Engoli a seco. E agora, como iria responder que realmente estava ouvindo a conversa dele do corredor?
- Vamos, Biel... To esperando.
Respirei fundo e falei:
- Eu confesso, Kadu. Sim, eu ouvi a sua conversa com ele. Eu sei que isso é horrível, uma tremenda falta de educação e de respeito, mas foi mais forte que eu.
Ele me olhou bravo e decepcionado.
- Porra, Biel... Caralho... Se a gente não pode ter privacidade dentro da própria casa, vai ter aonde?
- Eu sei, Kadu, eu errei. Você tem todo o direito de ficar chateado comigo por causa disso, mas você também errou, mentiu pra mim. O que você tem a dizer sobre isso?
Ele desviou o olhar, se acomodando na beirada da cama.
- Eu dormi com ele, não menti quanto a isso.
- Então porque falou que tinha rolado pela primeira vez, quando não tinha?
- Eu não to entendendo porque você está tão preocupado com isso, Biel. Cara, que diferença faz se eu transei ou não com ele?
- Pra mim faz...
Eu disse, olhando bem nos olhos dele que retribuiu o olhar com intensidade.
- Por que?
Eu continuei sustentando o olhar, sentindo minha respiração ficar mais ofegante.
- Porque... porque me preocupo com você. Me dói saber que você se entrega assim, pra qualquer um , por diversão.
- Não é pra qualquer um, mas eu sou livre quanto a isso. Me assusta o fato de eu deixar de ser, de me apaixonar por alguém e me tornar refém desse sentimento.
Olhei pra ele e perguntei:
- E você está apaixonado?
Ele abaixou a cabeça e então tornou a olhar pra mim.
- Eu não quero mentir pra você, então não me pergunta mais sobre isso. É algo meu e eu não quero compartilhar. Por favor, entenda.
- Tudo bem, eu não pergunto mais, mas não mente mais pra mim.
- Não vou, mas não escute mais atrás da porta, no corredor, seja onde for, ok?
- Ta bom.
Eu concordei rindo. Ele sorriu e saiu do quarto.
Continuei deitado, pensando que na verdade aquela conversa não tinha chegado a lugar nenhum. Continuava com as mesmas duvidas, com a mesma confusão na minha mente, mas não podia forçar uma situação. Eu sempre odiei me sentir pressionado a qualquer coisa na minha vida e não podia fazer isso com ele.
No dia seguinte, dei alguns treinos de manhã e de tarde resolvi dar uma volta de skate no parque. Estava uma tarde agradável, com o clima ameno e ensolarado. Andei bastante e por fim sentei na beira do lado para descansar. Tinha um pequeno pacote de bolachas no meu bolso e fui moendo com as mãos, jogando aos patos que ali nadavam.
De repente ouvi um barulho, um grito meio abafado e quando olhei vi uma pessoa levando um tombo cinematográfico a poucos metros de mim. Assustei-me e me surpreendi quando me dei conta que não era ninguém menos que o Bernardo. Não me movi, olhando com a boca aberta ele se levantar, todo desajeitado e fazendo careta de dor. Não me controlei comecei a rir.
- Porra, você nem pra me ajudar.
Ele falou massageando o joelho sujo de terra, esboçando dor.
- Meu Deus, Bernardo. Você é o mestre dos magos, é? O que você ta fazendo aqui?
- Eu tava seguindo os conselhos do meu personal e resolvi me exercitar e então te avistei de longe e resolvi vim falar com você. Não vi a merda daquele buraco e tomei um pacote com a bicicleta.
- Hahahahahaha.
Eu ri, sem conseguir me controlar.
- Para de rir, caralho! Eu não sei controlar bem essa coisa.
Ele disse fingindo irritação. Trouxe a bicicleta mais pra perto, encostando ela na grama. Sentou-se ao meu lado.
- Você ta bem?
Perguntei, ainda rindo um pouco.
- To, obrigado por perguntar.
Ele disse, cedendo ao cômico da situação e rindo também.
- Devia ter filmado essa cena. Você decolou com a bicicleta na versão mais desajeitada de E.T., o Extraterrestre. hahahahaha.
- É, eu tentei chegar triunfante e garotão com a bike e deu nisso. Rsrsrs.
- Foi engraçado, Bernardo.
- É, garanti sua diversão. E você, o que veio fazer aqui?
- Eu vim dar uma volta e aproveitar a tarde que estava bonita.
- E alimentar os patos, né Biel? Rs
Eu sorri, jogando as ultimas migalhas que havia na minha mão. Fiquei olhando os patos comerem e até mesmo disputarem por aqueles pedaços de bolachas e continuei a sorrir.
- Será que você ainda sabe atirar pedras como quando a gente era moleque?
- Claro que eu sei.
Eu respondi sorrindo.
- Eu era bem melhor que você. Garanto que eu continuo sendo.
Ele disse, pegando uma pedra e a arremessando, fazendo-a quicar algumas vezes sobre a agua, assustando os patos.
- Nossa Bernardo, você quase acertou o coitado do pato.
- Putz, foi mal. Rsrsrsrs. Sua vez, faça melhor.
Ele me entregou uma pedra, me desafiando. Eu o olhei com um olhar maroto e arremessei a pedra com toda a habilidade que eu não tinha. A pedra quicou poucas vezes e logo afundou. É obvio que a dele tinha ido mais longe, fazendo com que ele risse de mim.
- Ahhh, continuo o campeão de todos os tempos. Hahahaha.
- Como você se acha, hein?
Eu disse fingindo desdém, mas rindo no final.
- Eu não me acho, eu sou. Rsrsrsrs. Mas eu também sei ser muito generoso. Tem uma técnica, é a maneira que você segura a pedra. Olha.
Ele segurou a minha mão, colocando a pedra sobre ela. Posicionou o objeto, apertando-a sob a minha pele como se quisesse dar firmeza a pegada. Juntou o braço ao meu, esticando-o para mirar o alvo. Olhei pra ele, que estava concentrado em me mostrar a posição do braço e como a minha mão deveria girar dando impulso a pedra. Ele olhou pra mim e ficamos assim, nos encarando por alguns minutos, até que eu acordei daquela pequena hipnose e voltei o meu olhar pra frente.
Atirei a pedra, que foi bem mais longe que a primeira vez. Sorri e olhei de volta pra ele que sorriu também.
- Viu? Bem melhor. Tenta você sozinho agora.
Eu peguei outra pedra e fiz todo o movimento que ele tinha me ensinado. Atirei e dessa vez foi melhor ainda.
- Acho que alguém vai perder o trono. Rs
Eu disse sorrindo.
- Ah tá, se acha, né? Só fui generoso em ensinar a técnica, mas tem o talento e esse eu tenho de sobra. Rsrsrs.
- Aff Bernardo. Rsrsrs
Eu disse rindo, fazendo com que ele risse também.
- Bom, já está anoitecendo, é melhor eu ir indo.
- Poxa Biel... Fica mais um pouco. Fazia tanto tempo que a gente não passava um tempo assim... de paz, sorrisos...
Ele pediu com afetuosidade.
- Algum conhecido seu pode passar aqui e achar que somos um casal feliz e aí, Bernardo? Você tem uma reputação a zelar.
Eu disse pegando o meu skate e me afastando andando. Ele veio até a mim, empurrando a bicicleta.
- Porra, Gabriel! Porque você fala essas coisas? A gente tava tendo um momento tão legal e você parece que quer estragar tudo.
- Eu??? Eu só não esqueci as coisas que você fez. Não é um momento agradável que faz apagar todos os outros que você me fez sofrer, cara.
- Eu também sofri...
Eu olhei pra ele, que me olhava triste. Puxei o ar e falei:
- Cuida desse joelho, Bernardo. Não vou aliviar na segunda feira.
E virei às costas, sem olhar pra trás.
Fui embora pensando o quanto eu conseguia ser cruel às vezes, mas eu não podia simplesmente ignorar tudo que tinha acontecido. Ele tinha dilacerado meu coração duas vezes e eu não ia deixar que isso acontecesse uma terceira.
Cheguei em casa e ao abrir a porta me choquei com o que eu vi. A Jaqueline, minha ex namorada, estava sentada no sofá ao lado do Kadu, que me encarava com cara de quem não sabia o que fazer. Encostei o skate na parede, tentando me refazer daquela surpresa, até que finalmente falei:
- Jackie?
Ela sorriu e levantou-se, vindo em minha direção.
- Oi Biel. Quanto tempo, né?
- Sim, muito tempo... mas o que você está fazendo aqui?
- Ah, eu passei pra uma faculdade em outra cidade e passei esse tempo todo lá, agora estou de volta. Soube que você estava morando aqui e vim fazer uma visita. Fiz mal?
Ela perguntou um pouco sem graça.
- Não. Eu só estou surpreso.
Olhei pro Kadu, que estava atrás dela fazendo um gesto com as mãos como se não tivesse culpa.
- Eu trouxe uma garrafa de vinho, aquele que você gosta. Eu achei que a gente podia tomar e colocar o papo em dia. O que você acha?
- Ah... tudo bem, eu só vou tomar um banho. Pode ser?
- Claro, fica a vontade. Eu espero.
Ela disse com um sorriso encantador.
Fui até o banheiro e logo me despi, entrando embaixo do chuveiro. Estava me ensaboando, pensando naquela travessura do destino e como a vida conseguia ser bizarra às vezes. Vi a porta abrindo e logo me encolhi atrás do vidro de blindex transparente, tentando esconder em vão o corpo, me amaldiçoando por ter esquecido de trancar a porta. Me senti aliviado ao ver que se tratava do Kadu e não dela.
- Ei, calma sou eu. Nossa cara, que isso hein? Quando ela tocou a campainha quase cai pra trás. Nem reconheci, ela ta ainda mais linda.
- Porra Kadu, você podia ter me ligado, né? Me preparado. Eu quase tive um infarto.
- Ligar como? Ela ficou do meu lado o tempo todo. E ela pediu pra te esperar. O que você queria? Que eu fechasse a porta na cara dela?
- Tudo bem, agora já era... O que eu faço? Você vai ficar aqui comigo, né?
- Eu? De jeito nenhum. Falei pra ela que vim aqui te avisar que to de saída. Se vira, meu irmão.
Eu fechei o chuveiro, pegando a toalha.
- Ah não Kadu, por favor. Quebra essa, vai. Eu não quero ficar sozinho com ela, é muito desconfortável essa situação.
- Hahahaha, eu não quero nem saber. Vou sair e você juízo, hein? Usa camisinha.
- Hã?!
- Calma, Biel. To brincando. Eu sei que você honra nosso acordo. Oh, boa sorte, ta? Rs
Ele disse dando uma piscadela com o olho e saindo do banheiro.
Respirei fundo e enrolei a toalha na cintura, indo até o quarto me vestir. Coloquei uma blusa e uma bermuda, ajeitando os cabelos com as mãos e fui até a sala encontra-la.
- Demorei?
Perguntei com um sorriso sem graça.
- Uma eternidade. Rs
Ela respondeu sorridente.
Fui até a cozinha, abri o vinho e voltei com duas taças. A servi primeiro e depois a mim, e sentei ao seu lado.
- Nossa, você ta tão bonito. O tempo só te fez bem.
Ela disse me fazendo corar. Mudei drasticamente o assunto.
- Então, como vai a faculdade?
- Ah Biel, você sabe que veterinária sempre foi uma vocação, né? Estudar na rural tem sido um aprendizado e tanto. Estou em recesso de alguns meses e só vou voltar pra defender a monografia. E você, indo bem?
- Sim, estou quase me formando também. To trabalhando bastante, me ocupando boa parte do tempo.
Eu respondi. Fomos conversando assuntos aleatórios, entre uma golada e outra. Ela contou das coisas que aconteceram com ela lá e como foi a adaptação na outra cidade, já que passou a morar numa republica de garotas. Eu, em contrapartida, contei da academia que dava aula e de como era morar com o Kadu, largando a saia da mamãe.
Ela sorria, mexendo nos cabelos, esbanjando charme e feminilidade. Eu sorria também, tentando disfarçar ao máximo o desconforto que sentia e confesso que o vinho estava ajudando nisso. Depois de algum tempo, pedimos uma pizza e nos sentamos no chão da sala para comer. Comemos algumas fatias e retornamos as taças de vinho, finalizando a garrafa.
- Acho que agora eu acredito que você realmente não tinha ninguém quando terminou comigo.
Ela falou, solvendo um gole de vinho.
Achei, inocentemente, que aquele assunto não viria à tona, mas estava enganado. Senti-me culpado, pois aquilo não era verdade, porém o que mais eu poderia falar?
- Jackie, isso já tem muito tempo. Eu acredito que você teve outros caras e eu também segui com a minha vida. Espero que possamos ser amigos, eu gosto muito de você.
- Claro. Eu só tenho boas lembranças de ti e quero muito ser sua amiga. Eu to falando porque você nunca mais assumiu ninguém e eu achei que talvez eu tivesse ficado marcada na sua vida, que seu amor fosse realmente eu.
Eu abaixei a cabeça tentando pensar em algo pra dizer. Não queria magoá-la, mas também não podia dizer a verdade.
- Eu não assumi ninguém porque não era a hora certa e tenha certeza que te guardo sim num lugar muito especial no meu coração. Também só tenho boas lembranças e você foi muito especial na minha vida. Só que já passou muito tempo e eu to bem assim como eu estou.
Ela esboçou um olhar decepcionado, mas logo sorriu para disfarçar tal descontentamento.
- Eu entendo. Bom, eu acho que já vou indo, mas vamos marcar de sair, conversar. Eu gosto muito de você. Não quero mais ficar distante. Eu não te esqueci e duvido que algum dia isso vá acontecer.
- Claro, Jackie. Vamos sim.
Eu respondi rápido, não prolongando aquele assunto.
Eu levantei, levando-a a porta. Abraçamos-nos e antes de sair ela colou os lábios levemente aos meus, sorrindo em seguida.
- Pelos velhos tempos.
Ela disse e saiu.
Fechei a porta e pensei naquilo. Ela estava ainda mais bonita, tornando-se uma mulher exuberante. Só que eu não podia voltar atrás, nem tinha o direito de magoá-la estando na situação que estava. Já tinha problemas demais e não queria mais um.
No dia seguinte acordei e passei o dia na casa da minha mãe. Mandei uma mensagem para o Kadu avisando que iria dormir lá para curtir um pouco a velha e meu irmão, mas perto de meia noite eu me lembrei que tinha marcado com uma aluna muito cedo e meu tênis estava no apartamento. Resolvi voltar.
Chegando ao apartamento, eu me deparei com uma cena que me tirou o folego. O Kadu estava dormindo só de cueca abraçado com o tal do Bruno, também semi nu, no sofá. Fiquei olhando, atônito sem entender aquilo.
- Que porra é essa?!
Eles acordaram sobressaltados.
- Biel?!Continua.
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Hey galera,
Conforme prometido, ai está uma nova parte. Consegui me organizar e escrever, e vou tentar manter essa constância. Quero agradecer de coração todos os comentários e votos, pois são eles que me fazem continuar a escrever. E agradecer também aos e-mails maravilhosos que eu recebo. Fico tão feliz quando os leio e respondo com todo carinho. Brigadão mesmo. (biel.sabatini@yahoo.com.br)
Bora responder as perguntas da galera:
kaduNascimento: Mano, cuidado em por seu whats ai, pq qualquer um pode se passar por mim. Me manda por email que é mais seguro. Obrigado pelo carinho!
Babado Novo: Nossa cara, não posso responder isso não. Isso é intimo demais, ne? Fica a critério da sua imaginação. Rs. Valeu carinha.
Vi(c)tor: Uow sr. Moço curioso, confesso que ri quando li seu comentário. Vai me esperar, é? Que fofo. Não, não pretendo escrever mais nada quando acabar o conto. Quanto a gostar mais de homens ou de mulheres, isso é bem balanceado pra mim, depende do momento. É claro que seria seu personal , só que eu não pego leve não. Rsrs. Quanto onde eu moro, prefiro te responder quando me mandar o email, ok? Muito obrigado pelo carinho e afeto. Vindo de ti, me deixa muito feliz. Beijos onde eu quiser? hum..sugestivo isso, hein? Valeu boy ;)
Nerdson: Então, não é que não valha a pena, mas contar historias que aconteceram não é algo tão simples. Por enquanto, não penso em escrever mais nada quando acabar o conto. Brigadão ;)
Crystal *.*: Oshi, essa pergunta é perigosa. Mas tá, vai... Sim, eu estou solteiro, mas isso não quer dizer que eu to sozinho. Isso é status. Nao encare isso como um spoiler pq não tem nada a ver. Isso não quer dizer que eu não to com um ou com outro. É só um status. Rsrsrs. Valeu pelo carinho!
Alê12: Brigadão, viu Alê. Fico muito feliz de ouvir essas coisas. Brigadão.
Pra essa galerinha aqui, meu muitíssimo obrigado: (Tom!!!, Noni, LaaLah, jean pierre, War17, Puzzle, Crystal*.*, Favo, Nerdson, , peu _lu, Santos, janalima, Vi(c)tor, Biel Evans, Fel.97, nMonster, Babado Novo, Vick Tinho, Bruno G, Drica Telles(ametista), Alê12, LucasS..., enailil, spectrosario, geomateus, Ru/Ruanito, Irish, Junynho Play, thevinny, Rôh, diegooh’, kaduNascimento, esperança, Lost boy, Kevina, Sori, Drago*-*, Melk Serra, $Léo$;), PedroJr, Karlinha Angel, Agatha1986, Gael)
Se eu puder dar um conselho a vocês... Não desistam de alguém que se ama. É muito triste isso. Se for amor e ser for verdadeiro, façam o que for, mas não deixem aquela pessoa ir.
Abs,
Biel