O resultado deu positivo pra câncer de pele. Fiquei muito mal, porque eu que abri o exame e soube antes de todo mundo. Segurei uma barra daquelas por dentro. Quando o médico contou pra vó, ela ficou muito mal. Ele a encaminhou para um hospital especializado no tratamento de câncer e eu tomei a frente de tudo.
Alguns dias depois, outubro iniciava. Era uma manhã de sol escaldante. Eu estava na academia quando Ci ligou.
Eu: Oi amor.
Ela: Mah, meu pai está muito mal.
Eu: O que houve?
Gente, o pai de Ci morava com a vó dela, mãe dele. Ele era alcoólatra. Bebia todos os dias. Ele teve paralisia infantil, então andava com dificuldade. Num dia como qualquer outro, ele bebeu bebeu bebeu e passou mal. Levaram para o hospital e ele entrou em coma. Isso em questão de horas.
Ela: Meu pai está em coma.
Contou toda a história que eu disse acima.
Eu: O que você pretende fazer?
Mesmo que fosse óbvio que ela viria, eu sabia que Ci e ele nunca se bateram. Eles mal se falavam, ele foi um péssimo pai.
Ela: Não sei ainda.
Eu: Talvez fosse o caso de você vir. Sua vó não tem como segurar essa barra sozinha.
Ela: Você quer que eu vá?
Eu: Claro.
Foi um trem muito maluco. Nós não tínhamos perspectiva de nos vermos tão cedo e agora nos veríamos em 2 dias. Eu contava as horas como uma criança. Por sinal, ela chegaria exatamente no dia das criançasdia antes, estávamos uma pilha. Eu a liguei, estava tudo pronto. Eu nem acreditava que aquilo seria possível. Ela me ligou do aeroporto:
Ela: Amor, vai descansar. Já estou no aeroporto. Meu vôo vai chegar ai por volta das 3h. Às 4h ja estou na casa da vó. Vc vai me ver amanhã?
Eu: Claro. Claro que irei.
Eu havia preparado uma caixa de doces para ela. Era dia das crianças, eu a veria pela primeira vez. Não dava para dar flores. Minha mãe estaria comigo, pois viajariamos juntas. Então Comprei uma caixa colorida, enchi de chocolates, jujubas e amendoim doce. Em poucas horas nos veríamos.
Acordei pela manhã muito cedo, e fui para o trabalho voluntário. Não podia deixar as coisas abandonadas, e como foi rápido, não deu pra trocar de monitor. Então tive que ficar. Às 15h sai de lá, fui em casa, tomei um banho e corri pro quarto. Quase 16h e eu ainda não sabia o que usar. Então coloquei uma calça jeans azul, uma blusinha branca básica, um colar meio hippie, rasteira, fiz uma maquiagem leve, baguncei um pouco o cabelo e tuk. Estava pronta.
Entrei no ônibus junto com minha mãe e a avisei que havia saido da minha cidade. Em 30min estaria lá. Foi a viagem mais longa da minha vida, rs...
No caminho, eu a chamei no whats.
Eu: Tô muito ansiosa.
Ela: Estou com medo, rs...
Eu: Do que?
Ela: De você não gostar de mim.
Eu: Seria impossível.
Quando o ônibus entrou na cidade, voltei a chamá-lá.
Eu: Cheguei.
Ela: Estou vendo o ônibus.
Eu: Aconteça o que acontecer, saiba que eu te amo.
Coloquei o celular na bolsa e o ônibus parou. Quando desci as escadas, vi uma moça de costas do outro lado da rua. Tinha cabelos na altura do ombro, loira e de pele morena dourada. Usava um vestido amarelo de florzinhas, no meio da coxa. Meu coração estava a mil. Eu esperei muito por aquele momento.
Ela virou de frente. Vi seus olhos enormes e sua boca maior ainda. Seios grandes fechavam o pacote. Ela era linda. Atravessei a rua em êxtase, ja podia sentir sej perfume. Quando nos aproximamos, ela sorriu e disse:
Ela: Menina, quanto tempo.
Eu nem ao menos respondi. A puxei pra um abraço. Meu olhos estavam inundados. Seu perfume me desequilibrava, minha respiração faltava. Como eu queria beijá-la. Teria ficado ali a eternidade e um pouco mais. Até que ela me soltou e fez uma cara de: sua mãe tá do nosso lado, rs...
Ela: Mah, como vc está diferente.
Eu: Pois é.
Ela: E esse piercing na orelha?
Minha mãe me olhou com uma cara de assustada. O.o
Eu: Rs... Tá doida? É um brinco.
Ela: Haha - riso amarelo.
Eu: E seu pai?
Ela: Ele está mal, Mah. Os médicos falaram que a possibilidade dele acordar é quase nula.
Ela falava e eu só olhava para sua boca. Deus, que vontade de agarrá-la.
Ela: Vou visitar minha mãe na terça em Recife. Vamos?
Minha mãe: Filha, vou indo para casa de mãe. Mais tarde nos falamos.
Eu: Tá bom.
Ci: Prazer conhecer a senhora.
Minha mãe: Igualmente.
Falou com uma cara de: Tô de olho em vc, rs..
Assim que minha mãe saiu e ficamos sozinhas na rua, a primeira coisa que lhe disse de verdade, foi:
Eu: Eu te amo!
Ela me olhou surpresa.
Eu: Precisava lhe dizer isso, ou iria sufocar. Você é linda!
Ela: Você que é.
Eu: Não vejo a hora de te beijar.
Ela: Não vejo a hora de te chupar, rs...
Corei ^^
Demos risada e subimos a rua andando. A rua era larga, mas nós nos esbarravamos o tempo todo. Por timidez ou por prazer de tocar a pele da outra, com a nossa própria. Ela percebendo o peso da minha bolsa, disse:
Ela: Me dá sua bolsa, que eu levo.
Eu: Não precisa.
Ela: Sério. Eu levo.
Eu: Não precisa.
Ela agarrou a alça e começou a puxar.
Ela: Anda Mah, para de teimosia. Me dá isso.
Eu: Para vc.
Nos olhamos e caímos na risada pela situação.
Ela: Putz, me desculpa. É a primeira vez que nos vemos e já quero pegar nas tuas coisas kkkkkk
Eu: Besta, rs... Não é isso. Não são mais minhas, são nossas.
Eu estava encantada com ela. Cada vez que dava um vento, seu perfume me embriagava. A única certeza que eu tinha naquele momento, era que eu a amava e a queria para sempre.