Cap.1
Muitos irão me recriminar pelo que eu fiz. Dirão que eu poderia ter pensado em qualquer coisa, tentado de tudo antes de fazer isso. Mas vocês não sabem o quão ruim é ver sua mãe morrer e não poder fazer nada. Pela mãe a gente faz tudo. Deixa eu começar a explicar o porquê desse desabafo. Me chamo Cássio. Tenho 16 anos. Não me considero um garoto feio. Sou alto, moreno, ligeiramente malhado, tenho olhos castanhos claros, e tenho um rosto bem desenhado. Faço 2° ano, e estudo muito, pois tenho uma bolsa num dos melhores colégios do Rio. Moro no complexo da Maré, vocês já podem imaginar que eu não sou um garoto bem de vida. Comida nunca falta, mas não podemos nos dar direito a luxos. Minha mãe trabalha de faxineira, e minha irmã trabalha em uma loja. Eu já insisti muito pra minha mãe que podia ajuda-la nas despesas da casa, mas ela nunca deixa. Ela sempre diz que quer que eu estude, pra ser alguém na vida, algo que ela não pode ser. Amo demais ela. Depois que meu pai me abandonou quando eu tinha 2 anos, ela me criou com todo o esforço possível, sempre tentou me tirar qualquer responsabilidade, e vendo toda a garra dela, vejo o maior motivo para que eu estude mais, e um dia tire ela daquele lugar.
- Cássio, você pode pegar aquela caixa de sapatos em cima do meu armário, eu não tô conseguindo- minha irmã Diana pedia, enquanto eu tentava resolver algumas equações
- Deixa ele estudar, pega uma cadeira e tira- minha mãe a brigou. Por ai vocês podem entender o quanto ela tentava me fazer apenas focar nos estudos.
TEMPO DEPOIS
No colégio, eu tinha poucos amigos. A maior parte eram mauricinhos e patricinhas futeis, e ai eu só ficava com aqueles que eram legais e não ligavam pra minha condição social.
- Cassiozinho, você vai me ajudar naquele trabalho ?- meu amigo Lucas perguntava.
- Claro que sim Lucao, podemos marcar na sua casa.
- Pode ser amanhã, porque hoje mamãe não vai estar em casa, e estou doido pra dar uns pegas na Michelle- a guria a quem ele queria pegar era uma boa menina, mas não tinha tanto contato com ela. Ele sabia de minha orientação sexual, bissexual.
- Ok amigo, não esqueça a camisinha- falei, dando uns leves tapas na costa dele.
- Pode deixar mano- Lucas era um amigo incrível. Ele ouvia todas as minhas besteiras, e tambem confessava muito as suas aventuras pra mim. Enfim, eramos melhores amigos.
- Cássioooo- agora era minha amiga Laura que chegava- eu trouxe aquele chocolate que prometi- falou, tirando uma barra da Cacau Show da sua mochila
- Ai Laura, eu falei que não precisava- peguei a barra, e abracei- mesmo assim, obrigado.
- Você sabe que merece, afinal você é o aluno de maior média do colégio.
- Pra ser igual a mim, é só esquecer sua vida social e estudar muito- ela riu.
E essa era a minha realidade. Eu estudava tanto, me dedicava tanto que esquecia minha vida social. E me dediquei somente ao estudo, até acontecer uma coisa que mudou minha vida. Mais uma vez, eu sai da escola pelas 12hrs. Peguei o ônibus e fui pra casa. Aproveitei pra dar uma lida numa matéria que não tinha entendido direito. Eu costumava estudar as matérias antes de os professores darem na sala, pois assim sempre saia na frente. Desci do ônibus no mesmo ponto de sempre, e fui andando pelo canto da rua. Logo vi os funcionários do dono do local. Aquela altura ainda existia um bandido que se chamava de dono da Maré.
- Fala Cássio- o traficante era o Douglas. Ele, apesar de viver naquela vida, era um cara legal, não matava e nem roubava, apenas traficava as drogas. Claro que isso é um motivo grave pra condena-lo, mas sempre fui muito com a cara dele, de modo que ele era o único que eu conversava. Ele era bem branco, tinha uns olhos verdes, loiro e era um pouco acima do peso.
- E ai Douglas, tá tudo bem ?
- Tudo na paz meu irmãozinho- ele me cumprimentou.
- Você viu minha mãe passar por aqui ?- eu sempre perguntava, e sempre sabia a resposta, pois ela chegava mais cedo que eu.
- Não
- Não ?- ele negou com a cabeça- Ué, ela já devia ter passado. Tudo bem, deixa eu ir. Passa lá em casa a noite que eu vou fazer macarronada pro pessoal- ele sorriu.
- Tá, eu vou
Continuei andando e logo cheguei em casa. Entrei, e inacreditavelmente ela estava vazia. Tomei um banho e sai. Minha mãe não havia chegado, o que era preocupante, pois sempre ela chegava cedo. Comecei a fazer o meu almoço, quando ouvi a porta abrir.
- Mãe ?- ninguém respondeu- Porque demorou tanto ? Já ta...- parei quando vi que se tratava de Diana. Ela estava com uma cara triste, seus olhos estavam vermelhos- o que houve Diana ?-ela respirou fundo
- Mamãe morreu
Continua
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