Fiquei sem saber o que dizer. Putz, eu esperava que minha mãe tivesse ciência disso alguns anos pra frente. Mas não agora. Já que as circunstâncias haviam mudado, mudei as estratégias também. Então respondi.
Eu: Sim, ela é sim. E nós vamos viajar na terça para visitar a mãe dela em Pernambuco.
Mãe: Fazer o que lá?
Eu: Mãe, somos amigas. O pai dela está em coma e a mãe está doente - não me deti a explicar isso, mas minha sogra é muito doente. É um pouco complicado de explicar.
Minha mãe ficou em silêncio, com cara de poucos amigos. E eu fui para o quarto. Entrei e fiquei pensando que eu não tinha me preparado pra aquilo agora. Quando aconteceu a situação com a D... eu me prometi não mais fazer minha mãe sofrer. E me envolver com outra mulher era tirar meus medos do armário, como Harry Potter e o Prisioneiro de Askaban. A diferença era que eu não tinha uma varinha, nem uma magia para transformar algo assustador em engraçado. Apesar disso, eu amava aquela mulher. E não mediria esforços para ficarmos juntas. Então deixei de pensar no que ainda aconteceria, e me deti a pensar naquele momento. Eu estava muito feliz, ela era incrível, me fazia borboletar desesperadamente. Dei play no aparelho de som, e não era de estranhar que essa música tocasse. Eu a ouvia 24h por dia, pensando nela.
CÁSSIA ELLER - ALL STAR
Estranho seria
Seu eu não me apaixonasse
Por você
O sal viria doce
Para o novos lábios
Colombo procurou as Índias
Mas a terra avistou em você
O som que ouço
São as gírias do deu vocabulário
Estranho eu gostar tanto
Do seu All Star azul
Estranho é pensar
Que o bairro das Laranjeiras
Satisfeito sorrir
Quando chego ali
E entro no elevador
Aperto o 12 que é o seu andar
Não vejo a hora de te reencontrar
E continuar aquela conversa
Que não terminamos ontem
Ficou pra lá
Estranho mas já me sinto como um velho amigo seu
Seu All Star azul combina
Com o meu preto, de cano alto
Se o homem já pisou na lua
Como ainda não tenho seu endereço?
O tom que eu canto as minhas músicas
Pra tua voz, parece exato
Estranho é gostar tanto
Do seu All Star azul
Estranho é pensar
Que o bairro das Laranjeiras
Satisfeito sorrir
Quando chego ali
E entro no elevador
Aperto o 12 que o seu andar
Não vejo a hora de te reencontrar
E continuar aquela conversar
Que não terminamos ontem
Ficou pra hoje
As lágrimas escorriam rosto abaixo e morriam no travesseiro. Meu Deus, como eu amava aquela mulher. Eu já via todas a nossa vida no futuro. Eu que nem pensava em ter filhos com uma mulher, agora já tinha até nome. Minha carga evangélica me bloqueava para a possibilidade de ter filhos. Mas eu já lia blogs e blogs de lésbicas que faziam FIV ou I.A. Até dos grupos do Facebook eu participava, acompanhando as lutas daquelas mulheres que sofriam pra gerar um bebê, ou a alegria de quem recebia um teste com resultado positivo. Eu enfrentei a mim mesma por amor a ela, e se preciso fosse, enfrentaria o resto do mundo também.
O domingo acabou assim. Na segunda, Ci foi resolver algumas questões no hospital local, em que o pai dela havia sido atendido inicialmente. Mesmo que ele estivesse bêbado, deveria ter recebido atendimento. Mas foi negado. O mandaram pra casa, agravando o caso dele. A terça chegou, e Ci iria direto para o Hospital, visitar seu pai pela primeira vez, desde que havia chegado. Eu acordei cedo e comecei a fazer uma mala. Iriamos ficar de terça a domingo na casa da mãe dela. Eu não tinha noção do que iria acontecer ali. A única coisa que eu sabia era que estar com ela por quase uma semana, seria a realização de um sonho.