Passamos um Natal bem divertido ali no apartamento. Alex tinha me dado de presente um tênis importado, que ele sabia que eu cobiçava, e dois discos do Air Supply, que era mais o estilo dele do que o meu. Musicas melosíssimas, que ele volta e meia cantava um trecho olhando para mim.
- Quero que ouça essa e se lembre de mim_ falou ele, colocando numa cançao chamada Without You.
"Eu não posso viver, se viver for sem você
Eu não posso me dar, eu nao posso me dar mais"
Cantava traduzindo a letra e eu ria dele, mas sem maldade. Estava de bom humor e ele percebia, querendo ficar ainda mais proximo, sentando perto de mim no sofá, quebrando nozes na mesa e me dando na boca, buscando na cozinha frutas secas com sorvete, e me trazendo num pires decorado por ele próprio com cerejas e açucar.
- Puxa vida, estamos parecendo dois namorados_ falei a ele rindo, enquanto assistiamos TV sentados bem juntinhos no sofá.
Ele passou o braço por meus ombros, me puxando para si.
- Queria tanto que a gente fosse..._ disse, me beijando o rosto.
- Para, Alex_ me afastei dele, deitando com a cabeça do outro lado, colocando meus pés descalços no colo dele_ Olha, adorei o tênis. Achei que o Tony fosse me dar, ate porque dei a entender a ele que eu queria, e era o branco. Acho que ele esqueceu.
-.Mas eu lembrei_ disse ele, massageando meus pés _ Ouvi voce falando no tênis com o Tony, e vi ontem que voce nao o ganhou. Nao perdi tempo, corri até a loja que estava quase fechando e consegui este par. Se ficar folgado ou apertado voce troca, certo? Fico muito contente que tenha gostado.
- E o livro que dei a voce? Gostou? Fui por meu gosto pessoal, nao sei se você lê Proust.. Tem gente que nao gosta.
- Claro que gostei! Estou lendo com o maior prazer. E vindo de voce é ainda melhor...
Quando ele nao me irritava ou divertia, me constrangia. Fiquei um pouco sem graça e ele me olhou com um risinho sapeca.
À noite fizemos uma macarronada com alguns produtos das cestas de Natal que ganhei e fomos comer na sala mesmo, vendo televisao, rindo de um humoristico que começou a ser transmitido aquela hora. Quando me dei conta, eu me sentia tão alegre ali naquela simplicidade, sem cocaína, sem boate, sem a violenta libido de Tony, sem os luxos que ele me proporcionava. Era inusitado, e há muito tempo eu nao me percebia assim.
Vimos o telejornal e Alex lavou a louça, enquanto eu colocava o Air Supply para tocar de novo.
- Porque voce gosta tanto dessas músicas, Alex? São tão grudentas!_ eu disse, enxugando a louça que ele lavava_ Aqui em casa quase só domina o rock e algum som dançante. O Tony gosta mais de rock.
- Tambem gosto de rock_ respondeu ele, me olhando_ Mas agora só ouço esse tipo de música romantica. Sou um homem apaixonado, Marquinhos.
- Nossa! Frase feita de filme ruim _ ri dele.
- Mas é a verdade.
- Sabe, e se voce confundiu a nossa amizade, cara?_ encostei na bancada da pia, olhando para ele_ Pode ter estado carente e em certo momento desejou algo mais...
- Tenho certeza que nao_ disse ele, convicto_ Desde que te vi senti uma coisa esquisita, um formigamento, um gelo na barriga, sei lá. Mas deixei passar, achei que nao era nada. Ficamos amigos, e eu gostava muito disso, porem vê-lo com o Tony passou a me incomodar muito. As vezes eu me imaginava no lugar dele, tendo vocé pra mim, e aquilo foi me fazendo ver o quanto eu te queria, e quero. Voce me fala cada barbaridade, me humilha as vezes, mas nao te amo menos por isso. Na verdade te amo tanto que chega a doer aqui dentro, cara. Choro toda noite porque nao tenho voce comigo, porque voce me despreza, me vê como um pedaço de lixo...
- Não, nem tanto_ o interrompi, sacudindo a cabeça.
- Não? Eu sei que nao tenho a beleza e a sensualidade do Tony_ disse ele, enxugando as mãos e parando na minha frente_ Voce nunca iria querer nada comigo, mesmo, eu sei disso. É tão lindo, tão maravilhoso, e eu me sinto um monte de porcaria perto de voce.
- Que drama, Alex!_ falei, impaciente, enchendo um copo de agua e bebendo_ Fica se rebaixando para quê? Eu acho voce bonito, poxa!
- Verdade?_ ele perguntou, ansioso.
Era verdade, dessa vez eu nao mentia. Ele era bonito com seus olhos castanhos muito brilhantes e cabelos alourados, dum tom fechado, sempre penteados à moda dos mauricinhos, impecaveis. Sem barba, com leves costeletad claras, a boca pequena, rosada como os mamilos. Nessa noite vestia jeans e camiseta regata branca, por conta do calor, os pés descalços. Bem bonitinho. Um chato apaixonado, mas um belo exemplar de garoto paulistano.
- Sim. É verdade_ falei, e ele avançou, me surpreendendo com um beijo rápido, me fazendo afasta-lo _ Que merda! Não dá nem pra elogiar que voce já abusa?
- Desculpa_ disse ele constrangido, se afastando.
Ficou até as onze horas comigo e quando eu ja cabeceava de sono ele se despediu, me abraçando com força e cheirando meu pescoço, beijando meus cabelos.
- Boa noite! E feliz Natal!_ falou no meu ouvido.
- Para voce tambem, Alex.
Ele se foi e eu, já no quarto, dormindo de.cueca e janela aberta, nao tirava aquela musica do Air Supply da cabeça. "Chata e grudenta, igual o Alex.", pensei rindo sozinho. Lembrei do beijo que ele me roubou na cozinha e achei uma infantilidade dele. " Se comporta como um pré-adolescente vivendo o primeiro amor. Mas é engraçadinho." , pensei, entrando no sono devagar, e sonhando com ele, mas foi um sonho que nao se fixou na memoria quando acordei, no meio da madrugada, com calor. Contudo era uma sensaçao que ficou, nao sei porque.
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Escutem no Youtube o Without you, do Air Supply. Sim, é bem meloso e romantico, pra quem curte é um prato cheio! :)
Valeu ,povo! Adoro voces!
Ate o proximo!