Cap.11
Aos poucos nossa vida se ajeitou mais um pouco. Mariano conseguiu um bom emprego, e eu continuava trabalhando na editora. Nossa vida foi se ajeitando. Cada vez éramos mais felizes. Ele me apresentou a todos da família, como namorado. Eles me trataram muito bem, e foram extremamente cordiais comigo. Me apresentou aos seus amigos, a todos os que eram importantes pra ele. Cada vez mais eu sabia que realmente, ele iria querer relacionamento sério e duradouro. E eu estava hiper feliz com isso.
TEMPO DEPOIS
Estávamos no supermercado, fazendo nossas compras.
- Você pegou o leite Mariano ?- dizia eu, olhando os chocolates.
- Tá aqui- dizia ele, aparecendo com quatro caixas- oba, chocolate. Vamos levar esse daqui- disse ele, apontando pra o azul. Coloquei no carrinho e já ia seguir andando, quando vi uma cena que me enraiveceu.
- Tio, leva esse pra mim ?- um garotinho branco, de cabelos pretos, magro, olhos pretos, muito lindinho, aparentando ter uns 6 anos, puxava a camisa do tio, pedindo chocolate.
- Já disse que não, seu moleque chato !- do nada o homem desfere um tapa no rosto branco do garoto, que com a força cai no chão, e começa a chorar- para de chorar, homem não chora !- disse ele, puxando os cabelos do garoto e o arrastando. Imediatamente me meti.
- Ei, o que você está fazendo ?- disse, puxando delicadamente o garoto das mãos dele- tua mãe te tratou assim por acaso ?- ele olhou feio pra mim.
- Não se mete nisso, não é da sua conta seu moleque- tentou me bater também, mas antes disso Mariano apareceu, voando em cima do homem e o imobilizando.
- Se você ousar botar um dedo num fio de cabelo do meu namorado, eu acabo com sua raça, velho antipático- desferiu um tapa bem forte no rosto do homem, que não reagiu pois estava amarrado- liga pra polícia Gui, vou denunciar esse homem por maus tratos- a aquela altura uma multidão de pessoas estavam ao redor. Ouvimos logo uma voz feminina.
- Não precisa, eu ouvi e vi tudo- ela era policial- Você está preso !- disse, puxando o homem. Antes eu falei umas coisas na cara dele.
- Fique você sabendo que sim, é da minha conta, eu nunca deixaria uma criança ser maltratada na minha frente. Espero que você apodreça na cadeia por bater num garoto tão indefeso que nada fez pra você !- ele olhou ainda mais feio pra mim, seus olhos estavam vermelhos.
- Eu vou pegar vocês, seus viados !- disse ele, sendo arrastado pela policial. Botei a mão na cabeça, me lembrando imediatamente do garoto. Olhei ao redor, e vi ele bem no canto, com a cabeça entre as pernas, chorando. Fui até ele rapidamente, e me ajoelhei a sua frente.
- Ei, tá tudo bem agora- o cutuquei. Ele ergueu lentamente o olhar. Talvez por instinto, se afastou- Calma, eu não vou fazer mal a você- limpei seus olhos lentamente. Meu coração doía vendo a tristeza daquele garotinho- qual é o seu nome ?- ele não me respondeu. Apenas me abraçou, fortemente, como se nunca tivesse abraçado ninguém antes. O abracei também.
- Ele me bate muito- ele disse, entre soluços.
- Ele é seu pai ?- ele se soltou lentamente de mim.
- Não. Meus pais morreram em um acidente de carro. O único familiar que aceitou ficar comigo foi ele. Mas eu não gosto dele. Ele nunca compra nada pra mim, não me dá brinquedos, só me bate muito, olha as marcas- disse ele, levantando levemente a camisa e mostrando diversas marcas roxas pelo corpo. Aquele menino era espancado ! Fiquei horrorizado. Olhei pro lado, Mariano estava tão espantado quanto eu- Você...- ele lentamente parava de chorar- promete que ele não vai mais me bater- deixei uma lágrima cair.
- Sim meu lindo, prometo- limpei meus olhos e os dele- olha, eu me chamo Guilherme, e ele é Mariano. Qual é o seu nome ?
- Felipe- sorri.
- Felipe, que nome lindo !- o peguei no colo- Você quer chocolate ?- disse, pegando uma barra e dando pra ele- pode comer tudo- beijei seu rosto, ligeiramente molhado pelas lágrimas. Meus sentimentos paternais haviam aflorado. Logo a policial voltou.
- Precisamos ir todos pra delegacia- ela disse, olhando pra Mariano e nós.
- Claro, vocês vão na frente e nós vamos atrás- ele me abraçou, fortemente de novo- deixa que eu levo ele.
- Tudo bem- pagamos as nossas compras e seguimos para o carro. O coloquei no banco de trás, e logo em seguida botamos o cinto- olha, a gente vai num lugar bem chato agora, mas é necessário que a gente vá, pra que seu tio mal não chegue nem perto de você- ele balançou a cabeça. Entramos no carro e seguimos até a delegacia.
TEMPO DEPOIS
Peguei na mão de Felipe e de Mariano e nós fomos na delegacia. O primeiro a prestar depoimento fui eu.
- Bem, eu estava fazendo as minhas compras naquele supermercado, quando vi aquele homem e o garoto. O garoto, pediu chocolate pra ele, e ele disse não, me seguida deu um tapa forte no garoto, que o jogou no chão. Puxou ele pelos cabelos, e foi aí que eu interferi. Puxei o garoto das mãos dele, e ele tentou me bater, mas o Mariano chegou antes e o imobilizou. E logo depois vocês chegaram.
NARRADO POR FELIPE
- Meu tio é uma pessoa muito má. Ele me bate por nada, nunca me dá nada. Desde que meus pais morreram, só tenho ele pra cuidar de mim. Mas eu não quero mais ficar com ele. Ele já queimou minha mão com uma moeda, já me fez alisar ele, eu não quero mais ficar com ele !
NARRADO POR GUILHERME
Logo liberaram Felipe novamente e ele me abraçou de novo.
- Calma Felipe, vai ficar tudo bem agora- o deixei sentado e fui ver o que iria acontecer com ele- para onde ele vai ?- a policial respondeu
- Para um abrigo. Você pode visita-lo sempre- voltei e me ajoelhei a frente dele.
- Felipe, você vai pra um outro lugar- ele olhou pra mim, confuso.
- Eu não posso ir com você tio ?- olhei pra Mariano, com um aperto no coração.
- Não. Mas você vai pra um lugar legal, vai ter outras crianças lá, você pode brincar com elas.
- Mas tio ?
- Eu vou te visitar sempre lá, prometo- decidi ir embora, ou acabaria raptando ele. Mas antes, ele me perguntou algo.
- Tio, você e o Mariano são namorados ?- arregalei os olhos.
- Sim meu lindo, porque ?
- Bem, é que eu pensava que só namoravam homens e mulheres. Quer dizer, minha mãe até havia me dito que homem também namorava com homem, mas eu nunca conheci ninguém- sorri.
- Não filho. No mundo tem homem que gosta de homem e mulher que gosta de mulher. Mas você é muito novo pra entender isso- ele cruzou os braços.
- Não sou não. Eu entendo muito bem. Vocês se amam né ?- olhei pra Mariano, ele sorria- minha mãe sempre dizia que um casal, não importa se é de homens ou de mulheres, só ficam juntos por amor.
- Sim, meu lindo, eu e ele nos amamos- ele sorriu.
- Eba, assim é legal, eu vou ter dois tios pra jogar bola comigo- ai que fofo. Meu coração se apertava ainda mais.
- Pode deixar campeão, mas nós teremos que ensinar esse perna de pau a jogar bola, ele não joga nada- Mariano dizia, no ouvido dele, fazendo ele rir.
- Ei, eu tô aqui- rimos. Logo fomos embora. Ao entrar no carro, minha cabeça quase explode. Respirei fundo- pensei em adotar ele.
- Eu também- Mariano falou- acho que um filho faria muito bem pra nós.
Continua
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