À Terra que há de sentir e acalentar os meus ossos, dedico estas saudosas lembranças.
- CAPÍTULO PRIMEIRO.
Eu me postava paralelo ao “chão”. Palavra empregada em acepção literal e figurada, depositada em minha mão esquerda, uma felicitação pelo meu não-glorioso dia:
“Tudo mega bom, giga bom, tera bom, uma alegria excelsa pra você. ¹ Parabéns.”
Acresce que chovia. Este ar sombrio, dramático, e estas gotas do céu, tudo isso lhes faz pensar – “Todo este infortúnio por uma simplória mensagem?” – que não havia nada demais, porém havia, e eu hei de ser infeliz por toda a minha vida. De maneira soturna terminava a mensagem:
“Obs.: A dádiva atribuída a você será se livrar de mim, desculpe-me, porém não encontrei melhor maneira de lhe dizer que estarás livre a partir de hoje, seja feliz.”
Arrrggh! “Melhor maneira”? Como ele pôde de forma tão infeliz simplesmente dizer-me que acabou? Ele realmente usou uma música e ainda fez disso referência para escrever minhas felicitações? Não poderia ter escolhido outro dia, deveria ser no meu aniversário? Ele já havia planejado tudo!? Estes e outros milhões de questionamentos permeavam os meus devaneios.
Infeliz, miserável... Este era eu, no dia que supostamente deveria estar feliz, completando meus tão sonhados 17 anos. Porém não aconteceu como eu imaginava, após este momento “eu, meu eu, eu, eu” desfiz-me do passado, que ainda postava-se tão presente.
1 (UMA) SEMANA DEPOIS.
...Querido, – é muito clichê referir-se ao próprio diário como querido? –, melhor, Caro Diário,
Sobre a minha cabeça hoje: azuis céus, onde brevemente sobre a minha cabeça as estrelas irão fazer morada, o silêncio está cada vez mais gritante, a dor fincou o estandarte² no meu peito e ainda se faz presente. No momento estou ouvindo Cajuína, de Caetano. “Existirmos, a que será que se destina?” ³, a vida nos reserva tantas coisas, nos destina a tantas coisas... O que ela há de preparar para mim? Não posso responder-me agora, tampouco depois, é simplesmente um paradoxo.
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¹ VELOSO, Caetano. Abraçaço: Trecho de 'Parabéns', 2012.
² Estandarte: espécime de bandeira.
³ VELOSO, Caetano. Cinema Transcendental: Trecho de 'Cajuína', 1979.