Eu: Eu quero saber como vai ficar, você vai continuar correndo atrás do Nick?
César: O que aconteceu ontem?
Contei tudo ao César...
César: Até que enfim você se declarou para aquele garoto. Olha, não vou ser um empecilho para vocês, mas não quero que o machuque.
Longe dalí
*
Rafa narrando...
Naquele dia nenhum fez mais nada comigo, fomos para casa, Ric estava me esperando, o beijei e Nando nos olhou triste, depois fomos assistir a um filme, minha mãe havia saído então dava para mim curtir bastante o Ric. Nando me olhava de longe, estava na cozinha preparando algo e me olhava triste...
Mal sabia eu que o dia seguinte seria um dos mais tristes da minha vida...
Acordamos e fomos para a escola, chegando lá encontrei Nick na porta, fomos entrando com o Nando mais à frente, quando 5 garotos incluindo o Pablo cercaram o Nando, apenas o Pablo e o Gustavo eram da nossa escola.
Pablo: Eu disse que tinha volta.
Nando: São uns maricas mesmo, foram pegar caras de fora da escola para me enfrentar?
Pablo: Você me chamou de que?
Nando: Venham logo...
Rafa narrando...
Eu estava bestificado, ele derrotou todos com uma facilidade enorme, eram socos, chutes, nem acreditei no que vi.
Os garotos saíram e eu fui para um lugar mais afastado com ele que não tinha um só arranhão.
Eu: Estou em choque. Você os derrotou facilmente.
Ele deu um sorriso triste.
Eu: Quando melhorar do meu braço quero que me ensine a lutar assim.
Nando: Não, você não foi feito para isso, olha as suas mãos... – Ele pegou minhas mãos. – Você é frágil, educado, eu sou da rua, aprendi a ser assim lá, para sobreviver. A partir de hoje vou te proteger, eu estou aqui para isso, fazer o que não fiz antes, não estou pedindo para me perdoar, não se preocupe.
Ele me abraçou me erguendo do chão, vi em seu rosto uma lágrima descendo, ele saiu e me deixou alí.
Mas que droga, porque ele tinha que fazer isso? Eu não posso perdoá-lo não posso!
Nick apareceu: Linda a atitude do Nando te protegendo, o que acha?
Eu: Estou com ódio, não posso perdoá-lo.
Nick: Rafa deixa o rancor de lado, isso não é bom, você precisa perdoá-lo.
Saí com ele e vi um burburinho, chegando lá vi o diretor com os dois garotos machucados...
Diretor: Fernando nossa escola tem uma politica de intolerância a violência, você chega e em poucos meses causa um reboliço desses?
Nando: Olha se essa escola tem essa politica contra a violência o senhor tem que avisar aos alunos porque nenhum sabe vai por mim. Eu apenas revidei.
Diretor: Acredito mais nos dois pois antes de você aparecer isso nunca aconteceu.
Nando: Não que o senhor saiba, ninguém tinha coragem de avisar...
Diretor: Vou avisar aos seu pais.
Pronto, subi, era como se não sentisse mas meus pés no chão, estava a ponto de perdê-lo.
Eu: Nick isso não pode acontecer, se meu pai sonha o Nando vai ser devolvido.
Nick: Mas como?
Eu: Ele abomina coisa errada em escolas, meu boletim sempre foi impecável, e nunca me meti em confusão.
Nick: Você não mas sempre te meteram.
Eu: Mas ele não sabe.
Falávamos enquanto o Diretor falava com minha mãe...
Eu: Ele vai achar que o Nando é um marginal ou algo do tipo...
Meu telefone toca e eu atendo...
Mãe: Rafa, estou preocupada, o Nando se meteu em confusão, se seu pai sonha...
Eu: Eu sei mãe.
Mãe: Espero que o Diretor não ligue para ele, mas é difícil porque ele pediu para ser informado de tudo de vocês.
Eu: Mãe vou desligar.
Desliguei...
Fui falar com o diretor...
Nando narrando...
Eu sabia que iria voltar para o orfanato, tinha certeza disso, mas não me arrependo de ter protegido ele.
Na minha vida desde os 6 anos sou sozinho, sempre vivi nas ruas, nunca fui amado ou protegido por ninguém, fui espancado, roubavam meus trocados que ganhava no sinal, passei dias de fome, sem ter onde dormir. Quando completei 9 anos prometi a mim mesmo nunca amar ninguém porque ninguém prestava, todas as pessoas que eu havia conhecido na minha vida não prestavam, me usavam para roubar os outros, me roubavam, sempre brigava nas ruas, aprendi a me defender na marra, a alguns meses levei um tiro de uma gangue porque não queria dar os trocados que ganhei, estava com fome, queria comer... Nunca amei, sempre transei e pronto. Acho que esse foi meu erro, o medo de mim entregar a alguém, pensei que aqui seria igual as ruas, as mesma selva, não quis me jogar de cabeça no amor que sentia por Rafa...
Agora estou perdendo tudo, a única família que consegui ter, um pai, uma mãe, um irmão, um amor... Mas tudo bem, sabia que era bom demais tudo que estava vivendo, e no fundo sabia que duraria pouco.
Vi o Nick e fui falar com ele...
Eu: Nick, quero te pedir uma coisa antes de ir. Cuida do Rafa, sei que é pedir demais, não estou pedindo para você se meter em brigas mas apenas para você cuidar, chamar alguém, não vou estar mais aqui para protege-lo. Me promete?
Nick: Deixa de besteira, você não vai embora!
Eu: Vou sim Nick, olha você é uma pessoa maravilhosa, não cometa erros como eu fiz, você agora tem uma família, lembra que você me deu este mesmo conselho quando queria fugir?
Nick: Sim, e você não me deixou. Nando isso não pode acontecer, você não pode ir.
Eu: Sabe o que é pior? Que agora eu sei o que é ter uma família, a Renata era maravilhosa, todos os dias ia ao meu quarto antes de dormir me perguntar como foi o meu dia, era uma verdadeira mãe para mim, e o Rodolfo todo dia no café da manhã me perguntava como ia as coisas na escola... O Rafa, ah o Rafa é tão maravilhoso, me tratou tão bem... Sabe preferiria nunca ter tido uma, do que ter e perder.
Nick: Não fala assim. Me parte o coração. – Ele começou a chorar.
Eu: É bom ter sempre o que comer e uma cama quentinha para dormir Nick, mas o principal é ter alguém que te ame e que se preocupe com você, nunca tive isso. Sei que magoei o Rafa mas foi porque não sabia como me portar com alguém como ele, não me permitia amar, calejei de tanto sofrer, mas agora estava começando a me permitir... Infelizmente não vai dar, acho que era bom demais para mim uma vida digna. Você é maravilhoso Nick, nunca vou te esquecer.
Abracei ele tirando-o do chão e levantando-o.
Nick: Te adoro Nando, você também é maravilhoso.
Eu: Não, não sou, sei disso, mas foi a vida que me fez assim.
Saí dali e ele ficou chorando...
Me encontrei com Rafa...
Eu: Rafa antes de ir para casa quero falar contigo.
Peguei em sua mão e o levei para um lugar afastado...
Eu: Rafa eu nunca quis seu mal, mas minha vida foi muito dura, nunca recebi amor de ninguém e isso tudo foi muito novo para mim... Ter uma mãe, um pai, um irmão e de repente se descobrir amando... Sabe eu nunca amei ninguém, nunca me dei esse presente e você é tão lindo, doce e bom que me fez te amar, senti medo, tinha medo de me machucar, minha vida toda é muito dolorosa, sofri muito nas ruas e não soube diferenciar aqui de lá, achei que era a mesma coisa, a mesma selva com leões esperando dar o bote. Nunca ninguém me fez um carinho, me deu palavras de amor, e vem vocês e me fazem de repente saber o que é ter uma família... Obrigado.
Ele estava de cabeça baixa, tudo que eu queria era seu perdão.
Eu: Rafa me perdoa, por favor, eu te amo, eu quero ir com seu perdão, sabendo que você, a única pessoa que eu já amei não me odeia.
Rafa nada falou, apenas se jogou nos meus braços, o abracei forte, tirei seus pés do chão...
Rafa: Você não pode ir, meu pai não pode fazer isso...
Eu: Eu vou Rafa, eu sei. Por favor me dá um presente antes de ir?
Ele me olhou...
Eu: Me deixa levar comigo o sabor da sua boca para lembrar para sempre?
Chorando ele alisou meu rosto com as mãos e com os pés fora do chão, alí nos meus braços o beijei, senti seu gosto doce, sua pele em meus braços...
Rafa narrando...
Ele me beijava calmamente, como se prestasse atenção em cada movimento para lembrar depois...
Me soltei de seus braços e olhei em seus olhos, duas lágrimas saíram deles...
Nando: Obrigado.
Fomos para casa, meu coração estava quase parando, meu pai não podia fazer isso, ele não podia devolver o Nando...
Nós abrimos a porta e minha mãe estava com os olhos vermelhos e inchados de chorar...
Pai: Arrume suas coisas, vou te levar de volta ao orfanato.
Nada mais falou...
Nando subiu a escada e eu fui atrás chorando, minha mãe foi junto, chegando lá ele estava colocando algumas coisas em uma sacola...
Mãe: Querido suas coisas...
Nando: Eu não tenho nada senhora, lá só usamos os uniformes.
Ele abraçou minha mãe...
Nando: Obrigado por tudo senhora, você foi minha única mãe em toda a minha vida, por sua causa agora eu sei o que é ter uma mãe, nunca vou esquecer, e o senhor Rodolfo também, ele foi meu único pai.
Minha mãe não falava nada, não saía, apenas soluçava... Ela o abraçou e nós descemos.
Chegando lá antes de sair ele me abraçou novamente...
Sussurrou baixinho em meu ouvido: Eu te amo, não esquece... Nunca vou te esquecer.
Ele me soltou...
Nando: Adeus.
Ele saiu pela porta...
Mãe: Acabei de perder um filho, nunca vou perdoar seu pai.
Ela subiu correndo...
Eu caí de joelhos no chão, nunca chorei tanto, era como se arrancassem meu coração do peito, ele estava sangrando e chegava a doer.
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Beijos galera.