O dono daqueles remédios entrou correndo no banheiro e me flagrou com uma caixa de antidepressivo na mão, o mesmo que a minha irmã passou a tomar no dia que seu ex terminou com ela para ficar com a fura olho da sua melhor amiga.
– Isso dai não é meu não, calma - Ele tentou me enganar.
– Então é de quem? Do seu labrador?
– Deve ser do meu pai, eu nem sei porque ele começou a tomar isso.
– Eu também não consigo imaginar um motivo pro Rodrigo começar a tomar isso, e ainda por cima deixar esses remédios no banheiro do seu quarto.
– Mas ele deixou, eu não sei porque mas deixou.
– Mentira, para de envolver ele nisso! Ou você prefere que eu chame ele aqui e pergunte de quem é os remédios? - Ele fez que não com a cabeça - Charlie, como é que você se automedica desse jeito sem prescrição e acompanhamento médico? Porque eu tenho certeza absoluta que médico nenhum no mundo ia te receitar dez antidepressivos diferentes...
– Esse foi a única maneira que eu encontrei de amenizar a dor que eu sinto por ter perdido a pessoa que eu mais me amava no mundo, que me fazia feliz e que resumia a minha vida.
– Tudo bem, eu entendo, mas não é assim que você vai conseguir amenizar alguma coisa, não é se entupindo de pílulas da felicidade momentânea que você vai aprender a conviver com essa perda. O que você tem que fazer agora é seguir em frente, ter paciência consigo mesmo e com os seus próprios sentimentos, porque a única coisa que tem o poder de curar qualquer coisa é o tempo. E se continuar doendo, é porque ainda não deu tempo de curar - Afirmei tocando o seu ombro - Agora eu vou fazer um favor para sua saúde e jogar tudo isso aqui fora.
Peguei os medicamentos em cima do mármore e joguei no lixo cartela por cartela antes de sair do banheiro junto com ele que se jogou na cama e iniciou o seu desabafo:
– Ás vezes eu fico pensando em como seria a nossa vida se ele estivesse aqui agora. Bom... Se ele ainda estivesse vivo nesse exato momento, eu aposto que ele estaria contando alguma das suas piadas meio repetidas, mas que sempre arrancavam risos de todo mundo porque ele sabia contar piada como ninguém. Ele era engraçado, e tinha um senso de humor tão aguçado que fazia até o velho mais rabugento do mundo cair na gargalhada com as coisas que ele dizia - Charlie se recordava encarando o teto do seu quarto - Mas até por meio das suas tiradas, ele só dizia verdades. E nessa sociedade hipócrita onde quase todo mundo mente e esconde aquilo que pensa e sente, alguém sincero como ele faz muito falta. Para mim, principalmente - Ele se sentou na cama e comprimiu os lábios - E naquela noite no hospital, quando o Nicolas morreu, eu senti como se estivesse afundando num mar de saudade e melancolia sem fim. Era uma saudade amarrada pela hipótese de que ela poderia não passar nunca. Mas agora graças ao apoio que você tem me dado, eu sinto que eu vou conseguir sair desse mar.
– Isso. Muito bom, é assim que se fala - Congratulei ficando de frente para ele e me apressei vendo as horas no relógio - Bom, eu acho que já tá na minha hora.
– Ah, fica mais um pouco! - Ele pediu se levantando da cama.
– Não vai dar. Hoje é meu primeiro dia de trabalho, não posso me atrasar.
– Então tá tranquilo, até amanhã na escola.
– Se cuida hein? Lembra que você pode contar comigo para o que der e vier. Qualquer coisa eu estou ali do lado, seja para rir ou para chorar - Abracei ele fortemente e só o larguei quando escutamos juntos a voz do Rodrigo que entrou no quarto de surpresa querendo saber:
– Atrapalho? - Ele ficou nos olhando com uma cara de interrogação e a espera de uma boa resposta. Muita coisa passou pela minha cabeça. Será que ele tinha desconfiado daquele simples gesto de carinho e contaria alguma coisa para a minha mãe? Ele não parecia ser um cara preconceituoso, porque pelo o que eu sei o Rodrigo foi uma das primeiras pessoas a ficar por dentro do namoro entre Charlie e o falecido Nicolas.
Por mais que as minhas melhores amigas e até a minha irmã aceitasse bem a minha condição sexual, eu ainda tinha um certo medo que a minha mãe descobrisse. Eu tinha receio de decepcioná-la e temia demais a sua reação ao saber.
Eu não conseguiria nem me imaginar numa situação parecida com a de ser desprezado ou até mesmo expulso de casa por ela pelo simples fato de eu ser o que eu sou. Mas de qualquer maneira, meu colchonete na casa da Thais ou da Bianca já estava garantido.
– Não tá atrapalhando nada não, pai - Charlie respondeu antes de mim.
– Tem certeza? Porque parecia que...
– Certeza mais absoluta é impossível - Ele interrompeu o Rodrigo – Ele só estava me falando umas palavras de encorajamento, nada mais do que isso.
– Então é assim que estão chamando hoje em dia? Eu devo estar muito desatualizado!
– Pai, sem brincadeira, por favor. Vincent, não liga para ele não.
– O que é isso na sua testa? - Rodrigo notou o meu galo e Charlie exibiu o quebra dedo respondendo a sua pergunta - Tá para nascer alguém mais desastrado.
– Eu já vou indo. Tchau - Me despedi saindo do quarto.
– Tchau! - Os dois disseram em uníssono e eu desci as escadas correndo.
Fui para minha casa me arrumar e as 15:15 bati na porta da Thais para irmos juntos de ônibus. Tudo correu bem na livraria, mas eu nunca pensei que organizar livros nas prateleiras e passar informação fosse ser tão cansativo. No fim do expediente, passamos por uma loja de roupa feminina em liquidação e eu avistei uma certa loira comprando por lá.
– Thais, você vai cair para trás quando ver o que eu estou vendo!
– O quê você tá vendo?
– A Leona comprando roupa em liquidação - Apontei para a loja.
– Meu deus! Pensei que eu ia morrer sem assistir uma cena dessas.
– Vamos até lá dar uma sacaneada nela?
– Não é uma má ideia. Mas a gente tem que ir para casa.
– Pra quê voltar agora? Está cedo ainda. Trabalhamos a tarde toda, a gente merece se divertir um pouco - Entramos na loja e eu fiquei bem do lado da Leona que olhava alguns vestidos na promoção com a sua fiel escudeira, Sabrina.
– Você já esteve melhor, hein Leona? - Sussurrei no seu ouvindo assustando ela.
– Vincent? Você me seguiu até aqui?
– Não perderia o meu tempo seguindo você. E eu sempre venho nesse shopping de vez em quando - Menti. A última coisa que eu queria era que ela soubesse que eu trabalhava por ali. Vai que ela resolvesse me atazanar na livraria?
– O que você tá fazendo comprando roupa aqui demônia? - Thais perguntou.
– Eu não vou levar nada. Só vim acompanhar a Sabrina - Ela disse.
– Engraçado, eu não sabia que permitiam animais circulando aqui no shopping - Falei me sentando numa poltrona - E que eu saiba o pet shop fica lá no segundo andar.
– Pois então era lá que você deveria estar. Se bem que nenhum cliente compraria uma borboleta dentro do casulo né? - Ela riu e foi se sentar em um puff bem longe de nós enquanto a Sabrina foi no vestiário provar uma calça jeans e antes da sair de lá com a Thais, tive uma excelente ideia de como pregar uma peça na Leona que estava distraída falando com o seu pai no celular. Peguei um conjunto de calcinha e sutiã que estava ao lado dela, me escondi atrás de um manequim e gritei o mais alto que pude:
– FALTAM QUINZE MINUTOS PARA ENCERRAR A LIQUIDAÇÃO!!! - Isso já foi o suficiente para fazer com que a loja que não parava de encher cada vez mais, se transformasse num verdadeiro pandemônio. Bem na minha frente, a Leona tentava passar no meio da multidão enquanto falava ao telefone sem notar a minha presença.
No meio de toda aquele povo andando desesperado de uma lado para o outro, não foi uma tarefa muito difícil conseguir colocar o conjunto dentro da sua bolsa. Sabrina voltou do vestiário mas parecia que a Leona desistiu de continuar ali e as duas deixaram a loja. Quando Leona estava prestes a sair, o detector começou a apitar e um segurança apareceu para ver o que era. Saí do estabelecimento e me juntei a Thais para assistir aquela cena impagável.
Retirei o meu Smartphone do bolso e tirei uma foto do exato momento em que os seguranças encontraram o conjunto de calcinha e sutiã dentro da bolsa da biscateira e a levou para aquelas salas que eles costumam levar os adolescentes menores de idade que roubam alguma coisa e têm de ligar para os pais buscarem eles.
– Leona querida, no seu aniversário eu vou te dar uma caixa cheia de calcinha e sutiã. Pelo visto, você deve estar precisando muito mesmo - Eu zombava enquanto ela era levada pelos seguranças e me fuzilava com o olhar.
– Foi você né? Isso não vai ficar assim! Eu vou te matar!
– Estou esperando, aguardo no Senhor.
– Pode aguardar! Você vai se arrepender de ter nascido pelo que você fez hoje!
– Caramba. Eu tô chocada! - Thais exclamou quando Leona foi embora.
– Fala que eu não arrasei! Pode falar, vai - Eu disse.
– Tocou o terror bonito, hein? Gostei de ver.
– Você achou o que? Que eu ia deixar aquela aguinha de salsicha me desacatar e ficar por isso mesmo? - Peguei o meu celular e postei na internet as fotos que eu tinha tirado com a seguinte descrição: "Patricinha é pega roubando calcinha e sutiã em queima de estoque".
* * *
Desde que eu entrei no colegial, eu fazia de tudo para fugir das aulas de educação física. E não somente porque eu era um pereba em esportes, mas porque toda vez que o professor mandava fazer um time eu sempre sobrava. E quando eu estava livre no campo, ninguém jogava a bola pra mim porque eu nunca conseguia pegar ela.
Saudades daquela época em que educação física era uma aula divertida, em que nós brincávamos de pique esconde, estátua, fazíamos alongamento e já tínhamos um dez garantido no bimestre. E para aumentar ainda mais o meu mau humor aquela manhã, Bianca sentou comigo na arquibancada e continuou me dando o esporro que ela tinha começado na noite anterior pelo o que eu tinha aprontado com a Leona.
– Por que você fez isso Vincent? Eu fiquei sabendo que a garota até apanhou em casa.
– Vai ficar defendendo é? De que lado você tá?
– Eu não estou defendendo ninguém. Eu odeio a Leona tanto quanto você, mas também não fico enfrentando. Enquanto você revidar cada provocação dela, ela não vai te dar paz.
– Bianca, desculpa mas eu não tenho sangue de barata. A partir de agora, eu não vou deixar aquela entojada me humilhar todo santo dia e ficar por isso mesmo.
– E você acha que pagar com a mesma moeda vai adiantar alguma coisa?
– Para mim e pro meu ego, funciona muito bem.
– Você tá sendo infantil, Vincent.
– E você hoje tá mais chata que a minha mãe.
– Ter juízo e a cabeça no lugar é ser chata agora né?
– Juízo e Vincent são duas palavras que não combinam na mesma frase, você sabe disso.
– Ai Bianca, você tá falando disso desde ontem. Troca o disco e para de encher o saco, por favor - Reclamou a Thais se juntando a nós dois na arquibancada - Mas só para constar, a Leona mereceu. Não se esqueça de tudo o que aquela vadia já fez com ele.
– Claro que eu não esqueci. Só acho que vocês não deviam ficar espezinhando ela nesse momento difícil que ela está passando. Agora mesmo antes de vir para quadra eu vi ela chorando sozinha no chão do banheiro, fiquei com pena.
– Você disse que ela tá passando por um momento difícil? - Indaguei - Você sabe de alguma coisa e tá escondendo da gente? Se estiver, desembucha agora!
– Olha, eu não devia falar para vocês porque isso não é da nossa conta e eu detesto ficar fazendo fofoca da vida dos outros. Mas eu vou caguetar assim mesmo porque quem morre abafado é cuscuz. A Leona e a família dela estão falidos! - Ela revelou.
– Falidos? Mas eles tinham tanto dinheiro! - Disse a Thais - E o pai dela é sócio de uma rede de supermercados, não é possível que ele tenha perdido tudo!
– Mas perdeu. Como, eu ainda não fiquei sabendo. Só sei que eles estão vendendo quase todos os bens materiais e cortando o máximo de gastos para terem o que comer.
– Mas essa notícia é uma mina de ouro - Fiquei animado com a fofoca.
– Vincent, você não vai contar isso para ninguém, entendeu? - Bianca ordenou.
– Eu prometo que não vou falar nada - Cruzei os dedos atrás das costas - Minha boca é um túmulo - Falei quando a Sabrina passou do nosso lado e cochichou algo como:
– Essa escola aqui só tem baranga e viado.
– Tá falando da gente é? Fala na minha cara pequena sereia - Me levantei da arquibancada.
– Com certeza eu não perderia o meu tempo falando mal de você pelas costas. Eu prefiro perder o meu tempo ouvindo o que dizem de você pelas costas, isso sim é bem mais divertido - Ela provocou jogando o cabelo pro lado e indo até a Leona.
– VOLTA PRO MAR OFERENDA! VAI MORDER AZULEJO! - Gritei perdendo a paciência.
– Vincent, não liga para essa daí não - Thais aconselhou e o professor quis saber se alguém se oferecia para fazer parte do time de vôlei em que faltava um jogador.
– Leona? A vossa alteza nos daria essa honra? - Ele perguntou para ela.
– Eu não posso! A minha unha...
– Eu quero participar! - Me ofereci para surpresa de todos.
– Quem é você e o que você fez com o meu amigo? - Ironizou a Thais.
– Vai lá e arrebenta - Charlie jogou a bola para mim e se sentou na arquibancada.
– Obrigado - Agradeci indo pro meio da quadra em frente a rede de vôlei.
– Vai lá e SE arrebenta, foi o que eu quis dizer - Ele se corrigiu.
– Protejam-se! Ele vai sacar! - Alertou uma menina de rabo de cavalo.
O meu objetivo era que a bola pegasse na Sabrina pela sua provocação, porém esse objetivo não foi alcançado. A bola chegou a pegar na cabeça de alguém, mas não na dela. E sim na da Leona que estava junto com a amiga e caiu no chão com a pancada.
– Ele fez de propósito! - Ela me acusou sendo acudida por alguns amigos e carregada no colo por outro que vivia paparicando ela - Tu tá morto hein? Tu tá morto seu viado! - Ela berrava tentando sair dos braços do cara que levava ela no colo até a enfermaria.
– Acho que ela ficou bolada. Literalmente - Charlie analisou caindo na gargalhada depois que o professor deu a aula por encerrada e mandou todos nós para a sala.
– Claro. Ele tirou sangue dela - Falou a Bianca enchendo um copo com água no bebedouro.
– Dessa vez eu juro que foi sem querer. Eu queria acertar a Sabrina, não ela - Expliquei.
– Em menos de duas horas, a Leona sofreu constrangimento dos coleguinhas de classe que viram, curtiram e compartilharam a foto dela sendo pega roubando roupa íntima numa lojinha de quinta categoria, e ainda levou uma bolada na cara. Arrasou Vincent, abriu a tumba do faraó e mostrou quem é que manda na pirâmide - Thais comemorava.
As últimas três aulas aquela manhã se arrastaram sonolentas e entendiantes. E eu não via a hora delas acabarem de uma vez. Mas o lado bom daquele dia foi que eu achei ótimo o fato do Charlie estar interagindo muito bem conosco. Já era um sinal de que ele estava superando o luto aos poucos. O melhor de tudo era que ele estava com um sorriso lindo no rosto. E não só o sorriso dele que era lindo, mas ele por completo também.
Antes da hora da saída, meu tédio foi encerrado graças aos amassos e beijos que eu troquei com o Jordan no corredor da escola, que estava vazio.
– Vem cá, quem é esse loiro que não desgruda de você? - Perguntou ele.
– Charlie. Ele é filho do namorado da minha mãe, e meu amigo também - Expliquei.
– Humm... - Ele fez um bico.
– Tá com ciúmes?
– Não, só acho que ele não tá muito satisfeito com o posto de seu amigo.
– Se ele está ou não satisfeito no posto de amigo, eu já não sei. Mas eu estou, e muito.
– Acho bom mesmo.
– Vai com calma, tá? Nós não temos nada um com o outro ainda.
– Isso é uma questão de tempo e paciência.
– Você é sempre convencido assim mesmo ou tem feito algum curso por correspondência?
– Eu faço um curso técnico aqui perto da escola.
– Eu desconfiei disso, aposto que daqui a pouco você já se forma nele. Afinal, você se acha só porque é gato, quero ver ser gato sendo feio - Acabei falando algo sem sentido mas que fez com que ele desse uma gargalhada alta e voltasse a colar seus lábios nos meus.
– O que você tem nessa boca hein que eu não consigo parar de te beijar? Você colocou um ima aqui? - Ele vivia dizendo coisas bonitas pra mim, que ás vezes mais pareciam ter saído de algum manual de conquistadores baratos, mas que eu simplesmente adorava ouvir. Porém esse clima de romance açucarado não durou muito tempo já que tivemos que voltar para sala quando a inspetora quase nos flagrou trocando saliva.
Na hora da saída, fui para casa conversando com o Charlie e as garotas sobre os assuntos de sempre e quando chegamos na nossa rua cada um foi para o seu canto. Á noite assim que voltei da livraria com a Thais, fiquei trocando mensagens com o Jordan no celular até que minha mãe chegou do trabalho logo após a Pamela e foi ao seu quarto tomar um banho depois de conversar comigo sobre como tinha sido o seu dia. Eu não tinha o hábito de dormir tarde em dia de aula porque na manhã seguinte eu acordava igual um chiclete mascado e com a cara do travesseiro, mas o papo com o Jordan estava tão bom que eu abri uma exceção e continuei falando de abobrinha com ele até 23h50min.
– Você não vai dormir não? - Minha mãe perguntou abrindo a porta do meu quarto.
– Eu já vou sair, deixa eu só falar com a Bianca aqui.
– Desliga logo isso garoto, já são quase meia noite.
– E daí? Pode deixar que amanhã eu acordo no horário certo.
– Ah, vai acordar no horário certo? Como se nem quando você dorme cedo tu consegue acordar assim que o despertador toca?
– Qual o problema de ficar acordado até um pouco mais tarde só hoje?
– O problema é que a noite foi feita pra dormir, só isso.
– Se alguém dissesse que a melancia foi feita pra se usar na cabeça, você ia obedecer?
– Minha casa, minhas regras - Ainda bem que eu consegui bloquear o meu celular, antes dela tomá-lo da minha mão, apagar a luz e sair do quarto. Fui me deitar e fiquei fitando o teto como sempre fazia até pegar no sono. Minhas pálpebras já estavam ficando pesadas no instante que eu ouvi alguém jogando pedrinhas na minha janela.
– Quem é o corno que tá jogando essa merda aqui? - Abri a janela e olhei pra baixo. Era o Jordan que estava no meu quintal fazendo um gesto pedindo para que ficasse em silêncio.
– Coloca uma roupa e desce que a gente vai dar uma saída - Ele sussurrou.
– Tá maluco? Não vai dar não, minha mãe me mata se ela souber que eu não estou em casa.
– Ela já tá dormindo?
– Sim, foi para cama agora há pouco.
– Então, ela nem vai ficar sabendo. É só você não fazer barulho
– Eu já disse que não.
– Por favooor - Ele me convenceu fazendo uma cara de cachorro que caiu da mudança.
Fiz um sinal para que ele me esperasse, coloquei uma camisa e uma calça jeans e baguncei o cabelo cuidadosamente para que o Jordan não pensasse que eu me produzi detalhadamente só para lhe causar boa impressão. Fui no quarto da minha irmã e peguei um bebê de brinquedo que ela tinha guardado com ela desde criança dentro de uma caixa que ficava debaixo da sua cama. Coloquei o boneco deitado de bruços debaixo do meu cobertor e cobri com algumas almofadas a parte que ficariam as minhas pernas. Desci as escadas na ponta do pé depois de conferir se a Pamela e a minha mãe estavam mesmo dormindo. Abri a porta da frente com o maior cuidado do mundo e me dirigi até o quintal aonde o Jordan estava me esperando deitado na rede e saiu dela ao me ver.