O FRUTO Cap. 20
- Alice?! – Marcelle perguntou tão atônita quanto eu.
- Não! O coelho da pascoa! – Ela respondeu. Sarcasmo escorria de seus poros.
Alice ignorou todos os olhares de reprovação que recebeu de todos nós. Eu pensei ter ouvido Igor rosnar. Mas a cena que se desenrolava na minha frente ainda era chocante de mais para dar atenção a qualquer outra coisa.
Matheo chegou sorrindo e segurando a bolsa da vadia. “De grife. por que isso não me surpreende?” Perguntei-me.
A vagabunda puxou uma espreguiçadeira e sentou-se como se fosse à rainha da Inglaterra. Claro que antes ela tirou à micro saia e a blusinha mais curta ainda expondo seu corpo para todos a sua frente. “Devo admitir, a vadia tem o corpo maravilhoso” O hétero dentro de mim a muito perdido deu sua opinião. “Claro que sim, você já viu alguma cobra extremamente perigosa feia? Não. Elas são sempre lindas para atrair as suas presas…” O meu-eu gay rebateu.
Matheo se aproximou dela e praticamente enfiou sua linda na traqueia dela. “Ótimo. Agora no Animal Planet; veremos sexo das cobras ao vivo!” Pensei com amargura.
Tentei a todo custo focar nos meus amigos e me esquecer da existência da vaca loira atrás de mim e do babaca que aparentemente era seu namorado. Tentei ignorar a sensação de traição que insistia em perfurar meu coração como uma faca quente. Eu não iria dar motivos para eles me provocarem mais. Poderia e estava sofrendo, mas não daria a ela o prazer de me ver chorando. Ignorando a vontade de dar vasão a meus sentimentos e rolar pelo chão chorando e perguntando ao universo o porquê de tanta injustiça, decidi que iria agir normalmente e com uma frieza que faria inveja ao polo norte.
Quase consegui.
Alice não satisfeita tomou a dianteira e cheia de si começou uma sessão de agressões a todos nós. Começando por Matheus;
- Que lindo você está Matheus – Falou com uma voz de desdém. – Eu quase me esqueci de que você é rato de biblioteca. – Falou e tampou a boca para interromper um riso. – Alguém descobriu as revistas de moda. – Continuou falando e tom de segredo.
Passou para Marcelle e Guto;
- Que maravilha maninha! – Bateu palmas – Como minha irmã mais nova é normal ficar com minhas roupas e sapatos que não me cabem mais, mas ficar com meus “ex´s” não é de mais até para você? – E emendou – E você Gustavo? Como é ficar com a cópia pirata? – Sua voz era puro desprezo agora.
Marcelle encolheu-se e sentou-se abraçando as suas pernas. Guto afastou-se da bandeja e mexeu-se desconfortável em sua cadeira. Claro que Alice ainda não tinha terminado, ela sempre deixava o melhor para o final. Eu
-você hein David? – Sorriu. - O universo é injusto. Dar-te um avô rico pra compensar os pais que te abandonaram e foram viver uma vida melhor sem você. Mas isso só depois da sua tia o por para fora de casa. Triste não? – Seus olhos brilhavam na expectativa de me ver em cair em suas palavras e mostrar fraqueza diante dela. – Por que mesmo que sua tia o colocou para fora? – perguntou curiosa.
Matheo apenas observava.
“Como ele pode ouvir tudo isso e ainda está com ela?” Eu me perguntava. Ele continuava lá. Ao seu lado. Passivo enquanto sua “namoradinha” distribuía sarcasmo e crueldade gratuitamente. Ela ainda exibia o sorriso de vitória em seu rosto, dava para sentir a expectativa de me ver quebrar na sua frente.
Ela fracassou.
Claro que aquelas palavras me atingiram em cheio. Que perfuraram meu coração como adagas. Doeu e feriu-me por dentro, mas eu não daria o prazer de mostrar quanto ela me feriu. Respirei fundo e pedi em alto e bom som.
- Irina?- Falei.
Irina moveu-se e foi para minha frente. Acho que por medo de ser acrescentada a seleta lista de alvos para a prática de crueldade, que Alice praticava com tanto esmero seu rosto era um misto de medo e desconforto. – Sim, mestre? – Falou tensa.
- Por favor, peça para dois seguranças acompanharem a garota ali para a saída. – Falei apontando para Alice – Também avise aos porteiros que ela está proibida de voltar para a mansão. – Falei com um sorriso de canto de boca. – Não sou obrigado a aturar as cenas patéticas dela. Faça isso agora! – Minha voz era firme o suficiente para deixar Matheus de boca aberta e Marcelle mais pasma ainda.
Antes que eu perdesse o foco decidi dar a ultima cartada;
– E por favor, avise ao meu avô que se eu continuar a viver com os gêmeos ele precisará de um novo neto, por que eu irei embora tão rápido quanto um furacão e me esconderei onde nem mesmo ele me achará. Você pode fazer isso? – Falei levantando minha sobrancelha.
- Cla...claro senhor – Ela falou e se retirou “Eu vi um sorriso em seu rosto?”
Voltei meus olhos para o casal a minha frente. Os olhos de Alice faiscavam de ira, ela moveu-se em minha direção, mas antes mesmo de dar dois passos em minha direção dois homens com mais de 1,90 surgiram e pegaram cada um em um braço da minha querida arqui-inimiga e levaram uma garota em fúria para fora da mansão.
A cena era patética. Alice gritava e batia as pernas enquanto proferia palavrões e outras ofensas. Todas dirigidas a mim.
Matheo estava estático, não esboçava nenhuma ação. Por um momento quase senti pena dele. Até que ele acordou do transe respirou fundo e falou;
- Você.... – Seu rosto era uma mascara de fúria.
Antes mesmo que ele pudesse terminar a frase, Irina surgiu e falou de maneira firme;
- Senhor Digori. O mestre Caius o aguarda na biblioteca. Ele deseja falar com vossa senhoria agora! – Falou tensa.
Matheo olhou-me como se houvesse crescido duas cabeças em mim, virou-se e saiu.
Suspirei. Deixei toda a mágoa e raiva saírem de mim, minha visão enturvou e lagrimas rolaram pela minha face. Marcelle veio e abraçou-me. Sorriu para mim e falou baixo, apenas para eu escutar. – Obrigado. – E continuou a abraçar-me. Matheus veio e pude sentir sua mão em meu ombro. Até mesmo Guto me lançou um olhar de agradecimento. Igor estava atrás de Matheus, e pude sentir que ele também me agradecia por defender Matheus, para ele.
...
E assim foi. Eu não conseguia entender os motivos de Matheo me torturar. Mas de uma coisa eu tinha certeza; eu não daria mais chances dele machucar-me novamente, nem ele e nem qualquer outro garoto. Nem mesmo Caius mudaria minha decisão, eu não escolheria Matheo, nem Marcus e nem mesmo qualquer outro. Se Caius quisesse que eu fosse o “fruto” eu seria, seria até o melhor e mais forte que já existiu. Mas nenhuma força da terra me faria escolher alguém...
Continua