Quando o grande movimento na estação começou a aumentar, pois junto a mesma tinha toda a malha viária do Recife, Eu finalmente fui em busca da minha vida.
Saí do lugar e rapidamente um cheiro bom de cachorro quente me pegou de surpresa. Parece que era bem comum o carrinho de lanche em esquinas pelo Brasil afora, e isso pra mim foi uma verdadeira benção... Comi três bem caprichado, como disse o garoto sardento e dentuço que os fazia. Paguei, bebi o refrigerante que era incluso no pacote que ele chamava, lanche feliz, e sentei num batente alto em que uma senhora de mais ou menos cinquenta e poucos anos estava sentadinha, descascando batatas...
_ Parece que você não é daqui, acertei menino? Lindo demais o falar daquela mulher.
_ Acertou sim, senhora. meu nome é Heitor, prazer. E estendi a mão que ele pegou com firmeza e olhando e meus olhos disse:
_ Não precisa nem você me dizer o que lhe aconteceu, acabei de ver sua alma e posso garantir que você tá bem machucado. Sua saída vai deixar muita saudade... O caminh será duro, só que você é um homem forte, destemido e vai sorrir lá no final... Pode até não ser um riso feliz, mas que vai fazer muita gente se espantar, ah meu filho, isso vai...
_ Ah meu Deus Vó, lá vem a senhora de novo com essas maluquices... Disse o garoto, enquanto fazia mais outro cachorro quente para uma turma de alunos que haviam parado no seu carrinho de lanche.
Ela apenas o olhou de volta, pigarreou ou fez um barulho semelhante, não se importou e voltou a olhar pra mim...
_ Me diga se tiver errada... Eu por acaso menti pra você? Ou por acaso falei algo que não seja a mais pura verdade?
_ Como a senhora descobriu isso?
_ Muito simples meu filho, você é uma pessoa abençoada. Tua alma é linda, e você não poderia ter sofrido isso, só porque... E ela baixou a voz falando só pra mim... Você é diferente do que eles queriam, aliás, eles não, um homem que sempre teve medo de você, por viver escondido.
_ A senhora ta falando do meu pai...
Ela não tirava os olhos de mim, e continuou...
_ Ele é igual a você menino, só que por medo, ele nunca deixou isso sair dele... Agora, a mulher é uma Santa, sei que não é nada sua, mas foi mandada pra lá pra tomar conta de você.
_ Minha mãe... Ela não é verdadeiramente minha mãe, mas amo ela, como se fosse.
Aí não aguentei, o choro veio tal qual uma grande inundação, trazendo na correnteza toda a dor, mágoa, decepção, sofrimento, ódio e tristeza que eu acumulara nas últimas horas... E a gentil mulher me deixou chorar em seu ombro.
_ Uma coisa também é certa menino, você não vai chorar mais, não por causa disso. Tudo vai se arranjar. Você ta com pouco dinheiro, sozinho e quase não trouxe roupas, mas sei o que poderá ser feito. Não saia daqui de jeito nenhum, pois ainda hoje você voltará a dormir debaixo de um teto. Ah, antes que eu me esqueça, meus parabéns pelo aniversário, idade linda ela sua.
" Quem era essa mulher? " Essa pergunta jamais me saiu da cabeça, nem mesmo nos dois anos em que morei com sua família até que ela veio a falecer dois meses depois que viajei para São Paulo.
Sua casa era bem simples e não ficava em Recife e sim em Jaboatão dos Guararapes, no bairro do Vista Alegre. Ao todo os cinco cômodos da casa era povoado por 13 pessoas após a minha chegada. Ninguém se importou com a minha chegada e tão logo D. Rosália Bulhões me fez guardar a mochila com poucas coisas que nela havia no seu armário, me fez ir até a cozinha e almoçar um prato de arroz com ovo frito, que devo dizer, estava delicioso e beber muita água de coco, pois a venda deles garantia outra renda pra família, além de sua aposentadoria, do carrinho de lanches e de dois outros rapazes, seus netos, que logo logo me deram uma dica de como ganhar dinheiro.
Enquanto tive dinheiro, o que só durou pouco mais de dez dias, pois tive que comprar roupas, sapatos, e claro, ajudar na despesa da casa, não precisei trabalhar. Passava os dias na casa, ou e volta dela. Procurava me familiarizar com as pessoas do bairro, já tinha alguns amigos, ia muito à praia e numa bela noite de lua cheia, D. Rosália me chamou no canto do terreiro onde gostava de ficar e disse:
_ Um rapaz muito lindo ficou triste com sua partida. Ele seria capaz de dar a vida por você, sabia disso menino?
_ Não senhora.
_ Você fala a verdade. Acho que foi por isso que ele não falou nada. Você não é nada meu, mas pode dizer por aí que sou sua avó, ouviu bem? O Jean e o Denis vão levar você amanhã lá no trabalho deles. Lá terá muito dinheiro pra você, só não diz que falei isso. No começo você vai estranhar o que fará por lá, só que depois, você vai entender que isso fazia parte da luta da sua sobrevivência. Só lembra do que falarei agora, Sempre ande de cabeça erguida. Nunca se deixe abater, e faça de tudo que tiver ao teu alcance para que esse lindo rosto que Deus te deu nunca volte a ficar triste.
Eu apenas olhava fascinado pra essa mulher que seria tal qual uma avó que nunca tive e levava a sério tudo o que ela me dizia...
Ela então colocou a mão direita bem em cima da minha cabeça e disse:
_ Você é um menino abençoado, visse? Caminho torto bota a gente na retidão, já dizia a minha avó. Ele nunca vai vencer você e também não verá no que você se transformará. Quando a noite for escura, fique invisível, meu menino. E sei que tudo dará certo, porque você aprenderá rápido a jogar o jogo da vez. Deus estará sempre com você.
E a roda da minha vida começou a girar no dia seguinte, como D. Rosália disse.
Jean já estava arrumado, assim como eu, e nós dois juntos estávamos esperando que o Denis terminasse de se arrumar. Todos nós estávamos de calça Jeans clara, tênis de marca, perfume do bom, camisetas nas cores branca, amarela e vermelha respectivamente que realçavam nossos músculos e o mais curioso disso tudo, todos tínhamos 18 anos de idade, éramos bonitos e de cara engatamos uma amizade sincera e verdadeira.
Finalmente saímos com a benção de nossa avó e no caminho Denis foi me explicando o que realmente eles faziam no tal trabalho. Quando chegamos ao local, os dois falaram com o segurança que havia na porta e ao olhar pra mim já foi dizendo:
_ É esse aí o tal primo do interior? Filezão esse primo hein, vai fazer sucesso rapidinho.
_ Não é pro teu bico não Justino.
Fui levado ao escritório do gerente e depois de quase uma hora fui me trocar para começar o meu primeiro dia de trabalho.
Uma coisa não saia da minha cabeça, algo que D. Rosália havia dito... Deus estará sempre com você.
Estava sentado numa cadeira próxima ao bar quando o Gerente veio até onde eu estava acompanhado de um homem simplesmente lindo. Os dois pararam onde eu estava e ele disse:
_ Jimmy, apresento a você um dos melhores clientes da casa, Leo Freire Coelho.
_ Boa noite Senhor, disse Jimmy. Como podem ver, meu nome havia sido mudado.
_ É o que pretendo ter em sua companhia. E seu olhar azul praticamente me hipnotizou por completo.
Enquanto seguia em sua companhia para um lugar mais reservado, um pensamento não saia de minha cabeça... Quanto devo cobrar desse cara lindo?
Deixei a resposta pra depois, afinal de contas o que menos importava nesse momento era o que eu ganharia, tava mais interessado em fazer bem direitinho o meu serviço.
Léo Freire abriu a porta da suíte e assim que entramos a chave deu duas voltas na fechadura da porta.
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Meus amores, a vida ta uma loucura...
Já peço perdão por não falar com vcs hoje... Mas quem me conhece sabe, esse dia virá logo, logo.
Super feliz pela volta da querida Kyrya Castro.
Super feliz por estar em tão maravilhosas companhias... A de todos vcs. Nando Mota.