Tony era um homem de presença, isso era claro. Alto e forte, de cabelos muito pretos, olhos verdes, sem barba, vestia -se com roupas de marcas caras, relogio e um escapulario de ouro. Soube que tinha vinte e dois anos, estudava administraçao de empresas e era o filho do meio dum empresario ali da capital. Praticava boxe nas horas vagas.
Ele tinha um tipo de magnetismo que atraia imediatamente a atençao das pessoas ali presentes. Quando falava, todos se calavam para ouvi -lo. Se opinava sobre algo, todos ficavam por um momento refletindo sobre seu ponto de vista antes de expor o proprio. E ele sorria, superior, como se soubesse de seu poder de bruxo, enfeitiçando por onde passava.
Eu o achei muito bonito, e fiquei pensando na sorte de Mauro em te-lo consigo. Meu amigo, por ser um rapaz bastante belo e bem de vida, nao parava com namorado nenhum, mas parecia fascinado por Tony. Nunca o vi tao apaixonado assim.
Comemos a pizza, conversando sempre. Eu recusei o conhaque porque nao gostava e Vitor provou um pouquinho, para nao fazer desfeita. Ele se levantou para colocar um LP na vitrola e animar a noite que esfriava. Começou a tocar New Order, e era "Bizarre Love Triangle ", a musica do momento.
- Adoro essa musica! - falei sorrindo.
Tony cravou em mim aquele olhar enviesado, baixo e fixo como o de um assassino. Percebendo que Vitor e Mauro se serviam de mais pizza, ele circulou a ponta da lingua sobre os labios, me olhando. Meu rosto queimou na hora e parei de encara -lo.
No meio da noite Tony retirou do bolso do jeans um saquinho pequeno e transparente, contendo um pozinho branco. Tirou da carteira uma gilete, tambem.
- Estao servidos? - falou.
- Dispenso - disse Vitor, chocado - E o Marcos tambem. Se nao se importa, pode fazer isso no banheiro. Ali, na segunda porta.
Tony se levantou com um sorriso cinico, trancando -se no banheiro. Notei que Mauro ficou envergonhado, sem saber o que falar, mas Vitor nao o perdoou.
- Como voce me traz esse viciado para minha casa, Mauro?
- Ele nao esta viciado!
Mauro era docil e timido. Muito branco, de um louro desbotado, tinha um temperamento delicado, realçado pela voz anasalada e os gestos eventualmente afeminados. Foi meu primeiro amigo na faculdade, e o responsavel por me unir a Vitor.
- Nao esta? - retrucou Vitor - E usa cocaina na casa dos outros?
- Que careta voce esta ficando, Vitor! - disse Mauro com um tom de irritaçao e desprezo.
- Nao me diga que voce tambem esta enfiando essa merda no nariz, cara!
Nosso amigo corou, gaguejando, porem nesse momento Tony voltou à sala, sentou -se no seu lugar e nos olhou com aquele ar superior dele.
- O que foi?
Ninguem respondeu nada e Vitor saiu para a cozinha, pisando duro, irritado. Tony riu consigo, e logo começou a falar em passarmos o final de semana na casa de praia em Ilhabela. Seria uma boa escapar da vida corrida, à beira -mar. Manifestei vontade de ir.
- Convença o Vitor - me disse Mauro.
Mas ele proprio falou com o ruivo a respeito daquele passeio, na hora em que ficamos na sacada do apartamento com a luz apagada, admirando a vista da cidade iluminada, ainda coberta de garoa. Eu me apoiava no parapeito, tomando chuvisco na cara.
- Linda essa vista - falei, respirando fundo.
- Lindo voce - disse Tony baixinho no meu ouvido, soprando meu pescoço.
Nao falei coisa alguma, espantado com aquilo. Na escuridao em que estavamos, ele capturou minha mao e a levou ate o proprio penis, por cima da calça. Tentei me soltar, mas ele segurou com força, me fazendo juntar todo o volume farto e quente. Respirei fundo, tremendo.
- Sua boca deve ser uma delicia - disse ele mais baixo ainda.
Me esquivei, suando frio de repente. Ouvi que Mauro convencera Vitor, e quando voltamos para dentro e o casal se despediu de nos, o ruivo quis saber se eu queria ir à Ilhabela com os rapazes.
- Eu... -respondi, ainda meio aturdido - Vamos, sim. Eu quero ir.
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Obrigada, gente! Sugiro que leiam ouvindo Bizarre Love Triangle, do New Order *-*
Desculpem o capitulo curto.