Só nós conhecemos (2° temporada) - Parte VII

Um conto erótico de Cesar
Categoria: Homossexual
Contém 5611 palavras
Data: 23/11/2014 11:28:59
Assuntos: Gay, Homossexual

E aí pessoal, tudo bem com vocês? Como de costume, vamos aos recadinhos da semana.

Primeiro eu gostaria de pedir desculpas por ter ficado uma semana sem postar, vocês terão que ter um bocadinho de paciência comigo pois eu ainda tenho mais um vestibular esse mês (sem contar as segundas fases), mas eu deixo aqui como promessa (e pode me cobrar) que eu terminarei essa temporada até o fim do ano.

Sobre a galera do e-mail e do whatsapp. Depois do meu desempenho em algumas provas eu percebi que a vida não é tão fácil assim e eu não estou conseguindo responder TODOS vocês pois eu ainda tenho que estudar. O fato é que eu acho injusto responder um e não responder os outros, pois aqui é tudo na base da igualdade e fraternidade. Então relaxem que eu vou pensar em alguma coisa a respeito disso. E deixo claro que não é má vontade minha não responder vocês, pensem comigo, quem preferiria estar lendo "Memórias Póstumas de Brás Cuba" ao invés de estar conversando com um monte de gatinhos por aí???

Agora vamos aos comentários do último capítulo e eu agradeço a todos que ainda comentam (vocês são os melhores)

"Hiou" - Acho que eu perdi essa discussão sobre sorvete de flocos (ECAAA) kkkkk muito obrigado e um beijão para você <3

"Biel Evans " - pode deixar Biel que é mais fácil vocês me abandonarem do que eu abandonar vocês *-* Valeu pela força e obrigado por tudo! Beijão pra ti <3

"Geomateus" - Obrigado cara ! Você é 10 ! Beijão pra você :DVII- Aleluia

Abri os olhos e acordei aos poucos. Um resquício de luz entrava pela janela do meu quarto e invadia minha visão. Estiquei meu braço até o criado-mudo e peguei meu celular para ver as horas. Faltavam dez minutos ainda para o alarme despertar e aos poucos eu comecei a me perguntar se aquilo não era um sonho.

Jamais na minha vida eu tinha desperdiçado dez minutos de sono assim por nada. Desprogramei o alarme do celular e sentei na beira da cama. Mais uma vez me surpreendi comigo mesmo pois geralmente eu saía da cama rolando pelo chão do quarto até eu conseguir acordar. Mas dessa vez uma energia diferente tinha tomado conta de mim, pelo menos naquela manhã.

Vesti uma calça jeans que estava jogada em cima da cadeira e enquanto eu procurava a minha camisa de escola algo me rouba a atenção.Olhei para a janela e a luz do sol agora já radiava mais forte e pelas frestas da janela ela iluminava metade do meu quarto, deixando ele laranja.

Aos poucos eu fui indo em direção até a janela e com a maior vontade do mundo eu a abri. Quase perdi a visão de tanta luz entrando em meus olhos mas continuei observando. Um vento gostoso soprava em meu rosto causando uma sensação de leveza, como se eu estivesse voando por aí. Ergui a cabeça para o alto e avistei o céu mais lindo que eu já tive o prazer de ver. Um azul claro com algumas nuvens branquinhas. Tudo deixava transparecer alegria e felicidade.

Pensei na minha vida e em como eu era feliz. Esqueci dos problemas idiotas como: Rodrigo me enchendo o saco para se assumir, o jogo das semi-finais, notas de escola... Comecei a pensar nas coisas boas e como eu era sortudo por me sentir vivo, fazer parte de tudo aquilo.

A sensação de agradecer a alguém por aquilo tudo tomou conta de mim e fez com que eu olhasse para o alto e pensar um pouquinho em Deus. Por fim, antes de perceber que eu já estava atrasado, sussurrei baixinho para mim mesmo:

- Obrigado por tudo, não sei se você está me escutando mas... muito obrigado.

Vesti minha camisa e com uma energia renovada eu fui para a aula.

...

O dia tinha sido bom pelo menos até um ponto, mas a vida não é sempre alegria e paz, principalmente a minha.

Cheguei em casa mais cedo do que o normal. Decidimos descansar um pouco dos treinos para focar em estudos e tudo mais pois já era o último bimestre e algumas pessoas (como eu) teriam que transar com certas professoras para não reprovar em algumas matérias.

Virei a esquina de casa e reconheci o carro que estava parado na calçada de casa. Fui correndo na direção de Pietro para poder cumprimenta-lo mas minha animação foi diminuindo pois ele estava ao lado do seu "amigo" Guto. Pietro tinha voltado a se vestir como se estivesse em Paris. Eu até descreveria como ele estava vestido para vocês mais eu não sei a diferença entre camisa e camiseta então vamos em frente né. Ele me avistou e desceu do carro para me cumprimentar. Guto também veio atrás.

- E aí Cesar, quanto tempo - ele disse me dando um abraço.

- Nossa cara, faz uns meses já que não se vemos né ? - eu disse

Estendi a mão pra o Guto e ele tratou de me cumprimentar quase quebrando meus ossos da mão.

- Bom te ver cara ! - Ele disse com sua voz grossa.

Com lágrimas saindo pelo meus olhos eu soltei sua mão e disse umas palavras meio sem sentido enquanto eu tentava não demonstrar a dor que eu sentia.

- Mas me conta aí... - Pietro disse - Fiquei sabendo que você foi parar no hospital de novo...

Contei o incidente do escorpião para eles que me olhavam como se eu fosse um mutante ou algo do tipo.

- Não foi nada de mais - eu finalizei - mas me conta você agora... o que andou fazendo por esse tempo aí ?

Pietro ficou em silêncio por um tempo e olhou para o Guto que acenou de cara feia para ele.

- Bem - Pietro começou a falar - eu e o Guto estamos namorando e morando junto!

Não era nenhuma surpresa. Os dois eram lindos juntos e perfeitos um para o outro mas acontece que nenhum deles sabia ser discreto. Guto se interessou pelo seu sapato e ficou de cara abaixada esperando, penso eu, algum tipo de julgamento da minha parte. Pietro me olhava com cara de bobo, mas sem perder a pose de garotinho criado pela vó.

- Que legal !!! - eu disse fingindo surpresa - faz quanto tempo já ?

- Faz um mês e meio - Guto disse segurando a mão do Pietro - né amor? Nós nos assumimos para a família no festa de aniversário da tia Nice que foi...

Parei para pensar se eu tinha ouvido direito. "ELES TINHAM ASSUMIDO", olhei paro o dedo de ambos e notei pela primeira vez a aliança.

- Como assim ??? - eu perguntei interrompendo o Guto - Vocês dois se assumiram ??

Pietro riu:

- Já estava na hora né. Depois de tantos anos se amando e tendo que esconder, era o certo. Nossos pais entenderam perfeitamente e até nos apoiaram né amor?

- Sim - Guto respondeu - Agora ninguém mais vai poder nos separar.

Ele disse isso e deu um selinho na boca do Pietro.

- Enfim - Pietro continuou - A gente queria te convidar para a inauguração do nosso novo apê. Vai ter um monte de amigos lá e seria legal você ir para você me contar as novidades...

Marquei de ir na tal inauguração e me despedi dos dois. Eu ainda estava chocado com a revelação e não acreditava no que eles tinham dito. "Talvez Rodrigo esteja certo", pensei.

Entrei em casa e fui direto para a cozinha morrendo de fome. Enchi meu prato de arroz e feijão, peguei um filésinho de frango e uma salada de alface e fui direto para meu quarto me acabar. Quando eu passava pela porta eu escuto aquela voz fanha e nojenta atrás de mim:

- Não vai lavar a mão mocinho? Ou nós vamos te que te mandar morar no chiqueiro lá na fazenda ?

Me virei e vi ela. Ela que atormentava a minha vida e a pessoa que eu mais odiava no universo.

Para vocês entenderem um pouco, infelizmente, eu terei que contar sobre essa personagem que eu sempre mantive um pouco escondida da narrativa pois ela nunca trouxe nada de positivo e muito menos de alegre para esse história. Se você leu a série inteira com muita atenção e não sofre de alzheimer, deve-se lembrar que eu já mencionei a minha madrasta vez ou outra. Então agora vocês vão entender o porque essa mulher é um capeta e sempre fez da minha vida um belo inferno.

Meus pais se separaram quando eu era criança. Nunca me importei muito pois eu morava com meu pai mas minha mãe trabalhava na minha escolinha como coordenadora e eu sempre via ela todo dia. A vida sempre foi alegre e tudo mais até que meu pai inventou de casar novamente.

Isso foi no ano passado, ela parecia super legal nos primeiros dois minutos que eu a conheci. Depois disso nossa relação só foi mostrando como aquilo jamais iria dar certo. Seu nome, que me causa ânsia só de escrever, é Roselaine. Mais conhecida como Rose também, mas aqui na história vamos chama-la de Rosemônio. Ela era uns dois anos mais nova que meu pai, era baixa, os cabelos negros bem cumpridos e uma cara branca cheia de sarda. Seu corpo era normal para a idade dela, nada de atraente que fizesse meu pai se apaixonar demais por ela.

Tudo que ela conseguia fazer para me irritar ela fazia. Se eu não lavasse o meu prato depois do almoço, ela ia lá e contava para o meu pai, se eu não arrumasse o meu quarto ela ia lá e contava para o meu pai... Um dia eu mandei ela falar na minha cara e parar de ser trouxa. Meu pai não ficou muito contente e tirou meu celular. Mas de todas as coisas que ela fazia para me irritar, uma delas se sobressaia em me deixar puto. Ela era extremamente evangélica, mas muiiiiiito evangélica mesmo.

Vamos lá, primeiramente eu não tenho nada contra a evangélicos ou qualquer outra religião, pelo contrário, eu acho lindo as pessoas terem fé a ponto de alcançar virtudes que jamais seriam alcançadas por qualquer outro ser humano. Religião também é muito importante para qualquer um, então eu não prego ateísmo em lugar nenhum (ok amiguinhos?)... Mas como tudo tem seu lado ruim, temos que ver o outro lado da moeda que muitas vezes as pessoas esquecem e esse é meu problema com a Rosecredo, ela não se contenta em deixar a religião influenciar somente a sua vida, para ela isso não é suficiente, ela tem que dizer a todo momento que eu preciso de Deus na minha vida. Se eu tirei uma nota baixa ela diz que foi as energias negativas sobre mim que atrapalham meu sucesso. As duas vezes que eu fui parar no hospital ela teimou em me dizer que era Deus me castigando, dessa vez eu não me aguentei, como meu pai não iria me por de castigo, eu virei para ela e falei:

- Se Deus me mando um castigo, esse castigo foi você!

Como castigo ela me mandou um pastor para conversar comigo... Para não piorar a situação eu apenas fiquei lá concordando com o que ele dizia...

- Me dá um tempo vai -eu disse entrando no quarto.

Para o meu descontento ela me seguiu :

- Você vai virar as costas para mim enquanto eu converso com você ?

Não respondi. Meu dia estava muito bom para ela chegar e destruir tudo.

- Estou falando com você Cesar Neto !!! - Ela aumentou a voz - Não vire as costas para mim !!!

- Abaixo o tom aí porque felizmente eu não sai da sua barriga. - Eu disse a encarando com fúria.

- Pois se você fosse meu filho não seria tão malcriado assim, seu rapazinho sem educação!! - ela rebateu.

- Então lide com isso e pare de gritar com essa voz irritante no meu ouvido. - eu disse apontando a saída do quarto.

Ela bufou e caminhou até a porta. Ela já estava saindo mas antes ela resolveu mudar de ideia e falou:

- Pode deixar que eu vou falar bem baixinho com o seu pai, quando eu contar para ele que você está andando com amigos maricas - ela se virou e viu minha cara de preocupação - Você também anda beijando seus amigos Cesar?

Levantei com toda a raiva do universo e bati a porta com tanta força que foi quase impossível escutar a minha voz:

- VAI TOMAR NO SEU CU!!

Infelizmente, ela escutou perfeitamente.

...

No outro dia, depois da escola, eu chamei o Rodrigo e o Felipe para ir em casa decidir algumas táticas de jogo. Os dois almoçaram em casa e para a minha alegria a Rosechana não estava em casa.

Rodrigo e eu estávamos fazendo o almoço. Vez ou outra eu lascava um beijo naquela boca gostosa. Terminamos de preparar uma quase-macarronada e fomos arrumar a mesa.

- Deixa eu te contar a ideia que eu tive - ele disse - eu estava pensando em como falar para os meus pais sobre a minha sexualidade e eu já sei como fazer isso.

Meu coração deu uma acelerada. Eu ainda não apoiava essa ideia.

- Como ? - eu disse.

- Eu vou falar para o meus pais que eu tenho uma doença no testículo que me impede de ter relações sexuais. Daí eu falo que eu só posso ter relações com outros garotos através da...

- Meu Deus, cala a boca - eu falei rindo e tacando um guardanapo nele.

- Vai se foder Cesar - ele disse - pelo menos eu pensei em alguma coisa, você já tem alguma ideia?

Dito isso nós escutamos o portão de casa abrir. Chamei o Felipe para vir almoçar e ele chega junto com a Rosemorça. Nós três sentamos e ficamos em silêncio até que ela abre o poço de chorume chamado de boca:

- Boa tarde meninos, estão bem ? - ela disse nem esperando uma resposta - Vocês dois também se beijam ?

Rodrigo olhou para o Felipe e os dois ficaram sem entender. Fitei aquela desgraçada com tanta raiva e ela parecia se divertir com tudo aquilo e continuou falando:

- É que eu pensei que o Cesar só tinha amigos que se beijam, né Cesar ? Contei para o seu pai e ele não está contente com os maus elementos que você traz na porta da sua casa.

- Ele trás coisa pior para casa e eu não reclamo.

Ela estava com a resposta na ponta da língua e quando ela começou a falar meu pai apareceu:

- O que eu trago para dentro de casa? - ele disse sorrindo, felizmente ele estava de bom humor.

- Nada não - ela respondeu antes de mim - só estávamos comentando sobre os amigos do Cesar que eu te contei ontem.

Meu pai me olhou com um sorriso torto e disse:

- Esse é meu filho ! Ele faz amizade com qualquer um né Cesar? Tá certo ! Só não pode jogar no time deles né filhão ??

Acenei com a cabeça meio envergonhado. O clima ficou meio esquisito e só piorou pois os dois se juntaram com a gente para almoçar. Rosesanta fez todos rezarem antes de comer e eu já estava quase cortando ela com a faca para servir de sobremesa.

- Filho - meu pai disse - Fim de semana a gente vai para a fazenda pois vai ter o casamento de sua tia, está bem? Vai ser uma festança e tanto. Chama os meninos para ir também, quem sabe com eles lá você não se mate tão rápido.

Olhei para os dois esperando uma resposta.

- Não sei - Rodrigo disse - meu pai vai visitar minha vó no fim de semana e eu vou ter que ir junto.

- Eu estou dentro - Felipe disse.

- Beleza então - meu pai se levantou da mesa - vou pegar mais um convite com sua tia.

Felipe parecia animado, desde pequeno ele adorava minha família. Rodrigo não estava muito feliz por não poder ir mas parecia bem. Terminamos de comer e quando estávamos tirando a mesa meu pai e a Rosemonga foram saindo de casa.

- Filhão - ele disse - vou pegar mais um convite com sua tia então, não quer chamar mais nenhum amigo?

- Só não vai chamar aqueles que se beijam, pois vai ser uma vergonha para família. - Aquela lazarenta disse abraçando meu pai.

Olhei para o Rodrigo que estava levando os copos para a pia e esperei que ele entendesse o recado.

A gente não iria se assumir para ninguém da minha família. Para absolutamente ninguémCara, essa sua madrasta realmente é um cu mesmo - Felipe falou quando nós descemos do carro.

Fiquei com medo dela ter escutado pois ela sempre surgia do nada, mas me certifiquei que ela estava cumprimentando os meus parentes.

- Nem me fale, o bicha pra ser lazarenta - eu respondi - vamos lá que esse casamento promete muita coisa pelo jeito.

Casamento em cidade pequena sempre atrai muita gente, e no casamento da minha tia não foi diferente. Irmã do meu pai, essa tia tinha uns 30 anos e era conhecida como a "encalhada" da família pois nunca tinha arranjado um namorado até os 28. Depois de um milagre ela acabou conhecendo o amor de sua vida e agora a família (feat. a cidade inteira) veio assistir a cerimônia do casamento.

Eu e Felipe entramos na igreja e nos sentamos na última fileira de bancos. Pelo fato do meu avô paterno já ter falecido, meu pai iria entrar com a noiva, nos deixando sozinhos na igreja por uns cinco minutos pois a Rosecréia se sentou na nossa frente como se tivesse cuidando de crianças.

Ao seu lado se sentou uma garota linda. Morena, dos cabelos cacheados, um vestido que deixava a mostra grande parte da sua coxa. Ela olhou para trás para nos cumprimentar e pelo jeito Felipe teria que limpar a sua boca pois ele estava babando muito e com razão. A sua pele morena, os seus olhos grandes pareciam duas esmeraldas brilhando de tão verde e um sorriso perfeito. Eu e Felipe acordamos para o mundo real quando a Rosemônio falou:

- Essa é minha sobrinha, Giovana. - ela disse apontando com orgulho para sobrinha - e esse é meu enteado Cesar e seu amigo Fernando.

- É Felipe - eu corrigi minha madrasta - Prazer.

- Mas pode me chamar do que você quiser - Felipe a cumprimentou com um beijinho no rosto.

As duas se voltaram para frente e e de repente eu comecei a me tocar do que estava acontecendo. Observei Felipe e ele ainda não desgrudava o o olhos da Giovana. Bem disfarçadamente (ou nem tanto), eu meti um chute em sua canela que o fez quase soltar um palavrão na igreja.

- Mas que diabos você está fazendo ? Você não está namorando com a Bia? - eu disse em seu ouvido

Ele estava com todos os dedos do punho fechado lutando para não gritar de dor.

- Não estamos namorando - ele respirou e a dor sumiu de vez - só estamos ficando e nada me impede de ficar com outras né?

- Você é muito galinha - eu falei dessa vez pisando em cima do seu pé.

- Pode parar - ele falou alto atraindo a atenção da minha madrasta que nos lançou um olhar mortal - não lembro de ter trocado votos fiéis com ninguém e sem contar que isso não passa de uma babozeira.

Sorte que quando ele terminou de falar a maioria das pessoas a nossa volta não conseguiu ouvir pois o som da música já estava começando. A noiva entrou e foi aquele tédio que todo casamento é, eu e Felipe nos revesamos para poder cochilar no meio da cerimônia deixando ela um pouco mais suportável. Depois de duas horas o noivo beijou a noiva e estávamos em direção a festa.

Essa festa aconteceu na chácara do meu tio. Passei a primeira hora falando de como eu tinha sido picado por um escorpião e tinha sobrevivido a tudo isso. Meus primos toda hora enchiam meu saco perguntando se eu não queria uma bebida. Alguns eram mais legais, como minha prima, e até se desculparam por quase ter me matado. Enfim terminei de almoçar e fui procurar o Felipe que tinha se enturmado com meus primos.

Não deu nem dez minutos e eu o encontrei sentado em uma rede aos beijos com a tal Giovana. As coisas pareciam bem quentes e a única coisa que eu pude fazer foi abaixar a cabeça e dar meia-volta. Anotei em minha mente que depois eu teria uma conversa séria com ele.

No meio do tédio que aquilo estava eu resolvi ligar para o Rodrigo e matar minha saudade. Dessa vez eu fui mais esperto e, por recomendações do meu pai,trouxe um chip de outra operadora que pegava sinal na fazenda. Liguei e ele me atendeu rapidamente.

- Oi meu amorzinho, estou com saudadezinha - eu falei com uma voz bem estranha.

- Meu Deus porque que eu te amo mesmo? - ele disse rachando o cano no outro lado da linha.

- Porque eu sou o melhor namorado do mundo - eu respondi.

- E nem se acha né?

- Foi você mesmo que disse.

Continuamos naquela conversa melosa por uns bons dez minutos até que ele chegou no ponto que eu não queria chegar.

- Você não vai acreditar no que eu fiz hoje? - ele disse - Emprestei meu computador para o meu pai.

- E o que que tem ? - eu falei.

- Bem... tem umas quinze pesquisas no Google de "como contar para seus pais que você é gay" e coisas do gênero.

A linha do telefone ficou em silêncio.

- E o que eles falaram? - eu perguntei.

- Não sei, até agora nada. Estamos na casa da minha vó, acho que eles vão esperar até chegar em casa para falar alguma coisa.

- Entendi - eu ainda estava perplexo com a coragem dele - e você não está com medo?

- Um pouco, mas vai dar tudo certo - ele vacilou um pouco nessa frase - e você? já está pensando em como vai contar para a família?

Pela primeira vez na vida eu adorei ver a minha madrasta perto de mim. Ela chegou com aquele sorriso falso na cara e me chamou por "Cesar Neto":

- Até que enfim achei você - ela disse - seu tio está te chamando, ele quer saber mais sobre aquele seus amigos maricas.

Já era esperado por mim que aquela escrota saísse contando da minha vida para a parentada.

- Tenho que desligar agora viu - eu disse para o Rodrigo - O satã em forma humana está me chamando, mais tarde eu te ligo.

- Ok te amo - ele disse desligando o celular.

Meus parentes foram menos escrotos do que eu pensava e nem me zuaram por ter amigos gays. O que mais me surpreendeu foi meu tio dizendo que eu estava certo e não devia tratar ninguém diferente. Eu jurava que ele seria o que mais pegaria em meu pé. Do restante eles me perguntaram se eu já tinha uma namoradinha e eu apenas falei que não. Fui comparado com minha tia encalhada e as piadas de mau gosto começaram.

Sai de lá com uma latinha de cerveja na mão. Tinha prometido para o Rodrigo que eu não iria beber nunca mais (eu fiz ele me prometer também) mas eu precisava tomar algo para relaxar os nervos. Felipe veio perto de mim com carinha de culpado e eu apenas dei mais uma bicuda em sua canela e disse:

- Precisamos conversar, mas por hoje eu já estou cheio de problemas então baixa bola ai seu adultero.

- Já disse que eu não trai ninguém...- eu sai de perto dele antes que ele me irritasse mais ainda.

Fui caminhar em torno da fazenda para tentar limpar a mente. Fui até a porteira, fui no campinho de futebol, fui na piscina... em todos os lugares tinha gente para encher o saco. Como última tentativa decidi ir até a mangueira pois eu duvidava que ainda teria gente lá no meio das vacas.

Entrei lá e só encontrei um bezerro preso dentro do cercado. me aproximei perto dele e o acariciei. Ele era marrom com uma mancha branca na testa, muito fofinho até para mim que não curto muito animais.

- Cuidado que ele vai te morder!!! - Alguém gritou atrás de mim.

Instantaneamente eu dei um salto para trás que assustou tanto o bezerro quanto a mim mesmo. Olhei para trás e não via ninguém, por um momento eu pensei que estava ficando louco mas então eu avistei o Otávio abrindo um portãozinho e entrando com uma garrafa pet de dois litros cheia de leite.

- Seu filho da mãe, você quase me mata de susto !

Ele veio até mim e me cumprimentou.

- Estranho que todas as vezes que eu te vejo você se assusta. - ele disse caçoando de mim.

- Mas também né - eu falei rindo - O que você está fazendo aqui?

- Estou trabalhando aqui com o seu tio, sabe, dando uma força para ele. Hoje mesmo eu vim aqui da leite para essa meninona aí, né Esperança - ele disse para a bezerra.

- Que massa cara - eu falei ainda surpreso.

Enquanto ele foi dando de mamar para a bezerra eu fiquei trocando um papo aleatório com ele, falando sobre como eu me recuperei rápido e tals ... Eu também dei leite para a bezerra na garrafa ( é tipo uma mamadeira de 2 litros) até acabar. Depois disso ele ficou me olhando como se procurasse um defeito em mim. Fiquei um pouco envergonhado até que ele falou:

- Você não está usando o colar que eu te dei ?

Levei a mão ao peito e me lembrei do lindo colar com uma pedra azul que ele tinha me dado depois que salvou a minha vida e que no caso eu passei para o Rodrigo.

- Bem, é que... você disse que quando eu me sentisse forte era para eu passar o colar... bem eu entendi o recado e passei para outra pessoa. - falei com medo de ter feito algo errado.

- Entendi, espero que esse colar esteja dando coragem e força para a pessoa que estiver usando.

"Está dando coragem até demais", pensei em Rodrigo se esforçando para se assumir para os pais.

- Não entendo - eu disse para ele - pensei que você fosse salva-vidas igual você disse que o seu pai era, mas o que você está fazendo aqui sendo o fazendeiro ?

Ele olhou para a futura vaquinha Esperança e eu percebi que não deveria ter perguntado.

- É que ... - ele começou a falar - ... aconteceu algumas coisas na minha vida. Você jura que não vai me julgar independente do que eu te falar.

- Claro cara, é o mínimo que eu posso fazer, você salvou minha vida - eu disse.

- Bem é que ... eu sou - ele lutava contra as palavras para poder falar - eu sou homossexual. Meus pais descobriram e me expulsaram de casa... - ele forçou um sorriso fingindo que tudo estava bem - então seu tio resolveu me ajudar e me deixou morar aqui enquanto eu não termino os estudos. Além de fama de viado eu não queria a fama de vagabundo também, então eu decidi ajuda-lo aqui nas coisas da fazenda.

"Por Isso meu tio nem se importou de eu também ter amigos gays", pensei em como minha família não era assim tão ridícula.

- Poxa cara, sinto muito - foi a única coisa que eu consegui dizer.

- Sabe? - ele continuou - eu pensei que era forte o suficiente e até foi por isso que eu tinha passado aquele colar idiota para você, mas pelo jeito eu ainda sou um babaca.

Não consegui pensar em mais nada. Eu odiava ver as pessoas fragilizadas em minha frente, isso fazia eu me sentir impotente. Ele ainda estava lá com aquele sorriso torto no rosto e eu não pude evitar de querer abraça-lo e dizer que tudo iria dar certo e foi isso mesmo que eu fiz.

Ele retribuiu e desabou em meus braços. Me lembrei das vezes que o Rodrigo também ficava daquele jeito. Os dois eram tão parecidos. Por fora eles aparentavam ser bravos e corajosos mas quando eu olhava para eles sentia a insegurança e medo em seus olhares.

- Cesinha você está aí - ouvi a voz do Felipe na porta da mangueira.

Ele entrou e viu a cena rolando. Colocou a mão atrás da nuca e começou a falar sem saber se ria ou matinha a postura séria:

- Estão chamando você lá em cima, parece que vão cortar o bolo e sua tia quer o próximo encalhado da família lá com ela.

Me soltei do Otávio e disse para ele:

- Vamos lá ?

- Só vou terminar de arrumar algumas coisas aqui e já subo, pode ir lá que depois a gente se fala.

Voltei para a festa com uma sensação diferente. Felipe veio me atazanando desde quando eu sai da mangueira até chegarmos na festa:

- Depois você vem falar que EU sou adultero!!! Pode me explicar o que tava rolando lá ?

- Ele foi o moleque que me salvou, só estava agradecendo... - eu disse.

- Não podia agradecer de outro jeito, você tem namorado meu amigo e ele não iria gostar de ver isso. - ele insistia

- Ah vai se foder, eu não fiz nada demais...

Dito isso ele me deu uma bela apertada nas bolas. A dor que eu senti foi horrível que eu mal conseguia gritar. O lazarento tinha apertado para valer mesmo e ainda teve a audácia de me falar:

- Isso é por você estar abraçando outra pessoa que não seja o seu Diguinho ! E isso foi por abraçar, você não sabe o que eu faço com teu pinto se tu aprontar coisa pior.

Tentei xinga-lo mas eu já não conseguia falar mais nada. Apenas me joguei na grama e esperei a dor passar e todos os meus problemas irem junto também.

...

Era madrugada quando chegamos em casa. Antes passamos na casa do Felipe para o devolver pros seus pais. Entrei no meu quarto e me deitei. O maldito sono não vinha e me fez ficar acordado pensando no Rodrigo e tudo mais. queria saber notícias dele... e se seu pai também tinha o expulsado de casa? Ou se ele tivesse feito coisa pior? Não resisti e liguei para ele. Depois de umas três tentativas ele me atendeu com uma voz de sono:

- Alô - ele disse bocejando - Quem é ?

- Sou eu, o Cesar, seu namorado, lembra?

- Vai se fuder Cesar ! Isso é hora para ligar ?

- Fiquei preocupado com você - eu disse me desculpando - O que seus pais falaram ?

- Bem, eles não falaram nada. - ele respondeu normalmente.

- Mas como assim ? Eles te aceitaram numa boa?

- Não - ele ainda estava morrendo de sono - eles viram o histórico e vieram falar comigo e eu disse que era apenas um trabalho de escola sobre homofobia.

Um misto de alívio e decepção pairou sobre mim.

- Eles acreditaram ? - eu perguntei

- Eles nem se importaram tanto, minha falou que se precisasse de ajuda ela podia contar alguns relatos de homofobia que ela já vivenciou e meu pai fingiu que não se importava.

- Mas porque você fez isso ?

- Bem - ele engasgou para responder - eu sinto que eu estou preparado mas... você não está. Então se entramos nessa juntos, temos que continuar juntos né ? Agora pode relaxar que eu te darei todo o tempo que você precisar.

Suspirei aliviado. Eu não estava pronto para me abrir para todo mundo, e nem achava isso necessário, mas o que ele tinha feito por mim era tão fofo.

- Eu te amo muito - eu disse desejando que ele estivesse aqui comigo para eu o abraçar e beijar a sua boca.

- Também te amo, agora vai dormir seu desgraçado, boa noite e durma com Deus.

- Amém - eu disse e ele desligou o celular.

Sem sono, eu me levantei da cama e abri a janela do meu quarto. A noite estava linda novamente, o céu cheio de estrelas e com uma lua minguante tímida lá no alto. Parei para pensar em Deus novamente e agradece-lo mais uma vez por tudo. Apesar de eu ser considerado um pecador pela maioria, apesar de se depender do que os outros falavam a minha passagem para o inferno já estar comprada, eu mesmo assim olhei para o céu e falei com ele novamente.

- Bem, talvez um dia eu tenha me assumir para todos mas eu agradeço de coração por não ser hoje. Muito obrigado e amém, valeu, thank you, aleluia, ou como você preferir.

Tirei a camisa e com a energia renovada eu fui para cama dormirGostaram ??? Espero que sim, pois esse capítulo foi escrito com tanta pressa que eu nem consegui reler para ver se ficou bom o suficiente kkk (brincadeira)

Agora é com você !!! Opine, xingue, se expresse, me manda ir tomar no cu... a vida é para aproveitar, então se exaute aí pois aqui pode tudo.

Semana que vem eu volto com mais. Nos faltam ainda três capítulos e eu prometo que lágrimas vão rolar em todos os sentidos (tanto de choro como de alegria) mas a vida é isso né ? Um dia você ri e no outro você chora.

Leiam a sinopse (eu gostei dessa palavra) dos próximos capítulos e quem tiver o melhor palpite do que vai acontecer nessa reta final vai ganhar um sorvete de flocos (já que vocês insistem tanto nessa desgraça de sorvete kkkk)

VIII - "O último teste" : A última chance de vencer o jogo, a última prova antes do fim do ano e a última oportunidade de fazer o que é certo... Muitos problemas para Cesar enfrentar, será que ele conseguirá aguentar tanta pressão?

IX - "Um lugar que só nós conhecemos" - Está na hora de olhar para trás e descobrir o que eles fizeram de errado. O fim do ano se aproxima e o tempo realmente voa. Decisões terão que ser tomadas

X- "Algo novo" - Perder coisas para seguir em frente e fazer o bem para quem ele realmente ama... Será que Cesar está pronto para algo novo ?

Então por hoje é só, agradeço mais uma vez a todos que estão apoiando a história, tanto nos e-mail quanto nos comentários, vocês são o motivo de eu escrever e não pensem que eu irei desistir de vocês sem antes vocês desistirem de mim. Beijos para todos e até a próxima <3

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Comentários

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Eu to com medo desse X Algo Novo...

Cesar foi bom o capitulo, um dos melhores...

E agora quero saber, como é que você se inspira tanto, pois no começo do conto você falou que isso aconteceu com você, e aconteceu mesmo? E se não, você pode contar algum dia sua verdadeira história se quiser é claro... Mas não se preocupa só quero saber se isso tudo é em partes real...

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