com

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Comentários

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Serio... continua logo!! rsrsrs ta ficando cada vez mais melhor. Ja disse q adoro sua escrita, gostaria de escrever como vc... seu eterno fã :******

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