— Pai — disse eu olhando para ele. Atrás dele vinha Eliana acompanhada por umas das minhas avós. Deixei a mão de Breno e corri ao encontro da pequena. Que corria para meus braços. Quando a segurei no colo não pude segurar minhas lágrimas de felicidade. — Que saudades! — disse beijando o rostinho queimado pelo sol. Ela também estava chorando, mas alguma coisa me dizia que não era por saudades.
— A mamãe não quer acordar — disse Eliana chorando no seu jeitinho cheio de dengo. Abracei-a mais forte e olhei para trás. Meu coração por alguns segundos teve um pouco de paz, Breno estava apertando a mão que meu pai lhe ofereceu.
— Agora o tato precisa ir ver a mamãe — disse colocando Eliana no chão, minha avó a pegou e mal olhou em meu rosto e já entrou. Tinha certeza que esse não seria o único olhar torto que iria receber.
Esperei Breno se aproximar de mim e peguei em sua mão outra vez. Quando entramos vi o caixão no centro da sala com muitas flores em volta. Todos os parentes que conhecia, e os que não conhecia, estavam perdidos na casa. Breno puxou minha mão em direção ao caixão, hesitei por alguns segundos, mas depois fui com ele.
— Amor — chamou Breno depois de um tempo. — Tudo bem? — perguntou ele olhando meu rosto. O seu semblante era de preocupação. Então, não ligando para os outros, Breno me abraçou e me deu um selinho.
Ele havia perguntado se estava tudo bem, pois acho que esperava que eu chorasse e gritasse ao ver minha mãe ali deitada e morta. Mas isso não aconteceu. No final, tudo que passei foi mais forte do que eu imaginava, e agora não conseguia chorar. Apenas olhava tentando lembrar alguns de nossos bons momentos.
Afastei-me depois de ficar ali tempo o suficiente perto do caixão. Fui para meu quarto. De onde nunca deveria ter saído. Ele estava como eu poderia me lembrar. Sentei-me na cama puxando Breno comigo.
— Foi aqui que cresci — disse olhando as paredes. Agora parecia uma casa estranha e distante de tudo que eu conhecia.
— Aqueles são seus livros? — indagou Breno se levantando e indo até os livros. Arrastei-me até ele.
— Sim. Acho que vou leva-los comigo — disse pegando O Senhor dos Anéis, da prateleira. Estava do jeito que eu o deixei, com a leitura pela metade.
— Faz bem — comentou Breno entretido com um livro.
Estávamos olhando os livros, quando Felipe entrou no quarto. Ele não disse nada, apenas nos entregou o suco que trouxe.
No resto do dia não aconteceu nada. E não queria ficar mais ali, com aquelas pessoas na sala falando mal de mim e do meu namorado. Era melhor voltar para minha nova casa.
Por sorte Breno, Felipe, seu pai e eu conseguimos levar para o carro todos os livros de uma vez só. Quando coloquei os que eu trouxe, meu pai correu onde eu estava.
— Já vai embora? — perguntou ele com a respiração acelerada.
— Aqui não é meu lugar. E vou antes que entre lá e fale uma verdade para esse povinho hipócrita — disse lançando um olhar feio as pessoas que estavam penduradas nas janelas e se espremendo na porta.
— Mas é a sua família…
— Não! Minha família está longe daqui. Essas pessoas insignificantes não são nada minhas. Se fossem tinham me ajudado quando precisei — disse olhando para o rosto do meu pai.
— Sobre isso… eu queria pedir. Sua mãe pediu que eu fale-se com você por nós dois. A gente queria pedir…
— Não queria pedir nada — interrompi de novo. — O que falarem não muda o que passei. Sabe o que tive que fazer na primeira noite que me jogou para fora de casa? E pior foi o que passei depois disso. Nada do que disser vai tirar isso da minha cabeça. Eu não tenho mais mãe… nem pai. Agora vou embora.
Ele não disse mais nada. Depois que entrei no carro Felipe e Breno também entraram. Não dissemos nada. E eu nunca mais voltei ali.
Quando pegamos a rodovia. Acordei de um leve cochilo. Olhei para os lados, já estava de noite. Breno dormia ao meu lado e Felipe estava ouvindo uma música no radio. Olhei do lado direito e vi uma coisa. Primeiro achei que ainda estava sonhando, me belisquei para ter certeza que não estava. Olhei de novo para o carro que ia do nosso lado. Era impossível, mas Renato estava dentro do outro carro, junto com uma moça. Eles estavam conversando sobre alguma coisa. Vi ele estendendo o mesmo remédio que me deu quando peguei carona com ele. A moça não queria o remédio, depois de alguns gritos ela pegou.
Joguei-me no colo de Breno para que Renato não me visse. Seu rosto estava com as marcas das abelhas que o picou. Mas ainda era o mesmo Renato desgraçado de sempre. E que agora estava fazendo seus joguinhos com uma moça sem sorte. Vi seu carro acelerando a nossa frente. Levei-me e o vi sumir na noite.
— Viu alguma coisa? — perguntou Felipe com a voz baixa, ele olhava no retrovisor.
— Não — disse parando de procurar o carro de Renato.
Finalmente chegamos. Os rapazes me ajudaram a tirar os livros. Quando Felipe já ia embora o puxei pelo braço.
— Aquilo que eu disse mais cedo na casa do meu pai foi do fundo do coração. Mas você ainda é meu primo e quando quiser: minha casa vai estar de portas abertas para você.
— Eu sei que não deve ter sido fácil priminho — Felipe me abraçou. Estava chupando uma de suas balas de hortelã. Tinha me esquecido de como o cheiro de seu hálito era gostoso. — E volto assim que possível para visitar vocês — me virei e vi Breno parado na porta atrás de mim.
— Tchau — disse beijando o rosto de Felipe.
— Bye priminho e tchau Breno. Gostei de conhecê-lo — Breno fez um sinal com a cabeça, estava com sono de mais para conversar.
Da porta e abraçado a Breno, vi o carro de Felipe sumir na esquina. Entramos e fomos descansar.
Meses depois, fui à praça que Felipe e Renato me levaram algumas vezes. Eu ainda estava com aquela imagem do carro na minha cabeça. De repente um cara me abortou. Ele surgiu do nada.
— Enzo? É você mesmo! Lembra-se de mim? Sou o Bernardo, o neto do dono da livraria — disse o moço que me virou para ele.
— Bernardo — disse sem ter certeza se era ele ou um fantasma. Lembrei-me do dia em que Renato me levou a fazenda de seu pai. A imagem de um cara parecido com Bernardo no topo da pequena colina. Então não era uma visão ou alucinação. Era mesmo Bernardo lá em cima. Mas… — Mas você não morreu no incêndio?
— Não. Foi meu avô — disse ele com pesar. — Não sei se posso chamar de sorte, mas no dia em que a livraria pegou fogo, eu não estava lá. Foi no dia que combinamos de nos encontrar, lembra? Como precisava sair, meu avô ficou no meu lugar.
— Sinto muito — disse olhando em seus olhos.
— Bom, mas isso já passou. E olha você aqui. Podemos ter aquele encontro finalmente. Eu estou morando em outra cidade, mas posso ficar um ou dois dias longe de casa.
Ouvindo as palavras de Bernardo. Comecei a lembrar do que ele passou por minha causa. Senão fosse por mim, o avô dele ainda estaria vivo; eles ainda teriam a loja, e agora, mal o reencontrei e ele já teria que abrir mão de ficar em sua cara para me ver. Agora eu tinha Breno.
— Cara, eu gostaria muito de ter esse encontro, mas eu sou o cara errado para você. E não quero que abra mão de mais nada por mim. Preciso ir embora — me virei em direção a minha casa — tenha um bom dia.
Bernardo ficou parado olhando para mim. Levantou a mão e deu um pequeno aceno. Seu rosto, corpo, personalidade era exatamente como me lembrava meses atrás. Senti vontade de pelo menos voltar e abraça-lo, mas não iria acabar bem.
— Tudo bem príncipe? Parece que viu um fantasma — perguntou Breno assim que cheguei em casa.
— Mais ou menos — disse tentando esquecer o rosto de Bernardo outra vez.
— Harry acabou de ligar. Kátia já teve alta e está indo para casa com o bebê.
— Então vamos lá, porque estou doido para ver o filhinho deles — peguei meu celular e sai.
Quando fechei a porta atrás de nós. Breno pegou na minha mão e eu segurei a dele com carinho. Meus olhos ficaram nele sem pressa, não cansava de olhar seu rosto, agora com uma barba linda — tive que brigar muito para convencê-lo a deixar a barba crescer. Ele sorriu para mim como sempre sorriu desde a noite que o conheci.
— Eu te amo — disse beijando a boca de Breno. Ele mordeu meus lábios, depois se afastou um pouco.
— Eu também te amo — disse ele sorrindo para mim. Não tinha coisa mais linda do que ouvi-lo dizer que me ama. Eu realmente sou feliz ao lado de Breno. Ele foi mais do que meu namorado, foi uma porta nova que Deus me deu.
Eu amo você Breno.
FIM... e viveram felizes para sempre.
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Bom pessoas, aqui acabou minha história. Vou fazer a lista de pessoas que tem um pedacinho no meu coração: De Souza, Junynho Play, Petricky, CrisAC, Agatha1986, Vi(c)tor: sua teoria tem fundamentos, mas lendo isso aqui, acho que já leu o texto e entendeu quem é o cara errado.
Se alguém ainda não entendeu. O Cara Errado é o Enzo.
Estou com uma vontade imensa de escrever algo sobre dois irmãos gêmeos que se pegam '-', nunca fiz nada do tipo. Talvez segunda eu poste uma nova história de dois irmãos gêmeos, se não postar nada é pq eu estou escrevendo sobre o Yuri, ai demorarei a voltar.