- Quando o Danilo subiu pro quarto, ele não estava te procurando. Ele foi parar no quarto do Rafael por engano, por causa da bebida. Ele exagerou, Lucas, bebeu demais. Por isso acho que ele, sinceramente, nem lembra. – o olhar estranho no rosto dela continuava lá – Mas quando ele chegou no quarto, ele achou que tava no lugar certo, no quarto de hóspedes, com a pessoa certa, que estava dormindo lá... Lucas, quando o Danilo falou aquilo pra você, ele pensava que você era a Sabrina.
E, finalmente, eu identifiquei o olhar estranho no rosto dela: pena.
- Para de olhar assim pra mim, Alice.
- Assim como?
- Assim – falei, apontando para o rosto dela. – como se eu fosse digno de pena.
Ela desviou o olhar. Ficamos em silêncio, enquanto eu processava tudo o que havia ouvido. Danilo realmente não gostava de mim, ok, disso eu desconfiava. Ele definitivamente não era gay, ok. E ele estava apaixonado por uma das minhas melhores amigas. E eu acho que isso era o pior de tudo. Não era nenhuma piranha, com quem ele só ia curtir e largar. Não era nenhuma menina que eu mal conhecia e que eu não ia precisar aturar ver ele namorando ela. Era a Sabrina. E, se ela correspondesse os sentimentos dele, eu ia ver tudo, saber de tudo. O pensamento me deixou sem ar. Saber que ele comia ela era uma coisa, mas ter que ouvir, em primeira mão, quando tudo acontecesse, e ficar por dentro dos detalhes – porque esconder detalhes não era o forte da Sabrina – era uma ideia que me torturava.
- Para, Lucas – Alice me despertou do meu devaneio. – Deixa de pensar nisso, só te faz sofrer.
- Não, algo me diz que eu não vou conseguir evitar, então é melhor pensar.
E eu pensei. Durante a semana toda, foi só o que eu fiz. Matei aula na terça e na quarta, e faltei o almoço na casa do Danilo, alegando estar doente. Na quinta, fingi ir pra aula, mas acabei no shopping, andando sozinho por muito tempo. Durante todo esse tempo eu pensei sobre o que eu deveria fazer, ou se eu deveria fazer alguma coisa. Cheguei à conclusão de que a segunda opção era a melhor: ia fingir que não sabia de nada. Segundo Alice, Danilo só tinha contado aquilo pra ela porque precisava de conselhos sobre como agir com Sabrina. Já com Rafael, ele só tinha se aberto porque precisava de conselhos de um cara. À mim, ele não tinha recorrido. Pra mim, ele não havia pedido nenhum conselho, nem confessado nada. E foi isso que me estimulou à transformar minha mágoa em raiva. Uma raiva que misturava motivos racionais e irracionais. Raiva por não ter me dito nada quando eu pensava que era seu melhor amigo. Raiva por ter sido o último – além da Sabrina – a saber dos sentimentos dele por ela. Raiva por ele se apaixonar por uma amiga minha. Raiva por ele não se apaixonar por mim...
Na sexta, não tive como evitar a escola.
- Oi, gente – cumprimentei todos no nosso lugar habitual da sala, onde sentávamos perto uns dos outros.
- Melhorou, amigo? – Sabrina perguntou, embora já soubesse a resposta, já que havia me ligado todos os dias.
- To melhor. Fael, deixa eu sentar.
- Senta aqui. – e apontou pro próprio colo. Eu teria rido, mas ouvi Danilo rindo, e o som me despertou a minha raiva.
- Porra, Rafael, sai logo.
Ele levantou, com uma expressão confusa no rosto. Vi Alice dar de ombros, fingindo que não sabia o motivo do meu mau humor.
- Quem te mordeu, cara? – Danilo perguntou. Ignorei e não respondi. Depois daquilo, eles me ignoraram, e continuaram a conversar entre si. Contudo, percebi que sempre que me afastava do grupo, pra ir ao banheiro, beber água, falar com o professor, ou ir na cantina, eles começavam a falar baixo. Não tive dúvidas de que eu era o assunto da conversa.
Quando acabou a aula, não esperei por ninguém, e fui direto para o prédio de esportes, era dia de natação.
Tinha pouca gente na aula e Rafael havia faltado, por isso, passei a aula afastado e sozinho. O professor percebeu, perguntou se eu estava sentindo alguma coisa, ao que eu respondi que sim, e pedi para ir ao banheiro. Fiquei lá por muito tempo. A aula acabou, muitos caras entraram, tomaram banho e saíram, e eu continuei lá. Por último, entrou um cara do segundo ano. Embora fosse de uma série a menos, ele era mais velho que eu. Ele sempre tomava banho por último, e eu nunca entendi porque.
Decidi que era hora de ir, afinal, não iriam demorar a fechar o prédio. Levantei e fui para o box ao lado dele. Tirei a sunga e liguei o chuveiro. Estranhei o fato de o cara ao lado não ter ligado o chuveiro dele, mas logo ouvi o barulho de água saindo do box de frente para o meu. Afastei a cortina para ver se o cara só havia trocado de box, e qual a minha surpresa ao ver que ele estava de cortina aberta, virado para mim, com o pau duro na mão.
Meu pau subiu na hora. Não que ele fosse lindo. O rosto não era bonito, e o corpo não era definido. Mas o pau dele, foi o que me chamou a atenção. Grosso – muito grosso – e marcado de veias que, mesmo com a pele escura, eram visíveis.
Ele notou que eu havia encarado, e tomou aquilo como incentivo. Não disse nada, só atravessou o corredor e entrou no meu box. Recuei. Ele fechou a cortina, se virou pra mim, e começou a se masturbar. Fiquei sem reação, como se esperasse ele fazer mais alguma coisa. Ele não fez. Me encarava nos olhos – não descia pro meu corpo.
- Não vai bater? – ele quebrou o silêncio.
E eu bati. Tremia e meu coração parecia que ia sair pela boca, mas continuei mesmo assim. Não consegui encará-lo, e me concentrava no seu pau e nos movimentos que ele fazia com a mão. Após alguns minutos, ele se aproximou e me empurrou contra a parede com a mão livre. Esperei, mas ele não fez mais nada. Seu pau agora estava a centímetros do meu, e ambos olhávamos pra baixo. Ele não me tocava, e, de alguma forma, aquilo era mais excitante ainda.
Percebi quando ele acelerou os movimentos, e fiz o mesmo. Com força, ele me virou e me empurrou contra a parede. Não entendi, mas não falei nada. Ouvi ele gemer e senti quando encostou o pau na minha bunda. Segundos depois, senti o líquido quente escorrendo em mim. Antes que eu gozasse, ele saiu e voltou para seu chuveiro, agora de costas para mim, e começou a tomar banho. Olhando para sua bunda, gozei. Ele não pareceu notar nada, e terminou o banho. Esperei ele sair do banheiro, e só então saí para me trocar.
Voltei para a porta do colégio e esperei meu pai. Fui pra casa, jantei e me deitei, mas meu coração ainda batia rápido: nunca tinha feito nada parecido. Ri das coisas que poderiam ter acontecido, desde ele querer me foder à alguém aparecendo e nos pegando no flagra. “Não”, pensei, “foi melhor assim”.
Logo entendi porque estava me sentindo tão bem, tão leve. Durante tudo aquilo, não tinha pensado nenhuma vez no Danilo. “E aí, Danilo Albuquerque”, pensei, “você não é tão inesquecível assim, afinal de contas”, agora eu ria, “uma punheta com um desconhecido foi o suficiente pra superar você”.
Soube que eu estava errado na manhã do sábado. Entrei na sala pra fazer prova e, ao olhar pra ele, foi como levar um soco na boca do estômago. Ele sorria e acenava, me chamando para sentar no lugar que ele havia guardado. Percebi que meu lugar típico havia sido tomado, o que significava que Alice não havia guardado pra mim. Agradeci e me senti afundar na cadeira – não estava mais me sentindo leve como na noite anterior.
Não tive a oportunidade de puxar conversa com ninguém, o professor logo pediu silêncio – a prova iria começar. Percebi pelo olhar no rosto de todos, exceto Danilo, que Rafael, Sabrina e Alice não estavam felizes com meu comportamento no dia anterior. Agora, livre da raiva, me senti mal, e decidi que eles mereciam um pedido de desculpas.
Após a prova, tive a chance. Pedi desculpas a todo mundo, e culpei a doença – que eu nunca tive – e as aulas perdidas – que eu não me arrependia de ter perdido. Só Alice parecia relutante em aceitar as minhas desculpas. Quando todos foram embora, ela me chamou para conversar.
- Lucas, eu não to nem aí qual é a sua estratégia de superação dessa paixão pelo Danilo. Não interessa se quiser canalizar sua mágoa pra raiva. Na verdade, até entendo, é realmente mais fácil assim. Mas dirija sua raiva à ele, não à mim. Não ao Rafael, nem à Sabrina. E outra, se quiser mesmo ficar com raiva do Danilo, eu acho que você precisa pensar em uma desculpa pra justificar sua raiva pra todo mundo, eles vão querer saber o motivo.
- Alice, você vai ser uma ótima psicóloga... – falei, sincero, e a abracei.
- Não, você não tá perdoado ainda.
- E o que tá faltando?
- Você sair hoje à noite com a gente.
Pensei, não parecia uma má ideia, a não ser por...
- O Danilo vai?
- Vai.
- E ele vai tentar ficar com a Sabrina lá, não vai?
- Vai sim.
- É por isso que você quer que eu vá? Pra me fazer sofrer e pagar por ontem?
- Não, é pra você se acostumar com a situação.
Acabei aceitando. Se Sabrina realmente correspondesse aos sentimentos do Danilo, um namoro era inevitável, e eu teria que lidar com isso, por mais que me doesse. Além do mais, eu estava disposto a me afastar dele, mas a ideia de ter que me afastar do resto dos meus amigos era inconcebível.
Às onze em ponto, ouvi a buzina do carro do Rafael. Peguei a chave, me despedi dos meus pais, e em pouco tempo me sentava no banco de trás ao lado de Alice e Danilo, Sabrina ia na frente com Rafael. Não demorou e chegamos na boate, que ficava próxima. Compramos as entradas e logo estávamos escolhendo uma mesa.
A noite passou rápida, sem dúvidas, graças à bebida. Rafael ficou de motorista, afinal, o carro era dele, e não bebeu. Mas ele não ficou na mesa, logo saiu pra caçar rabos de saia. Sabrina não parou quieta, e pulava de mesa em mesa cumprimentando pessoas, a maioria da nossa escola. Alice não saiu do meu lado, e continuava a pedir bebidas, que ela não bebia. Perguntei se ela estava tentando me embebedar, ao que ela riu e respondeu:
- Você tá precisando.
Já em Danilo, não prestei atenção, de propósito. O vi algumas vezes na mesa, bebendo alguma coisa, mas logo ele saía. Quando o álcool fez efeito, fiquei animado, e quis ir pra pista de dança. Alice me acompanhou, e logo estávamos dançando sozinhos em um canto. Alguns caras chegaram nela, mas ela os dispensou. Passado algum tempo, ela disse que iria buscar mais bebidas, e saiu de perto. Sozinho, resolvi procurar Rafael ou Sabrina pra me fazerem companhia. Encontrei Rafael aos beijos com uma menina, e resolvi não atrapalhar. Pouco depois, encontrei Sabrina. Mas não cheguei perto. Ela estava com Danilo, dançando. Os dois riam e se abraçavam, e ele falava coisas no ouvido dela.
Saí de perto, rumo ao banheiro. Senti que ia provocar, mas lembrei das recomendações que a médica me ensinou, tantos anos atrás, durante minhas crises de refluxo. Inspirar, respirar, inspirar, respirar... Lavei o rosto, e comecei a me sentir melhor.
E aí, vi ele. O cara do vestiário do colégio. Ele havia entrado no banheiro, mas parecia que não havia me visto. O banheiro estava vazio – é o banheiro dos funcionários, percebi. Ele entrou em um reservado, mas não fechou a porta. Não sei o que me incentivou mais ali: a bebida ou a necessidade de esquecer o que havia visto. Quando dei por mim, já me aproximava dele por trás. Ele olhou rapidamente por cima do ombro, mas me ignorou. Senti meu pau endurecer, e o coloquei pra fora. Sua calça estava abaixada, e tomei aquilo como incentivo: encostei meu pau na sua bunda.
Nem senti o empurrão, quando percebi, já estava no chão.
- Desculpa – pedi, pondo o pau pra dentro da cueca e fechando o zíper da calça.
- Tá louco? – ele parecia furioso. – Não sou da tua laia, boiola.
- Eu não... – não terminei a frase, só deu tempo perceber que ele havia levantado o pé e descia ele em direção ao meu rosto.
Depois disso, escuridão.