Cap.8
Eu esperava uma resposta, mas ele estava em silêncio.
- Ryuzinho, o japonês mais fofo do mundo, me responde- ele ficou todo vermelho. Ri- você ficou com ciumes dele ?- ele olhou pra mim, espantado, e baixou novamente a cabeça.
- Achei que aquele tratamento era só... esquece. Deixa pra lá- sorri. Era o que eu pensava, ele estava com ciúme do Marcos.
- E aquele tratamento é só pra você- ele suspirou- não tem nada entre eu e ele. Apenas vou ajudá-lo numa coisa que ele precisa muito- vi seus olhos brilharem- da próxima vez não precisa sair correndo, é só perguntar, fofinho- Ele tinha ciumes de mim. Isso era fato. Logo as aulas se iniciaram. A professora de Sociologia chegou propondo um trabalho.
- Gente, se juntem em trio que faremos um trabalho em grupo. Vocês lerão essa apostila que eu tenho aqui, e apresentarão o que entenderam aqui na frente. É pra hoje ainda viu. Se juntem logo em trio- Eu e Ryu faríamos juntos. Lu tinha faltado, e eu ainda estava procurando mais alguém. Pra minha surpresa, vi Marcos se levantar de onde estava e vir até o nosso grupo. Fiquei de boca aberta, assim como boa tarde da turma.
- E aí ? Vamos fazer ou não ?
- Claro. Leiam ai e dai a gente vê o que vai apresentar- vez ou outra eu olhava pra ele. Porque essa aproximação repentina ? Num dia ele era praticamente inimigo e no outro amigo quase íntimo. Ainda tinha que me acostumar com isso.
- Pronto. É só a gente dividir. São três parágrafos, cada um explica um- ele dizia. E assim fomos nós lá pra frente.
- Portanto, a democracia é sinônimo de liberdade. Liberdade de direitos. Liberdade pra escolher quem quiser pra ser seu governante. Liberdade pra expressar suas opiniões- do nada um dos bocós que sentam lá atrás falou.
- Só não podia dar liberdade para os gays fazerem o que quiserem- ele a sua trupe riam, acho que da babaquice deles. Eu já ia me manifestar e coloca-los em seu lugar, quando ouvi Marcos se meter.
- E qual é o problema em ser gay Arthur ? Por acaso eles mudam a tua rotina ? Acho que não. A não ser que você também seja um, e tá se escondendo no armário- Arthur ficou vermelho, enquanto os outros riam. Eu não, apenas olhava pra Marcos, e procurava entender o porquê dele estar fazendo tudo aquilo. Me defendendo, falando bem dos gays. Aonde o antigo Marcos foi parar. Não que eu sentisse saudade dele, mas só que ele havia mudado bastante, estava me surpreendendo.
EM CASA
Estava comendo minha comida rapidamente, pois tinha que ir logo pra academia. Acessava a internet, vendo meu Facebook, e foi ai que pensei.
- Vou pesquisar mais sobre a doença do Marcos- E acabei descobrindo o CREAP. Parecia ser um bom lugar pra tratamento de dependentes químicos. Imprimi a página e deixei sobre a mesa, disposto a mostrar pra ele depois.
TEMPO DEPOIS
Nossa, que dia cansativo. O trabalho na loja também é cansativo. Gente sem paciência é o que mais tem aqui em Macapá. Estava andando pelas ruas até passar novamente por aquele lugar aonde tinha achado o Marcos aquele tinha. Andava levemente, parecia que tinha alguém ali. Escutei sussurros. Olhei ao redor, e foi quando vi um garoto sentado no chão, prestes a tragar um cigarro. Olhei melhor, e logo percebi quem era.
- Marcos, não !- bati na mão dele fazendo o cigarro voar longe- você não precisa disso. Pensa nas pessoas, pensa em quem você mais ama no mundo e como ela ficaria se visse você fazer isso.
- Desculpa. Mas ela já viu.
- Já ?
- Ela é você- então ele chegou mais perto e me beijouAcordei assustado.
- Que sonho é esse ?- respirava forte. Tentava entender porque diabos em haveria de ter sonhado com ele. Tomei um banho e fiquei diversos minutos- foco Lucas. Você não pode se deixar apaixonar de novo. Você já tem um alvo, Ryu, lembra ?- mas minha cabeça não queria me obedecer. Terminei de me arrumar e fui tomar café. Ouvi batidas na porta- deve ser o japonesinho- abri a porta e tive uma surpresa.
- Oi. Posso entrar- era Marcos. Só pode estar me perseguindo essa desgraça !
- Claro, pode- disse abrindo a porta
- Vim ver como você está.
- Ah. Eu estou bem. Pergunto o mesmo pra você.
- Eu também estou bem. Estou desde o domingo sem usar.
- Já é um avanço.
NARRADO POR MARCOS
Eu vou conseguir tirar isso de mim, eu vou sim. A droga vai sair de mim, nem que eu tenha que puxa-la pelos cabelos e bota-la no meio da rua. Agora eu teria a ajuda do Lucas pra isso. É, aquele mesmo. Aquele que eu magoei, e passei meses remoendo e me culpando pela partida dele. É bem verdade que eu não tinha relação nenhuma com ele, mas eu sempre ficava de olho nele, que apesar de gordinho aquela época, tinha certos dotes de beleza. Muitos devem achar que eu sou um insensível. Mas não. Pelo contrário, eu me abato fácil. E foi por isso que eu passei 3 anos pensando em como me desculparia com ele por causa daquela grosseria. Devo muito ter feito aquilo às dúvidas que eu tinha. Enquanto o mundo ao meu redor dizia que o certo é homem e mulher, que gays não formam famílias felizes, eu sentia atração pelo sexo masculino. Que ironia ! Eu lutei bastante contra mim mesmo.Tentei ficar com meninas, mas não teve jeito. Meu primeiro beijo que gostei, foi com um homem. Um homem bem mais velho, que também acabou me ensinando as belezas do sexo gay. E acabou me apresentando ao mundo das drogas. Alie isso a uma família desnaturada que não liga pra você, e uma desilusão amorosa, e vai ver que o resultado foi eu ter começado a me drogar. Era o único momento que eu me sentia feliz. Mas isso acabou me afastando ainda mais das pessoas. Eu quis parar, mas o meu cérebro não obedece. Ele quer droga, e só se quieta quando tem. Quando vi, minha adolescência estava acabando. Mal completei 18, fui expulso de casa. Passei dias na rua, antes de conseguir um lugar pra ficar. De lá pra cá, eu tenho tentado controlar o vício. Esta muito difícil. Mas pelo agora tem alguém pra me apoiar. Sim, ele, Lucas, totalmente modificado, mais ainda um coração meigo e cheio de amor pra dar.
Continua
Gostaram ??? Obrigado pelos comentários.