Kadu teria apena uma hora e meia para poder tomar banho, comer alguma coisa, descansar um pouco e finalmente ir para o show de pagode...
_ Que show de pagode, onde? Só agora que lembrou o esquecimento em perguntar onde era tal show e se o garoto queria que ele fosse pega-lo ou não.
Antes da cabeça esquentar a ponto de causar danos, Kadu despiu-se, entrou n box do banheiro e começou o banho frio, pois seu corpo estava bem vermelho e ele não queria sofrer uma queimadura com a água quente. Em seguida secou-se, vestiu o roupão branco com bordas azuis, foi até a cozinha e na estufa em cima do fogão estava uma lasanha no capricho deixada por D. Angela, a fiel escudeira. Levou a comida para o balcão na própria cozinha e pegou o celular...
A ligação foi atendida no terceiro toque...
_ Davi sou eu Kadu. Não tá tudo bem, fica tranquilo que vamos ao show sim... É justamente por isso que eu tô te ligando... Pra você ver rapaz, falamos de tanta coisa e sobre quase tudo que esquecemos de falar o que realmente importava pra essa noite... Dá só um minuto que vou pegar uma caneta...
Enquanto procurava uma caneta dentro de sua pasta que ficava no escritório d apartamento, tratou de levar junto a lasanha e deixou o celular na bancada da cozinha...
_ Davi, voltei... rapaz devo confessar que teu sorriso é contagiante... Fala aí, onde é o bendito show e que horas você estará por lá? Você aceitaria pelo menos ouvir uma outra proposta minha? Eu não sei onde fica essa casa de show não, apesar de ter ouvido falar nela... Poderia te pegar em casa por volta das 21:00 h?
Davi demorou mais um longo minuto antes de voltar a responder ao patrão...
_ O senhor tem certeza de que não será muito contra mão não?
_ Será um grande prazer rapaz... Afinal de contas não é todo dia que a gente vai para um show com alguém tao gente boa como você por companhia e rodeado de amigos.
_ Que é isso Seu Kadu... mais aceito sim a sua outra proposta. Até às 21:00 h então?
_ Combinado garoto.
Depois que a ligação foi desfeita, kadu praticamente só deixou a embalagem da lasanha intocada. bebeu duas taças de vinho tinto suave, colocou a louça suja na máquina como Angela ensinara, saiu da cozinha, entrou no quarto, programou o despertador para dali a duas horas e finalmente deitou nu na cama se sentindo muito mais leve e apesar do nervosismo por não saber o que daria a tal noite, dormiu um sono tranquilo.
NO OUTRO LADO DA CIDADE...
Davi conversava com um amigo que moravam na mesma rua que ele e já foi logo dizendo...
_ Tô falando Flávio, tenho certeza que não sou só eu que tô imaginando coisas não rapaz. Você é o meu maior e melhor amigo, sabe de coisas da minha vida que ainda nem aconteceram... Me ajuda cara. O que diabo ta acontecendo comigo? Eu nunca pensei que um dia na minha vida eu iria sentir uma coisa tão boa na companhia de outro cara... Só que o Seu Kadu me trata de uma maneira que fico até sem jeito de ficar perto dele... Eu disse a você que li uma coisa sobre ele num site da Internet, que ele era gay... E juro pra você que isso em nada muda o meu respeito e a minha admiração pelo sujeito...
_ E o que você espera que eu diga num momento como esse? Assim como você tô cagando pro que falam de mim ou de ti ou dele lá, só que se tu for adiante com isso, vai dá um bode do caralho meu irmão. Pensa comigo, tu é preto, pobre, é bonito, devo reconhecer, só que é apenas um garoto que nem certeza de nada tem ainda... Nem eu que sou mais velho que tu 3 anos não sei o que vou fazer quando terminar o curso do SENAI.
_ Eu sei cara... Só que eu te juro que o que menos me importa é saber quem ele é, ou o que ele tem, ou que poderá ou não me dar, tô nem aí pra isso, eu tô muito mais afim de saber se o que ele sente por mim é real ou se eu vou ser apenas uma conquista passageira antes de ser jogado fora como algo descartável, entende?
_ Amigo, isso ta me cheirando a algo muito maior que nem mesmo eu sei dizer o nome...
_ Cara, você devia ter visto a gente juntos hoje na praia. A conversa entre a gente flui sem medo, sem pressa, eu notei que há interesse da parte dele por tudo o que eu possa falar e ele não pára de dizer que tenho o riso bonito, que sou um cara legal, que tenho o astral lá em cima...
_ E se você abrisse o jogo pra ele? Tipo assim, se você tivesse coragem de dizer o que sente, mesmo conhecendo o cara há apenas 4 meses?
_ Eu conheço esse cara desde que aprendi a ler e manusear um computador. Sou louco pelo cara há tempo... Ele é um cara show de bola. veio de baixo também, não como nós é claro pois seu pai tinha alguma posse, só que ele não era tão rico assim não... 4 meses é o tempo que trabalho lá no Centro de Esportes que é dele e dos amigos... Você fala em abrir o jogo pra ele e eu sei que jamais terei coragem de agir...
_ O que você teme? Sua família? teu pai já sabe de você há tempos, tua mãe nem aqui mora, e acho que ela também não se importaria com isso, teus dois irmãos tem a vida deles e o Isaac por muito tempo ganhava a vida lá pela beira Mar traçando tudo o que se mexia, fosse home ou mulher...
_ Aí é que tá cara, não sou como eles. Eu me importo comigo e muito. Você sabe que não me permito sonhar, me iludir. Se mergulho de cabeça vou até o fundo... Tô com medo de pela primeira vez estar fazendo justamente isso, sonhando um sonho impossível...
_ Então meu irmão não me pede conselho não, sei que lá na frente como sempre, você há de arranjar uma solução maneira pra tudo esse problema. Não esquenta com isso e logo mais aproveita a noite que é o melhor que tu tem a fazer, beleza?
_ Valeu Flavio, tu tem razão cara, eu sou um lesado mesmo né?
_ Esquenta não Davi, agora descansa um pouco que logo mais a noite será bem movimentada. A galera já confirmou que vai, né?
_ Que nada, dos sete que disseram ontem que iam pro show, apenas três, contando comigo.
_ Nesse caso, boa noite então meu amigo. Amanhã você conta tudo.
_ Pode deixar que passo lá na tua casa. Valeu.
Davi olhou o relógio do celular e viu que já passava das 19:00 h. Correu pro banheiro e foi tomar seu banho para começar a vestir a roupa nova que tinha comprado na C&A do centro.
ENQUANTO ISSO...
Kadu acordou com o toque do celular. Rapidamente levantou, voltou ao banheiro para um novo banho frio pois seu corpo estava pegando fogo, e afastou definitivamente a ideia de uma nova punheta, afinal de contas ele merecia bem mais que um prazer solitário e soube que esperaria o tempo que fosse necessário até conseguir conquistar de vez o garoto que não saia de seu pensamento...
_ É isso aí Davi, você mora aqui comigo, ouviu bem?
Abriu as quatro portas dos armários do quarto de vestir e procurou pegar peças bem simples pra não ser taxado de esnobe, afinal de contas um show na periferia era algo que pedia cautela em tudo.
Uma cueca slip Armani branca, um jeans Armani cor tradicional, uma camisa da mesma marca com estampa, um sapatênis azul, uma corrente de prata no pulso esquerdo e outra no pescoço, algumas gotas do Black XS da Paco Rabanne e um único pedido pra Deus, " Que a noite fosse uma das melhores de sua vida, tá? " Sorriu e foi ao encontro de seu destino, que com certeza estava esperando na entrada daquela vila em que ele morava.
O trânsito estava sem muito engarrafamento, o que já era digno de ajoelhar e agradecer aos céus por essa benção e passando cinco minutos do horário combinado, os faróis do carro de Kadu iluminaram e figura de Davi e dois amigos que estavam na calçada da mercearia que ficava ao lado da entrada da vila.
_ Foi mal Davi, entrei uma rua antes da sua e tive que dar uma volta enorme até entrar nessa avenida aqui de novo. Tô desculpado?
_ Claro Seu Kadu, eu tava aqui dizendo pros meus amigos que o senhor é gente fina e que logo logo estaria aqui. Tá todo mundo querendo chegar logo lá no local do show e quando eu disse que o Senhor ia levar a gente, foi como se tivesse dito que todo mundo ia pro paraíso.
_ Então entra aí pessoal. Boa noite pra vocês.
_ Esse Davi é tapado mesmo né? Boa noite Seu Kadu, eu sou o Renato...
_ E eu sou o Argel. Beleza, seu Kadu?
_ Posso pedir uma coisa aos três? Não tem problema nenhum se vocês me chamarem só de Kadu, beleza galera? E podem apostar que um dia fui jovem, apesar de não estar ainda tão velho assim, né?
Daí em diante a noite foi só alegria. A casa de show estava praticamente lotada. Alguns amigos de Kadu estavam presentes ao show e quando algumas pessoas que eram seus fãs descobriram que ele estava no local trataram de ovacionar o cara por conta do último título da Seleção de Futsal. Argel e Renato logo sumiram na multidão e Davi e Kadu, curtiram todo o show praticamente juntos. nenhum dos dois olhou pra ninguém e foram bastante vistos por todos que lá estavam.
Quem os via de longe e lado a lado, pensariam se tratar de um casal apaixonado e feliz, só que na verdade eram amigos que estavam se divertindo muito na companhia um do outro.
Terminado o show, todos foram comer algo em outro lugar a convite de Kadu e por volta das 02:00 h da manhã, aceitaram de boa a carona oferecida. Renato foi o primeiro a ser deixado em frente a sua casa e Argel, seguido de Renato. Assim que se viram a sós no carro, Davi e Kadu ficaram em silêncio por um momento até que o jogador disse:
_ Preciso te dizer uma coisa, só que tô com medo de falar...
_ Medo Kadu?
_ Medo sim Davi... Você alguma vez na vida teve medo de algo?
_ Basta ver onde moro Kadu. Será que isso responde a sua pergunta?
_ O medo em questão aqui, é um medo pessoal... E Kadu fez uma pausa antes de continuar... Lembra que disse a você que já amei uma vez na vida e estraguei tudo? Pois tô com um medo maluco de voltar a sentir a mesma coisa por outra pessoa e também estragar tudo... Eu ando meio cansado sabe, de só correr, correr e nunca conseguir chegar a lugar nenhum. Uma vez pensei que o amor só acontece uma vez na vida e há pouco tempo descobri que isso era um pensamento totalmente errado.
_ Será que o senhor não tava correndo na direção errada não, Seu Kadu?
_ Talvez Davi, talvez. Olha pra mim garoto, por favor...
E Davi levantou a cabeça e girou lentamente até encarar o seu patrão de frente como ele havia pedido.
_ Será que você ta entendendo alguma coisa do que eu tô falando?
_ Cada palavra e agora eu me sinto mais seguro pra responder sua pergunta... Eu tô morrendo de medo.
_ Posso tranquilizar você?... E os olhos de Kadu brilhavam um fogo avassalador de desejo quando finalizou a pergunta para o lindo negro que havia entrado em seu pensamento e havia feito ele se perder num mundo próprio de sonhos e desejos...
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Meus queridos, um grande abraço a todos. Amanhã a gente volta a se falar, prometo. O tempo foi o vilão novamente e as horas avançam sem medo ou culpa...Beijos POVO DO LADO ESQUERDO. Nando Mota.