Carlos almoçou conosco, contando as novidades da cidade e sobre a Suiça e o sanatorio. Mais tranquilo, talvez momentaneamente conformado, Fernando interagia com ele, quase alegre, fazendo perguntas e observaçoes. Vez ou outra, entretanto, eu flagrava nele um olhar de enlevo ao fitar o outro, mas era um tipo de encantamento triste, como o canto de um cisne para aquele amor frustrado que infelizmente se abatera sobre ele.
Passeamos pelo sitio no's tres e no pomar Fernando ia apanhando acerolas e goiabas para Carlos levar, colocando tudo num saco de pano. Vinha um pouco atras de nos, seguido pela gata e dois dos filhotes. Arregaçava as mangas do sueter listrado e colhia com destreza as frutas, as vezes subindo nas arvores com aquela habilidade de indio que eu vi surgir na nossa infancia.
- Voce volta, nao? -perguntei a Carlos em voz baixa - Temos os domingos livres aqui.
- Gostei de vir - ele sorriu, olhando em volta - Lugar bastante aprazivel, panorama e clima ideais... Uma pena ser tao longe da capital. Mas volto, claro.
- Bom saber disso .A sua amizade tem se mostrado muito importante, e para ele ainda mais - fitei -o por um momento - Nao tire isso dele, Carlos. Eu sei que ele gosta de voce, e acho que vai gostar por muito tempo, mesmo estando comigo e me amando...Portanto, se a sua presença e amizade, o maximo que ele pode ter de voce, deixa -o feliz, nao quero priva -lo disso.
Carlos nao me encarou, constrangido de repente. Bateu um vento frio à sombra das arvores do pomar e ele fechou a jaqueta, enfiando as maos nos bolsos. Olhou para tras rapidamente, para Fernando embrenhado na copa duma goiabeira alta.
- Eu nao gosto dele, Reinaldo, nao desse jeito - murmurou.
- Eu sei. Se soubesse que voce o enxerga de outro jeito nao estariamos tendo essa conversa e desejaria que nos deixasse em paz. Caso eu nao vencesse o amor que os uniria, abriria mao de Fernando, mesmo morrendo por dentro. Se isso o fizesse feliz,faria, mas lutaria antes. Contudo, Carlos, ha muito estou convencido que voce nao corresponde a essa molecagem dele e quero, entao, que ele fique feliz na medida do possivel, com sua companhia eventual.
- Estranho que tolere isso - ele deu um sorriso ironico - Mostra que confia em mim.
- E tenho razoes para desconfiar? - contive uma risada - Antes, talvez. Mas nao agora. Ou quem sabe eu nao tenha vocaçao para idiota e corno?
- Sem chances - ele riu - Nao de minha parte, garanto. Sabe, a Carolina tem vindo me visitar toda semana, desde que regressei. Nao me sinto ainda apaixonado, porem...estou perto.
- Mesmo? -encarei -o com um sorriso, percebendo que Fernando tinha descido da arvore, num pulo certeiro como de gato - Olha, nao deixe que ele saiba disso. Vai ficar muito triste e nao quero ve -lo assim.
- Esta certo.- ele concordou em voz baixa.
Afinal, perto das quatro horas da tarde Carlos se preparou para ir embora. Guardou o saco com frutas no bagageiro da moto, calçou as luvas, se despediu de mim com um abraço e outra vez tentei falar na nossa divida com ele, mas fui calado por um gesto impaciente :
- Ja disse. Nao pense nisso agora - falou.
Fernando nao chorava, mas fitava -o com um ar doloroso, amassando nos dedos, distraido, uma folha de eucalipto. De subito, quando Carlos o olhou, pronto a partir, ele nao aguentou: se adiantou e o abraçou com toda a força, com uma mao acariciando os cabelos do outro. Depois o beijou no rosto, fazendo Carlos corar e meu estomago se revirar por um momento.
- Volta logo, por favor - murmurou Fernando o olhando.
- Claro -ele sorriu, me olhou, subiu na moto pondo o quepe e os oculos - Ate mais, amigos!
Deu partida e se foi, saudando -nos à distancia. Ficamos olhando ate que sumisse de vista e entao voltamos para casa. Fernando sentou -se no degrau de pedra da varanda e ficou quieto, olhando a tarde começar a cair, triste como ele. Tomei lugar ao seu lado e o puxei para mim, encostando -me na pilastra e o envolvendo com um braço.
- Canta pra mim - ele pediu num sussurro - Sinto falta dos nossos discos.
- Cantar o que? Nao sei ingles, nao - ri baixinho beijando seus cabelos.
- O que voce quiser.
Puxando um pouco da memoria, comecei em voz baixa o "Esses Moços", do Francisco Alves :
Esses moços, pobres moços
Ah, se soubessem o que eu sei
Nao amavam, nao passavam
Aquilo que ja passei
Achei estranho que a letra parecia falar a nos, em particular, mas prossegui e Fernando nao reclamou.
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Mil perdoes pela errata (de novo) .
Adoro seus comentarios, seus fofos e lindos! Comentem mesmo! Ate o proximo!
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momento.
- Volta logo, por favor - disse Fernando, o soltando.
- Claro! - ele sorriu, me olhou, subiu na moto pondo o quepe e os oculos - Ate mais, amigos!
Deu partida e se foi, saudando -nos à distancia. Ficamos olhando ate que sumisse de vista e entao voltamos para casa, em silencio. Fernando sentou -see nos degraus de pedra da varanda e ficou quieto, olhando a tarde com