Acho que quando minha mãe me dizia pra não pular da ponte mesmo quando todos os outros pulavam, eu devia tê-la escutado.
Se a tivesse escutado, provavelmente, não estaria aqui agora. Trancado em um carro em alta velocidade; morrendo de frio; e com a pessoa que eu menos queria estar, rumo à uma balada desconhecida. Tudo isso, só porque meus queridos “amigos” decidiram ir pra essa tal casa noturna e me arrastar junto.
Infortunadamente, não havia espaço pra mim no carro dos meus amigos, então, eu tivera que ir com a pessoa que mais me ama nesse mundo.
Ok, ok! Eu sei o que vocês, marotos pervertidos, já estão pensando. “Por que diabos você está reclamando, meu filho?! Qualquer outra pessoa mataria pra estar em um caro de luxo com um loiro gatíssimo do seu lado!” Ora, dizendo assim, até parece que eu sou louco mesmo… Mas vocês se esquecem do essencial! Do primordial! Daquilo que anula quaisquer outras variáveis! Não era qualquer “loiro gato” que eu pegara uma carona. Ah, mas não mesmo! Era ninguém mais, ninguém menos, do que o carrancudo Marcelo.
Marcelo era a primeira e única pessoa que me odiara até então.
“Por que ele te odeia?”, vocês devem estar me perguntando. Sei lá. Quem sabe?! Acho que nem mesmo ele faz ideia. Só sei que, desde o momento que cruzamos nossos olhares pela primeira vez, ele demonstrara total desgosto e antipatia quando me vê.
Mas eu tenho uma revelação à fazer.
Confesso ter sentido um leve arrepio quando ele se sentou ao meu lado, no banco do motorista. Aquela fora a vez que eu mais estivera próximo dele. Essa proximidade me deixara nervoso. Eu pude sentir seu perfume amadeirado, com um leve toque de Sândalo, tomar conta dos meus sentidos. Eu apreciei, mesmo que por pouco segundos, a real beleza de Marcelo. Seus olhos azuis, compenetrados, que pareciam vibrantes até mesmo na total escuridão; o traçado definido do seu maxilar másculo que contrastava seus lábios avermelhados e suaves; e seu cabelo loiro nem muito longo, nem curto, no tamanho perfeito.
Sempre achei que Marcelo e Leonardo eram muito parecidos fisicamente, mas, dessa vez, Marcelo me parecia mais forte. Mais imponente. Aqueles braços definidos e o peitoral imponente…
Então, ele dera a partida no carro e o ronco do motor me fez acordar pra realidade. Atônito, desviei o olhar pra um ponto fixo no para-brisas e prometi a mim mesmo não tornar a olhar pra ele daquela forma.
Marcelo não ligara o rádio do carro, portanto, o único som audível eram os roncos do potente motor. Também fizera questão de aumentar ainda mais a potência do ar-condicionado quando eu dei sinais de estar com um pouco de frio.
Agora, os dedos da minha mão começavam a formigar de tanto frio e meu maxilar a bater.
Marcelo, você pode, por favor, diminuir o ar-condicionado? - implorei esfregando minhas mãos uma na outra.
Ele pareceu surpreso por eu lhe ter feito o pedido tão educadamente. Me encarou, pressionou alguns botões no painel iluminado do carro e, com um sorriso de satisfação, voltou a prestar atenção na estrada.
Obrigado - agradeci, encarando as minhas mãos e cogitando sacar meu celular pra trocar umas mensagens com a Bella, mas achei que seria antiético da minha parte, mesmo ele me tratando do jeito que fazia. “Sempre trate as pessoas do jeito que você gostaria de ser tratado…” dizia minha mãe quando eu era mais novo, “Só assim que se ganha a confiança das pessoas”.
Eu voltei a olhar para o Marcelo, mas dessa vez eu queria que ele percebesse que o analisava. E consegui.
O que foi agora? - ele perguntou impacientemente, ainda focado na direção.
Você sempre é assim? Não confiando em ninguém a não ser o Léo, usando essa máscara estúpida pra cima e pra baixo? - perguntei casualmente, não esperando que ele respondesse.
E assim foi. Ele ficou longos 5 minutos sem dizer uma palavra. Até que finalmente desembuchou depois de um suspiro, a voz mais ríspida do que nunca:
Não é da sua conta.
Eu sei que não é… Só fiquei curioso - falei, tentando insistir no assunto. - É que eu tenho esse problema de acreditar, até o último momento, no bom caráter das pessoas. E eu sei que você não é desse jeito que tenta ser.
O carro da Juliana virou em uma saída à direita e Leonardo e Marcelo acompanharam. Nós já devíamos estar chegando na tal balada.
O que te faz ter tanta certeza disso? - perguntou, curioso.
Sei lá… É só um instinto idiota.
Bem idiota, mesmo - ele disse, mas eu pude ver um leve sorriso formar no seu rosto.
Ainda vai demorar muito pra chegarmos?
Não, é bem ali - falou, apontando pra uma construção gigantesca em Black Piano iluminada com luzes azuis e violeta. Uma fila enorme se projetava da entrada.
Opa, opa… A gente não vai ter que pegar essa fila básica, vai? - perguntei, lamentando não ter ido pra casa.
Com certeza - ele disse, revirando os olhos, provavelmente, já de saco cheio por “conversar” comigo. - Por quê? A Donzela vai ficar com os pézinhos doloridos só por pegar fila?
Eu tive que praticar muito autocontrole pra não mandá-lo pra PQP, mas eu consegui não responder àquela doce pergunta.
Finalmente, Marcelo acompanhou os carros do Léo e da Ju pra frente da balada, onde havia um serviço de estacionamento. Assim que Marcelo encostou o carro ao lado de um funcionário do estacionamento, eu coloquei a mão na porta e voltei a olhar pra ele:
Uma última coisa, Marcelo, você não precisa ter só um amigo… Você pode confiar na gente, também. Tenho certeza que o Léo já deve ter te dito isso - falei encarando aquelas olhos azuis que me fitavam de volta com total curiosidade, como se me perguntassem se eu fazia ideia do que estava dizendo. - Bom, me desculpe por tê-lo feito me aturar e obrigado pela carona.
Abri a porta do carro e saí rapidamente. Antes de me juntar à Bella, que já tinha saído do carro do Léo, eu dei uma última olhada pro carro do Marcelo, onde ele ainda estava dentro, encarando o volante.
E ai, o Pincher arrancou alguns dedos seus fora, ou você ainda ta inteiro? - Bella perguntou aos gritos por conta da música alta que vinha de dentro da boate.
Há-há… Muito engraçadinha você, né? Mas saiba que eu quase perdi minha mão por congelamento.
Como assim? - ela disse se segurando pra não rir ainda mais de mim.
O sr. Finesse tava com calor e quase me congelou naquele ar-condicionado… Ah, já chega, Bella, pode parar de rir do meu drama!
Seu drama mesmo! Aposto que você foi mais chato que ele… Enfim, chega de mimimi, a galera ta vindo.
Nossos amigos já haviam nos seguido até a frente da balada, onde havia a entrada e um grupo de funcionários, incluindo três seguranças enormes, segurando a enorme fila que queria entrar. Luiza e Flávia pareciam estar mais animadas até mesmo que a Isabella. O último a se juntar a nós fora o Marcelo, ele parecia estar um pouco mais animado.
Bella, por acaso, não tem nenhum amigo de vocês que já tava na fila pra gente, né? - falei no ouvido dela, mas a Ju pareceu me ouvir.
Que nada, Joey, eu quem mando nessa Bagaça! - Juliana berrou acima da música, entregando uma pulseira de plástico dourada pra cada um de nós. - Meu irmão é o dono daqui. Hoje é a estréia e ele chamou a gente pra vir - ela disse me mandando uma piscadela.
“Deus, tô me sentindo um mendigo perto dessa gente pobre” pensei.
Ah, que ótimo! - foi a única coisa que eu consegui responder.
Então, todo mundo pronto? - Ju perguntou e todos nós respondemos com um grito vivaz - Partiu, então, só precisa mostrar a pulseira pro Mauro, ele é o maior segurança na direita, e ele libera a gente.
Enquanto entrávamos, a galera que estava na fila se irritou e começou a nos vaiar, mas a Ju mandou todo mundo a merda e nos guiou boate a dentro.
A pista de dança principal era enorme e estava totalmente lotada, a DJ ficava em um deck bem no meio da galera. Juliana nos levou até um espaço reservado, no piso superior, com vista pra pista e com um bar exclusivo. Nos disse que lá era a área VIP e que podíamos ir e voltar da pista, mas também nos avisou pra não perdermos nossa pulseira, ou não poderíamos voltar pra lá.
Bella me puxou pela minha blusa, me arrastando pra pista e a galera toda foi junto conosco.
A noite não podia ficar melhor. Bella e eu dançávamos loucamente juntos. Não sabia ao certo quanto tempo havia se passado, mas todos nós ainda estávamos pegando fogo. Os solteiros do grupo começaram a caçada e, em menos de 5 minutos, Leonardo, Marcelo, Rodrigo e Vanessa estavam se atracando com suas respectivas paqueras. Tive um pequeno ataque de ciúmes quando eu vi Leonardo ficando com uma garota loira, decidi que eu não iria me chatear e estragar minha noite por conta disso, mas devo admitir que ficava encarando ele e aquela garota o tempo todo. Também dei graças à Deus pelo Marcelo estar ficando com uma morena aleatória, pelo menos, me pouparia daquelas encaradas.
Thiago estava ficando com a Flávia (o que até não me surpreendeu muito) e Ju estava dançando junto a garota que viera no carro dela e que eu não conhecia, parecia rolar uma química entre as duas e eu resolvi não ficar as observando muito por isso. Luiza ainda estava se divertindo com Roberto e, ora ou outra, eu reparava Vinícius me observando dançar com a Bella.
Em um momento, um cara que aparentava ter uns 19 anos e que era bem gatinho, chamou a Bella pra dançar com ele e, depois do meu sinal de “tô de olho”, os dois se afastaram do nosso grupo pra ir mais perto do deck da DJ. Como eu estava um pouco tonto por conta de todas as batidas de Kiwi que o Leonardo havia feito pra mim, decidi ir até o bar pra comprar uma água. Fiz um sinal que iria até o bar pra Luíza e fui indo até sentir alguém me agarrar pela cintura e me virar.
Posso ir com você? - uma voz disse no meu ouvido, me fazendo arrepiar levemente.
Era o Vinícius. Ele tinha me acompanhado até ali, provavelmente, pra não ficar de vela com o resto do pessoal.
Claro! - gritei de volta. Ele sorriu e me acompanhou até o bar.
O balcão do bar, como todo o resto da boate, estava lotado. Depois de muito sofrimento, eu finalmente consegui meu copo de água, Vinícius não pediu nada. Resolvemos ficar um pouco em uma das mesinhas redondas perto do bar até eu acabar minha água.
Então, não vai beber nada? - perguntei no ouvido dele, a música era alta demais e eu já tava cansado de ficar gritando cada frase.
Não, sou o motorista da rodada pra levar o Roberto pra casa - ele respondeu no meu ouvido, sorrindo um pouco triste. - Mas, e você, não vai beber mais?
Pra mim já chega, já tô tontinho… Quer dizer, mais tonto que o normal! - falei, fazendo-o rir.
Você é muito gatinho, sabia? - ele disse no meu ouvido e eu o olhei surpreso.
Nunca, mas nunca mesmo, eu diria que o Vinícius era gay, mas agora que ele tinha me elogiado daquele jeito, era como se uma ficha entalada a muito tempo caísse dentro da minha cabeça. Vinícius tentou chamar minha atenção diversas vezes, algumas horas atrás, na casa da Bella. Ele continuara me observando desde então até a poucos minutos atrás então, quando me acompanhara até o bar sem nenhum pretexto aparente.
Era isso então? Ele é gay (Ou Bissexual, sei lá!) e está afim de mim? Não… Ele é bonito demais. Elegante demais. Aqueles olhos cor de mel e aquele corpo digno de um modelo de cuecas bem sexy, possivelmente, eram capazes de conquistar qualquer pessoa que ele quisesse. Embora ele não fosse tão alto e nem tão forte quanto Leonardo e Marcelo, ele ainda tinha sua própria beleza divina. Ah, sim, ele tinha!
“Cale a boca e caia em cima desse deus Grego!” vocês devem estar pensando. Mas ainda não era assim tão simples pra mim. Eu ainda era o adolescente gordinho e inseguro que, por acaso, acabara por ter um corpo bonito. Precisava de mais tempo pra me adaptar à esses novos Mantras, certo?
Ouvi distantemente a DJ começar a tocar Radioactive do Imagine Dragons e, afastando toda a insegurança, dei um pulo, empolgado.
Sabe, eu amo essa música. Bora voltar pra pista! - gritei, segurando-o pela mão e arrastando-o de volta à multidão eufórica.
Eu levei Vinícius até bem próximo ao deck, no centro da pista de dança, onde eu pude avistar Bella, mas ainda mantendo privacidade (ignorando as centenas de pessoas dançando a nossa volta, é claro).
Nós dançávamos muito próximos, quase colados. Eu podia ouvir sua respiração forte e sentir seu coração acelerado de encontro ao meu peito. Vinícius passou uma de suas mãos por trás da minha nuca me puxando ainda mais próximo de si. Então, fechei meus olhos quando senti sua língua explorar minha boca e me instiguei a fazer o mesmo.
Era ótimo. Sua boca tinha um leve sabor de menta e sua língua era quente e macia. A música parecia ter desacelerado, cada segundo, prolongado à uma vida inteira. Depois do que pareceu um bilhão de anos, nossas bocas se afastaram e eu tentei retomar o fôlego.
Isso sim que é um beijo! - ele sussurrou no meu ouvido, me fazendo corar envergonhado.
Passei meus braços por seu pescoço e voltei a beijá-lo, tentando, ao máximo, não me exaltar demais.
Uma hora mais tarde, enquanto, eu e o Vinícius continuávamos dançando e nos beijando, Juliana surgiu do meio da multidão que nos cercava e nos abraçou alegremente.
Ai, eu sou genial, não sou?! - ela gritou.
Eu corei mais fortemente do que nunca na minha vida. Ela teria visto nós dois juntos? Por quanto tempo? Mais alguém tinha visto também? E que papo de ser “genial” era aquele?
Notoriamente, eu tinha sido influenciado pelo calor do momento à tal nível que esquecera completamente que os meus amigos podiam nos ver a qualquer momento. E eu também não ajudei ficando com o Vinícius por tanto tempo, e logo no meio da pista! “Mano, como eu sou idiota!”
Juliana notou meu desespero e tentou me acalmar rapidamente.
Joey, relaxa, não precisa entrar em desespero - ela disse no meu ouvido. - Todo mundo viu vocês dois e, como eu já tinha de dito quando a gente se conheceu, eles aceitaram de boa. Agora, ta todo mundo indo embora, você e o Vini vem também, não é?
Troquei um olhar rápido com o Vinícius, meio que perguntando se ele também queria ir embora, e ele assentiu levemente com um sorriso. Então, ainda morrendo de vergonha, eu e ele acompanhamos Ju pra fora da boate.
A fila gigantesca que horas atrás esperava, impacientemente, agora havia desaparecido. No lugar deles, estavam Leonardo, Rodrigo, Vanessa, Isabella, Luíza, Roberto e aquela mesma garota que estava com Juliana e que eu ainda não conhecia. O que mais me chamou a atenção fora a ausência do Marcelo, mas resolvi me esquecer dele por um bom tempo.
Era estranho estar na frente deles agora, eu me sentia quase nu. Eles haviam visto eu ficando com o Vinícius, mas, mesmo assim, pareciam não se incomodar. O único que parecia estar um pouco incomodado, era Leonardo que evitava me olhar nos olhos… E foi isso o que mais mexeu comigo. O que será que ele estava pensando agora?
Então, galera, vamos embora? - Ju perguntou soltando um leve bocejo de cansaço.
Todo mundo pareceu concordar silenciosamente, mas foi Leonardo o único a se pronunciar.
Que ótimo, mas quem vai ir comigo e quem vai ir com a Ju? - ele perguntou ainda não olhando nem pra mim nem pro Vinícius, mas a pergunta pareceu direcionada especialmente pra nós.
Como eu tenho certeza que os novos pombinhos do grupo - Ju disse apontando pra mim e pro Vinícius - ainda vão ter muito tempo pra ficarem juntos, acho melhor Bruna, Vini, Luíza e Roberto virem comigo e o resto do pessoal, com você.
Como ninguém pareceu contestar a decisão da Ju, eu lancei um olhar de “Até mais tarde!” pro Vinícius e segui Bella pro carro do Léo.
Durante o trajeto de volta pra casa da Bella e do Léo, ninguém conversava muito… Todos pareciam estar exaustos. Vez ou outra, eu encontrava os olhos do Léo me observando pelo retrovisor central, mas ele rapidamente desviava o olhar. A simples ideia de nunca mais voltar a falar com o Leonardo, simplesmente porque eu era gay, me fazia sentir um calafrio no estômago. Eu já havia me conformado com a ideia de sermos somente amigos, e, aparentemente, nem isso nós íamos ser.
Alguma hora, durante o caminho, Bella havia dormido apoiada no meu ombro e fora muito difícil acorda-la quando finalmente chegamos. Depois de alguns básicos safanões, eu tinha conseguido fazê-la acordar e sair aos tropeços do carro. Vinícius já tinha saído do carro da Ju e estava do meu lado. Aparentemente, Luíza também havia dormido no trajeto até ali, pois seu cabelo estava todo amarrotado e seus olhos lacrimejavam, Roberto a abraçava por trás, friccionando os braços dela em uma tentativa de aquecê-la do frio da madrugada de São Paulo. Por um mínimo momento, eu desejei que o Vinícius fizesse o mesmo comigo, mas então me lembrei que o Leonardo ainda estava ali e eu não queria piorar ainda mais a minha situação com ele…
Rodrigo e Vanessa foram os primeiros a sair do carro e entrar na casa do Léo e da Bella, mas o restante de nós ainda estava na garagem tentando “
Por diversos motivos óbvios, que incluíam quantidades grotescas de álcool ingeridas por Luíza, era eu quem iria dirigir o carro dela até o nosso apartamento, mas, quando eu pedi a chave do carro, Bella se impôs no meio do caminho.
Aonde o senhor pensa que vai? - ela disse, de braços cruzados. Todo mundo pareceu se virar em nossa direção, sedentos por mais um barraco da Isabella naquela noite.
Como assim? Eu e Luíza vamos ir pro nosso apê - institui cautelosamente.
Até parece, Joey, já são quase cinco horas da manhã, vocês vão dormir aqui e ponto final!
Bella, nem comece com esse papo de “ponto final”, não. Eu e a Lu já abusamos de mais da hospitalidade sua e do seu irmão - falei tomando cuidado pra não olhar pro Leonardo, eu tinha certeza que ele estava me encarando agora. - E além do mais, todo mundo vai ir embora.
Ai que você se engana, meu filho. Até a Ju que mora a duas casas de distância vai dormir aqui em casa. Os únicos chatos que vão embora são os dois azes da conquista, aí - Bella disse, apontando pro Vinícius e pro Roberto com um sorriso malicioso.
Eu te disse, Bella, a gente tem que trabalhar amanhã, ou melhor, hoje cedo - Roberto disse com um bocejo enorme.
Só vai dar tempo de tomar um banho e correr pro escritório - completou Vinícius quase tão exausto quanto o amigo.
“Os dois haviam ficado na balada até aquela hora por mim e por Bella?” pensei, esboçando um leve sorriso. Leonardo se virou subitamente e adentrou sua casa, Juliana o seguiu após se despedir do Roberto e do Vinícius.
Enfim - Bella disse, ainda olhando pela porte por onde o irmão sumira, em seguida, voltou-se a Luiza e a mim. - Vocês ficam e ponto final!
Posteriormente a ter se despedido despedido das duas únicas pessoas que não iam acatar sua vontade, Isabella também entrou pela mesma porta que o irmão desaparecera segundos atrás.
Uns dez minutos mais tarde, Luíza e eu nos juntamos a Bella e Juliana que estavam praticamente sonambulando embora um dos sofás da sala de estar. Antes disso, nós dois havíamos nos despedido calorosamente dos nossos respectivos ficantes com promessas de, futuramente, um encontro duplo.
Deus, vocês quatro, hein! - Juliana disse impaciente e se levantando de uma vez só. Ela agia como se estivesse esperado por mim e Luíza - Eu tô indo pro meu quarto, buenas notches pra ocês!
Nós três lhe desejamos o mesmo e ela sumiu escada acima.
Ela tem um quarto só pra ela? - perguntei boquiaberto.
Minha mãe - Bella disse como se aquilo fosse a resposta pra todos os problemas da humanidade. - Quer dizer, Juliana passava tantas noites aqui em casa que a minha mãe deu um dos quartos de hóspedes pra ela.
Ah, claro, a coisa mais normal a se fazer, certo, Joey? - Luíza disse entre pesados bocejos e eu concordei com outro bocejo gigantesco.
Ai, galera, vamos dormir, vai. A gente ta quase capotando de tanto sono - Bella disse. - Joey, como um dos quartos de hóspedes ta em obras e, nos outros dois, a Ju e o Roberto e Vanessa já estão ocupando… Só sobrou você ir dormir no quarto do meu irmão. E eu já falei com ele, então, já ta tudo certo.
Quê?! - eu quase gritei e as duas me olharam, assustadas. - Quer dizer, não, Bella, não vai rolar. Eu durmo aqui no carpete da sala mesmo.
Ai, Joey, para de frescura, tem um sofá no quarto dele que da pra você dormir de boas.
Mesmo assim, melhor não. Eu não tenho essa intimidade com o seu irmão. E por que eu não posso dormir com a Ju? - perguntei convicto que tinha encontrado uma saída plausível.
A Juliana não divide a cama com ninguém, a não ser muito intimamente, se é que você me entende.
Eu abri e fechei a boca diversas vezes, tentando desesperadamente criar algum novo argumento, mas minha munição havia se consumido.
Então, com tudo resolvido é melhor nós irmos dormir, Lu… Lu? - Bella disse sem reparar que Luíza babava loucamente em um sono profundo se agarrando a uma das almofadas do sofá. Após alguns belisques, Luíza abriu os olhos e acompanhou Bella até seu quarto. No meio das escadas, ela gritou apontando pro corredor na sua frente: “O quarto dele é o segundo a direita nesse corredor! Boa noite!”.
Finalmente - depois te ter gastado mais uns dez minutos tentando impedir a mim mesmo de pegar o carro da Luíza e ir embora cantando os pneus loucamente - eu comecei a subir as escadas até o quarto do Leonardo.
“O que você acha que vai acontecer?” eu dizia pra mim mesmo. “Acha que ele vai começar a te xingar até a morte por não ter lhe contado que era gay? Bitch, please, ele já deve estar dormindo há muito tempo e nem vai notar sua chegada” disse uma pequena voz na minha cabeça que me confortou imensamente. Ela estava certa, a voz, claro que estava. Já faziam bons trinta minutos desde que chegáramos da boate, com certeza, ele já estaria dormindo profundamente.
Porém assim que eu girei a maçaneta lentamente, sem bater antes na madeira escura da porta, tentando não acordar Leonardo, e entrei no seu quarto, descobri que a Filha da Puta, e escrota, daquela pequena voz estava totalmente errada.
Leonardo estava acordado, assistindo a uma enorme televisão, como se estivesse me esperando chegar.
Um pequeno e mísero detalhe: a única roupa que o Leonardo vestia era um par de jeans surrados que ele usara pra ir à balada.
Bem… Eu tenho certeza de que vocês já devem ter lido diversas descrições sobre centenas de tanquinhos em homens diferentes, mas, acreditem quando eu digo, nada se comparava àquela visão que se projetava na minha frente. Leonardo possuía aquele tipo de corpo que todas as pessoas, quando viam fotos na internet, dizem automaticamente “PURO FÓTOXÓPÊ”.
O abdômen dele era totalmente definido, gomo à gomo, mas não daquele jeito repleto de veias sobressaltadas, não! Eram gomos totalmente precisos e suaves em sua pele branca. Ele não tinha muitos pelos também… Só alguns que se projetavam desde o umbigo até dentro das calças (mais conhecido como a maçã do Éden, ou o caminho da perdição). Seus braços tinham um volume perfeito. Assim como o peitoral, esculpido à maestria! Mas, é claro, pra fechar o pacote, um rosto lindo de morrer combinado aquelas orbes verdes hipnotizastes e o cabelo negro.
Tive que me concentrar infinitamente pra não gozar na minha cueca somente tendo um relance aquela cena. Porém, a minha ereção fora inevitável.
Então, com um milagre, eu conseguira me recompor um pouco.
Me-me-me desculpe! - balbuciei, começando a fechar a porta entre nós, pois não tinha conseguido romper o contato visual diretamente.
Não tem problema - ele disse, se levantando e indo até mim, me convidando a entrar com um gesto de mão. Eu obedeci e ele fechou a porta às minhas costas.
Agradeceria infinitamente se ele não tivesse chegado tão perto de mim. Eu ainda estava totalmente ereto, e, só pra ajudar, pude sentir o perfume que exalava do seu corpo. Os aromas eram tão inebriantes quanto seu corpo: amadeirado, mas com um leve toque de doçura, balanceada com um fundo cítrico.
- Eu vou tomar um banho - ele disse, pegando uma toalha de dentro de um guarda-roupas a minha direita. - Você vai dormir na minha cama, eu já preparei o sofá pra eu dormir.
- Não, Leonardo, eu durmo no sofá não precisa...
-Não foi uma pergunta, João, foi só um aviso.
Ele tinha dito aquelas últimas palavras tão odiosamente, que por uma fração de segundo, eu pensei que quem estava na minha frente era o Marcelo e não o Leonardo, a cara que tinha sido legal comigo desde o momento que o conhecera.
Então, sem dizer mais nada, ele se virou e foi tomar seu banho.
Todo o tesão, todo o carinho que eu sentia por Leonardo pareceu se esvair, como ar em uma bexiga estourada. Realmente, Leonardo não tinha sido tão “mente aberta” quanto Juliana tinha me prometido. Nem perto disso.
Agora, ele parecia me odiar tão intensamente como Marcelo. Talvez até pior, ele parecia me enojar…
Eu me sentia tão magoado, tão desamparado, que simplesmente fiz a primeira coisa que pude pensar pra me afastar o mais longe possível dele. Agarrei um travesseiro de cima de sua cama e um dos edredons ali estavam. Desci as escadas, pulando os degraus de três em tês. Me encolhi no mesmo sofá que Luíza cochilara mais cedo, me abraçando ao travesseiro macio e a ao edredom que me proporcionava um falso sentimento de conforto.
Dessa vez, eu iria realmente esquecer do Leonardo, era uma promessa feita a mim mesmo.
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