Leon admirava os movimentos de seu amigo sobre a prancha de skate. Como Andrei era bom naquilo! Manobras precisas, parecia voar na pista, por entre os outros garotos. A pista estava cheia naquele sábado de muito sol e calor, mas Leon só tinha olhos para Andrei. O vento fazia ondular sua camiseta preta, enquanto o garoto mais velho fazia outra manobra radical.
Os dois se conheciam desde muito pequenos, eram vizinhos no mesmo bairro de periferia. Andrei era um pouco mais velho que Leon. Cuidava dele como se fosse um irmão, fosse na rua ou na escola, e tudo que Leon sabia, desde um pouco de matemática até sacanagem, fora Leon que lhe ensinara... o garoto mais novo continuava a mastigar a pipoca e assistir as proezas de seu amigo, que parecia formar uma só coisa com a prancha de skate. Ao olhar para o outro sentia algo confuso, que não sabia definir o que fosse. Era um misto de orgulho, ternura, uma vontade de estar sempre debaixo das asas do outro...
Sim, ele admitia para si mesmo, Andrei era bonito, tinha uns olhos castanhos meio puxando a mel, pernas fortes e musculosas, peito largo, cabelos sempre em desordem sob o boné... um sorriso que iluminava tudo ao seu redor. Ele, Leon, não se achava bonito, era moreno, magro, e tinha os olhos muito negros e se achava com cara de babaca quando se olhava no espelho.
Alguns garotos conhecidos passaram por ele, com seus skates nas costas, e o saudaram revirando seu boné. Andrei dividia seu skate com Leon, porque seus pais não tinham condições de lhe comprar um ainda. Leon estava longe de ter a mesma habilidade do amigo sobre a prancha. Um dia eu chego lá, pensou, sonhando acordado com um futuro vago e cheio de surpresas...
Andrei vinha ao seu encontro com o skate, cabelos molhados, camiseta grudada ao corpo.
- Vamos nessa, cara! - falou. - Depois a gente tem ensaio na casa do Rick...
Estavam tentando montar uma banda com alguns outros garotos do bairro. Algo entre o rock e o reggae. Dali até a rua onde moravam era uma caminhada um tanto longa, por ruas de chão batido. Os dois garotos seguiam lado a lado em silêncio. Andrei entregou o skate a Leon, que meio desajeitado tentava reproduzir algumas manobras que vira o amigo fazer na pista.
- Aí, garoto!
Ao passarem por um terreno baldio, os dois notaram um movimento estranho por entre os matos. Ouviram gemidos... Andrei fez sinal de silêncio para o outro e os dois se aproximaram. E então viram... atrás de uma moita estavam dois caras, um totalmente nu, o outro com as calças arriadas, e esse comia o outro. Leon sentiu o coração disparar e não conseguia tirar os olhos da cena. O cara que fazia o papel ativo estava atolado dentro do parceiro, fazendo o vai e vém, e o outro gemia, de dor... ou seria de prazer? Andrei observava a cena com ar inexpressivo. Aquilo parenia não o abalar.
- Vem, mano, deixa os maluco aí se divertindo... - disse a Leon, e seguiram.
Ensaiaram até tarde da noite. Sonhavam em ser famosos um dia. Andrei era o vocalista da banda de garagem. Leon estava aprendendo a tocar guitarra, mas sabia que tinha um longo caminho pela frente. Ao todo eram cinco garotos pobres, que cantavam músicas da Legião Urbana, Paralamas, Charlie Brown Jr e outros clássicos. ás vezes arriscavam alguma coisa do Nirvana, mas pouco sabiam de inglês. Um dia fariam suas próprias músicas... Andrei dizia já ter escrito algumas letras, mas nunca as mostrara a ninguém, nem mesmo ao seu melhor amigo, Leon.
Leon girou a chave da porta sem fazer barulho. Seus pais já estavam dormindo. Estava com fome, foi até a cozinha procurar alguma coisa para comer. Encontrou duas bananas na fruteira e um pacote de bolachas cream cracker, comeu. Depois catou uma latinha de Coca na geladeira e foi para o seu quarto. Bebeu uns goles, jogou-se na cama e ficou olhando para o teto, pensando... pensando no que vira aquela tarde a caminho de casa. Os dois caras transando, um comendo e o outro sendo comido. Porque aquilo não lhe saía da cabeça? Andrei nem ligara... ah, mas Andrei era o cara, era mais velho, escolado, não um babaca igual a ele. Andrei já tinha 17 anos. Ele só tinha 14...
Leon esboçou um leve sorriso ao lembrar de seu amigo com seu eterno boné enterrado na cabeça, seu sorriso de dentes claros, seu jeito largado de ser e agir. Andrei... não conseguia imaginar sua vida sem ele. Os dois caras no matinho... tem que ser muito puto pra deixar outro cara meter no seu rabo, pensou o garoto, e adormeceu.
Acordou horas depois todo melado. Já era dia. Correu até o banheiro, e enquanto se esfregava embaixo do chuveiro Leon pensou que estava na hora de ter sua primeira vez com uma garota... pra ontem.
Bem, este é o início, espero que gostem e comentem.