Leona saiu da água enraivecida e me ofendendo com os nomes pejorativos que ela usava ao se referir a mim. Exibi o meu dedo do meio pra infeliz e sai dali correndo tentando conter minhas lágrimas. Ignorei as ligações da Bianca e da Thais e fiquei na rua esperando por um táxi até que vejo do meu lado o anfitrião da festa chegando com uns amigos e algumas sacolas nas mãos. Os outros quatro entraram e Jordan ficou ali em pé do meu lado.
– Você não vai entrar? – Ele perguntou.
– Não. Eu estou voltando para casa.
– Já? Logo agora que eu cheguei?
– Por falar nisso, você demorou. Perdeu tanta coisa - Afirmei.
– É que o único depósito aberto a essa hora por aqui é longe – Justificou ele.
– E eles vendem bebida alcoólica para menores de idade?
– Não sou menor de idade, já tenho dezoito anos.
– Sério? Parece ter bem mais - Opinei.
– Você tomou banho de Fanta laranja?
– É. Acho que eu me empolguei - Eu disse.
– Estava com tanta sede assim?
– Você nem imagina o quanto. Refrigerante é um vício.
– Quem foi que fez isso com você? - Indagou.
– A Leona e uns amigos dela.
– Por que?
– Ela sempre me odiou. E eu correspondo.
– Mas você tá bem? - Ele se preocupou.
– Estou sim. Obrigado.
– Quer entrar e tomar um banho? Eu tenho roupa que deve servir em você.
– Não, não precisa se incomodar.
– Você não quer que eu te dê uma carona pra casa?
– Não, eu prefiro voltar sozinho.
– Tem certeza? - Insistiu.
– Absoluta. Vai lá aproveitar sua festa - Eu pedi - Divirta-se.
– Eu iria me divertir bem mais se você estivesse lá.
– A gente pode marcar de sair qualquer dia desses, se você quiser.
– Eu vou adorar. De qualquer forma, valeu por comparecer.
– Valeu você por me convidar.
– Tchau. Até segunda – Ele se despediu.
Um minuto de silêncio. O Jordan estava me cantando descaradamente? Claro que não, Vincent, ele só estava sendo gentil com você e isso é algo completamente normal considerando que as pessoas que não conhecemos muito bem são criaturas extremamente encantadoras e admiráveis. Cara... Eu preciso perder essa mania de falar sozinho. Odeio quando faço isso e alguém aparece. Tenho que fingir que estou cantando para que a pessoa não ache que eu sou maluco. Liguei para pedir um táxi e paguei com o que tinha sobrado da minha mesada. Chegando em casa, eu já estava praticamente seco e minha mãe não reparou em nada. E mesmo se reparasse, eu não teria dito a verdade porque não tem nada pior do que ficar bancando o coitadinho.
No meu celular tinham três chamadas perdidas da Bianca e uma mensagem da Thais perguntando aonde eu estava. Retornei a ligação para a Bianca e disse o que tinha acontecido para eu ter voltado para casa sem me despedir.
Ela começou com a sua ladainha falando que essa minha rixa com a Leona já estava mais do que na hora de acabar, e depois me perguntou se eu queria ir a praia na manhã seguinte porque ela estava precisando de um bronzeamento. Nunca gostei muito de praia mas por ela eu aceitei.
Fui para cama e após fazer minha higienização e durante a noite tive um pesadelo bem estranho. Eu estava na festa de formatura da minha escola e todos meus amigos estavam comparecendo. Bianca com o Renan, Thais com o Isaac e o Charlie aos beijos com a Sabrina, amiga da Leona. Estas duas se aproximaram do palco correndo quando os organizadores do evento subiram com a carta que trazia os resultados dos vencedores da tiara de rei e rainha do baile. A professora deu uma pequena enrolada relembrando os concorrentes homens antes de anunciar os ganhadores daquele prêmio banal e insignificante.
– E o rei do baile é... Vincent Aguiar – Ela berrou eufórica. Aquilo só podia ser um sonho mesmo, porque eu nunca perderia meu tempo me inscrevendo em algo tão tolo. Meus colegas começaram a fazer a maior algazarra me dizendo para pegar o meu prêmio. Devido o encorajamento deles, subi no palco e peguei a coroa junto com o microfone.
– Por que o espanto? Rei só existe um né gente? – Fiz piada e alguns riram. Na vida real eu não diria uma coisa dessas. Mas o privilégio daquilo ser um sonho era justamente esse. Eu podia fazer e dizer o que queria e bem entendia que nada me aconteceria (Avá) – Coroa mais vagabunda essa hein? - Coloquei a tiara de plástico na minha cabeça quando sinto algo gelado e um pouco gosmento caindo acerca de mim. Em um balde médio, tinta verde estava sendo derramada sobre o meu rosto no momento em que olhei para cima. Passei a mão sobre meus olhos e vi como aquilo tinha divertido os organizadores e todos ali presentes. Risadas da Leona, Sabrina e a sua corja eram as que eu mais ouvia. Óbvio. Era armação delas. As lágrimas desciam pelo meu rosto junto com a tinta sem ao menos eu sentir. Bianca foi ao palco tentar me arrancar para fora dali.
E ela tentava me dizer alguma coisa. Ela me mandava acordar?
– Vincent? Vincent? Levanta! – Bianca mexia nos meus ombros de forma brusca quando eu dou um grito assustado com o que sonhei, fazendo ela cair da cama junto comigo - Tá maluco viado? Tu fumou orégano? – Ela saiu do chão estressada.
– Eu tive um pesadelo horrível – Contei a ela o que eu tinha sonhado.
– Não fica assim, Vincent. Isso não vai acontecer.
– Se tratando dessa miserável, eu não duvido de nada.
– Ainda quer ir pra praia?
– Quero. E a Thais? Ela vai com a gente?
– Não. Ela tá ocupada com o morcego dela.
* * *
Aquela cena bem na minha frente só conseguia me causar uma coisa. Vergonha alheia. Bianca estava sentada em uma cadeira de praia ao meu lado descolorindo os pelos dos braços e pernas. Não sei porque as mulheres não fazem isso na sua laje ao invés de ali com todo mundo olhando.
– Ai, não tem nada melhor do que tomar um sol – Disse a Bianca.
– Fale por si mesma.
– Você precisa ter esse hábito. Sol é fonte de vitamina D.
– Vitamina D eu já tomo no meu leite em pó.
– Você quer passar o meu bronzeador? - Ela ofereceu.
– Não. Dispenso o seu óleo de cozinha.
– Tá bom então. Seja feliz com seu protetor solar infantil.
– Bianca, você já tomou sol nas partes íntimas? Dizem que faz bem!
– Não. Quem foi que disse isso?
– Aquela atriz que faz a protagonista de Divergente.
– Mas eu vou fazer isso aonde? No meu terraço?
– Ué, qual o problema?
– Já pensou se eu apareço pelada no Google Maps?
Eu não consegui nem acreditar que eu tinha ouvido aquilo.
– Bianca, o seu maior talento é o raciocínio.
– Não entendi.
– Viu? Tá lento.
– Hahaha. Eu morro de rir mas não acho graça.
– Como é que foi a festa ontem depois que eu sai? Teve algum barraco?
– Não. Só alguns comentários sobre o tapa que você deu na Leona.
– Queria ter batido mais, por sinal. Oportunidades não faltarão.
– Também não faltarão oportunidades para ela te rebaixar de novo.
– Por mim - Dei de ombros - Não tenho um pingo de medo dela.
– Pena que você não ficou até o final. O Jordan apareceu logo depois que você foi embora.
– Eu sei disso. Conversei com ele lá fora.
– E aí? Vocês flertaram? - Ela ficou curiosa.
– Se conversar como duas pessoas normais para você é flertar, sim.
– Mas o que ele te falou exatamente?
– Só me perguntou o por que de eu estar todo molhado, me disse que se divertiria bem mais se eu ficasse, me ofereceu carona para casa, me ofereceu roupa limpa para usar e etc...
– Ele tá afim de você – Bianca garantiu convicta do que dizia.
– Não viaja. O Jordan só me trata bem como qualquer outra pessoa.
– Pelos olhares que ele te dá eu acho que é bem mais do que isso.
– Ele me olha tanto assim?
– Várias vezes. Só que como você é muito lerdo, não percebe.
– Olha quem fala. Você é tão lenta que nunca se viu no espelho – Tentei fugir do assunto.
– Mas o que isso tem a ver?
– Seu reflexo desiste de esperar por você.
– Você tá ácido hoje hein? Vai acabar criando uma úlcera no estômago – Ela foi se deitar na canga de praia para se torrar melhor e eu comecei a ouvir um barulho tão desagradável que só faltou estourar os meus tímpanos e Steve Jobs se revirar no túmulo.
– Quê porra de música é essa que aquela mulher tá ouvindo? – Perguntei apontando para a moça na nossa frente com óculos escuros, um biquíni de oncinha e escutando música no seu iPod.
– Acho que é transpagode. Não sabia nem que isso existia ainda.
– O quê é transpagode? Pagode com surpresinha em baixo?
– Nem me pergunte. Isso aí deve ser do tempo que guaraná tinha rolha.
Depois de quase duas horas e meia destilando altas doses de veneno e fazendo comentários mordazes sobre assuntos que não são da nossa conta, voltamos pra casa com ela toda queimada igual um camarão. Retornando para minha humilde moradia, tomei um banho e fui entrar na internet. Tinha acabado de receber uma solicitação de amizade no meu Facebook e era do Jordan. Não queria aceitar assim de primeira, preferi esperar mais algum tempo para fazer um suspense. Só aceitei sua solicitação de amizade dez minutos depois de a ter recebido.
Naquele mesmo dia, fiquei sabendo pela minha mãe que o Rodrigo tinha acabado de comprar a casa que estava a venda na frente da nossa e que eles se mudariam na próxima semana. Por um lado, aquilo seria ótimo para que eu fizesse amizade com o Charlie pois eu tinha simpatizado com ele, que aparentava ter poucos amigos senão nenhum. Mas por outro, seria ruim porque eu imaginava que o Rodrigo fosse ficar enfiado na nossa casa todo o santo dia. Já estava até vendo a cena dele sentado no sofá assistindo TV e me pedindo para pegar uma cerveja na geladeira. Sentia até calafrios só de pensar na hipótese dele começar a me tratar como se fôssemos pai e filho, e passar a me dar ordens.
* * *
Era uma sexta feira quando o Jordan apareceu na escola depois de ter ficado quatro dias sem comparecer, e isso tinha me deixado um tanto quanto preocupado. Thais e Bianca estavam sentadas em duas cadeiras atrás de mim cochichando, mas não por muito tempo. Ele se sentou em uma carteira ao meu lado enquanto a Thais foi no banheiro se encontrar com o Isaac e a Bianca foi para a outra ala da sala puxar conversa com o Charlie que estava isolado e eu não sabia porque. Parecia que ele não queria aproximação de ninguém e isso me chateava porque eu sempre quis ter um amigo com os mesmos gostos que eu. Depois do nosso pequeno papo na festa, nós quase não nos falamos. Ele nunca mais foi na minha casa após o jantar que a minha mãe deu e na escola só falou comigo duas vezes para perguntar coisas simples como as horas e qual ônibus o deixaria mais próximo de casa. Talvez ele fosse mais fechado do que eu imaginava. Fiquei perdido nos meus pensamentos quando escuto um estalar de dedos.
Jordan estava falando algo comigo quando eu voltei ao planeta Terra:
– Tá tudo bem? Você congelou!
– Isso acontece bastante.
– Ainda bem que eu te esquentei.
– Como é que é?
– Ainda bem que eu te descongelei, foi o que eu quis dizer.
– Por que você não veio para escola esses dias? - Perguntei.
– Estava com dengue aí minha mãe deixou eu ficar em casa.
– Você mora só com a sua mãe?
– Não. Com ela e meu pai - Ele respondeu.
– E eles não reclamaram da bagunça aquela noite?
– Estão viajando. Nem sabem de nada.
– Quanta ousadia! - Exclamei.
– Me dá o seu celular? - Ele pediu.
– Eu não posso te dar meu celular, eu paguei doze prestações salgadas por ele. Brincadeira, anota aí - Trocamos nossos números e ele abriu o caderno para copiar a matéria junto comigo quando a Leona veio até a nossa mesa.
– Jordan, você não quer sentar ali com a gente? - Ela se referia ao seu grupinho no fundão.
– É que eu tô conversando aqui com o Vincent – Ele disse.
– Se você quiser, pode ir. Não vou me importar – Afirmei.
– Então tá bom – E ele foi na mesma hora.
Por que as pessoas nunca sabem quando eu não estou falando sério? No fundo, eu não queria que ele fosse. A conversa estava tão boa e eu não desejava que terminasse nunca, mas aquela loira de farmácia tinha que aparecer para estragar tudo. Só para variar.
No final da tarde, eu e a vampira fomos na casa da Bianca assistir com ela uns filmes que tínhamos alugado numa locadora que estava a beira da falência. E como se já não bastasse usufruir da sua TV de 60 polegadas, a Thais ainda teve o descaramento de falar para a Bianca pedir uma pizza e pagar com o seu dinheiro uma comida que provavelmente ela não iria comer. Aquela gótica safada era desses amigos abusados que quase todo mundo tem. Toda vez que ela me visitava, a primeira coisa que fazia era abrir a geladeira perguntando o que tinha para comer. Mas era por isso que eu gostava tanto dela. Os amigos loucos são os melhores.
Já a minha mãe nunca gostou da Thais desde o dia que ela me puxou da sua mão no meu primeiro dia de aula no jardim de infância. Enquanto a genitora chorava e me abraçava sem querer me deixar ir embora, a Thais dizia "Solta ele, tia! Deixa ele vim brincar com a gente!"
É. Isso foi o suficiente para ela não ir com a cara da minha amiga. Naquele mesmo dia ela julgou a Thais como uma menina muito atirada. E no ginásio, avaliava como uma garota depravada que tinha a cabeça fraca, gostava de ir na onda dos outros, possuía um caráter duvidoso e poderia ser má influência para mim. Parte disso era verdade porque a Thais sempre foi muito Maria vai com as outras. Ela só virou gótica mesmo por causa de um pessoal que ela fez amizade no ensino fundamental.
– Ai que filme mais chato! - Comentei sobre o filme de terror que assistíamos no quarto.
– Ele só não é mais empolgante que o leilão de gado no canal do boi – Falou a Bianca.
Thais deu uma gargalhada alta e disse:
– E o pior é essa atriz principal. Atua bem igual um repolho.
– Depois perde prêmio e não sabe por que foi – Acrescentei.
– Todos esses atores são ruins. Nunca vi nenhum deles em revista de fofoca - Bianca se queixou - E eu não entendo por que a protagonista tem sempre que fuxicar a casa mal assombrada se ela sabe que vai dar merda. Isso é o que mais me irrita em filmes de terror.
– E eu não entendo por que as pessoas chamam a casa de mal assombrada. O fantasma é incompetente? Se ele sabe assustar direito, o nome devia ser casa bem assombrada – Ironizei.
– Vincent, você não é uma ostra mas é cheio de pérolas – Thais riu.
A campainha tocou e ela pegou o dinheiro com a Bianca antes de ir atender. Ela voltou com a pizza, o refrigerante e com o batom escuro todo borrado. A gorjeta do entregador já foi dada.
Bianca não comeu conosco, tomou apenas um suco de uva sem açúcar que tinha feito. Thais disse pela milésima vez para ela não levar sua dieta tão a sério e acabou convencendo-a de comer pelo menos três pedaços de pizza. No fundo, ela estava morrendo de vontade e acabou devorando mais de quatro, porém acabou sendo fuzilada por um olhar repreendedor de sua mãe que entrou no quarto para deixar algumas roupas limpas no armário.
Colocamos para rodar o prestigiado filme de comédia dramática que tinha rendido à Jennifer Lawrence um tombo-fino-Dior e o seu primeiro Oscar em 2012. Ele era mil vezes melhor que o de terror que assistíamos anteriormente, mas quando estávamos quase no término minha mãe liga pro meu celular me mandando voltar para casa.
– Eu já tô indo, deixa só acabar o filme – Eu disse.
– Você sabe o significado da palavra agora?
– Ai mãe, não tá nem tão tarde assim.
– Não interessa, faz o que eu te mandei. O Charlie e o Rodrigo já estão fazendo a mudança e eu quero que você esteja aqui para ajudar em alguma coisa.
Me despedi da Thais e da Bianca que estava trancada no banheiro e fui para minha casa que ficava em frente a dela. Em cima da mesa da sala, tinha uma torta de limão com uma cara tão boa que nem parecia ter sido feita pela minha mãe. Se fosse um bolo eu até poderia insinuar que ela comprou uma massa pronta, mas como não era fiquei na minha.
– Eles devem estar com fome. Leva lá essa torta para eles. E seja simpático - Minha mãe pediu. Saí de casa e bati na porta do meu mais novo vizinho. E quem atendeu foi o Charlie.
– Minha mãe fez essa torta para vocês. Boa sorte.
– Quanta gentileza! – Exclamou - Obrigado. Quer entrar?
– Sim. Ela me pediu para vir aqui ajudar vocês.
– Bom, não tem quase mais nada pra fazer. Só arrumar algumas coisas.
Dei um oi para o Rodrigo que organizava alguns souvenirs nas estantes e logo fui apresentado ao Julio Almeida, o seu enorme labrador que estava na cozinha amarrado no pé da mesa. Na verdade, era a mesa que parecia estar amarrada nele porque quando me viu só faltou sair correndo arrastando ela.
Fiquei ali pensando o quanto aquele era um nome peculiar para um cachorro de estimação, até que o Charlie me chamou para o seu quarto que ficava no segundo andar da casa.
O aposento estava repleto de caixas e claro, eu não pude deixar de ver o que tinha dentro delas. Além das roupas, filmes e CD's do Bon Jovi e entre outras bandas de Hard Rock. Mas o que mais me chamou atenção foram os seus livros. Todos ótimos. Dentre eles estava "As Vantagens de Ser Invisível" em que o protagonista tinha o mesmo nome que o dele.
– Ele é tão parecido com você – Opinei apontando para o personagem principal na capa.
– Esse foi um dos motivos de Eu ter gostado tanto.
– Ás vezes eu leio um livro e acho que sou a pessoa dele – Falei.
Charlie sorriu ao notar que eu tinha recitado uma frase de AVDSI.
– Ler é que nem sonhar de olhos abertos. Você viaja pro seu mundo imaginário, fechando os olhos para o mundo real - Ele filosofou me fazendo refletir - E para mim tudo aquilo que nos faz esquecer o mundo real e os problemas da vida deveria ser considerado a oitava maravilha do mundo.
– Nossa. Isso que você disse foi tão bonito.
– Pois é. Tem horas que eu fico inspirado.
– Percebi. Inspirado e deslocado.
– Deslocado? – Ele franziu as sobrancelhas.
– Sim. Você ficou tão distante de mim essa semana. Toda vez que eu tentava puxar assunto contigo, você só respondia em monossílabas.
– Ah, eu só preferi ficar na minha.
– Por quê?
– É o meu jeito. Eu gosto de me isolar de vez em quando.
– Você pode desabafar comigo se tiver algum problema.
– Não, obrigado. Eu tô muito bem assim.
Ele voltou a arrumar o seu guarda roupas e eu prossegui ajeitando na estante os seus DVD's do Naruto, One Piece, Yu Yu Hakusho, Cavaleiros do Zodíaco e mais algumas miniaturas dessas mesmas séries que se encontravam dentro de uma das caixas, e em cima de um porta retratos com a foto de um menino que aparentava ter a mesma idade que a minha. Ele era magro, ruivo e tinha os olhos castanhos assim como eu.
Continuei examinando o que tinha dentro daquela caixa quando eu acho um álbum de fotos, e todas elas eram do mesmo garoto. Na maioria delas ele aparecia abraçando o Charlie e na minoria os dois apareciam se beijando. Na ultima, o tal ruivo estava careca deitado numa cama de hospital com tubos de oxigênio no nariz e com o suposto namorado sentado ao seu lado beijando sua bochecha.