Achei mesmo que após aquela nossa ultima briga, Alex ficaria afastado de minha casa. Porem, aquele garoto era um teimoso. No dia seguinte pela manhã lá estava ele tocando minha campainha, me arrancando da cama às oito horas, trazendo uma sacola com pães, geleias e bolos, dizendo que tinha vindo fazer o café para mim.
Nada dissemos sobre a discussão da véspera, tudo parecia como antes, só nao mudava aquele semblante meio envergonhado e encantado de Alex, quando me olhava. Eu cheguei a me divertir com ele ali em casa, enquanto olhavamos meus livros e comentávamos sobre nossos autores e romances favoritos. Ele era fascinado pelo mestre Thomas Mann, porem ultimamente andava relendo Os Sofrimentos do Jovem Werther, de Goethe, um livro que eu nunca gostei por ser justamente isso que ele mais gostava: dramático e sentimental.
- É a sua cara esse livro, Alex_ falei, rindo dele.
- Será? Mas de todo jeito, jamais perderia todas as esperanças no meu amor, como o Werther. Mesmo que seja uma esperança minuscula, vale a pena cultivá-la.
- Acha mesmo?
- Sim_ disse ele, chegando perto e tentando me beijar, mas eu desviei e ele ficou envergonhado_ Desculpe.
Com o calor insuportavel daquele final de ano, nao nos envergonhamos em ficar sem camisa na frente um do outro ali em casa, deitados no chão de barriga pra cima, aproveitando o ventilador ligado.
- Porque nao faz uma tatuagem?_ falei, me virando de frente e tocando o ombro dele_ Bem aqui. Uma bem bacana, já pensou?
- Meu pai me esfola vivo, se souber_ ele riu, se virando e me olhando de perto- Acho que nao combina comigo. Ficaria bem no Tony ou no Bruno, mas em mim, ou em voce, creio que nao.
- É... Talvez..._ fiquei meio na duvida.
Por longo tempo ele ficou me olhando diretamente nos olhos, mexendo na minha franja de fios irregulares e longos.
- Coisa mais linda os seus olhos_ ele sussurrou_ É o céu. É o mar onde me afoguei.
- Como você é brega, Alex_ ri baixinho dele.
Ele riu tambem, ao inves de ficar zangado, e começou a cantar em voz baixa um trecho duma musica famosa do 14 bis, Todo Azul do Mar:
"Quando eu mergulhei
No azul do mar
Sabia que era amor
E vinha pra ficar "
- Acho que voce canta demais_ falei com deboche_ Devia gravar um disco.
- E voce me censura demais, mas nem ligo. Sou doido por você, cara_ disse ele num tom sufocado, vindo me beijar com força, deitando sobre mim e me apertando naquele chão gelado e duro.
Porque eu nao resistia, mesmo me esforçando? Nao sei. Só me percebia com mais vontade da boca dele, de repente, dele inteiro, num calor de desejo, num enlevo estranho me dominando, algo que há muito tempo eu nao sentia. Gemi debaixo dos beijos e leves mordidas dele em meu corpo, na chupada frenetica que ele fez em mim, com fome, depois me penetrando com a lingua por longo tempo. Ele tirou da carteira a camisinha, envolvendo seu pênis que dava pinotes, ansioso como o dono. Naquele jeito entre manso e nervoso dele, Alex me fodeu, sussurrando que me amava, que eu era a vida dele, que eu era "delicioso". Suávamos, e eu olhava para ele sem acreditar naquilo, sem querer pensar. Aceitava seus beijos e o abraçava com braços e pernas, quase gozando, porem ele gozou antes de mim, depressa, gemendo forte, e vi em meio ao suor de seu rosto avermelhado algumas lágrimas, não sei porque. Ele se recompôs, com um sorriso, me masturbou e gozei em mim, me contorcendo, enquanto Alex me olhava fascinado. Beijou minha boca com calma, por longo tempo, e depois se deitou ao meu lado no chão frio, recobrando um pouco do fôlego.
- Você tem ejaculaçao precoce?_ perguntei sem olhar pra ele.
- Não... Não que eu saiba_ disse ele surpreso_ Acho que com voce eu fico muito nervoso... Foi tão ruim assim?
- Nao_ falei num tom frio_ Mas estou com raiva por termos repetido isso.
- Foi maravilhoso, Marquinhos. Só me fez amá-lo ainda mais, se é que isso é possivel...
- Mas eu nao quero mais!_ disse , me levantando e recolhendo minhas roupas_ Você me irrita com esse assunto! E ainda me come encapado. Homem nenhum me come encapado, cara!
- Não fale assim. Nós fizemos amor. Eu senti isso_ disse ele se erguendo e me olhando_ E a camisinha é importante. Os tempos que correm estão perigosos.
- Ainda insinua que estou todo podre de doenças!_ repliquei, indignado_ Então o amor da sua vida, como voce diz, está perdido de sífilis, de gonorréia, de Aids...
Senti um frio na espinha e me calei, dando-lhe as costas.
- Claro que nao, Marquinhos. Nao se ofenda_ ele veio atras de mim, apos vestir a cueca.
- Esquece, Alex. Me esquece!_ fiz um gesto impaciente_ Me deixe sozinho por hoje. Não quero brigar mais com voce, já chega.
Me tranquei no banheiro para um longo banho frio e quando saí, apenas de toalha, ele tinha ido embora. Deixou sobre a mesa de centro um bilhete:
"Desculpe qualquer grosseria minha, foi sem querer
Te amo demais, meu Marquinhos!
Alex"
Coloquei um LP de rock no toca discos, vesti um calçao e vim para a sala, olhar a tarde da sacada. Voltei para dentro, peguei refrigerante na geladeira e vim mudar o disco. Air Supply, Without You. O copo de refrigerante suava na minha mão sem que eu lembrasse de bebe-lo. "Odeio aquele babaca", pensei, olhando para o nada. " Nunca vou te perdoar, Alex, caso nao pare de pensar em voce" .
-Que merda de musica_ falei alto, apos repetir a faixa do disco.
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Valeu, como sempre! :)
Comentem à vontade!
Ate breve!