Cap.5
Ele ficou alguns minutos em silêncio, o que me preocupou ainda mais.
- Taylor, você não vai falar ?- ouvi ele respirar fundo
- Mamãe e vovô, eles morreram- arregalei os olhos.
- C-como assim ? C-como morreram ?- sua voz embargou novamente
- Eles tavam na estrada...o carro capotou... É só isso que eu sei- botei a mão na boca, que tragédia !- vem pra cá por favor, eu não vou aguentar passar por isso sozinho.
- Ok, eu vou para aí
TEMPO DEPOIS
Cheguei em Ilheus ainda em estado de choque. Não podia acreditar que aquilo tinha acontecido. Taylor devia estar arrasado. Mal cheguei no hotel, revirei minhas coisas e achei um papel, aonde estava escrito o endereço deles, que ele havia me passado. Peguei um táxi e corri pra lá. Comecei a lembrar de diversas coisas, e aquele clima de morte me fez lembrar da minha mãe, e do dia em que ela morreu.
FLASHBACK
- Mas mãe ? É só uma festa, que mal tem ?- estava com muita raiva, pois queria ir a uma festa de uma amiga e ela não queria deixar.
- O problema não é esse, você está de castigo, esqueceu ? Não vai sair, e não adianta discutir- fiquei possesso e sai batendo o pé- um dia você vai me entender filho.
- Eu nunca vou entender, nunca. Porque os pais tentam controlar tanto a gente !- duas horas depois, recebi a notícia de que ela tinha sofrido um infarto, no elevador de um shopping.
FIM DO FLASHBACK
Sim, meus dois pais morreram de mal comigo. Eu não queria fazer o mesmo com meu filho. Logo cheguei no tal endereço. Estava cheio de carros na frente, com certeza eram familiares. A casa deles era na verdade um sobrado verde, muito bonito por sinal. Paguei o taxista e bati na porta, aflito. Logo ela abriu, era ele.
- Pai- ele vestia um moletom comprido, estava com os olhos inchados, com certeza tinha chorado muito. Pulou em meu braços, me dando um abraço forte- eles se foram pai, eu não acredito que eles se foram- seu choro era de dor. Sua dor era tão intensa que me contagiou. Comecei a chorar, enquanto tentava acalma-lo.
- Calma filho, eles foram para um lugar melhor, bota isso na sua cabeça- eu não tinha tanta certeza disso, mas não iria dizer barbaridades pra ele naquele momento
- Eles me criaram, porque tiveram que me deixar tão cedo- apenas fiquei abraçado aquele corpo carente. Foram diversos minutos que eu escutei ele chorar em meu ombro, enquanto eu massageava seus cabelos e tentava passar segurança a ele. Por alguns minutos pude sentir seu perfume, era Essencial, um dos meus favoritos. Por um momento me peguei tentando sentir aquele cheiro gostoso, e foi ai que me lembrei que ele era meu filho. "Para com isso Rick" Olhei ao redor, e vi um monte de parentes dele, nos olhando sem entender nada. Aos poucos ele foi me soltando, mas não me soltou completamente.
- Quem é esse homem Tay ?- um homem da minha altura perguntou lá de dentro.
- Ele é o meu pai- ele não me soltou. Os parentes deles começaram a se entreolharem, sem entender bulhufas do que acontecia.
- Como assim ? Seu pai estava na Itália- agora eu me pronunciei.
- Eu voltei, e faz tempo. E não pensem que eu vou deixar barato todo esse tempo que vocês me fizeram ficar longe do Taylor- alguns me olharam de canto, com certeza os mais preconceituosos. Forcei a memória, e lembrei de algumas pessoas. Todas bem mais velhas, com cabelos brancos e pele caída. Mas eram os mesmos que tinham me criticado 15 anos atrás. Os mesmos que tinham feito a cabeça do meu pai pra me afastar do meu filho. Parecia que eu estava num covil de cobras. Pouco depois, Taylor me soltou. Sentou no sofá e ficou lá. Parecia estar em choque. Fui até a cozinha pegar um copo d'agua. Fui seguido, e percebi. Comecei a encher o copo de água, até ouvir uma voz. Era a mesma voz que havia interrogado Taylor minutos antes.
- Como você o achou ?- reconheceria aquela voz em qualquer lugar. Era o tio Miguel. O pastor que tinha feito a cabeça do meu pai contra os gays.
- Isso não importa. O que importa é que eu achei, e tenho provas que ele é meu filho. E não pense que eu vou deixar ele de bandeja pra vocês, porque não vai ser assim. Eu só volto pra São Paulo com ele. Ele é meu filho, e eu tenho esse direito, pois você, Natália e meu pai me afastaram dele por quinze anos, 15 anos extremamente sofridos pra mim.
- Pra que ? Pra ele pegar essa demônio que você tem ?- ri daquela insolência.
- Em primeiro lugar, se alguém tem um demônio aqui, tenho certeza que não sou eu- ele arregalou os olhos- em segundo lugar, se ele for gay, ele é gay, e não foi nada nem ninguém que fez ele ser. E em terceiro lugar, ele vai comigo porque vocês me afastaram dele por 15 anos, e eu tenho o direito de ficar com ele.
- Eu alegarei abandono de lar- ri de novo
- Se você fizer isso, vai se estrepar bonito, pois eu tenho provas de que fui afastado dele, e pior, vocês me fizeram perder todo o desenvolvimento do meu filho, fugiram sem deixar rastros, e tudo isso porque ? Por causa desse seu preconceito ridículo, e que você passou a meu pai. Mas dessa vez vai ser diferente. Meu filho não é assim, e nem vai ser, porque a partir de hoje, quem cuida dele sou eu.
Taylor não me deixou sair de perto dele um minuto. Não deixei ele ver o corpo da mãe e do avô no velório, imaginei que só faria ele piorar naquele momento. A casa ficou frequentada o dia todo. A noite, pedi uma pizza pra ele, que por um milagre, ele comeu. Já estava bem tarde, quando vi ele dormir no meu colo. Tão lindo ele era, parecia um anjo.
- Não façam barulho, eu não quero que ele acorde !- ninguém se expressava, pareciam não acreditar que eu estava ali. Peguei ele nos braços e abrindo porta por porta, descobri qual era a do seu quarto. Coloquei ele na cama e o embrulhei. Admirei-o por alguns segundos. Como ele era bonito. Nunca pensei que o meu filho se tornaria um rapaz tão lindo e fofo. Ao menos ele parecia nao ter pesadelos. Fechei a porta do quarto lentamente, e voltei pra sala- Você não vai embora ?- meu tio perguntou
- Óbvio que não, meu filho precisa de mim.
- Sabemos cuidar dele- ri
- Imagino. Prefiro que não cuidem, vai que façam ele ter pesadelos- olhava todos eles de cabeça erguida.
- Você não passa de uma bicha- ri
- Pode ser. Mas essa bicha hoje, é engenheiro e ganha por mês mais do que vale essa casa. A bicha se formou, e é feliz. A biha tem amor no coração e ajuda os outros, em vez de critica-los. A bicha, procurou por 15 anos o seu filho, incansavelmente. Somando tudo isso, eu tenho certeza que é melhor eu ser o que eu sou, do que ser frio e amargo como você- ouvi Taylor gritar lá de cima.
- Pai, vem dormir comigo !- sorri.
- Com licença, deixa eu cuidar do meu filho- subi as escadas e entrei no quarto. Ele estava embrulhado, seu quarto estava gelado.
- Você não vai embora não né ?- neguei com a cabeça- dorme comigo hoje ?- fechei os olhos, e me lembrei de quando ele era bebê. Nessa época ele dormia abraçado comigo. Tirei meu sapato e me deitei ao seu lado. Senti quando ele se aconchegou em meu peito. Por algum motivo, isso fez meu coração acelerar- eu estou tão feliz que você está aqui hoje. Eu não sei se aguentaria passar por isso tudo sem o meu pai- passei a mão em seus cabelos, deixando-os ligeiramente bagunçados.
- Para de pensar nisso filho, apenas dorme- fiquei olhando pra lua, e esperando que no dia seguinte ele estivesse melhor, mesmo sabendo que era impossível isso acontecer.
NO DIA SEGUINTE
Acordei com o sol forte em meu rosto. Tentei me espertar para aquele dia difícil. Quando acordei, percebi o quão estranha era nosaa posição. As pernas dele estavam sobre as minhas, e ele rodiava meu corpo com seu braço, e descansava sua cabeça em meu peito. Me lembrei de quantas vezes havia dormido assim com Rodrigo. Olhei melhor e percebi que ele estava acordado.
- Já acordou Taylor ?- ele respirou fundo
- Estou tentando assimilar melhor tudo o que aconteceu- sabia que o dia seria difícil. Era o dia do enterro.
Fui ao hotel, peguei minhas coisas e voltei pra casa dele. Já havia levado uma roupa preta, pois sabia que iria a um enterro. Ele se arrumava o meu lado, e estávamos idênticos. Eram 10 horas quando chegou o carro que eu havia pedido pra nos buscar. Seus olhos já estavam marejados, quando entramos no carro. Aquela manhã seria dramática.
TEMPO DEPOIS
A beira do túmulo, o pastor falava algumas coisas, na tentativa de dizer que eles iriam para os céus. Com todo respeito ao pastor, mas os pecados deles eram bem grandes. Taylor permanecia abraçado a mim. Miguel apenas nos observava. Havia chegado a hora. O cortejo fúnebre iniciou-se. Eu e ele chorávamos. Ele era bem mais escandaloso que eu. Tive que o segurar quando a Natália foi enterrada.
- Não mãe, naao vaiii embora, por favooorr, não me deixa- eu apenas podia o segurar, enquanto a areia começava a ser jogada sobre o caixão e ele voltava a chorar no meu braço. Meu pai foi enterrado em seguida.
- Que Deus lhe perdoe meu pai, por ter me separado do meu filho
TEMPO DEPOIS
O luto já estava terminando. Fazia uma semana e meia que eles haviam sido enterrados. Meu filho ainda estava meio tristinho, mas já dava alguns sorrisos. Havia chegado a hora de acertamos aquilo.
- Filho, eu preciso saber. Você vai morar comigo, em São Paulo ?
Continua
Gostaram ???? Seus fofos, obrigados pelos comentários, continuo boquiaberto com o número de visualizações. Morzão Emerson, me desculpa por não ter falado direito com você agora a noite, estava meio ocupado, mas eu te amo muito viu. Beijos a todos