Cap.4
Ele se curvou em minha direção.
- O que você está fazendo ?
- Na minha cultura, as pessoas se curvam diante das outras nas apresentações, como sinal de respeito.
- Ah sim- me lembrei dos animes que já tinha visto- mas é tão esquisito isso.
- É, para os brasileiros é mesmo- podia perceber o tanto que ele se enrolava pra falar o r. É muito fofo.
- Mas o que um japonês vem fazer num fim de mundo como esse ?
- Bem, meu pai é daqui, e ele voltou pra cá, então tive que voltar. Posso dizer que o Japão é bem diferente daqui.
- Eu imagino- ele sorriu, estava encantado por aquele garoto. Luana chegou mais perto, olhou pra mim e depois para Ryu- bem, esta é uma das minhas amigas, Luana.
- Nós já nos conhecemos- ele disse, se curvando diante dela.
- É sim, ele fez alguns trabalhos comigo ano passado- ela olhou novamente pra ele, e depois pra mim- é, Lucas, você pode me ajudar num negócio aqui ?
- Claro. É, até depois Ryu, adorei conhecer você- ele sorriu. Continuava olhando pra ele, até esbarrar em alguém.
- Cuidado, você não enxerga ?- aquela voz eu conhecia- você ? O garoto do supermercado ? O que faz por aqui.
- Vou estudar aqui- ele me olhou de cima a baixo.
- Ai, espero que esteja bem longe da minha sala, pois eu não quero ter que te ver todo dia- enquanto isso, eu me perguntava o que tinha me levado a gostar dele.
- Porque, te incomoda tanto assim ter que me ver ? Cuidado pra não se apaixonar ein- sorri, enquanto mais uma vez ele bufava- nossa, como esse garoto mudou !- dizia eu, olhando pra Luh.
- Pois é. Hoje está um drogado. É uma pena, pois eu achava ele bonito. E vem cá, que história foi aquela de salvar aquele garoto dos valentões ?
- Sei lá. Desde aquela época que aquilo aconteceu, não consigo ver injustiças. Foi por isso que fiz aquilo. Percebi que se tratava dele depois.
- Mas você já conhecia ele ?
- Sim. Bem, não. Só de vista. O vi lá na orla.
- Ah sim.
MINUTOS DEPOIS
O horário bateu e nós subimos. Sai procurando de sala em sala do 3°ano. Até achar. Por ironia do destino, estávamos todos juntos. Eu, o pessoal, Marcos e Ryu. Entrei na sala e alguns já estavam sentados. Vi o japonês sentado bem na frente, e sentei atrás dele. Ele virou pra mim, eu sorri.
- Então você não estava brincando ?- ele parecia curioso.
- Do que está falando ?
- É que eu pensei que você havia vindo falar comigo apenas pra poder me perturbar depois.
- E porque eu faria isso ? Olha- puxei levemente o seu rosto- eu já passei por muitas coisas. Já fui perturbado, e já fui humilhado por alguns desses garotos- exagerei um pouquinho- e você precisa apenas aprender a ser forte, não deixe que ninguém pise em você.
- Falar é fácil, olha pra você e olha pra mim.
- Mas eu não estou falando de força física, e sim de força interior. Tendo força interior, você consegue enfrentar a todos. Acredito em você. E ah, ao contrário de você, eu não era nem um pouco bonito- olhei pra seus olhos, e ele olhava pra todos os lados, como se estivesse esperando um trem. Virou em seguida pra frente. Vi diversas pessoas conhecidas entrarem. Algumas olharam pra mim, principalmente algumas patricinhas. Entraram alguns garotos, inclusive Marcos, e em seguida a professora. Era de Artes. Olhei novamente pra Ryu, e vi seus olhos brilharem quando ela falou em pintura.
- Bem, mas antes de eu passar o primeiro exercício, é hora de se apresentar. Não precisa vir aqui, se não quiser. Apenas levantem-se digam seu nome, idade, e algumas outras coisas- os alunos protestaram, mas não teve jeito. Todo mundo teve que se apresentar. De um a um. Alguns iam lá na frente, outros falavam da cadeira mesmo. Logo chegou a vez de Ryu.
- Bem, me chamo Ryu, tenho 17 anos, eu sou japonês, descendente de brasileiro, e estudo a um ano aqui. Gosto muito de ler, ver séries e pintar- ouvi lá de trás um "japonesinho viado !"- é só isso- queria conhecer melhor aquele garoto. Tudo me levava a crer que os boatos eram verdadeiros, e ele era gay. Ele era tão fofinho, estava me chamando uma enorme atenção.
- Agora é sua vez- a professora apontou pra mim. Me levantei e fui até lá na frente. Comecei a falar.
- Bem, me chamo Lucas, tenho 18 anos, cheguei esse mês aqui em Macapá, antes morava em SP. Gosto muito de ler mangás, ver filmes e seriados. Detesto injustiça, briga por nada, e gente babaca- a sala fez um uuuuuuuuuu. Olhei para aqueles dois babacas de antes, que estavam quase disparando raios na minha direção.
- Olha ai Ryu-san, chegou a sua salvação, um viado que combina contigo- um garoto loiro, vestido de couros, de nome Leonardo, gritou. Olhei pra Ryu, que parecia irritado, e depois para o garoto.
- Primeiro, é gay e não veado, veado é um animal, faltou as aulas de biologia por acaso ? Segundo, os garotos dessa sala andam muito interessados em mim, primeiro foram aqueles dois- falei apontando para os dois- depois, esse daqui- apontei para Marcos agora- e agora você. O gay aqui não sou só eu- a turma fez um uuuuuuuuu de novo. O garoto levantou da sua cadeira e veio na minha direção.
- Novato, fica na tua, porque você não sabe do que sou capaz !- ele lançou um sorriso, que logo se desfez.
- O que ? Vai tentar me estuprar. Não precisa amor, como você é bonitinho, é só me convidar para um passeio e trazer flores que consegue o que quer- a turma toda riu. O garoto estava quase pra voar em mim.
- Ei, calma gente, se vocês querem marcar encontro, marquem lá fora, porque agora o único encontro é o da tinta com a tela.
- Calmo estou professora, só acho que ele vai precisar ir no banheiro depois dessa- todos riram. Ele virou pra mim novamente, bufando, e voltou pra sua cadeira. Me sentei na minha. Já vi que teria muitos inimigos esse ano.
- Como você consegue ter tanta coragem ?- ele perguntava, olhando pra mim.
- Esses garotos não sabem dialogar, por isso ficam sem palavras quando o colocamos contra a parede. Entendeu ?- ele balançou a cabeça. Logo ouvi a professora ordenar.
- Juntem então os trios que farão os trabalhos- Ryu começou a olhar para todos. Parecia perdido, sem saber com quem fazer. Foi então que puxei a minha cadeira, e coloquei a do seu lado.
- Farei com você- olhei ao redor, todos me olhavam com cara de espanto, inclusive ele. Mas logo sorriu, novamente me fazendo suspirar. Juliana se juntou a nós.
FIM DA AULA
Estava no portão, quando vejo Ryu passar.
- Ei- ele olhou pra trás e veio em minha direção- vem aqui rapidinho- puxei ele pelo braço e o tirei do meio da galera- você gosta de filmes ?
- Claro que sim, porque ?
- Quer ir pra minha casa domingo ? A gente pode assistir uns filmes, comer algumas coisas, vai ser legal. Você vai ?
- Esta falando sério?- balancei a cabeça, para em seguida, ver o seu sorriso. Anotei meu endereço e meu número, e dei pra ele. Ele sorriu novamente- nem estou acreditando, mas tudo bem. Me aguarde, irei lá sim. Até amanhã.
- Até- tá, vocês podem pensar em precipitação, mas eu apenas quero me tornar amigo dele logo. Conhece-lo, faze-lo querer estar perto de mim. Esse garoto me encanta. Fui em direção ao banheiro. Abri a porta e percebi que tinha alguém num dos boxes. Fiquei no mictório. Estava tudo normal, quando ouvi uma voz.
- Então você voltou, Lucas ?
Continua
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