The Scientist - 14

Um conto erótico de Pierrot The Clown
Categoria: Homossexual
Contém 3711 palavras
Data: 24/09/2014 22:03:36

Rafaela

4:30 da manhã, Alice dormia em meus braços e eu encarava o teto tentando imaginar o que tanto a perturbava. Pra falar a verdade eu já desconfiava, apenas forçava a mim mesma a não considerar uma possibilidade tão absurda. Fato era que as dores dela também doiam em mim, e só me dei conta disso a olhando dormir ali, indefesa, com ar inocente e lábios entreabertos, deitada em meu peito, com as mechas de cabelo que insistiam sempre em cair sobre seus olhos e me deixavam encantada sempre que o faziam. Acabei pegando no sono ouvindo sua respiração.

Acordei com meu despertador tocando e por um instante esqueci a irritação causada por aquele barulho chato e pensei em Alice ali, deitada ao meu lado. Senti meu peito encher de felicidade. Era sempre assim com ela, bastava um olhar ou o som de sua voz que eu me sentia a pessoa mais realizada do mundo. Abri os olhos vagarosamente e sorri me espreguiçando, olhei pro lado ainda sonolenta e para minha surpresa (e total desagrado), Alice não estava mais lá. Pode parecer totalmente bobo, mas senti meu coração pesar.

"Será que ela ficou brava por Lucas estar aqui? Será que ficou com vergonha de me encarar depois da madrugada de hoje? Será que enjoou de mim? Ah, Rafaela, não seja idiota. " Esses e mais dezenas de outros pensamentos passavam pela minha cabeça enquanto eu estava no banho, inevitável não pensar nela logo ali. Lembrei de como a segurei nos meus braços e de como me senti naquele momento, como se eu tivesse o mundo nas mãos e fosse invencível. Eu tinha medo dos meus próximos passos, medo da minha relação com Alice, se eu tentasse avançar, ela poderia recuar e tudo que eu já havia conseguido conquistar dela poderia ser perdido, mas por outro lado, se eu não deixasse bem claro que eu a queria para mim ela pensaria que eu só queria sexo... Bom, eu tinha que dar um jeito nisso.

Sai do banho e me arrumei para o colégio, fazia mais frio do que o habitual naquela manhã e minha vontade era de me jogar na cama e dormir até o outro dia. Peguei minha mochila e desci as escadas, ouvi duas risadas e uma conversa distante quando cheguei aos últimos degraus. Me aproximei com o coração já começando a dar pulos de felicidade ao reconhecer aquela voz e pude ouvir a conversa com mais clareza:

- Nãaaaao, não desse jeito, assim você mata todo mundo de diabetes! - Meu pai dizia.

- Ah, desculpe. Eu sou horrível nisso, te disse - Alice dizia com voz de riso.

- Tudo bem, pelo menos a gente conseguiu fazer os pães e o bolo. - Disse meu pai coçando a cabeça e logo após retirando o avental

- Porque eu não te ajudei a fazê-los, né.

Os dois riam distraídos e nem me viram na porta da cozinha os observando. Meu pai, depois de alguns minutos, foi o primeiro a notar, ele conversava com Alice, que estava de costas pra mim. Ele disse algo à ela que não pude ouvir e ela virou sorrindo. Minhas pernas ficaram bambas e naquele momento agradeci a Deus por estar encostada na parede.

- Oi - Disse ela com um olhar alegre, tão diferente daquele de algumas horas atrás. - Seu pai e eu estavamos tentando fazer um café da manhã de comemoração mas eu queimei as torradas e coloquei 1 kg de açúcar na massa da torta.

- Ei, não esquece do sal que você colocou no café - gritou meu pai do fundo da cozinha.

- EU PENSEI QUE FOSSE AÇÚCAR!!!!! - ela devolveu e o riso contagiou aquele lugar.

Meu pai se aproximou, enxugou as mãos em um guardanapo, me abraçou e beijou minha cabeça.

- Bom dia, filha. Não temas, papai conseguiu salvar um pouco de comida pra você. - deu dois tapinhas na minha costa e eu ri - Vou subir para me arrumar e tomo café com vocês, ok? Sou um homem de negócios agora - Disse, fazendo cara de sério e rindo logo em seguida enquanto subia as escadas.

- Não demora, pai. Te amo.

- Te amo, filha. - Ele gritou lá de cima.

Era o primeiro dia do meu pai na empresa e eu estava feliz por ele e por mim. Alice estava acabando de arrumar a mesa, me aproximei a abraçando por trás.

- Assim você me faz derrubar o único bolo restante, Rafa...

Beijei sua bochecha.

- Que horas acordou?

- Não sei, logo ao amanhecer, eu acho. Não quis te acordar e vim ver tv aqui embaixo, aí encontrei seu pai.

- Meu pai também estava acordado? - Perguntei a soltando devagar.

- Sim, assistimos o massacre da serra elétrica e depois ele me convidou pra preparar o café da manhã. - Alice disse deixando o bolo sobre a mesa e encostando nela, de frente para mim.

- E se eu comer uma fatia desse bolo posso ter certeza de que não irei cair morta no chão? - Eu disse, me aproximando e encostando meu corpo no dela, aproximando nossos labios. Deus... Como eu sentia falta daquilo e não faziam nem duas horas desde a ultima vez que senti seu cheiro de perto.

- Não posso garantir nada... - Ela disse e riu fraquinho encarando minha boca. A beijei e esqueci até meu nome mas o barulho de alguém se aproximando nos separou. Lucas apareceu na cozinha com cara de poucos amigos e assim que viu Alice deu meia volta.

- Acho que ele ainda é apaixonado por você. Que fofo.

- Tá de brincadeira comigo?

- Tô - Ela disse e riu. - Mas ele parece mesmo gostar. Se você conseguiu ver uma pessoa boa em mim porque não achar uma nele também, mesmo embaixo de toda aquela camada de imbecilidade?

- Vocês são... Diferentes. Nada a ver, Alice.

- É tem razão, eu sou mais bonita. - Ela disse e piscou pra mim.

- Idiota. - Disse rindo e a beijando. - Vai se arrumar

Alice desceu pronta para a escola 10 minutos depois, vestindo a calça surrada e a mesma blusa que dei à ela de madrugada. Meu pai veio logo atrás e tomamos café juntos entre risadas e brincadeiras. Alice havia conquistado meu pai em apenas um dia e isso ainda me impressionava. Lucas não deu as caras e não tocamos no nome dele, meu pai também o detestava desde a época que namorávamos.

- Tchau, pai. - Disse o beijando na bochecha.

- Tchau filha, tchau Alice.

- Tchau seu Marcos, boa sorte hoje - Disse Alice simpática.

- Não deixe minha filha perto de más companhias.

- Sim, senhor! Pode deixar, senhor - Disse imitando um soldado.

O manhã estava fria mas o sol estava lindo, já estavamos atrasadas mas naquela hora isso era o que menos importava.Caminhávamos ainda rindo quando Alice parou de súbito.

- Que foi?

- Meus livros, esqueci em casa, hoje a professora de português vai pedir aquele trabalho e eu deixei dentro do livro.

- Só não esquece o próprio nome sabe Deus porquê né

- Já esqueci duas vezes - Ela disse dando de ombros e me fazendo rir.

- Você não existe.

- Existo sim e esse corpinho aqui vai correr agora mesmo até em casa o mais rápido que conseguir. Vai na frente, te encontro lá - Beijou minha bochecha e correu. 30 segundos depois já havia a perdido de vista, me deixando ali com um sorriso bobo no rosto.

**

Cheguei ao colégio, Mateus me avistou logo que passei pelo portão e correu até mim.

- Ei, loira.

- Mateus, oi. Tá bem? - Perguntei.

Caminhávamos até a lanchonete. Ainda faltavam 15 minutos pra aula da professora de português. Escolhemos uma mesa e sentamos.

- Eu sempre estou ótimo, meu amor. Tristeza dá pé de galinha e não quero acabar sozinho e falido porque toda minha despesa foi gasta em cremes faciais. Bate na madeira. - Ele disse realmente batendo na mesa da lanchonete e me fazendo rir.

- Tudo bem então, viu a Alice?

- Você que é mulher dela, não eu.

- Mateus!

- Ué, homem dela é que não é. Fica vermelhinha não

- Se isso aqui não tivesse tão cheio eu te mataria agora mesmo.

- Azar o seu, outro eu não existe, você pode imaginar um mundo assim??? Sem Mateus???

- Que ótima ideia, vou imaginar agora mesmo. - Disse fechando os olhos.

- haha, sem graça.

- Você que começou. Guarda meu lugar, vou comprar meu suco. Vai querer algo?

- Traz um de laranja pra mim também. - Ok.

Fui até a lanchonete e enquanto esperava meu pedido vi outro garoto chegar na mesa e sentar ao lado de Mateus, que por sua vez ria animadamente e gesticulava junto com o rapaz. A conversa deveria estar animada. Estava distraída em meus pensamentos e me assustei quando alguém veio por trás de mim, colocando as mãos nos meus olhos. Cheguei a pensar que fosse Alice, mas aquele perfume definitivamente não era o dela. O de Alice era doce, delicado e esse era levemente amadeirado, bom, não sei explicar. Tinha certeza que já havia sentido aquele cheiro antes em...

- Ana Luiza? - Lembrei.

- Olá, senhorita sumida.

- Oi... - Não sabia o que dizer e me vi nervosa ali diante dela, sem explicação lógica.

Ana Luiza era uma menina de ouro, simpática, nos tornamos amigas rápido, antes de eu conseguir me aproximar de Alice. Ela nunca escondeu seu interesse em mim e acabamos ficando, o que foi uma burrada. Não poderia mentir, ela ja me atraiu muito, mas meu coração estava batendo exclusivamente por uma pessoa agora.

- Sumiu, Rafa. Senti saudades - Disse ela me abraçando. Passou os lábios levemente pelo meu pescoço e me arrepiei. A afastei incomodada.

- Estava ocupada.

- Percebi. - Ela deu um risinho com uma pitada de algo que eu jurava ser ironia ou... Ciúme.

- Tudo bem com você? - Perguntei olhando para Mateus na mesa de trás que agora parecia ouvir o garoto falar mecanicamente e me olhava com olhos de reprovação.

- Bem melhor agora. Vem comigo rapidinho? - Ela disse me puxando pela mão e nem tive tempo de recusar. Gelei quando vi que ela me levava para o banheiro feminino. Entramos e ela trancou a porta.

- Acho que você não entendeu quando eu disse que estava com saudades de você, Rafaela... - Ela disse avançando lentamente para cima de mim, mas eu a afastei.

- Para, Ana. Eu não posso.

- Por que? Eu sei que te conheço pouco mas eu realmente gosto de você. Não fiquei com nenhuma outra garota depois que te beijei porque você não sai da minha cabeça e... Eu claramente não deveria estar te dizendo isso, por favor não me ache louca - Ana luiza me dizia com um olhar assustado.

- o que eu te disse na noite da festa, Ana?

- Que você confundiu as coisas e que queria ser minha amiga apenas, mas...

- Ana, eu gosto da Alice.

- Alice? A canalha da turma? Ta brincando... Então é verdade o que estão dizendo. - Ela falou quase pra si mesma com um ar surpreso.

- Não fala assim dela. E sim, Alice.

- Isso pode parecer um pouco psicopata ou dramático mas, eu não vou desistir de você.

- Ana...

Eu nem tive tempo de completar a frase e ela me roubou um beijo. Um beijo que pra mim foi frio, sem sabor, totalmente diferente de como era com Alice. A afastei.

- Porra, Ana. Para! Eu gosto de outra pessoa. NUNCA MAIS FAÇA ISSO.

Ana se recompôs e com um olhar triste disse:

- Desculpe, e tudo bem... Mas quando ela aprontar uma das suas eu provavelmente vou estar aqui por você pois sou a pessoa mais trouxa desse mundo. Você pode não saber do passado e do que ela é capaz mas eu sei. Cuidado com essa garota, Rafa.

- Por que? Eu não mordo. - Ouvimos uma terceira voz e o barulho da porta do reservado se abrindo. Alice saiu dali e parou em frente a nós duas, meu sangue gelou, pensei que ela iria me matar ou xingar por ter ouvido o beijo e a conversa. Quis chorar mas me controlei. Ela passou por nós e enquanto eu me desesperava, ela lavava as mãos tranquilamente na pia, vez ou outra levantava o olhar e nos encarava pelo espelho enorme do banheiro com aqueles olhos tão azuis que me queimavam. Ana estava vermelha, paralisada, assim como eu. Alice que nos encarava pelo reflexo, deu um risinho de lado e finalmente falou algo:

- Sem querer me intrometer em dr alheia mas já o fazendo... A parte do "sou trouxa" é a mais plena verdade, eu acrescentaria também "louca carente que implora por migalhas de atenção". - Disse à Ana, me beijou e saiu, deixando nós duas ali com cara de paisagem. Na minha cabeça um único pensamento: " É, Rafaela. Você tá ferrada."

Saí praticamente correndo do banheiro e entrei na sala, Alice estava sentada no fundo ao lado de Mateus, e eu? Eu sentada no melhor lugar do mundo, como a sala estava cheia era o unico restante: entre Ana Luiza e Lucas. Sim, Lucas caiu justamente na nossa sala. Ele estava sentado em sua carteira com a velha cara de poucos amigos. Sentei e esperei pela professora, que entrou poucos minutos depois seguida por Ana.

- Bom classe, hoje eu dividirei vocês em grupos de 3. Podem continuar em seus lugares pois seus parceiros serão os colegas ao lado.

Pro dia ficar melhor, claro que não podia faltar essa. Olhei pra trás e uma garota do fundão era toda sorrisos para cima de Alice, que retribuia com seu jeito desinteressado que, confesso, me encantava. Senti um incômodo enorme ao imaginar Alice e aquela garota juntas. Nem sabia porque estava imaginando aquilo.

- Rafaela?

- Sim? - Respondi, saindo de meus devaneios.

- O trabalho, estávamos falando sobre o trabalho. Na minha casa, quinta-feira. - Disse Ana se dirigindo a mim e logo depois a Lucas.

-Tudo bem, depois me passa o endereço.

- Ok.

Decidi falar com Alice no intervalo, e, quando a hora chegou a encontrei na lanchonete conversando com Mateus e a garota da sala. Me aproximei e pude ouvir a conversa.

- Bernardo me chamou pra acampar. - Ela disse a Mateus.

- Seu amiguinho tá com raiva de mim.

- Ah, ta de brincadeira que deixei vocês gozarem no meu sofá novo pra ficarem de briguinha depois.

- Alice, como você é idiota - Disse Mateus. - Eu chamei ele de Vinicius.

- Nome do ex. Pegou pesado.

- Você não tá ajudando.

- Relaxa, Math. É cena - Disse Alice rindo - Ele te chamou pra ir também, ó. - Mostrou o celular.

- QUE COMECEM A COMEMORAR PORQUE NESSE FINAL DE SEMANA TEM!!! - Mateus disse com seu jeito escandaloso, levantou da mesa e seguiu para um lugar qualquer do colégio deixando Alice sozinha com a garota chata da sala. Resolvi me aproximar mais.

- Oi.

- Oi, Rafaela. - Respondeu. Sua voz era indecifrável. - Essa daqui é a Juliana. Juliana, Rafaela.

- Ei - Eu respondi me contentando com um aceno de cabeça.

- Oi - Respondeu Juliana fazendo o mesmo.

- Posso falar com você a sós? - Perguntei à Alice.

- Eu já estava de saída. Tchau linda, me liga depois. - Disse Juliana e beijou Alice na bochecha.

- "Tchau linda, me liga depois". - Eu disse imitando a voz irritante da garota e Alice riu.

- O que você quer? - Perguntou. Sua voz era branda e eu esperava uma explosão. Aquilo me assustou.

- Te explicar o que você viu hoje.

- Não precisa, eu sei o que vi.

- Não. Quer dizer... Droga, Alice, eu sou apaixonada por você. - Disse baixinho por conta das pessoas que passavam ao redor.

- E eu por você. - Respondeu calmamente.

- Pensei que fosse me xingar.

- Por que xingaria?

- Por hoje mais cedo.

- Rafa... Eu te ouvi, ok? Se você tivesse sido uma idiota comigo, teria ficado com a Luiza ali mesmo mas você a afastou. Vocês não sabiam que eu estava lá. Pra te falar a verdade eu não sabia se ficava com raiva das investidas da Luiza ou se ficava emocionada com os seus "eu gosto da Alice"

- Alice?

- Hum? - Respondeu com o canudinho do suco na boca.

- Eu não quero que você fique com mais ninguém. Pode parecer bem cedo pra isso mas... - Eu disse da maneira mais doce possível. Não queria assustá-la.

- Bom, eu não quero ficar com mais ninguém. - Respondeu com um sorriso.

- Então isso significa que você não vai mais ficar com a sem sal da sala que da em cima de você a cada 5 segundos? - Alice riu alto.

- E o que te fez pensar que eu ficaria com ela?

- Bom ela é linda e "me liga depois linda". - Eu disse imitando a garota novamente de forma debochada.

- A gente combinou de falar sobre o trabalho, só isso.

- Jura?

- Juro.

- Hm.

- Rafa?

- Oi?

- Só vou te deixar me beijar depois que você desinfetar sua boca.

Ana Luiza passou pela lanchonete encarando a mesa onde estávamos e Alice deu tchauzinho com um sorrisinho cínico no rosto. Luiza ficou vermelha de raiva e apressou o passo.

- Por que você tem que ser tão malvada? - Perguntei rindo.

- Não posso mais cumprimentar os concorrentes? - Ela respondeu levando o canudinho do suco até a boca.

- Você sabe que nem espaço pra concorrência você deixa. - Eu disse segurando suas maos sobre a mesa.

- Que gay! - Mateus disse aparecendo atrás da minha cadeira e me assustando. Olhei pra trás e ele estava de braços cruzados com uma expressão engraçada. Alice se acabava de rir na minha frente.

- Não sabia que você também tinha o poder de se teletransportar por aí. Parece aquele x-men...

- Ih, nem vem, ele sempre quis ser a Vampira - Me cortou Alice, fazendo nós 3 rirmos.

- Vão se catar as duas, eu vim aqui pedir pra Al levar uma barraca grande pra acampar no fim de semana já que eu tava afim de dormir com ela mas pelo visto ela vai levar você. Vou ter que dormir mesmo com seu amiguinho - Disse Mat com um risinho satisfeito.

- E posso saber porque o senhor não compra uma? - Perguntou Alice.

- Contenção de despesas, meu amor. - Mateus disse e piscou, saindo logo em seguida.

- Esse é seu melhor amigo? - Perguntei ainda rindo à Alice.

- Quem? Não sei do que você tá falando - Deu de ombros e riu.

Abaixei o olhar por dois segundos e quando levantei o sorriso dela havia sumido e ela estava pálida, como se tivesse visto um fantasma.

- Ei, tudo bem? - Toquei suas mãos e estavam geladas. - Alice? Alice você tá me assustando!

Nada. Ela mantinha o olhar congelado em direção à saída da cantina que levava até a diretoria. Olhei na mesma direção e vi Lucas conversando animadamente com um homem que depois reconheci... Seu tio. Lucas idolatrava aquele homem na época em que namorávamos. Eu sempre o achei um mau caráter, ele chegou a dar em cima de mim uma vez. A última vez que tive notícias dele, soube que estava viajando pela Europa, provavelmente fugindo de alguma burrada. Me assustei quando o olhar dele se direcionou a nós, pude observar sua expressão surpresa e um sorriso brotando em seu rosto enquanto ele se aproximava da nossa mesa com Lucas logo atrás. Ele estava diferente, com a barba mal feita, os cabelos bem cortados, os olhos com o mesmo brilho ruim. Percebi que conforme eles se aproximavam, Alice tremia. Apertava minhas mãos. Minha cabeça simplesmente não conseguia pensar em uma explicação lógica para aquele comportamento, sentei ao seu lado e a abracei.

- Meninas, é um prazer revê-las - Disse ele mexendo no cabelo e olhando diretamente para Alice, o que me fez estranhar.

- Revê-las? - Perguntei querendo expulsar aquele idiota inconveniente dali e me perguntei se ele era cego para não ter visto o estado de Alice. Algumas pessoas simplesmente não tem bom senso.

- Sim, revê-las. - Disse sorrindo de lado - não é Alic...

Não conseguiu completar a frase pois foi derrubado pelo soco de um Mateus fora de si. O circo estava armado. Pessoas se aglomeraram próximas aos dois e eu corri na tentativa de separá-los antes de que Mateus ganhasse uma suspensão, ainda estávamos no colégio afinal. Lucas tentava tirar Mateus de cima do tio mas não teve muito sucesso já que era bem mais fraco. Eu não sabia o que fazer ou o que pensar diante de tudo aquilo, o grito das pessoas ao redor me apavorava. Lucas e mais três rapazes que eu nunca havia visto antes conseguiram separar a briga.

- CHEGA PERTO DELA DE NOVO E EU ACABO COM VOCÊ. - Mateus gritou tentando se soltar e ir pra cima de Gustavo, tio de Lucas.

Gustavo apenas riu e limpou o sangue no canto da boca enquanto encarava Mateus, deu meia volta e saiu, com lucas o seguindo.

Mateus estava vermelho, suado, com o rosto um pouco machucado e um olhar de ódio. Irreconhecível. Me assustei ao saber que o motivo da briga era Alice e isso fez minha cabeça ferver em pensamentos, até que ela deu um estalo... A reação de Alice quando o viu, os pesadelos, a cena no chuveiro de madrugada, tudo

- Não pode ser... - Falei em um sussuro apenas pra mim, sentindo vontade de vomitar.

Procurei por Alice mas ela já não estava mais ali. Percebi que Mateus fazia o mesmo. A direção havia chegado na lanchonete e ele se aproximou de mim, me segurando pela mão e andando com passos apressados pra fora dali. Felizmente o pessoal do colégio não dedurava ninguém.

- Vai atrás dela, Rafaela. - Ele me disse com a voz séria. Haviamos parado em uma parte isolada do pátio.

- Espera... Eu tô confusa, Mateus. Me explica tudo, ainda tô perdida.

- Só quem pode te explicar é ela, Rafa. Tudo que eu posso te contar é que ele era ex namorado da mãe dela e destruiu a vida da Alice. - Mateus disse cerrando os punhos. - Sabe por que ela nunca confia em ninguém? Sabe por que ela tem pesadelos toda noite? Sabe por que ela nunca deixa que ninguém chegue perto dela além de mim? Porque aquele filho da puta fodeu com a vida da minha menina e o idiota aqui nem estava lá pra protegê-la. - Mateus explodiu, socando a parede próxima a nós. Ele lagrimava.

O abracei e também chorei. Tudo aquilo era chocante demais para processar. Nos recuperamos, pegamos um táxi e fomos atrás de Alice. Eu estava assustada, com ódio, enjoada mas no meio de tudo aquilo também pude reconhecer um sentimento que já tinha seu lugar dentro de mim há tempos. A vontade de proteger e nunca mais deixar nada machucá-la. Vontade de estar junto toda hora, até não poder mais. Vontade de estar ao lado dela até parar de respirar.

Não, eu não gostava de Alice. Eu a amava.

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Comentários

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Ai meu Deus perfeito nossa chorei junto com vcs agora cont..

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Meu Deus como Vc escreve bem. Parabéns estou vislumbrada cm a categoria q tu escreve aos textos ótimos continue logo por favor

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Haaaaaaa XD esse conto é perfeito D .

Nao demora a postar fico morta de curiosidade.

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MARAVILHOSOO :D uma das melhores histórias que já li aqui! Juro que fiquei emocionada! Continue logoo. Alice :'(

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mds mds mds perfeito maravilhoso fantastico continua logo pelo amor :O

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Maravilhoso. Muito perfeito ;-) ansiosa pelo próximo

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Como vc consegue escrever tão bem??? Tá muiiito bom,tô curiosa!! Não demora pra posta o 15 logo tá bom?

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AI MEU DEUS EU TO 😭😭😭😭😭 PERFEITO QUERO O 15

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