Cap.23
NARRADO POR LUCIANO
Logo entramos no carro. Apesar de diversos anos passados, aquela história ainda me debilitava, me deixava triste. Meu peito doía. Eu tive que aprender a viver sem o Alberto na marra, do pior jeito possível, e isso tinha sido uma experiência traumática. Desde então nunca consegui amar alguém. Nunca mais ninguém me atraiu verdadeiramente. Mas nos últimos tempos, eu estava me encantando por um aluno. Muitos dizem que isso é errado, mas o que eu podia fazer ? O Leonel era um garoto diferente dos demais. Ou homem, sei lá. Ele era doce, ele era atencioso, ele era amigo, ele era fofo. Como não se encantar ? Não parava de pensar nele, e no perfume que ele estava usando, e se ele estava se sentindo bem, e no que estava pensando. Ele parecia ser tão maduro, gostava das mesmas coisas que eu, que quase nem notava que ele tinha 19 anos, e eu 35.
TEMPO DEPOIS
Chegamos naquele lugar caído. O clima de tristeza era enorme. Pra todo lado eram covas e mais covas, pessoas que viveram um dia, que podem ter enfrentado problemas piores que os meus, vivido menos que eu, e que neste momento estavam debaixo da terra. Senti ele se agarrar ao meu braço.
- Nunca tinha vindo em um lugar como esse, é sinistro- ele falou.
- Vamos, fica por ali- muitas vezes eu tinha vindo nesse lugar. Nunca mudava. Parecia maior, mas no geral, era a mesma coisa todo ano. Exalava solidão, tristeza e paz. Parecia que as almas ainda ali estavam, sofrendo. Cheguei mais perto daquele túmulo, já cheio de flores, com certeza mais gente já havia vindo mais cedo. Olhei ao redor, me lembrei do dia do enterro. Fechei os olhos. Ver o corpo dele sendo levado pra longe de mim foi torturante. Ter ali, a confirmação de que não ouviria mais aquela voz foi massacrante. Abri os olhos e vi as lalágrimas caírem. Continuava olhando pra aquele túmulo. Lentamente o circundei, levando comigo todas as boas lembranças de quando ele era vivo. Me lembrando de cada risada, de cada Abraço, de cada Eu te Amo. Lentamente deixei as flores sobre o túmulo, limpei meus olhos. Olhei pra Leonel, ele apenas me observava. Naquele momento, foi como se uma sensação de felicidade, um prazer incrível me invadisse. Ver aquele rosto perfeito me animou. Sorri, me aproximei, e o abracei, forte. Será se eu estava me apaixonando por ele. Será se Leonel era agora minha razão de viver ? Me soltei dele, e me aproximei novamente do túmulo. Comecei a falar.
- Sabe Alberto, meu ano não foi muito diferente dos outros. Continuo trabalhando igual a um condenado, e mal humorado de vez em quando, ou quase sempre. Nosso apartamento está em ordem. Sinto muito a sua falta- respirei fundo- mas esse ano teve algo de diferente pro outro. Não fique com ciumes, mas eu conheci uma pessoa que tem me feito um homem muito mais feliz. Ele tem a sua idade, quando partiu. É esse garoto, ou homem, que você está vendo aqui, o nome dele é Leonel. Sabe, depois que ele apareceu na minha vida tudo mudou. Enfim, fiz uma amizade. Consegui um Mascote, e por causa dele é que conheci Leo. Bem, ele me deixa bem humorado. Ele me conforta, ele me faz rir, ele me faz dormir relaxado. Nos últimos tempos tenho pensado muito nele- ele arregalou os olhos- e sinceramente, estou confuso. Não sei realmente o que sinto. Mas eu gosto muito dele, e não quero que ele se afaste de mim- ele se aproximou e ficou ao meu lado, com o braço sobre o meu ombro, recostando em seguida sua cabeça nele. Me arrepiei.
- Alberto, sei que nunca nos conhecemos enquanto você estava vivo, mas eu quero que saiba, que seu namorado é, talvez, a melhor pessoa que eu já conheci. E que nos últimos meses, apesar da nossa diferença de idade, eu tenho me encantado por ele- agora eu fiquei surpreso- espero que não fique com raiva, mas seu namorado é uma pessoa incrível. Eu fui apaixonado por muito tempo por uma pessoa que nunca me notou, e eu acho que agora encontrei alguém que me note.
NARRADO POR MARIANO
Acordei alegre. Enfim, meu sonho de anos tinha se consumado, eu tinha feito amor com a pessoa que mas amava na vida. E estava extremamente feliz com isso. Tomei um bom banho e vi ele ainda dormindo, como um anjo. Sorri. Desci as escadas e fiz o nosso café. Faltava poucos dias para meus pais voltarem. Não sabia como eles voltariam. Se voltariam felizes, ou brigando. Se nos trariam carinho, ou brigas. Não sabia como eles reagiriam encontrando a maior parte das coisas de César em meu quarto, e como eles reagiriam a nossa aproximação repentina.
- Bom dia maninho- falou ele, dando um beijo em meu rosto e em seguida sentando na cadeira.
- Oi. Dormiu bem meu anjo ?- ele sorriu.
- Maravilhosamente bem.
Continua
Gostaram ???? Me perdoem pelo tamanho.