Entao eu estava namorando. Apos tanto tempo, apos tanta coisa, tanta loucura e prazer desenfreado, apos tanto homem, eu me via apaixonado, e por quem jamais imaginaria estar. Sim, estava gostando dele de verdade, era sincero, e era uma sensaçao maravilhosa ter aquele menino na minha vida com sua chatice, grude, com seu encanto irresistivel.
Voltei para casa na tarde do dia seguinte, depois de tudo ser arrumado pelas empregadas da mae de Alex que eu esperava que fossem discretas quanto ao que ali viram: cacos de vidro e manchas de sangue no chao. Estava tudo em ordem agora, mas faltava a mesa, quebrada por aqueles dois rinocerontes no momento da briga.
- Vou providenciar uma para amanha mesmo - disse Alex.
Falei para ele que nao precisava me bancar, como Tony fazia. Com ele eu tinha vergonha de ser assim sustentado. Ao menos na questao do aluguel do apartamento, creio que poderia me virar apertadamente. Tony tinha posto o contrato em meu nome recentemente, mas quem pagava aquele salgado aluguel era ele. Alex nao concordou.
- Mas seu ordenado no banco nao cobre todas as despesas - disse ele, serio - Eu sei que nao. Escuta, eu posso sim bancar sua vida tanto ou mais do que ele, pelo menos ate voce se formar, certo? Nao sinta vergonha disso, sou seu namorado, estou te ajudando. Meu pai coloca dinheiro na minha conta toda semana, e eu nao gasto muito. Sem querer ostentar, e' muito dinheiro, e nao tenho pena de usar com voce. Nao sou um namorado avarento.
Deu risada, me abraçando, e nao tive escolha senao aceitar, ao menos por enquanto. Naquele dia ficamos namorando ate tarde em frente à TV, beijando, quase se amassando.
- Quando esse braço sarar... - ele sorriu, me mordendo o pescoço, fazendo cocegas - Estou doidinho de saudade do teu corpo. Lembra da ultima vez que transamos? Foi no ano passado!
- Coitado. Esse tempo todo na mao - caçoei dele.
- Mas valeu a pena - ele me olhou profundamente - E como valeu.
Recostei a cabeça no ombro dele e ficamos vendo um filme velho e sem graça na TV. Toquei num assunto delicado, porem necessario agora.
- Alex, eu quero ser fiel com voce - falei, segurando sua mao - Nem acredito que estou dizendo isso, porem estou sendo sincero. Sera a maior caretice nosso namoro, mas eu quero assim, sinto essa necessidade. A gente se basta, cara. E vou me esforçar para isso.
- Eu nao iria te exigir nada, amor - disse ele em voz comovida - Queria tanto ter voce que talvez ate fizesse vista grossa à suas escapadas, mesmo que isso me ferisse. Mas voce, de livre vontade, me promete... Cara, como eu te amo! Porque nao te conheci antes?
Me apertou contra ele, beijando minha cabeça, e aquela alegria dele me contaminava, era imediato. Ele tinha trazido uma maquina Polaroid e tirou muitas fotos nossas, as vezes fazendo palhaçada, caretas e poses engraçadas. Renderiam um album cheio.
- Mais lindo do que o Tadzio! - dizia ele me olhando posar para as fotos.
Alex tinha uma loucura por aquele atorzinho que interpretou o Tadzio no filme A Morte em Veneza. Um loiro com cara de menina, devia ser passivo ate à alma. Peguei uma raiva daquele pivete, ainda mais que Alex me confessou ter tido altos sonhos eroticos com o carinha durante sua adolescencia.
- Vai, palhaço! - falei contrariado - Claro que sou melhor do que esse magrelo...
- Que ciumento! - ele ria, encantado, vindo me beijar - Lindo te ver com ciumes de mim, meu anjo!
- Seu tonto - eu acabava rindo tambem e nao se falava mais no atorzinho chinfrim.
A mesa chegou no outro dia e era diferente da outra: tinha o vidro transparente. A mesa "da cocaina " escurecia a sala com seu vidro escuro, mas aquela clareava, fazia bem aos olhos. Para mim, essa era mais bonita, mais "limpa".
Tirei a faixa do braço algumas semanas depois, e voltei aos estudos e ao trabalho. Tambem pude, enfim, transar com Alex, ou "fazer amor " ,como ele dizia. Era sempre incrivel aquele jeito dele me amar como se eu fosse algo sagrado, uma honra para ele. Era tao diferente do sexo com os outros caras, eu me sentia "mais eu " ali com ele, mais feliz, como se agora aquele sexo me completasse mais do que os anteriores.
No final do mes eu esperava Alex para passar o domingo comigo, ouvindo Pet Shop Boys na sala, cutucando aquele carocinho indolor que apareceu no meu pescoço, de manha. Seria uma ingua? Mas porque? Aquilo nunca me apareceu antes...
Tocaram a campainha e fui abrir, desligando o som. Recuei, espantado.
Era Tony. Estava diferente, emagrecido, palido, com um olhar triste. Apesar do calor, vestia uma cacharrel preta, com a gola levantada escondendo o pescoço.
- Posso entrar, Marquinhos? - pediu com uma voz fatigada.
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Obrigada, galera. Opinem a vontade! :)
Beijo! Adoro voces! *-*
