A primeira vista – Capítulo 03
Você já tem a mania de olhar pro celular por nada. Imagina você estando com o número de celular dele lá, registrado. Uma das coisas que faço bastante nesse conto é citar músicas e filmes. Já assistiram um filme chamado “Ele não está tão a fim de você”? Pois bem, eu me sentia como a protagonista do filme.
É incrível como resistimos a tentação de ligar esperando que o parceiro ligue. Gays românticos sempre esperam que o cara ligue no dia seguinte, é como se ele tivesse que cumprir o papel dele de parceiro ideal e nos ligasse dizendo que a noite anterior significou alguma coisa, que ele guardou mesmo o número do seu celular, e que lembrou de você na manhã seguinte. Na nossa cabeça, esperar tudo isso não é muita coisa. Eu lembro que há um momento desse filme em que uma mulher chorosa dá um depoimento em que ela fala mais ou menos assim:
“Eu só quero ter o direito de se o cara não me ligar no dia seguinte eu possa ligar e ligar e ligar e ligar quantas vezes eu quiser até ele atender. Mas não posso fazer isso senão ele me achará uma psicopata. O que eu não sou, é claro!”
É uma necessidade de atenção que todos nós, vulgo românticos, temos. Mas antes que eu conte o filme todo, vamos continuar...
O dia amanheceu. Não poderia ligar pra dizer “Oi, bom dia!”. Me poupe, não sou uma garota de 15 anos. Apesar de estar me comportando como uma. Não, não ia ligar. Fui tomar um banho. Ele era tão lindo, se mostrou tão inteligente, gentil, educado, pagou a conta, bem humorado. Um parceiro ideal que todo gay como eu queria ao lado. O problema é que um conjunto de frustações amorosas nada bem sucedidas (eu sei que é um pleonasmo) ajudam a você recusar a ideia achando que não existem mais pessoas assim no mundo, ou ele montou aquilo tudo pra o encontro porque ele só queria te impressionar e vender o peixe dele. “Não, não... perfeição demais”. Eu tentava de todas as formas não acreditar no mais óbvio.
Era quinta-feira. Estava preparando meu almoço quando o celular toca. Já pensava que era minha mãe dizendo que havia esquecido algo da última viagem. Quando olhei, quase infarto. Era ele. Respirei e atendi tentando parecer normal. O problema é que não percebemos o quanto não somos normais nessas situações. Não importe o quanto tente, você nunca é o “você do cotidiano” nessas horas.
- Alô? – Dizer um “Oi” muito animado me denunciaria, não?
- Igor? Aqui é o Kaio cara! Atrapalho?
- Não – apagando desesperado uma das chamas do fogão. Como atrapalha? Jamais. Eu sairia ensaboado do banho pra atender, se preciso. – Diz aí.
- Então, meu irmão e eu estamos pensando em viajar no sábado. Pegar uma praia no litoral do estado. Daí ele vai com a namorada e eu fico lá só com Juninho, um primo nosso. Combinei com ele de levar um amigo e ele não reclamou quando disse que era você. Tá a fim? – Ele tava me convidando pra viajar? Ele por acaso fazia isso sempre com as paqueras dele?
- Kaio, eu... – fiquei sem palavras.
- É tranquilo... – ele se adiantou – a gente vai no carro dele no sábado cedo. Passamos o dia e voltamos no domingo também bem cedo. Meu irmão tem um apartamento na cidade.
Se bem que uma praia seria legal.
- Então tá, tudo bem. – eu estava completamente retardado.
- Ótimo! A gente passa aí no sábado às 5 da manhã. Assim a gente chega cedo, dá tempo de tomar café e tudo mais.
- Tá bom. Valeu! – eu já ria sozinho.
Ele esperou um pouco.
- Tchau. Abraço.
O que? Ontem o cara me leva pra sair e hoje nós vamos viajar? O irmão dele não reclamou quando falou que eu ia? Terminei meu almoço e peguei a carteira. Desci pro shopping, precisava de uma sunga. Comprei uma azul, típica.
A noite fui pra faculdade. Por melhor que fosse pensar no Kaio eu precisava estudar, ora! Contei pra Fernanda e ela surtou!
- Como assim????
- Eu não sei. Ele me convidou, eu só aceitei.
- Amigo, pega que ele é muito gato. Meu Deus, uma criatura daquela não podia ser hétero mesmo não que já tinha roubado pra mim. – falava ela olhando pro vazio. – Igor! – ela quase gritou. Algumas pessoas da lanchonete olharam - Agora que percebi, você vai ver ele e o irmão dele, duas esculturas lindas só de sunga! Deus, me abençoa assim também!
- Fernanda, de qualquer forma somos amigos. Só amigos. – eu disse mexendo no canudo do suco.
- A questão não é se são amigos, mas por quanto tempo ainda vão ser só amigos.
Eu só ria, Fernanda sempre foi assim.
A aula terminou e eu fui pra casa pensando na viagem. Eu já conhecia Luís Correia, fui uma vez com minha família. É tudo lindo.
Cheguei em casa e fui procurar o que comer. Vida de universitário que mora só é barra. Eu até tinha dinheiro, mas ele por sí só não vira comida. Lá vou eu na padaria perto de casa. Enquanto estava na fila, chegou uma mensagem no meu celular.
“Igor meu primo menor não conhece o litoral, ele não para de falar na praia! Cara vai ser demais. Ansioso! Boa noite.”
Aquela mensagem me fez rir sozinho na fila porque ele falava como se fossemos super amigos há muito tempo. Peguei o que tinha comprado e segui pra casa.
No dia seguinte à noite fui pra faculdade e fiquei a noite toda com Fernanda falando besteira. Ela ficava imaginando mil e uma situações onde Kaio e eu trocávamos o primeiro beijo. Era de morrer de rir. Uma pior que a outra.
- Igor, mudando de assunto. Sua moto quebrou? Você só vem a pé agora. Queria carona hoje. Guto não vem me buscar. – namorado dela.
- Não. É que eu ando querendo caminhar mais, o prédio não é tão longe e só aumenta a despesa com gasolina sabe?
- Sei... então tá. Aproveita por mim a viagem e me conta tudinho depois. Até eu tô ansiosa. Imagina só você e ele se pegando no mar? Sungas sendo perdidas? Eita Jesus... – ela ia começar de novo!
- Fernanda...
Ela me abraçou, me deu um beijo na bochecha e um tapa da bunda. Eu saí da faculdade e no caminha pra casa escuto alguém correndo atrás de mim. Olho pra trás e vem o Kaio todo suado, com roupa de praticar esporte e fones caindo.
- Desculpa se te assustei. – disse diminuindo o ritmo e arfando.
- Kaio? Você tava...
- Correndo. A pista é aqui perto. Daí hoje eu me atrasei e acabei terminando tarde demais, pensei em passar por aqui e ver se você já estava saindo pra gente ir junto.
- Sabia que é perigoso andar correndo por aí essa hora?
- Sabia, mas foi só hoje. Sempre corro após a academia, por volta de 18h.
- Vai ter que parar. 18 h a aula tá começando aqui e que eu me lembre você vem pra cá ano que vem.
- É sim.
Fomos andando calados e ele arfando aliviando o cansaço.
- Então você mora perto da minha casa? – perguntei.
- Não. Quer dizer, mais ou menos. Te acompanho até aquela padaria. De lá eu dobro à direita.
- Você tem quantos anos mesmo? DesculpeTerminei o ensino médio há um tempinho, fiquei ajudando meu pai na empresa dele e agora finalmente acho que me achei no Direito. Você?
- 19 também. Eu já saí direto do ensino médio pra cá.
- Hum... Tá tudo pronto já? Digo, suas coisas pra amanhã.
- Ah, a viagem. Sim, sim... – Pronto. Foi só lembrar da viagem que meu coração disparou. – Sunga, protetor solar e óculos!
- Ótimo, você vai adorar. Tenho certeza.
- Sim. Eu já conheço o litoral. É bom mesmo.
- Não.. Digo, sim. Eu falei no sentido de viajar com a gente. Você vai adorar viajar com a gente.
- Ah, sim! Claro, vai ser legal.
Fomos o caminho todo falando bobagem e aproveitando pra nos conhecermos mais. Ele falou que o irmão trabalha numa plataforma da Petrobrás e fica lá meses. Daí quando vem sempre quer viajar e curtir. Chegamos na padaria.
- Então até amanhã. – ele disse com um sorriso que sempre me derretia.
- Até. – sorri de volta.
Não preciso explicar o quão difícil foi dormir aquela noite.
O dia ia amanhecendo. Eu já estava à espera de Kaio e seu irmão. 5:10 eles passaram em meu prédio. Eu desci. Uma mochila com o que eu julgava ser básico, camiseta, uma bermuda jeans e chinelo de couro. Entrei no carro e o Marcos me cumprimentou primeiro com um sorriso enorme.
- Bom dia gente. – falei envergonhado. O Kaio só sorria me olhando.
A namorada do Marcos, Milena, loira toda cheia de sardas, se apresentou e o Junior com cabelinho arrepiado, primo deles, também. Pensei que Junior tivesse 13 anos, mas ele só tinha 10, acho que confundi porque ele era magrinho e alto. Eu fiquei sentado ao lado do Kaio, o primo dele fez questão da janela. O Kaio estava na outra, eu não ia incomodar. Fiquei no meio. Apesar do carro ser bem espaçoso, a minha perna estava junta à de Kaio. Ele tinha pernas torneadas. Que eu amo em qualquer pessoa. Panturrilhas de dar inveja. Me desculpem os marombeiros, mas pernas grossas são dádivas divinas que todo ser humano deveria ter.
Seguimos viagem. Durante a viagem era uma bagunça. Kaio e Marcos conversavam muito. Futebol, UFC, vôlei e tudo que é esporte que vocês imaginarem. Dava pra ver o quão ligados eles eram, Milena e eu apenas riamos de tudo, de vez em quando ela me olhava com cara de “Olha esses dois!”. O que era muito estranho, porque hoje eu vejo que era como se ela me analisasse já como namorado do Kaio. Ela sorria de uma forma diferente pra mim.
Junior cantava todas as músicas do rádio que iam de Florence and the Machine, The Killers, Flo-Rida, Green Day e Icona Pop. São alguns nomes que lembro bem que tocaram e pra aquela criança saber de tudo com certeza já tinha costume de andar com eles mais vezes. Além disso o repertório me surpreendeu, mas ao tocar Zé Ramalho eu notei que aquilo era uma mescla dos gostos de cada um. Seguimos viagem.
Chegamos em Luís Correia, um calor que meu Deus! Já dizia minha professora de Geografia: “Quanto mais perto da linha do Equador, mais perto do inferno turma. Anotem!”. Realmente era verdade. Fomos pro apartamento, arrumamos algumas coisas, passamos protetor, nos trocamos e fomos pra praia. As mochilas minha, do Kaio e do Junior ficaram jogadas no chão da sala.
Litoral é sempre bom. Quando se mora em uma cidade que não tem praia, ir à praia é um lazer sem igual. É uma higiene mental impressionante. Ao chegar lá, conseguimos uma pequena barraca feita de palha. Estávamos em Outubro não haviam muitas pessoas ainda. A época de maior movimentação é no verão. Outubro aqui no Piauí já é quase fim do verão – graças a Deus!
Marcos já foi logo tirando a roupa e ficou de sunga. Como ele era lindo. A namorada ficou de biquíni bem comportado, e Junior mal tirou a roupa já correu pra água. Marcos correu atrás dele e o agarrou, o jogou no ombro como se fosse um boneco e correram pra água. Foi engraçado. Ele tratava o garoto como filho, não como primo.
Milena, abriu uma cadeira e se sentou. Eu comecei a tirar minha camisa, quando termino o Kaio me observava segurando a gola da camisa.
- Que foi? – Eu perguntei confuso.
- Nada... – ele riu.
Eu o olhei e ele percebeu, terminou de tirar a camisa e o short. Gente, o que era aquilo. Ele não era tão moreno quanto eu pensava. Marcos sim era um pouco mais moreno. Ele tinha o mesmo corpo do mais velho porém um pouco mais baixo e menos forte mas ainda assim lindo. Peitoral e abdome lindos. Ficamos de sunga, eu na minha azul e ele numa vermelha com umas listras brancas do lado, fomos pra água conversando. Esse era um típico ritual em que as duas pessoas que se gostam tentam ignorar o tesão no corpo um do outro e conversam sobre qualquer coisa que as impeça de olhar pra bunda uma da outra.
As meninas passavam e sorriam pra gente. O Kaio parecia que não as via, mas eu retribuía o sorriso. Eu também gostava de meninas. Olhamos pro mar e Marcos estava com Junior agarrado em seu pescoço brincando feito duas crianças.
- Vamo? – gritou Kaio e correu.
Eu corri atrás dele e entramos na água. Muito gelada. Começamos e jogar o Junior pra cima. Milena se juntou a nós. Logo começou a beijar Marcos e ficaram lá os dois se agarrando cochichando algo.
Junior saiu da água, pegou uma bola e trouxe. Kaio e eu tentamos ensiná-lo a jogar vôlei. Mas ele era mais baixo que a gente então ele não jogava a bola de uma altura legal. Assim o tempo passou e já eram 13h. Fomos almoçar num restaurante perto. A comida era maravilhosa e cara, muito cara! Kaio e Marcos comiam muuuito! Na hora de pagar a conta, Marcos que o fez.
Voltamos pra água, conversamos, enfim o dia foi muito bom. Logo chegou o fim da tarde e voltamos pro apartamento.
No carro surgiu uma conversa entre Milena e Marcos sobre o jantar.
- Vai em alguma padaria e compra algo... Ou num restaurante. Ou pede pizza. – Milena sugeria.
- Eu acho melhor a gente ir no supermercado, comprar algo e preparar rapidinho. – ele dizia sem tirar atenção do trânsito.
- Você quer cozinhar ainda hoje?
- Qual o problema? Eu gosto da sua comida.
- Tá... – ela falou cansada.
Marcos estacionou na frente do prédio.
- Kaio fica em casa com o Igor e arrumem as coisas que a gente já volta. Vamos no supermercado comprar alguma coisa. Quer ficar também Junior?
- Tá. – Kaio respondeu descendo do carro comigo logo atrás.
- Não! Se eu não for vocês nem compram chocolate!
Saíram os três pro supermercado, e eu e Kaio subimos o prédio. Estávamos muito sujos de areia e íamos rindo de tudo que aconteceu. O cabelo do Kaio tava duro puxado pra cima. Enquanto subíamos o porteiro do prédio ficou nos olhando como se fossemos dois mendigos sujos. O apartamento tinha dois banheiros, um social e outro em um dos quartos. Nossas mochilas estavam na sala.
- Você trouxe tudo? Tipo toalha, shampoo, sabonete, creme dental? – falou se ajoelhando do lado da mochila - Eu tenho tudo, posso emprestar. – mostrando os itens. Tão gentil.
- Não, de boa. Eu trouxe tudo sim.
- Vai nesse banheiro aí que eu vou no quarto do Marcos.
- Tá bom.
Não haviam muitos móveis, pelo visto eles não andavam lá com muita frequência. Eu peguei uma toalha e fui pro banheiro. Kaio entrou no quarto que tinha banheiro.
Tomei meu banho sentindo o corpo arder pelo sol do dia todo. Principalmente minhas costas, aquilo iria se tornar uma boa insolação. A tubulação do chuveiro meu banheiro logo ficou mais forte, sinal que o Kaio havia terminado o banho. Fui pro quarto contrário ao de Kaio. Quando abro a porta me deparo com Kaio nu, de costas, uma bunda linda e branca com marca de sunga – agora mais marcada – terminando de se enxugar. Eu não aguentei, aquilo não podia ser verdade.
______________________________________
Fala pessoal, tudo bom?
Os capítulos estão saindo um por dia porque a história já tá toda pronta então não tenho nem desculpa pra atrasar. Tá aí mais um. Obrigado a quem está lendo de novo tudo e ainda comenta que tá adorando. Vocês são demais.
Só pra esclarecer, o conto está sendo repostado. Isso significa que as vezes pela quantidade grande de modificações o site por interpretar como um conto novo e deixá-lo como inédito, como ocorreu com o capítulo passado. Porém as vezes, as modificações não são tantas então o site identifica como o mesmo texto antigo e apenas o restaura sem deixá-lo como inédito, foi o caso do capítulo 1. A consequência disse é você não vê-lo na página inicial. Pra que isso não aconteça, salvem o me perfil nos favoritos do navegador, assim vocês acompanham tudo independentemente de ser inédito ou não.
Abraço a todos.