Cap.1
Para minha família, parecia tudo estar desmoronando. Eu era apenas criança, não sabia e nem entendia nada. Mas eu sabia, algo de ruim acontecia.
- Como assim as suas ações despencaram ?- minha mãe Natália estava pálida.
- Caíram. A outra empresa está em alta, como nunca antes. Sinto muito meu amor, mas nós teremos que sair dessa casa. O custo aqui é muito alto. Temos que aceitar a realidade, nós estamos pobres- meu pai Edson, afirmava, vermelho. Para os adultos, era um problemão. Pra mim, não significava nada.
NARRADO POR EDSON
Eu já havia pensado em tudo. E não consegui achar nenhuma solução que pudesse nos tirar daquela situação. Eu evitei ao máximo que isso acontecesse, mas não teve jeito. Eu perdi toda a nossa fortuna. Perdi o futuro do meu filho, ganhei uma culpa interminável. Tivemos que nos mudar pro subúrbio. Vendemos nossa mansão, e todo o dinheiro eu coloquei numa poupança. Compramos uma casa, e lá fomos morar. O que mais me doía era saber que meu filho talvez não pudesse fazer a melhor faculdade do mundo. Nem ter dinheiro pra conhecer o mundo. Sim, pra mim, todo o futuro dele dependia do dinheiro.
- Como eu fui deixar isso acontecer ?- me perguntava, olhando pro horizonte- eu devia ter sido mais presente na empresa. Ter deixado tudo nas mãos de amadores dá nisso- comecei a chorar. Coloquei minhas mãos em meus rostos, como forma de esconder minha frustração. Foi quando senti uma mão em meu ombro.
- Edson Martínez- me virei e vi um homem, bem vestido e bem afeiçoado, de terno, parecia ser empresário.
- Sim, sou eu- falei, limpando os meus olhos.
- Já soube do que aconteceu com você- abaixei a cabeça.
- Todos souberam. Quem é você ?
- Me chamo Marco Batista- imediatamente aquele nome veio na minha cabeça.
- Batista ?- me assustei- por acaso não seria da empresas Batista, as empresas de automóveis ?
- Sim, sou eu mesmo- como todo empresário, aquele homem tinha um olhar cínico, e isso me assustava.
- O que você quer comigo ?- me sentei no banco da praça, ele sentou do meu lado.
- Eu tenho um jeito de te tirar desse buraco- me enchi de esperanças.
- Como ?
- É uma proposta que talvez você não goste.
- Fale, fale logo, acho que eu faria qualquer coisa pra recuperar o que perdi- ele suspirou, e sorriu.
- Você tem um filho né ?
- Sim. Tenho um filho de 6 anos, mas o que ele tem a ver com isso ?
- Eu também tenho um. Tem a mesma idade.
- Podemos ir direto ao ponto ?- falei, curto e grosso
- Sim. É que, eu gostaria que você prometesse o seu filho ao meu.
- Prometer ?- fiquei voando no início, mas logo entendi- você quer dizer, noiva-los ?
- Sim- me assustei- caso aceite, darei a você o cargo de vice presidente da minha empresa, e você vai poder recuperar todo o prestígio- puxa, vice presidente. Cheguei a gaguejar
- M-mas porque você está querendo isso ? Porque quer que eles se noivem ? Isso é esquisito demais. Nós nem sabemos se eles são gays. E se eles não gostarem um do outro.
- Bem. Parece louco, mais não é. Pra ele ser meu sucessor, ele precisar estar casado.
- Mas, não seria melhor deixar ele escolher sozinho ?
- Não. Não pode ser qualquer pessoa.
- Mas porque o meu filho ? Eles são homens, você acha isso certo ?- ele riu
- Homens são menos complicados, por isso acho que o seu filho é perfeito. Ele é um garoto bonito, bem educado, e é homem- um silêncio reinou por alguns segundos- e ai, o que me diz ?- agi por impulso
- Que proposta mais descabida. É óbvio que não. Não casarei meu filho com ninguém pra obter dinheiro- sai batendo perna. Pensava que essa seria a minha palavra final. Pensava. Mas de tanto pensar, acabei mudando de ideia. Pensei não só em nós, mas nele também. Casar com um filho dos Batista seria ótimo, ele teria um futuro garantido, e com certeza o garoto seria um ótimo partido- alô ?- liguei pra Marco
- Edson, a que devo a ligação ?
- Bem. Eu pensei melhor, e decidi aceitar a proposta que você me fez- ele riu.
- Sabia que aceitaria. Venha a minha casa e traga o seu filho. Deixemos que eles se conheçam- meu filho e eu fomos lá na casa dele. Era um mansão não muito diferente da minha antiga. Paramos em frente, e fomos entrando. Diversos seguranças protegiam. Logo entramos. Lentamente fomos andando por aquela casa, super bem decorada.
- Papai, como é bonito aqui !- dizia ele. Logo entramos na sala. A primeira coisa que vimos foi uma criança bonita, loira, branca, e de olhos verdes, brincando com um carrinho. Marco se aproximou, e falou com o filho.
- Cadu, levanta filho- o garoto prontamente levantou. Olhou primeiro pra mim, e depois pra meu filho. Eles trocaram sorrisos- esse é o Sr . Bruno, e este é o filho dele.
- Prazer senhor- ele falou, tímido.
- Olha, você tem esse carrinho azul- meu filho se abaixou pra ver.
- Sim, você quer brincar lá fora.
- Humrum- eles saíram correndo em seguida. Olhei para Marco, ele sorria.
- Parece que eles se entenderam bem- sorri.
- Pois é
- Então você decidiu aceitar a proposta.
- Sim, mesmo com dor no coração. Seu filho parece ser um bom garoto, e o meu filho precisa ter um bom futuro. Assim, Gabriel terá um.
TEMPO DEPOIS
NARRADO POR GABRIEL
- Aaaaaandaaaa Gabriel, levanta- adivinha quem era.
- Não Cadu, me deixa dormir- ele tentou me empurrar, mas teve êxito
- Você sabe que dia é hoje ?
- Quinta ?- falei, olhando com apenas um olho pra ele.
- Não. Hoje é sábado, dia 16. Dia de lançamento do nosso livro favorito. Nós não podemos nos atrasar, vamos- com muita dificuldade me levantei.
- Tá. Eu vou com você- arrastando-me, fui até o banheiro. O lençol caiu, revelando o meu corpo. Entrei no banheiro e me olhei no espelho. Eu podia dizer que era bonito. Tinha um corpo bom, pele branca, olhos castanhos, e cabelos pretos, lisos, que insistiam em ficar sobre o meu olho. Logo tomei um banho, com aquela água hiper gelada. Aquele que estava lá fora é o meu melhor amigo, Cadu. Posso dizer que é amizade a primeira vista, pois desde o primeiro momento que nos vimos somos amigos. Parece que somos interligados, pois gostamos das mesmas coisas, temos a mesma idade, dentre outras várias coincidências.
TEMPO DEPOIS
Estávamos tomando café
- Sr.Martinez, seus sanduíches estão ótimos- dizia ele, com aquele sorriso conquistador. Ele tinha o costume de dormir na minha casa, então era como se ela fosse dele também.
- Obrigada Cadu- senti um tapa na minha nuca- porque você não me elogia assim ?- apenas ri
- Mãe, você sabe que eles estão deliciosos, e sabe também que Cadu é um puxa saco de primeira- rimos. Ia terminar de comer, mas Cadu me puxou.
- Estamos atrasados, vamos logo- ele saiu todo afobado. Dei um beijo na minha mãe e sai.
TEMPO DEPOIS
Estava hiper cansado, escorado no muro de casa.
- Ai meu deus, nunca fiquei tanto tempo em pé- dizia eu- tô morrendo de dor nas pernas- ele me puxou.
- Anda, deixa de ser mole e vamos logo, sua mãe fez bolo- disse ele, com aquele olhar de guloso. Chegamos perto da porta, mas eu parei, pois ouvi uma conversa suspeita.
- Chegou a hora, eles precisam saber- era a voz de Marco, o pai de Cadu.
- O que foi ? - ele perguntou
- Faz silêncio caramba- continuei escutando.
- Só não sei como eles vão reagir, quando descobrirem que terão que se casar. Nem Cadu, nem Gabriel estão preparados pra isso- esse era meu pai. Abri a porta de uma vez.
- Como assim, casar com quem ?
Continua
Gostaram ???