Esperamos Fernando voltar com os copos e ainda tomamos um pouco de vinho com ele, conversando outros assuntos. Ele lidava melhor com Lucas, sem a desconfiança e a timidez de antes, mas ainda nao era simpatico como eu esperava.
- Poderia me dar um momento sozinho com ele, Fernando? - eu disse enquanto ele ainda bebia o vinho - Ele esta precisando conversar comigo.
- Cheios de segredos, voces - resmungou ele nos lançando um olhar ironico - À vontade, senhores.
Saiu para a varanda de casa e ainda levou o vinho. Chamei Lucas para sentarmo -nos do lado de fora, num banco largo de madeira pintado de branco que tinhamos à sombra dum flamboyant enorme. De onde estavamos, dava para enxergar todo o vale coroado dos ultimos raios do sol que se ia num incendio, matizando o ceu de amarelo-vivo e alaranjado fulgurante.
- E entao? O que se sucedeu dessa vez? - perguntei.
- Sucedeu que ... - ele respirou fundo, olhando a paisagem com um sorriso - Que encontrei alguem... alguem que eu achei que nunca mais iria rever.
- Sera quem estou pensando que seja? - sorri comigo, contente por ele.
- Sim - ele sussurrou, fixando o olhar no vale, visivelmente comovido - Eu nao lhe contei, mas tinha colocado um investigador atras de pistas sobre ele, isso ha varios meses. Nessa semana o detetive me trouxe os recentes resultados... Encontrou -o, Reinaldo. Em S.Paulo!
Lucas respirou fundo, contendo a emoçao que lhe embargava a voz. Na luz fraca da tarde que recuava eu vi suas maos tremerem, inquietas e nervosas.
- Ontem fui ate o local, verificar - continuou ele - Fiquei de longe, espiando, sondando o terreno... Esta trabalhando num escritorio do centro. Escondi -me detras de um carro e esperei, ate as cinco da tarde, quando o pessoal que trabalha no predio começou a sair. O detetive ja havia me fornecido uma foto tirada meio de longe, que me possibilitou reconhece -lo... Estava impecavel num terno escuro, maleta na mao, oculos de sol... Em que homem maravilhoso ele se transformou!
- Voce nao o abordou? - indaguei.
- Nao tive coragem. Fiquei gelado de nervosismo, mal respirava... Vi quando ele tomou um taxi e se foi, mas eu fiquei ali parado, o coraçao batendo tao forte que sufocava - Lucas secou rapidamente os olhos, mal eles marejaram - Eu senti tudo aquilo de novo, Reinaldo. Todo aquele amor que parecia ser a explosao duma galaxia inteira em mim... Nao, nunca deixei de ama -lo, mas vendo -o outra vez era magnetico, sabe? Era como tomar um choque intenso e ao mesmo tempo doce... Voce me entende, nao?
- Acho que sim - falei rindo, passando o braço pelos ombros dele numa camaradagem - O detetive descobriu tudo? Onde mora, se esta solteiro...
- Mora sozinho num apartamento da Avenida Sao Joao. E esta solteiro.
- Agora resta criar coragem, meu amigo - disse, fazendo -o rir - O rapaz nao vira' ate voce...
- E eu nao sei? Estou me preparando emocionalmente pra isso - ele esboçou um sorriso nervoso - Deseje -me sorte.
- Toda a sorte do mundo!
Permanecemos ainda em silencio, vendo o dia se apagar numa morneza. Houve um momento em que, olhando para Lucas me veio uma certeza subita, tao clara e palpavel que nao pude deixar de acreditar: ele ainda seria feliz, muito feliz em sua vida.
Uma meia hora depois ele precisou ir embora, devolver a caminhonete do tio e estar de volta no horario do jantar. Despediu -se de mim com um abraço cumplice, apertado, e de Fernando com um :"Tchau, Antinoo ", alto, fazendo o loiro responder num resmungo pastoso vindo da varanda. Eu achei que o vinho o embriagara um pouco porque mais tarde encontrei -o todo largado e sonolento, balançando na rede no escuro, servindo de comida a pernilongos, cantando baixinho :
"Boa noite amor, meu grande amor
Contigo eu sonharei..."
- Cantando pra mim? - perguntei, afagando seus cabelos.
- Este aqui canta pra voce - apontou para o coraçao num gesto preguiçoso.
- Que piegas! Verdade isso?
- E isso aqui tambem, quer ver? - falou tentando abrir o calçao.
- Vou bater em voce, moleque - dei uma risada - Vem ,vamos entrar. Esta bebado.
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Adoro seus comentario, de verdade!!! *-*
Ate a proxima!