Queria agradecer as notas e os comentários de todo mundo. Eu leio tudo o que vocês falam e fico feliz com o apoio. Sintam-se livres pra perguntar, criticar etc, estarei atento à tudo. Abraços.
Já fazia um mês desde o incidente no banheiro. Um mês desde que Danilo havia levado um fora de Sabrina. Um mês desde que as coisas deveriam haver retornado ao normal.
Deveriam. Não voltaram.
Danilo pareceu lidar bem com a situação no começo, até o fatídico dia em que toda a farsa foi por água a baixo.
Era um sábado, três semanas depois de Danilo revelar seus sentimentos por Sabrina. Estávamos reunidos na casa de Rafael. Seus pais estavam em outra viagem para a sua cidade natal. Danilo, Rafael, Alice e eu jogávamos cartas e bebíamos próximo à piscina. Sabrina estava a caminho. Quando, enfim, ouvimos a campainha tocar, Rafael levantou-se e voltou para a casa pra abrir a porta. Ele demorou, por isso, me levantei para ver se estava tudo bem.
Saí pela porta da frente em direção ao portão, e vi três pessoas, duas dela pareciam discutir em voz baixa. Cheguei mais perto.
- Eu não posso mudar minha vida por consideração aos sentimentos dele! – era Sabrina.
- Mas precisava trazer o cara aqui? – Rafael parecia bravo.
- Me diz, antes de toda essa merda, você teria algum problema se eu trouxesse meu namorado aqui?
“A Sabrina tá namorando? Porra”, pensei.
- Não – Rafael respondeu – mas na atual conjuntura...
- Já fazem três semanas, Fael...
- Eu sei, Sabrina – ele olhou para o namorado de Sabrina, que esperava no portão, com o celular na mão. Acompanhei o olhar e reconheci o Juca. Eu sabia que eles estavam ficando, mas não que estavam namorando. Aquilo era complicado. Sabrina não teria problema nenhum em esconder de Danilo um ficante, mas um namorado, era diferente. Outro problema era que ela parecia decidida a torna-lo parte do nosso grupo, o que seria difícil para Danilo. Em compensação, eu não a julgava, afinal, ex-namorados de Sabrina, Alice e até uma ex do Rafael já haviam feito parte do nosso grupo, por curtos espaços de tempo.
Por isso, me aproximei, decidido a intervir favorecendo Sabrina. “Danilo vai ter que lidar com isso”, pensei.
- Fael – ele não pareceu surpreso ao me ver ali – Deixa o cara entrar.
- Lucas...
- Lucas – Sabrina parecia feliz em receber apoio – fala pra ele! Eu tentei, Fael. Faz três semanas que eu escondo que tô ficando com o Juca, e só o Lucas sabia disso. Nem pra Alice eu contei! Mas a gente tá namorando agora. E eu gosto muito dele.
- Porra – Rafael se deu por vencido. – Chama lá ele. Vamo entrar.
Quando ela saiu, ele se virou pra mim.
- Não pensei você iria estar ok com isso. Justo você.
- Justo eu? Porque “justo eu”?
Ele não respondeu.
- Rafael – me defendi – a Sabrina tem direito a namorar quem ela quiser.
- Não sabia que você era hipócrita, Lucas.
E me deixou sozinho, voltando pra casa. Eu sabia que Rafael tendia a ficar de cabeça quente durante discussões, mas aquilo não era um ataque aleatório. Havia alguma coisa por trás do que ele havia falado, e eu não sabia o que.
Esperei Sabrina e Juca. Apertei a mão dele e a abracei. Entramos em casa juntos. Os levei para a cozinha onde pegamos mais bebidas e fomos para os fundos da casa. Quando chegamos, todos nos encararam. Alice e Danilo pareciam surpresos. Rafael parecia inconformado.
- Que porra é essa? – Danilo falou baixo e embaralhado. Percebi que, no tempo em que estávamos fora, o álcool que ele havia bebido tinha feito efeito.
Sabrina não pareceu ouvi-lo.
- Gente, vocês conhecem o Juca. A gente tá namorando. – ele levantou a mão, acenando. Pela primeira vez, parei para encará-los. Formavam um belo casal. Ele, não muito alto, mas bastante musculoso, com a pele morena. Ela, branca e loira, e, assim como ele, em boa forma. Pareciam casais de propagandas de academia.
- Prazer, Juca. – Alice havia se levantado e o cumprimentava com um aperto de mão. – Não sabia que vocês estavam ficando. – Falou, agora encarando Sabrina.
Sabrina não falou nada, mas Alice pareceu entender o motivo do segredo: Danilo.
Eles sentaram e começaram a beber. Alice puxou conversa com Juca. Eu e Sabrina conversávamos sobre trivialidades. Rafael, de vez em quando, fazia perguntas aleatórias para Juca, o que mostrava que estava tentando fazer a situação o menos problemática possível. Mas Danilo permanecia calado.
Em determinado momento, Juca levantou para ir ao banheiro. Aquela foi a deixa de Danilo.
- Sério? – ele exclamou. Todos viramos, sem saber o porquê da pergunta, mas ele encarava Sabrina.
- Sério o que? – ela replicou.
- O Juca? Aquele bosta? – o jeito que ele falava me fazia pensar que deveríamos ter tirado a bebida da mesa – Aquele cara só tem músculo, não tem um pingo de conteúdo. Vocês viram? – ele perguntou para Alice, Rafael e eu.
- Danilo... – Alice repreendeu.
Sabrina não se pronunciou.
- É isso que você vê nele? Só a beleza né?
- Danilo... – agora Rafael o repreendia. Mais uma vez, Sabrina ficou calada.
- Mas, não me surpreendo. Alguém tão superficial e vazia de conteúdo que nem você só podia querer um cara desse tipo.
- Chega, Danilo! – Alice falou, alto.
- O que? É proibido falar a verdade?
- Eu falei que isso ia dar merda... – Rafael falou, em voz baixa.
Sabrina se levantou e virou em direção à casa. Danilo correu atrás, mas Rafael foi mais rápido e o segurou.
- Vai lá, puta burra! Volta pro seu gigolô!
Bem na hora, Juca passava pela a porta, e, pelo olhar em seu rosto, percebi que ele havia ouvido a última parte da conversa. Ele passou direto por Sabrina, que ainda o chamou, mas ele a ignorou. Vinha direto em direção ao Danilo, mas Rafael se colocou entre os dois. Embora Rafael fosse forte, Juca era bem mais, e foi preciso que eu me juntasse a ele para conter Juca.
Enquanto isso, Juca e Danilo trocavam palavrões e xingamentos. Sabrina e Alice haviam corrido. Sabrina puxava a camisa de Juca. Alice empurrava Danilo.
- Só porque ela não te quis, moleque – Juca gritou – não significa que ela não queira mais ninguém.
- Quanto tu tá pagando a ela? – Danilo replicou – Aposto que é pouco, puta que gosta de dar não cobra caro.
- E como tu se sente sabendo que ela não ia te querer nem se tu pagasse? – Juca deu a cartada final. E Danilo pirou. Empurrou Alice com força para o lado e correu em nossa direção. Só deu tempo eu fazer a única coisa em que pensei para detê-lo. Antes que ele nos alcançasse, corri em sua direção e o empurrei, junto comigo, na piscina. Ele se debateu e eu continuava agarrado a ele dentro da água.
Quando voltamos a superfície, Alice e Rafael nos encaravam. Ela parecia aflita, ele, irritado. Danilo havia se afastado de mim e chorava na outra borda. Rafael me deu a mão e me puxou para o chão.
- Bom, essa noite do pijama está, oficialmente, arruinada. – ouvi ele dizer.
Depois disso, voltamos para a casa, deixando Danilo ainda na piscina. Rafael me deu uma toalha e fui me trocar no banheiro, dessa vez vestindo minhas próprias roupas, que havia levado na mochila.
- A Sabrina esqueceu a bolsa dela. – Alice notou. – O celular tá dentro, por isso ela não atende.
- Tenta o número do Juca – falei, entregando meu celular.
- Porque você tem o número dele? – Alice questionou.
- Sabrina usava o meu celular pra conversar com ele por mensagem durante a aula, ela não tinha créditos.
- Você sabia que eles tavam ficando? – Alice parecia brava.
- Sabia...
- Porque ela contou pra você e não pra mim? – entendi o motivo da raiva.
- Porque ela precisava usar o meu celular. E porque ela não queria que ninguém soubesse, por causa do Danilo.
Ela pareceu aceitar a razão, e ligou para o Juca. Voltou pouco tempo depois, me devolvendo o celular.
- Ele levou ela em casa, mas disse que ela parecia bem, não chorou nem nada.
- E todos nós sabemos que ela estava segurando. – disse Rafael – Na hora que ela entrou em casa deve ter se desfeito em prantos. O que o Danilo falou foi pesado.
Sabíamos disso. Ele – Danilo – sabia disso. O maior medo de Sabrina era ser taxada de tudo o que o Danilo a havia acusado de ser: burra, sem conteúdo, só um corpo bonito.
- Olha – Alice interrompeu meu devaneio – Vou até a casa dela. Ainda é cedo, vou chamar um táxi.
- Não – Rafael se levantou – eu te levo.
- E o Lucas? – ela perguntou.
- O Lucas lida com o Danilo – Rafael falou, sem olhar para mim, e saiu.
- Aconteceu alguma coisa? – Alice quis saber.
- Não sei. Acho que ele me culpa por ter apoiado a Sabrina na ideia de trazer o cara aqui.
- Mas ela tinha direito...
- Eu sei, Alice. Mas olha a merda que deu. Acho que eu devia ter ouvido o Rafael.
Ouvimos a buzina do carro vinda da garagem. Alice se despediu de mim com um abraço e saiu.
Quando voltei para a área externa, Danilo estava deitado em uma das cadeiras de tomar sol. Deitei em outra cadeira, ao seu lado.
- Eu fodi com tudo, né? – ele quebrou o silêncio.
Não respondi, não queria dizer a verdade. Sim, ele havia fudido com tudo. Mas até onde eu podia culpá-lo? Será que eu teria feito o mesmo? Por sorte minha, o namoro de Danilo e Sabrina nunca havia se concretizado. Mas e se houvesse? Eu teria feito isso da primeira vez que tivesse que lidar com eles juntos, se apresentando como um casal? Com certeza eu não teria lidado bem com aquilo, o que me fazia pensar que eu não estava em posição de julgar o que Danilo havia feito.
- Será que ela me perdoa? - ele quebrou novamente o silêncio.
- Não sei. – Dessa vez eu respondi.
- Eu falei tanta merda, Lucas. Tanta merda. Mas eu tava com tanta raiva, procura entender.
Eu entendia.
- Eu tentei não me ressentir. Eu tentei compreender o lado dela, sabe. Mas dói tanto ver ela com outra pessoa. E ainda na minha frente, com os meus amigos acolhendo o cara.
- Danilo...
- Não to dizendo que a culpa é de vocês. É minha. Eu devia ter me afastado. Mas é difícil, sabe. Eu só queria que as coisas voltassem ao normal.
Segurei a vontade de chorar. Segurei a vontade de dizer que eu entendia tudo o que ele estava sentindo, e que, por muito pouco, eu não estava passando pela mesma situação.
- É tão ruim gostar de alguém que não gosta de você. – ele falou, e eu me senti como se facas atravessassem o meu peito. Dessa vez, não me calei.
- Eu sei, Danilo. Eu sei.
- Acho que eu não mereço ser perdoado. – ele terminou.
E se calou. Após um tempo, percebi que ele havia dormido. Voltei para a casa, encontrei um travesseiro e um edredom e levei para onde ele estava. O cobri e coloquei o travesseiro sob sua cabeça, e o deixei lá.
Quando voltei para a casa, Rafael estava entrando.
- Não se preocupe – falei – o hipócrita já está de saída.
- Nada disso. - Ele tomou o celular da minha mão.
- É o que, Rafael?
- Senta aí, Lucas, porque agora a gente vai ter uma conversa.