– Sério isso? – indagou Julian dando um passo a frente e logo tornando a sorrir completamente despreocupado – Atira!
– Para trás... – Evan tremia sem parar e quando percebeu Julian ainda mais próximo suas mãos pareciam não ter o menor controle e num pequeno descuido levou a pior. Julian tomou a arma de suas mãos e passou a aponta-la para o mais novo – Vai atirar em mim?
– Você é um covarde! – com uma mão inclinada e o cano do revolver colado ao peito de Evan o mais velho puxou o gatilho com uma risada larga – Se isso não fosse de brinquedo você estaria muito fodido agora.
Evan sentiu sua camisa molhada, ele estava tremulo quando olhou para o tecido branco todo húmido tingido de um vermelho carmim, mas não era sangue. A arma sequer era verdadeira.
– Você mentiu pra mim.
– Você é muito otário, se isso fosse de verdade e você não tivesse atirado... Eu teria retribuído só que ao invés de tinta sairia algo bem pior!
– Você me fez pensar que mataria nossos pais se... – Evan olhou-o com desprezo – Você não vai encostar um de seus dedos sujos em mim, nunca mais.
– Isso é o que veremos maninho!
Enquanto isso na cozinha da residência Greene, Lola organizava alguns utensílios no armário quando foi surpreendida por um ligeiro tapinha em suas costas que quase a fez cair do banquinho em que estava. Lola já era uma senhora de cabelos brancos e pele enrugada que trabalhara na casa desde o nascimento de Evan, há muitos anos vivia no país de forma irregular com sua família e, qualquer coisa em sua idade tendia a assusta-la. Lola virou-se com a mão no peito e fez uma cara de alivio ao ver seu neto ali de braços cruzados com um violão em suas costas.
– Lucas meu neto, nem te vi entrar, por que trouxe este violão?
– Oi vovó, vim pelos fundos, o jardineiro sempre implica comigo por nada quando chego pela entrada principal! – Lucas pensava que o jardineiro era um maluco.
– Mas também, olha só a forma como você se veste. – ele usava tênis xadrez, calça jeans cinza-claro com um rasgo no joelho e regata preta com estampa de caveira – Mas e o violão?
– É que eu disse para o Evan que sabia tocar e ele não acreditou então eu vim provar que sou bom!
– Lucas... Por que não passa mais tempo com os garotos do bairro?
– Porque eu sou amigo do Evan e não dos “garotos de bairro”, qual o problema nisso vovó?
– Ele é um menino rico, é boa gente, mas tem suas diferenças.
– Vovó a gente já falou sobre isso um milhão de vezes. – Lucas deu um beijo apressado na bochecha de Lola – Vou procurar o Evan pra ele ver que eu sou um músico de primeira!
Na sala o clima não poderia ser menos incomodo, tudo parecia um pesadelo até que o celular de Julian tocou e o mais velho saiu apressado, da janela Evan reparou em sua presa ao dirigir como se o mundo estivesse acabando. A pesar de não entender o que se passava ele suspirou aliviado.
– Evan... – gritou Lucas perdido pelos corredores – Onde você está? Sua casa é um labirinto, me diga que não há um Minotauro por aqui em algum lugar...
– Lucas? – o garoto de visual rock logo com seu violão havia encontrado o caminho.
– Caramba. – disse ele se aproximando – Ou isso é moda nova ou você precisa ir para um hospital agora mesmo.
– Não, é que eu... – Lucas fez uma cara de pânico que fez com Evan também se calasse por alguma razão.
A falsa arma estava no chão e abaixo de Evan havia uma pequena poça vermelha. Lucas não pensou duas vezes e correu em direção ao amigo, pegou-o em seus braços e praticamente o arrastou para o sofá onde o pôs deitado como se ele estivesse nas últimas.
– Meu deus... Você levou um tiro...
– Não foi de verdade. – explicou ele impressionado com a força de seu amigo que nem sequer aparentava tê-la – É só tinta, a arma é de brinquedo!
Lucas tremia um pouco ainda pelo susto, seus olhos verde-esmeralda tinham um brilho manso, seus lábios levemente rosados estavam inquietos, sua respiração ofegante e seu coração disparado. Evan sorriu sem graça para demonstra que estava bem de fato e então mesmo não gostando de exibir seu corpo pálido e magro retirou a camisa. Foi como se Lucas recobrasse o folego em confirmar que estava tudo bem mesmo.
– Quase morri de medo pensando no pior. – admitiu timidamente – Essa foi à brincadeira mais sem graças de todas, não faz mais isso.
– E esse violão?
– Ah sim, lembra que você duvidou quando eu te disse que sabia tocar?
– E você veio aqui só para se exibir?
– Sim! – os dois riram – Mas não foi só por isso.
– Pelo que mais?
– Já faz alguns meses que você tá estranho, eu queria saber se posso te ajudar em algo, ou sei lá? Evan o que tá pegando com você cara?
Antes que Julian o tivesse obrigado a ir para cama com ele, Evan era um garoto normal que se divertia e ria o tempo todo, fazia bagunças em sala de aula, ia jogar bola ou a lugares diferentes com os amigos. Meses antes sua vida parecia ser muito melhor. Em seu rosto lagrimas caiam e Lucas tinha certeza de que algo muito grave havia acontecido, mas nunca poderia imaginar algo tão terrível e, Evan nunca teria coragem de lhe contar a respeito da noite que desgraçou sua vida.
– Evan? – seus dedos secavam as lagrimas que pareciam pesar sob a face do outro – Algum babaca lá no colégio te ameaçou? Porque se for isso eu acabo com o infeliz...
– Lucas não foi nada. – mentiu.
– Eu nunca vi pessoas chorarem por nada e, você era a única pessoa que eu jamais pensei que veria chorar!
– Por que não toca seu violão? Ou você realmente não sabe? – desafiou na intenção de desviar o foco da conversa.
– Tudo bem, mas depois você vai me explicar à razão de você ter mudado tanto.
Após retirar o violão da capa, Lucas sentou-se ao lado de Evan e endireitou sua palheta entre os dedos. “Eu toco e você canta” sugeriu, “Certo, vai ser qual?” indagou Evan tentando se animar um pouco, “Garota de Ipanema”, após contar até três Lucas começou a introdução pelo violão e mostrou a língua para indicar que ele já poderia entrar com a voz.
Garota de Ipanema (por Evan Greene)
Olha que coisa mais linda
Mais cheia de graça
É ela menina
Que vem e que passa
Num doce balanço
A caminho do mar
Moça do corpo dourado
Do sol de Ipanema
O seu balançado é mais que um poema
É a coisa mais linda que eu já vi passar
Ah, por que estou tão sozinho?
Ah, por que tudo é tão triste?
Ah, a beleza que existe
A beleza que não é só minha
Que também passa sozinha
Ah, se ela soubesse
Que quando ela passa
O mundo inteirinho se enche de graça
E fica mais lindo
Por causa do amor
Assim que Evan terminou Lucas largou o violão e começou a aplaudi-lo. Evan riu achando-o bobo e por alguns instantes seus olhares se encontraram de uma forma que parecia que o tempo houvesse parado naquele exato segundo.
– Você canta muito bem!
– Você também é ótimo no violão!
Seus olhos mantinham-se fixos e seus rostos muito próximos, talvez até demais a ponto em que seus lábios mantinham mínimos centímetros de distancia, até que inevitavelmente aconteceu. Seus olhos fecharam-se naturalmente quando os lábios selaram. Suas línguas se tocaram como se comemorassem um encontro a muito esperado.
– Merda de... – Julian parou na porta sem conseguir acreditar no que via – Evan?
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CONTINUA... (créditos da música – Tom Jobim)
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Olá gente, fico feliz por terem conferido, votado e comentado ao primeiro capítulo - vocês são incríveis! Bom, gostaria de me desculpar pois achei fraco esse capítulo - é daqui que surge nossa trama central paralela ao "incesto" que é mais um abuso sexual que tudo - o próximo capítulo vai ser mais hard, emoções a flor da pele - que cê achou da arma ser de brinquedo? Evan e Lucas se beijaram, mas Julian os viu, garanto que o vilão não vai ser nada legal com isso, o cara é doente pelo irmão e é capaz de tudo por ele. Continue comentando (votando - dê a nota que você considere justa) e é isso. Um beijo e dois queijos procê - 19 NOV, 2014 tem mais dois capítulos aqui na CDC o 3' as 08h40min e o 4' as 20h30min.