E ai pessoal, tudo tranquilo? Bom, sempre quis compartilhar essa história com alguém por esses mundos obscuros da internet e tive até vontade de criar um blog. No entanto, acabei descobrindo esse site e a vontade de compartilhar minha história com vocês só cresceu. Espero que vocês gostem!
Com 15 anos e meio eu estava terminando o ensino médio. Vocês devem estar duvidando da veracidade do que eu acabo de dizer, mas sim, é verdade. Quisera eu que não fosse.
Minha mãe era enfermeira no único posto médico/hospital que havia na minha pequena cidade no interior de Minas Gerais. Trabalhava diariamente, 12 horas por dia. Já meu pai era professor de matemática na única escola que havia naquela região. Ele trabalhava também os dois turnos, e as vezes até no noturno, dando aula pro famoso EJA (Ensino de Jovens e Adultos). Quando pequeno, eu não tinha com quem ficar e meus pais não podiam dar o luxo de contratar uma babá pra ficar comigo o dia todo. Resultado: eu tive que ir pra escola cedo. Cedo até demais.
O meu ensino fundamental foi simplesmente uma droga. Eu nunca participava das coisas legais da escola (coisa legais me refiro a jogos de crianças dessa idade, como o jogo do beijo, da garrafa...) pois todos tinham medo que eu contasse pro meu pai e, consequentemente, a direção da escola. Terminei a 8ª série sem nenhum amigo e sem nunca ter ficado com ninguém.
Nesse tempo de transição do Ensino Fundamental pro Médio, eu acabei mudando de bairro, pra um que ficava ainda mais próximo da escola. Eu não tinha a opção de mudar de escola, até porque não tinha outra escola. Nas férias, numa tarde, acabei descobrindo um campo de futebol a um quarteirão da minha casa. Aquela hora estava lotado de adolescentes sem camisa e suados jogando futebol. Foi ali que eu descobri que eu gostava de meninos e não de meninas.
O problema é que eu não podia compartilhar aquilo com ninguém. Não porque eu não queria, e sim porque não tinha com quem compartilhar. Aos 13 anos, já entrando no Ensino médio, eu ainda não tinha nenhum amigo.
Enfim, os três anos seguintes foram o mesmo saco de sempre: as mesmas pessoas, alguns professores diferentes, o mesmo diretor, a mesma monotonia. Ao terminar o Ensino Médio, eu percebi que não podia ficar naquela cidade pra sempre: eu teria que me mudar.
Após conversar muito com meus pais, tudo que consegui foi um "não, você é muito novo". Mas graças ao senhor, eu tenho minha madrinha. O problema é que eu queria ir pra Viçosa, e ela morava no Rio de Janeiro. Não teve outra, tive que desistir do meu sonho, até porque eu teria que desistir dele de um jeito ou de outro: ou eu ia pro Rio, ou eu ficava naquela cidade pra sempre. O sonho de cursar Engenharia Elétrica na UFV ficaria pra outrora.
No começo do ano seguinte eu estava dentro do ônibus indo pra cidade maravilhosa com a cara, a coragem, 300 reais e meus livros de física. Eu estava decidido que naquele ano eu iria passar na universidade... o que não aconteceu.
Vejam bem, logo nos primeiros dias eu logo entrei num cursinho bem conhecido da região. Eu morava na Tijuca, então vocês já sabem, 99% das pessoas dali eram playboys e patricinhas. Minha madrinha, que era viúva e herdou todo o dinheiro de seu marido ex deputado alguma coisa se ofereceu prontamente a pagar o cursinho, e eu, claro, aceitei. O problema foram as amizades... eu era muito novo e tolo pra pensar em estudar, quando eu tinha festas de quinta a domingo pra ir. A minha madrinha não se importava nem um pouco com a minha saideira, pelo contrário, ela me incentivava a sair e a beber, o que eu achava o máximo.
No final daquele ano, a bomba caiu na minha cabeça e finalmente eu havia levado meu choque de realidade: eu não havia passado na universidade. O que eu havia feito um ano inteiro?
O pior de tudo foi contar isso pros meus pais. Eles me deram o maior sermão, dizendo que eu não era daquele jeito e aquelas coisas de pais. Ali eu prometi pra mim mesmo que no ano seguinte eu iria me dedicar 100% aos estudos, e foi o que eu fiz. Resultado: a aprovação em Engenharia Elétrica.
Agora sim eu me sentia feliz. No dia de fazer a matrícula eu mal dormi. Eu ainda era muito novo, tinha apenas 17 anos. Ficava pensando como seria de agora em diante, qual seria a idade dos meus amigos, essas coisas fúteis porém clichês que todo calouro pensa.
No dia do trote foi tudo muito bacana, a universidade estava repleta de tinta. Logo logo foi o primeiro dia de aula e logo pude chamar a atenção de todos pela minha pouca idade. Eu era o mais novo da turma.
O ano passou rápido demais e, como eu esperava, eu não tive nenhum tipo de dificuldade em nenhuma das matérias que me haviam sido apresentadas até aquele momento. Mas haviam outros que estavam, literalmente, na merda. Um exemplo desses era o Neto.
O moleque não levava jeito pra Engenharia. Era uma anta com os números, sério, nem sei como ele saiu do Ensino Médio. Não sabia coisa básica de matemática como jogo de sinal, notação científica... Certo dia ele me chamou no canto e me chamou pra dar umas aulas pra ele. Queria até pagar. Eu aceitei mas disse que não precisava ele me pagar, porque eu realmente gostava de Ensinar Física.
Num sábado de manhã minha madrinha havia me deixado na frente da casa do Neto. A casa dele era muito bonita, também, o pai dele era dono de uma escola conhecidinha até na região. Toquei o interfone e após me identificar, consegui entrar na casa.
O moleque tava super gato, vestia uma camisa regata cavada, um calção de jogar bola e uma havaiana nos pés. Típico carioca. Entrei dentro da residência e fiquei encantado. Tudo era muito bonito.
- Então, tu vai me ensinar ou vai ficar olhando a mobilha? - ele perguntou
- Porra, foi mal... bela casa man - falei
- Valeu, minha mãe é design de interiores - ele respondeu abrindo um sorriso.
- Hum. Vamos pra onde?
- Pro meu quarto - ele respondeu.
Fiquei calado estranhando.
- Algum problema? - ele perguntou
- Não, nenhum - forcei um sorriso amarelo.
Quando entrei no quarto dele, sério, me deu vontade de rir. Era tudo muito infantil. Uma parede azul e outras brancas, com prateleiras cheias de bonecos e de carrinhos.
- São minha paixão, mas não conta pra ninguém - ele riu.
- Ué, você nunca trouxe ninguém aqui? - perguntei surpreso.
- Não. - ele respondeu.
Enfim, eu ensinei física I pra ele que parecia entender com muita maestria. No fim do dia, ele me deixou em casa e agradeceu a ajuda. A prova dele era na segunda de manhã e ele ficou de me ligar pra contar o resultado. Eu duvidava muito que ele passaria, porque ele precisava tirar 10 pra passar. Mas como sempre o destino adora tirar uma onda com a nossa cara, na segunda por volta de meio dia meu celular começa a tocar:
- Alô? - disse com voz sonolenta
- Kadu, sou eu... PASSEIIIII - ele tava xingando muito
Eu fiquei chocado, nunca esperaria aquilo.
- Nossa, sério? Meus parabéns, sabia que você conseguiria - me deu vontade de rir.
- Sério, valeu mesmo mano. Escuta, to passando ai pertinho da tua casa, tu não quer ir, sei lá, almoçar?
- Ah, não quero incomodar.
- Não vai, te arruma que daqui 20 minutos eu passo aí.
Eu não tava afim de sair, mas se fosse pra aquele moleque me deixar em paz, eu sairia com ele. Aliás, que mal teria em sair pra almoçar com alguém? Talvez finalmente eu conseguiria fazer uma amizade. Ou quem sabe, algo mais.
E ai, continuo ou não?