Max chegou na sala que dividia com mais quatro amigos e não viu a irmã de Jordano que geralmente era a primeira a chegar. A cadeira que ainda estava vazia, parecia zombar de sua calma aparente e nada verdadeira. Seu corpo parecia em ebulição e se um termômetro fosse colocado embaixo de seu braço a temperatura ultrapassaria 50 Graus rapidamente. Após falar com os amigos e começar os trabalhos do dia, ouviu a porta ser aberta e a voz de Bruna lhe chegou aos ouvidos:
_ Bom dia pessoal. Passou rapidamente pela mesa do ex-amigo, ex-amado e sentou em seu lugar justamente de frente pra ele.
Ela era e sabia que era uma linda mulher. Loira, alta, pele lisa e naturalmente fresca, cabelos lisos e expressivos olhos verdes. Corpo esbelto, maquiagem leve e um perfume agradável lhe dava um certo charme e apesar de não precisar estar ali junto com os demais, tinha decidido ter sua própria vida longe da proteção eterna da família. Era também uma mulher extremamente educada e de bom gosto. Assim que ela guardou sua bolsa no armário que ficava na parede oposta de onde ela se sentava, viu que Max a olhava com um maior interesse, pelo menos foi o que ela pensou no momento...
_ Você quer me dizer algo Max? Então ela sorriu. Um riso pétreo e sem vida, como se fosse um riso mudo, tal qual o riso de uma fotografia.
_ Não Bruna, olhava pra você somente porque você estava no meu campo de visão. Tá tudo bem?
_ Acredito que sim...
_ Nesse caso, bom dia a você e um ótimo trabalho. E Max baixou a cabeça retomando o trabalho que fazia.
As horas foram passando e os amigos começaram a sair em pares para o almoço. Bruna e Max foram o último par e praticamente pegaram o elevador juntos.
_ Você almoça comigo? Perguntou Max.
_ Não, mais posso te acompanhar até o estacionamento. vamos?
" Que sigamos para o estacionamento" Pensou Maximiliam.
Os dois saíram do elevador, passaram pelas portas giratórias da Agência e finalmente começaram a caminhar pela calçada se afastando cada vez amais do lugar em que trabalhavam.
O estacionamento estava praticamente vazio e Max ao acionar o alarme do seu carro destravando as portas, foi pego de surpresa pelas palavras iniciais de Bruna:
_ Quer dizer Max que não bastava ser negro, tinha que ser bicha também?
_ O que foi que você disse, Bruna?
_ Isso mesmo que você ouviu.
Max ficou sem ação. As palavras de Bruna o desarmou completamente.
_ Já vi que você não é mesmo um homem de verdade. Tá digerindo o que eu falei, é? Ou tá atrás de dar aquelas respostas bem elaboradas só pra se fazer de inteligente? Vocês bichas são mestres nisso, acham que sabem tudo e que tem opinião pra tudo.
_ Não Bruna, eu não preciso de nada disso. Eu sou sim uma bica como você mesmo fala, mas pode estar certa de que sou uma bicha bem diferente de muitas que você provavelmente conhece.
_ Faça-me rir Max. Diferente em quê? Só porque não desmunheca não quer dizer que não goste de uma boa banana. E o ditado caí bem em você, negro e banana, combinação perfeita.
_ Nesse caso Bruna, faça-me rir você, tão branca, linda, rica e sozinha. Deve ser ruim né?
_ Seu viado nojento... E Bruna levantou a mãos para bater no rosto de Max.
_ Nem pense em fazer isso. Se nunca te ensinaram a noção de limites, ela acabou de ser imposta pela tua ação. Qual o teu problema Bruna? Por que tanto rancor, amargor e raiva de mim e do seu irmão? O que te fizemos?
_ Ignorar, desprezar, enganar... Tá bom pra você?
_ Você não sabe o que esta dizendo. Quando e onde tudo isso aconteceu?
_ No dia em que vocês dois se conheceram. Eu vivi uma ilusão por quase um ano inteiro. Eu sempre te admirei Max, eu idealizava uma vida ou mesmo uma relação entre a gente... Você estava ali quase ao meu alcance e eu fui uma tola em esperar que você tomasse a iniciativa... Hoje sei que morreria nessa espera... E isso pra mim te torna um ser tão ou mais nojento do que meu irmão. Ele é apenas um garoto bonito que tá na faculdade, que tem uma voz linda e que muito cedo se mostrou pro mundo, só que eu jamais poderia imaginar que um amigo meu, justamente aquele que poderia chegar a qualquer hora e momento e me ter, fosse o mesmo que iria ser levado de mim sem que eu tivesse uma chance de me mostrar, de falar do que eu sentia, de me dedicar por completo no que seria a nossa relação ou mesmo de ser feliz ao seu lado... Eu não consigo parar de pensar em vocês naquele quarto barato de motel, se enroscando, se entregando, se descobrindo juntos, é demais pra mim... Eu odeio você Maximiliam, eu odeio o que você me tirou e eu jamais irei perdoar tanta humilhação que você praticamente me jogou na cara sem eu merecer...
_ Eu não fiz nada disso. Não nego que tenha notado alguma coisa a esse respeito, seu interesse por mim, mas também devo te lembrar que nunca insinuei nada, e sempre que podia eu me afastava mais e mais de você.
_ Você mente Max. Tenho certeza que faltava pouco pra que a gente pudesse finalmente se acertar. Você é um homem lindo, másculo, educado, cheio de carisma, perfeito, essa é a palavra certa para descrevê-lo, você é perfeito... Aí do nada eu numa coincidência carregada de ironia, vejo o carro do meu irmão entrar num motel e junto com ele, você...
_ Bruna, seja razoável. Não faz isso com você mesma, por favor. Aqui não temos vítimas e vilões. Não há crimes ou culpados... Somos apenas humanos imperfeitos tentando viver um dia de cada vez... Você não sabe o que é viver com medo, sabe? Você alguma vez se imaginou um peixe fora d'água? Não Bruna, você nunca passou ou passará por isso, justamente por ser perfeita demais, certinha demais, só que você não ta vendo no que isso te transformou...
_ Acabou Max, essa conversa toda não vai levar a nada...
_ Tá vendo o que você acabou de fazer? Uma fuga rápida e silenciosa. Não se vive em casulo Bruna, até as borboletas sabem disso. Pára de ser a coitada, a traída, a enganada, a pobre moça que não teve chance nenhuma... Olha pra você garota, linda, bem nascida, elegante, culta, escolha os adjetivos... Sinto muito se te causei alguma mágoa. Vivo uma omissão que esta aprestes a acabar, jamais conseguiria viver uma mentira... Você seria a última pessoa que eu magoaria, pode acreditar em mim. Quando tudo isso passar e eu espero que seja logo, você verá que foi melhor assim e lá na frente com certeza haverá algo de bom pra você.
_ Ola Max, eu só quer te dizer uma última coisa, até isso tudo passar, por favor não fala mais comigo... Fica fora do meu campo de visão e não se aproxima de mim novamente... Eu amei você, é isso mesmo que você ouviu, amei com paixão, desejo, vontades que me deixavam envergonhada... Agora sei que odeio você com todas as minhas forças e pode escrever o que te digo agora, enquanto eu viver, você jamais será unanimidade.
Bruna finalmente entrou no carro, deu partida e saiu do estacionamento do BB.
Max saiu do estacionamento, andou até rua Major Facundo e entrou no Mistura Paulista que ainda continuava lotado. Assim que Max voltou do almoço, soube que Bruna pediu pra sair mais cedo por conta de um problema de saúde. Com certeza ela havia ido pra casa por causa da conversa que tivera com Max. No final do expediente, o bancário ligou para Jordano que já havia ligado para seu celular 11 vezes...
_ Oi amor.
_ Você quer me deixar louco, é?
_ Essa intenção não faz parte dos meus planos, isto é, dependerá muito da situação... E sorriu abertamente para Jordano ouvir.
_ Você esta bem mesmo?
_ Tão bem que quero te ver logo mais.
_ Também quer te ver... Você pode me encontrar no VIA SUL por volta das 19:30 h?
_ Pode estar certo de que estarei lá.
_ Quero te mostrar uma coisa e falar com você sobre tantas outras.
_ Combinado meu garoto lindo.
_ Um beijo, negão gostoso... Quer dizer, meu negão gostoso.
_ Outro pra você, amor.
Max se deu conta de que realmente precisava de Jordano, pois só ele tinha tido o poder de acalmá-lo desde que a tempestade havia começado a cair.
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Dessa vez o sono me venceu... Desculpem o mal jeito e já sabem, prometo fazer a troca de energia assim que for possível. Abração a todos vcs... Nando Mota.
P.S. Meu e-mail: fernandovg31@bol.com.br