No dia seguinte, minhas férias acabaram e eu voltei para a rotina habitual. A questão agora era: qual rotina? Eu não era mais a mesma pessoa, logo não tinha mais a mesma rotina. Cheguei na universidade mais perdida do que cego em tiroteio. Aulas que não faziam conexão com coisa alguma. Parei de almoçar, porque já nem tinha fome. Não falava, porque todo assunto que eu tinha era referente à Ci, e ninguém sabia do nosso relacionamento. Então me restou a clausura. Não fiquei depressiva, mas criei hábitos mais individuais. A noite ela me ligava, como antes. Mas uma ligação já não era o suficiente. Eu tinha fome da presença, como diz Clarice Lispector. Era um saudade que matava lentamente, como uma doença. Tudo me lembrava ela. Uma noite, eu voltava da universidade e esperava o ônibus com uma moça que fazia um curso comigo. Até que o namorado dela foi pegá-la e ela me chamou para voltar com eles. Era por volta das 19h, estava chovendo e ventava bastante. Entramos no carro e o som tocava baixinho. Eles conversavam entre si, mas eu ouvia a música. Tocava Capital Inicial.
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Você é tão acostumada
A sempre ter razão
Você é tão articulada
Quando fala
Não pede atenção
O poder de dominar
É tentador
Eu já não sinto nada
Sou todo torpor
É tão certo
Quanto o calor do fogo
É tão certo
Quanto o calor do fogo
Eu já não tenho escolha
Eu partipo do seu jogo
Eu participo
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Não consigo dizer
Se é bom ou mau
Assim como o ar
Me parece vital
Onde quer que eu vá
O que quer que eu faça
Sem você
Não tem graça
Você sempre surpreende
E eu tento entender
Você nunca se arrepende
Você gosta
E sente até prazer
Se você me perguntar
Eu digo sim
Eu continuo
Porque a chuva
Não cai só sobre mim
Vejo os outros
Todos estão tentando
E é tão certo
Quanto o calor só fogo
Eu já não tenho escolha
Eu participo do seu jogo
Eu participo
.
Não consigo dizer
Se é bom ou mau
Assim como o ar
Me parece vital
Onde quer que eu vá
O que quer que eu faça
Sem você
Não tem graça
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(Capital Inicial - Fogo)
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Chorei em silêncio, no banco de trás. E ali mesmo lhe mandei um SMS:
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"Onde quer que eu vá, o que quer que eu faça, sem você não tem graça". [Capital Inicial - Fogo]
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Desde que você se foi, absolutamente tudo perdeu a graça. Eu te amo, amor. Amo tanto que não sei nem quanto. Não vejo a hora de tudo isso acabar. Bjoo
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Quando cheguei em casa, tomei um banho e a esperei voltar do trabalho. Mais tarde ela me ligou.
Eu: Oi.
Ela: Oi, meu amor. Tudo bem?
Eu: Tudo indo, bê.
Ela: Como vc está?
Eu: Estou tentando ficar bem. Lhe prometi, e vou cumprir. Mas tá muito difícil, amor. Muito mesmo. Só Deus sabe o que estou passando.
Ela: Eu sei, amor. Estou vivendo o mesmo.
Ela começou a chorar baixinho.
Ela: Você não sabe o quanto me dói chegar em casa e não lhe ver.
Voz embargada e com dificuldade.
Ela: Mas vai passar, Mah. Eu te prometo que vai, meu amor. Agüenta mais um pouquinho, tá?
Eu já chorava.
Ela: Olha, fecha os olhos.
Eu: Fechei.
Ela: Cruza as mãos uma na outra.
Eu: Já.
Ela: Agora imagina que é a minha, e aperta bem forte.
Eu apertava e sentia as lágrimas escorrerem pelo meu rosto.
Eu: Vem, amor. Vem embora.
Chorava já.
Eu: Vem logo, por favor. Eu preciso tanto de você, bê. Tanto tanto tanto.
Ela: Oow meu amor, não faz assim. Eu prometi pra você e vou cumprir. Em abril estarei de volta.
Eu chorava. Queria sair correndo pra ir ao encontro dela. Lembrava dos momentos que nós havíamos vivido, das vezes que ela me colocava no colo e dizia que tudo ficaria bem. E assim os dias iam. Decidi comprar um caderno e escrever um diarinho pra ela. Colei fotos, trechos de músicas, papéis que fizeram parte nossa vivência. Era quase uma terapia. Uma forma de conter a saudade. Desligamos e lembrei da mexa de cabelo. Peguei na bolsa e quando senti a textura, chorei outra vez. Gastava as noites chorando, e os dias em silêncio, na esperança que numa hora qualquer, a dor parasse ou diminuísse.
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Gente, por hoje é só. Prometo de respodo tudo, assim que der. Bjoos e queijos.