A semana seguiu tranquila, assim com a minha vida. Estar aquele dia com o Thiago havia me trazido uma paz que a muito tempo não sentia antes. Nós saíamos sempre, íamos jantar, dar uma volta pela orla, íamos pra sua casa e acabávamos transando. Essa foi nossa rotina por várias semanas, até que ele me pediu em namoro.
Nós estávamos na orla, basicamente no mesmo lugar onde nos conhecemos. Ele tava tremendo e eu, pelo contrário, tava muito calmo, eu ria muito dele que não conseguia achar as palavras certas pra dizer. Tudo que eu fiz foi lhe dar um beijo na bochecha e seguimos pra sua casa. Acabamos transando.
Nosso namoro evoluiu bastante, eu não podia dizer que eu o amava, eu curtia a presença dele e estar com ele e isso era o que importava.
No aniversário de 3 meses de nosso namoro, nós fomos pra uma boate bem bacana aqui da cidade, ela não era 100% gay, mas também não era 100% hétero. Era um ambiente legal, livre de qualquer tipo de preconceito. Quando chegamos, o Thiago foi falar com um amigo dele que, segundo ele, era o dono da boate, e me pediu pra esperar lá na frente. Nisso acabei encontrando alguns amigos da faculdade e ficamos um bom tempo conversando.
Depois de um bom tempo, o Thiago veio em minha direção e me deu um ingresso. Ele disse que era pra eu ir entrando que ele tinha que resolver umas pendências com esse amigo dele, mas que depois me procuraria. Eu tinha ficado chateado, mas como estava com meus amigos, não me importei tanto. Quando estava passando pela porta, sinto uma mão apalpando minhas pernas, meus braços e meu joelho. Era um dos seguranças. Eu estava rindo por conta de uma piada que o Felipe tinha contado, e quando me dei conta de quem era o tal segurança, quase caí pra trás. Meu Deus, o destino só podia estar de brincadeira com a minha cara. Era o Leo.
Ele me olhou com uma cara de puto e, em seguida, me deixou ir. Eu tinha ficado afoito, como aquele cara podia fazer esses sentimentos aparecerem em mim depois de tanto tempo? Eu comecei a soar gelado e resolvi pegar uma bebida.
A festa tava boa, o dj era bem conhecido e muito bom. As horas passavam e nada do Thiago voltar, eu já tava ficando puto, quando decidi ligar pro telefone dele, que não me atendeu. Saí da boate sem me despedir de ninguém e peguei um taxi na frente do local, e pedi pra ele me levar pra casa. Eu tava fodido, não tinha chave e já era tarde, ou seja, acordar meus pais não era uma das opções. Eu podia passar a noite num hotel, mas eu não tava com coragem de ir andando até o hotel mais próximo. Resultado? Fiquei sentado na frente de casa.
Depois de umas duas horas, o Thiago começou a me ligar descontroladamente, e eu não o atendi. Eu sei que foi uma criancice da minha parte, mas vejam bem, eu passei um bom tempo lhe esperando no nosso aniversário de namoro. Eu tinha meus motivos.
Após umas 20 chamadas e umas 10 mensagens do Thiago, resolvi ligar pro meu pai.
- Alô? - disse uma voz de sono.
- Pai, tá acordado?
- Não, to falando com você dormindo. Diz o que tu quer
- Abre o portão pra mim? Tô sem chave...
Ele desligou o telefone e eu fiquei um tempo esperando, mas nada dele aparecer. Eu sabia que ele provavelmente não apareceria, ele queria me dar uma lição, eu tinha certeza. Por ironia do destino, começou a chover. Na verdade, de uma garoa passou a ter uma tempestade, daquele tipo que não se conseguia ver nada um palmo depois dos seus olhos. De repente ouço o portão da frente abrir. Liguei a lanterna do meu celular com dificuldade, tentando fazer o máximo pra que ele não molhasse e vi que era meu pai com um guarda-chuva na mão. Corri em sua direção e entrei embaixo do guarda-chuva.
- Por que o senhor abriu o portão? - perguntei.
- Solo vete - disse meu pai. Eu sabia que aquilo não era uma coisa boa.
Acordei naquele dia umas 10 da manhã. Eu não havia dormido bem, fiquei pensando no que o Thiago estava fazendo pra ser mais importante que nosso aniversário de namoro. Peguei meu celular e tinham muitas ligações perdidas e muitas mensagens dele, do tipo "Amor, me responde", "Você tá bem, pelo menos?" e etc. Ignorei todas e fui até a cozinha atrás de comer alguma coisa.
Quando cheguei lá, meus pais estavam na sala, sentados na mesa. Aquela geralmente era a hora de eles tomarem café.
- Bom dia - disse sem obter resposta.
Me calei e peguei uma maçã na fruteira, junto com um copo de leite.
- Seu pai disse que você chegou bêbado ontem em casa e foi importuná-lo pra que ele abrisse o portão - disse minha mãe.
- Eu não estava bêbado - eu disse.
- Meu filho, negar não adianta. Que isso não se repita
- EU NÃO ESTAVA BEBADO - gritei.
Todos os dois me olharam com cara de assustados. Eu me virei e fui em direção ao meu quarto, mas meu pai me segurou pelo meu pulso, me virou e me deu um soco na cara. Eu cai no chão e passei um tempo tentando processar o que tinha acabado de acontecer.
- ALBERTO - gritou minha mãe, vindo em minha direção. Ela já chorava e eu também. Não por conta da dor física, e sim porque eu ja não conseguia mais ficar sem chorar. Minha mãe me abraçou e pediu desculpas.
- Eu não tava bêbado... - disse eu, em meio ao choro.
- Perdonamé, mi'jo - disse minha mãe.
Fui pro meu quarto e passei o dia lá. Minha mãe tentou falar comigo algumas vezes, mas eu não queria ver ninguém. Ficava pensando em como tinha sido apanhar pela primeira vez, e pensava que meu irmão nunca apanhou na vida. Eu queria ser como ele.
Peguei minhas chaves e saí depressa de casa. Comecei a rodar por toda a cidade, até a gasolina parecer que queria acabar. Reabasteci o tanque em um posto e voltei em direção a minha casa. Meu telefone começou a tocar de novo: era o Thiago. Resolvi atender, já que estava no inferno, que eu abraçasse o capeta então.
- O que você quer?
- Isso é jeito de me atender, Douglas?
- O jeito que você me tratou ontem, era jeito de me tratar?
- Douglas, eu tenho prioridades.
- Bom saber que eu não sou uma prioridade, principalmente no dia do nosso aniversário de namoro.
- Não foi isso que eu quis dizer.
- Olha, eu tô de cabeça quente...
- Não, agora você vai me ouvir. Douglas, entende uma coisa: o mundo não gira ao seu redor. Você não é o centro do mundo, e muito menos o meu centro. Você sabia que eu era assim. Eu te levei naquela boate porque eu pensei que você poderia passar um tempo lá enquanto eu falava com meu primo sobre assuntos de família.
- E como você quer que eu saiba que você tava falando com um primo? Desculpa se ainda não me descobri ser vidente.
- E como você quer que eu descubra se você quer ir pra casa, se você está incomodado, sei lá? Não tenho bola de cristal também.
- Ok, acho melhor conversarmos outro dia, nós dois estamos de cabeça quente.
- Beleza. - ele desligou o telefone.
Liguei o carro e fui em direção a orla da cidade. Como era uma quinta feira, ela estava praticamente vazia. Comprei um milk shake e fui pra uma das partes mais afastadas, onde casais costumam ficar. Me sentei, coloquei meu fone e comecei a ouvir música, até que sou interrompido por um fantasma do passado: Leonan.
Eai pessoal, beleza? Eu particularmente não curti esse capitulo do conto, acho que é por ser momentos difíceis que aconteceram na minha vida. Enfim, desculpem a demora pra postar.
Respondendo a algumas perguntas: Sim, o conto é 100% real. Não, não sei fazer café (ainda), e sim, desculpem por não responder todos os comentários esse capítulo. Tirei um tempinho pra postar, então espero que vocês curtam. Vlw.