OBS: A CANÇÃO QUE TOCA MAIS PRA FRENTE É ESSA: https:// - www.youtube.com/ - watch?v=52iS5QyfBs8 - SE PUDER OUVIR ENQUANTO ACOMPANHA A PARTE.
Uma coisa que eu aprendi nos últimos meses é que estudar e ter um emprego é horrível. A única coisa que me segurava lá era o Gustavo. Sim. Eu estava começando a me apaixonar por ele, mas apesar dele ser atencioso comigo, sempre me defender dos valentões e conversar bastante, ele não mostra nenhum interesse amoroso. Às vezes até esqueço que sou gay.
Escutava ‘Your Song’ do Elton Jonh no meu MP3 quando um carro quase me bateu.
Thiago: - Viadooo. Filho da Puta!!! (gritou parando de pedalar)
Cheguei na escola e tomo o primeiro baque do dia. Vitor. Sim. Ele mesmo. Me esperando na frente da escola. Meu coração acelerou e eu quase perdi o fôlego.
Thiago: - O que? O que você está fazendo aqui? (perguntei colocando a bicicleta encostada na parede)
Vitor: - Eu... eu... queria pedir desculpas... olha...
Thiago: - Acho que não temos nada para conversar... (abaixado e colocando o cadeado na bicicleta)
Vitor: - Thiago... por favor... eu quero falar com você. Me dá uma oportunidade.
Thiago: - Vitor. Eu cansei. Cansei de ficar em segundo plano na sua vida, por sua causa tive que andar no parapeito de um hotel. Estou farto de ser humilhado.
Vitor: - Cara. Me escuta. Estou com saudades... quero te beijar pelo menos uma última vez.
Thiago: - Me beijar? Na frente da escola? Dos meus amigos? Esqueceu que eu tenho 16 anos?
Vitor: - Isso nunca foi um problema pra você.
Thiago: - Mas pode ser um pra você. (colocando as duas mãos no rosto) – Meu Deus!!! Vitor... eu não quero mais saber de você.
Vitor: - Quer dizer que tudo foi em vão?
Thiago: - Eu me pergunto a mesma coisa.
Vitor: - Thiago?!! (segurando violentamente no braço de Thiago)
Thiago: - Me solta!!
Gustavo: (empurrando Vitor) – Que palhaçada é essa? Solta meu amigo cara!!
Thiago: - Gustavo... para... não vale a pena. (levando Gustavo para dentro do colégio)
O que eu não havia percebido é que no Santa Tereza as paredes tem olhos, ouvidos e boca. Perto dali alguém conseguiu ouvir toda a conversa entre o Vitor e eu.
Pessoa 1: - Outro viadinho?!
Pessoa 2: - Parece que sim.
Pessoa 1: - Não foi fácil se livrar do primeiro... desse aí... vai ser moleza!
Não consegui me controlar nas aulas. Gustavo me olhava de forma diferente. Será que ele ouviu também? Olhei no celular algumas fotos antigas minhas e do Vitor. Comecei a apagar. Queria esquecer tudo. Se eu pudesse evitar encontrar com ele.
No intervalo a Suzana veio com uma novidade. Ela forçou o pai a transformar a garagem de sua casa em estúdio. Todos adoraram a ideia e por alguns segundos eu até esqueci do Vitor.
Thiago: - Que incrível. Então vamos poder ensaiar depois do expediente Gustavo?
Gustavo: - Claro. Vamos sim.
Ludmila: - Gente estou tão feliz. Podemos conversar um pouco para saber qual é o estilo musical preferido de cada um,
Suzana: - Sim. Hoje às 20h. Pode ser?
Kim: - Claro.
Ludmila: - Perfeito. Gente agora preciso ir a biblioteca, pois, não consegui finalizar o trabalho da professora Gláucia. Até depois.
Bruno: - Vou com você. Preciso olhar uns livros.
Kim: - Suzana... preciso da minha caderneta.
Suzana: - Claro. Com licença meninos. Vamos lá na sala.
No corredor a professora Elizabeth chamou o Gustavo para conversar. Fiquei esperando na porta. Fiquei brincando com a minha caneta e a tampa caiu no chão. Baixei para pegar e pude escutar um pouco.
Elizabeth: - A professora Marina disse que você não quis tirar a blusa na educação física?!
Gustavo: - Tenho vergonha professora. Apensar isso.
Elizabeth: - Você pode tirar pra mim agora?
Thiago: (com os olhos arregalados)
Gustavo: - Professora...
Elizabeth: - Gustavo... sabia que mais de 1 milhão de crianças sofrem por causa da violência domestica. Eu vejo muito de mim em você. Eu nem sempre tive uma infância fácil. Apanhei muito e isso deixou marcas.... marcas na minha alma.
Gustavo: - Eu... (baixa a cabeça e fecha as mãos) – Eu tenho planos de fugir de casa professora. (deixando duas lágrimas caírem)
Elizabeth: - Gustavo. (abraçando o jovem) – Calma. Não fica assim. Podemos dar um jeito.
Gustavo: - Não professora! Ela pode me machucar ainda mais. (sai correndo da sala)
Thiago: - Gust...
Elizabeth: - Thiago...
Thiago: - Professora... a gente precisa fazer alguma coisa...
Elizabeth: - Eu sei... você... você sabia disso?
Thiago: - Na aula de educação física, a professora pediu pra ele tirar a jaqueta, mas ele não quis. Eu fingi que estava passando mal e ele escapou. Mas... não imaginava... não... que horrível. Vou atrás dele!
O Gustavo sumiu da escola. Nem foi trabalhar. Atender o celular nem pensar. De acordo com o Silva, ele alegou estar resfriado. Fui pra casa e pensei bastante na situação dele. Principalmente na minha com o Vitor. Eu havia tirado o meu ex do meu coração. Em casa comecei a me arrumar para o ensaio com os meninos. Estava completamente avoado.
Thiago: - Alex. Você viu a minha blusa azul com listas pretas?
Alex: - Não. Não vi. (olhando pra Thiago e rindo) – Seria essa que você está usando agora?
Thiago: - Droga. (coçando a cabeça) – Avisa pro papai que eu vou pro ensaio da banda. Depois pego um táxi.
No caminho passei na praça para fazer um lanche. Peço o sanduíche de sempre. Enquanto estou comendo tenho o segundo baque do dia. Vejo Vitor, Cintia e duas crianças passeando na praça. Termino e ando em direção aos dois só para... sofrer mais. Esbarro nele e meu coração acelera.
Thiago: - Desculpa.
Vitor: - Opa (ficando perplexo ao ver Thiago) eu... eu....
Thiago: (balança a cabeça negativamente) – Desculpa senhor...
Ficamos mais que alguns segundos nos olhando e Cintia percebe.
Cintia: - Aconteceu algo?
Vitor: - Não... não... ele esbarrou.
Cintia: - Até pareceu que vocês se conhecem... estranho...
Thiago: - Não senhora... não conheço vocês...
Aquela nossa troca de olhar já dizia tudo. Acabou. Eu sabia que a minha história com o Vitor acabaria mal. Quer dizer... poderia terminar pior, mas graças a Deus que nada aconteceu. Ele ficou para trás e apesar de triste, eu sorri.
A Suzana pode ser chata? Sim. Egocêntrica? Sempre. Metida? Toda hora. Mas ela morava na casa mais linda de toda a cidade. Tudo era bonito. Até o banheiro de serviço.
Thiago: - Nossa Suzana... que lindo.
Suzana: - Amigo aqui é o nosso estúdio. (apontando para frente)
Fiquei besta com todos equipamentos. Parecia criança em época de natal. Desci uma escada e me apaixonei pelo teclado.
Suzana: - Os meninos ainda vão chegar. Pode ir se aquecendo. Vou terminar de me arrumar.
Sentei e comecei a dedilhar algumas notas, como se fosse a mais delicada das rosas, nota por nota Gm - C - F – Dm, repeti várias vezes. Como sempre não pensei em nada e lembrei uma linda canção.
Estamos conversando à toa
Eu não sei o que dizer
Direi de qualquer maneira
Hoje é outro dia para encontrar você
Fugindo da timidez
Estarei vindo pelo seu amor, ok?
Aceite-me
Aceite-me
Partirei
Em um ou dois dias
Lembro do Vitor me esperando na frente da escola. Ele segurava um embrulho. No hotel, ele hora sua esposa dormir. Abre o presente. Era um lindo urso. Ele joga no lixo e começa a fazer as malas.
Tão desnecessário dizer
Sou insignificante
Mas estarei tropeçando
Aos poucos aprendendo que a vida é legal
Repita comigo
Não é melhor estar seguro do que arrependido?
Aceite-me
Aceite-me
Partirei
Em um ou dois dias
Gustavo chega em casa bêbado e encontra sua mãe com o novo namorado. Marta faz um drama e o homem bate nele. O brutamontes joga Gustavo para fora de casa.
Marta: - Vai embora... peguei o dinheiro que você escondia... bebemos tudo!!!
Oh, as coisas que você diz
é a vida ou apenas para espantar minhas preocupações?
Você é tudo que tenho que lembrar
Você está se afastando
Estarei vindo pra você de qualquer maneira
Aceite-me
Aceite-me
Partirei
Em um ou dois dias.
A professora Elizabeth olha alguns documentos e deixa uma lágrima escorrer dos seus olhos.
Elizabeth: (amassando os papéis) - Chega de chorar... não vamos mais...
Oh, as coisas que você diz
é a vida ou
Apenas para espantar minhas preocupações
Você é tudo que tenho que lembrar
Você está se afastando
Eu virei por você de qualquer maneira
Para o meu susto de Suzana estava ao meu lado. Aplaudiu e achou maravilhosa a canção. Conversamos um pouco. Todos chegaram, menos Gustavo. Conseguimos tocar duas músicas: ‘Dias atrás’, do CPM 22 e ‘Toda Forma de Amor’, do Lulu Santos. Terminamos por volta das 21h30. Peguei um táxi e fui pra casa. No caminho encontrei Gustavo jogado do outro lado da sarjeta com muitos machucados no rosto.
Thiago: - Para o táxi!!! (abrindo a porta com o veículo em movimento) - Gustavo... (baixando e pegando no rosto do amigo) – Gustavo acorda... o que aconteceu? Gustavo?!